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quarta-feira, 30 de abril de 2014

O trabalho para a glória de Deus

30.04.2014
Do portal ULTIMATO ON LINE

JS_30_04_14_trabalhoDeus organizou deliberadamente a vida de tal maneira que ele precisa da cooperação dos seres humanos para o cumprimento dos seus propósitos. Ele não criou o planeta terra para ser produtivo por si mesmo; os seres humanos tinham que subjugá-lo e desenvolvê-lo. Ele não fez um jardim cujas flores se abririam e os frutos amadureceriam por conta própria; ele designou um jardineiro para cultivar a terra. Chamamos isso de “mandato cultural” que Deus deu à raça humana. “Natureza” é o que Deus nos dá; “cultura” é o que nós fazemos com ela. Sem um agricultor humano, todo jardim ou campo se degeneraria rapidamente, transformando-se num deserto.
Na verdade, Deus fornece o solo, a semente, o sol e a chuva, mas nós temos que arar, plantar e colher. Deus fornece as árvores frutíferas, mas nós temos que podá-las e apanhar os frutos. Como Lutero disse certa vez num sermão sobre Gênesis, “Pois por seu intermédio Deus trabalhará todas as coisas; ele vai ordenhar as vacas e desempenhar as tarefas mais humildes por meio de você, e todas as tarefas, da maior até a menor, serão agradáveis a ele”. De que valeria a provisão que Deus faz para nós de uma vaca cheia de leite se nós não estivéssemos lá para ordenhá-la?

Assim, há cooperação, na qual nós realmente dependemos de Deus, mas na qual (acrescentamos reverentemente) ele também depende de nós. Deus é o Criador; o homem é o agricultor. Cada um necessita do outro. No bom propósito de Deus, criação e cultivo, natureza e criação, matéria-prima e perícia profissional humana são indissociáveis.

Esse conceito de colaboração divino-humana é aplicável a todas as tarefas honrosas. Deus se humilhou e nos honrou ao fazer-se dependente da nossa cooperação. Observe o bebê humano, talvez a mais desamparada de todas as criaturas de Deus. As crianças são, sem dúvida, “presentes do Senhor”, embora a procriação seja, em si mesma, uma forma de cooperação. Depois do nascimento, é como se Deus lançasse o recém-nascido nos braços da mãe e dissesse: “Agora você cuida”. Ele confia aos seres humanos a criação de cada criança. Nos primeiros dias o bebê parece até ser parte da mãe, de tão próximos que os dois estão. E por muitos anos as crianças são dependentes de seus pais e professores.

Até mesmo na idade adulta, apesar de dependermos de Deus para a própria vida, dependemos uns dos outros para as necessidades da vida. Isso inclui não apenas as necessidades básicas da vida física (alimento, vestuário, habitação, afeto, segurança e cuidados médicos), mas também tudo que engloba a riqueza da vida humana (educação, recreação, esportes, viagens, cultura, música, literatura e as artes), para não mencionar a nutrição espiritual. Assim, qualquer que seja nosso trabalho – em uma das profissões (ensino, medicina, leis, serviços sociais, arquitetura ou construção), nas políticas nacional ou local ou no serviço civil, na indústria, no comércio, no cultivo do solo ou na mídia, em pesquisa, na administração, no serviço público ou nas artes, ou em casa – devemos vê-lo como sendo cooperação com Deus. As palavras de Ambroise Paré, o cirurgião francês do século 16 que algumas vezes foi descrito como “fundador da cirurgia moderna”, estão inscritas no muro da École de Médicine em Paris: “Eu fiz o curativo no ferido; Deus o curou”.

• Trecho retirado de Os cristãos e os desafios contemporâneos, de John Stott.

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Fonte:http://ultimato.com.br/sites/john-stott/2014/04/30/o-trabalho-para-a-gloria-de-deus/

sábado, 19 de outubro de 2013

Deus trabalha! Jesus trabalha! Todo mundo trabalha?

19.10.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO, 07,08 de 2013
Por Valmir Steuernagel*

No princípio... Deus

O evangelista João registra um significativo encontro de Jesus com um homem que havia passado 38 anos sem nunca ter conseguido entrar em contato com um lugar de cura chamado Betesda, porque outros sempre chegavam antes dele. Pois é justamente ali, naquele lugar de esperança para muitos, mas de contínua decepção para o paralítico, que o Mestre vai encontrá-lo. Jesus chega, conversa com ele, coloca-o de pé e o faz caminhar depois de muito tempo!

