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quarta-feira, 11 de março de 2015

Nosso valor aos olhos de Deus

11.03.2015
Do portal VOLTEMOS AO EVANGELHO
Por John Owen

NossoValorAosOlhos
Vivemos em uma época quando o “valor próprio” e a “autoimagem” das pessoas jovens têm se tornado uma preocupação prioritária. Os governos e as instituições investem altas quantias de capital e recursos humanos para tratar o “problema”. O fato de que os resultados estejam em proporção inversa ao investimento não deveria surpreender os cristãos biblicamente instruídos.
Dizer aos jovens que eles são importantes — “Você pode ser qualquer coisa que quiser; vocês são os líderes futuros de nossa nação” – é claramente retórica para estimular um sentimento de valor próprio. A primeira afirmativa é falsa. Por exemplo, sob circunstâncias normais, somente uma pessoa pode tornar-se presidente a cada quatro anos. Além disso existe um impedimento para os que têm menos de trinta e cinco anos. No decurso médio da vida, um máximo de onze dentre todos os nossos contemporâneos poderá alcançar esse ofício. A segunda afirmativa conduz inevitavelmente à decepção para muitas pessoas. Pois se todos são líderes da nação, quem seguirá? Não é necessário dizer que pais cristãos podem engolir a mesma mitologia secular e assegurar aos filhos que eles (os pais) os estão preparando para a liderança. A Escritura em nenhum lugar nos ensina a fazer isso. Ensina, na verdade, o reverso: não treinamos nossos filhos para a liderança, mas para serviço. Se a liderança (termo quase desconhecido no Novo Testamento)[1] seguir, muito bom e bem.
Assim, essa mitologia moderna de autoestima de alguns psicólogos e educadores seculares — de que somos todos príncipes e princesas e presidentes no aguardo — está fadada ao fracasso.
Contudo, precisamente nesta área, encontramos Owen, esse colosso da teologia do século XVII, no meio de longos parágrafos de sentenças latinadas, apontando-nos a resposta do evangelho para uma epidemia contemporânea. Nosso verdadeiro valor se encontra no valor que Cristo nos deu, não nos valores de nossa autoavaliação. É o que ele fez (e quem ele é) que outorga valor real e cria um senso de mérito em nós. Por nós, Cristo estava disposto a tornar-se carne; por nós, ele se esvaziou e tomou para si a natureza humana; por nós, ele se fez pobre; por nós, estava disposto a ver eclipsada a sua glória. Por nós, ele tornou-se servo, bebeu do cálice do juízo divino e carregou sobre si a maldição de Deus:
1) Tudo que ele deixou de ter, tudo que fez, tudo que sofreu, tudo que hoje ele faz como mediador; ele abriu mão de tudo, fez, sofreu, devido a seu amor e estima pelos crentes. Ele deixou sua maior glória, submeteu-se à mais profunda miséria, fez as mais grandiosas obras que possam existir, porque ama sua esposa — porque valoriza os crentes. O que mais, o que pode ser melhor dito? Como pouco é entendida a profundeza do que se fala! Como somos incapazes de esquadrinhar seus misteriosos recônditos! Tanto ele ama, valoriza tanto os seus santos, que desde a eternidade garantiu nos levar a Deus. Ele alegra sua alma em pensar nisso, e persegue seus desígnios do céu até o inferno, da vida e da morte, sofrendo e fazendo, em misericórdia e com poder; e não cessa em fazê-lo até trazer-nos à perfeição. Pois, 2) É assim que ele os valoriza, a ponto de não perder um sequer de seu povo à eternidade, ainda que o mundo inteiro tente tirá-los das suas mãos.[2]
Descobrimos aqui uma avaliação de quem somos nós feita por Cristo, calculada para dissolver todo autovalor e ainda guardar-nos de sermos orgulhosos. O caminho de Cristo de nos dar valor tem todas as marcas de genialidade divina. Exultamos em nossos privilégios; ele recebe toda a glória. Tornamo-nos filhos da realeza por seu dom e sua outorga, e assim, toda autoavaliação, tanto boa quanto má, é dissolvida em sua avaliação suprema. Em retorno, isto — com certeza, inevitavelmente — leva ao valor que colocamos em Cristo e partilhamos com o salmista: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra”.[3] Nós o valorizamos acima de tudo, e contamos tudo mais como perda em comparação[4]: “Cristo e um calabouço, Cristo e uma cruz, é infinitamente mais doce do que uma coroa, um cetro sem ele, para suas almas… o desprezar de todas as coisas por amor de Cristo é a primeira lição do evangelho”.[5]
Cristo abriu mão de tudo por nós; mas nunca deixará de ser nosso. Como marido, cuida de nós, sua noiva, como sua própria carne. Mais que isso, “ele é pai carinhoso, que, ainda que ame a cada filho de maneira igual, tomará de maiores dores, e entregará mais da sua presença, ao que está doente e fraco, mesmo que nisso e por isso esse filho seja o mais descarado e difícil de lidar.[6]
Nossa resposta? Aplicando mais uma vez a metáfora do casamento, Owen a descreve como “a castidade do santo”. De forma disciplinada, recusamos permitir que qualquer coisa, quer em nossa avaliação quer em nossos afetos, tome lugar daquilo que pertence somente a Cristo. Tornamo-nos sensíveis a seu Espírito que habita em nós e o amamos a ponto de não o entristecermos. Vivemos nossa vida em um caminho de adoração e comunhão. Recebemos livremente de Cristo. No prazer que temos nele, nós nos entregamos livremente, sem reservas, com alegria indizível, de volta a Cristo. Isto é verdadeira comunhão.
[1] A linguagem que predomina no Novo Testamento é de ser servos e servir.
[2] Obras 2:139. Itálicos original.
[3] Salmo 73.25.
[4] Filipenses 3.8.
[5] Obras 2:137.
[6] Obras 2:141.

A Devocão Trinitária de John Owen

Esse artigo é um trecho do livro “A Devocão Trinitária de John Owen”, lançamento da Editora Fiel
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