O texto que relata esse acontecimento (Jo 5.1-15) vem acompanhado de uma longa polêmica, pois a cura acontece num sábado e, ainda por cima, bem nas barbas daqueles que eram os guardiães daquele lugar e se consideravam os verdadeiros intérpretes da lei, estabelecendo o que se podia ou não fazer no sagrado dia de descanso. Em meio a essa discussão, Jesus pronuncia uma palavra que afirma a unidade entre ele e seu Pai, destacando que ele nada faz que o Pai não queira e que só faz aquilo que representa o Pai e que ele mesmo faria. É na afirmação da sua unidade com o Pai que Jesus usa a palavra “trabalho”, que pouco aparece nos evangelhos: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo 5.17). Aliás, no capítulo anterior ele já havia dito que fazer a vontade do Pai e completar a sua obra era o sentido da sua própria vida ou, em suas palavras, a sua “comida” (Jo 4.34).

Quer dizer, então, que Deus trabalha e Jesus também? E que, quando ele trabalha, a vida é restaurada? Que Pai e Filho estão empenhados numa obra e querem vê-la concluída? Como se pode entender e discernir melhor esse Deus trabalhando e até perguntar se temos alguma possibilidade de participar nesse seu mundo?

Ao olharmos para a história da criação, registrada no início da Bíblia (e que estamos abordando nesta série), vamos descobrindo o quanto essa narrativa revela quem Deus é, o que ele faz e como nos convida a integrar não apenas a própria criação, mas a maneira como ele se relaciona com ela e a sustenta. Isto se expressa da maneira mais significativa e completa possível no evento da nossa própria criação (Gn 1.26). Deus trabalha e nos convida a trabalhar também. Mais do que isso, indica que o nosso trabalho deve ser da mesma natureza que o dele.

Voltando ao encontro de Jesus com o paralítico, podemos dizer que uma das dimensões do trabalho de Deus tem natureza restauradora. Tratar um paralítico abandonado por 38 anos e colocá-lo de pé dá trabalho, e nesse trabalho Jesus se engaja, mesmo sendo dia de descanso. Mas isso, na vida de Jesus, não é novidade alguma. Bem no início do seu ministério, no assim chamado “programa de Nazaré”, ele declarou que iria anunciar o evangelho aos pobres, proclamar restauração aos cativos, restaurar a vista aos cegos e pôr em liberdade os oprimidos. Passou a vida fazendo exatamente isso, e o fez muito bem.

Se somos chamados a trabalhar com Deus para a “conclusão” da sua obra, então nosso programa tem de ser o do nazareno, e as possibilidades para fazermos isso em nossos dias são enormes. Mulheres grávidas necessitam de parteiras; doentes, de médicos; crianças, de professores; idosos, de cuidadores; mortos, de agentes funerários, assim como cansados e oprimidos precisam de alguém que ore e chore com eles, para mencionar apenas um pouco do cardápio vocacional que foi colocado em nossa mesa vital no momento em que fomos criados à imagem de Deus.

Esta “grade de trabalho restaurador” deveria estar presente em cada uma das nossas igrejas, integrar a nossa agenda de trabalho com jovens e compor os cursinhos onde estes procuram descobrir sua vocação e definir como e com o quê irão ocupar o resto de suas vidas.

Isso é muito contracultura, eu sei. Porém é também evangélico e traz profunda realização à nossa vocação humana que visa a projetar para o mundo o fato de sermos criados à imagem de Deus. Como tal, atendemos ao seu chamado para respondermos ao grito dos tantos “paralíticos abandonados” de nossos dias e ajudarmos a completar a obra da qual Deus teve a coragem de nos incumbir. É contracultura porque a nossa resposta vocacional nasce não do anseio por dinheiro e status social, mas do desejo de ser uma resposta às necessidades humanas e constituir-se numa parceria com esse Deus que coloca o paralítico de pé depois de 38 anos. Os fariseus dos dias de Jesus não gostaram do que ele fez, mas não sabiam como colocar um paralítico de pé. Quem faz isso é Jesus e para isso ele trabalha e nos convida a trabalhar com ele. Como se dissesse: “Meu pai trabalha até hoje e eu também estou trabalhando. E olhem só, quanta gente que se chama pelo meu nome está trabalhando também!”.

Esse trabalho é bom e faz parte do nosso discipulado. Pode até resultar em uns pingos de suor na testa, mas o sorriso em nossos olhos dirá que este suor é para a glória de Deus.

Ufa! Escrever dá trabalho. Mas este é um bom trabalho. E ainda nem consegui escrever sobre a “celebração e o descanso”, como anunciado no artigo anterior. Ainda bem que terão outros artigos pela frente. Boa leitura e bom trabalho!

Valdir Steuernagel é teólogo sênior da Visão Mundial Internacional. Pastor luterano, é um dos coordenadores da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e um dos diretores da Aliança Evangélica Mundial e do Movimento de Lausanne.
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Fonte:http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/343/deus-trabalha-jesus-trabalha-todo-mundo-trabalha