Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador pentecostais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pentecostais. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Pentecostal: que tipo de pregador e mensagem você tem ouvido e recebido em sua igreja?

01.02.2018
Do portal GOSPEL MAIS, 15.11.17
Por Silvio Costa*
Eu posso escrever sobre os pentecostais porque também sou um pentecostal. E testemunho que os melhores dias da minha vida foram e estão sendo vividos neste meio cristão (meio em que pretendo permanecer, pois foi nessa família que encontrei as maiores experiências e exemplos de ser integrante da igreja de Cristo). O poder, autoridade e consequente ousadia conferida as testemunhas de Jesus (Mt 10:8; Mc 16:15-18; At 1:8) podem se notar vigorosamente entre os pentecostais tais como: conversões, pessoas realmente sendo transformadas pelo poder de Deus, curas, batismo no Espírito Santo, dons espirituais, libertações, milagres e maravilhas conforme descritos em o Novo Testamento para os nossos dias (At 2:38, 39), pois não cessaram!
O que expus acima, visa evitar que algum imprudente – geralmente o que opina mesmo antes de conferir a exposição na íntegra – não cometa o pecado de julgar-mecomo mais um crítico externo ao movimento e portanto, sem conhecimento do assunto ou desprovido de autoridade para falar dos problemas e ameaças que existem e rondam este grande e particular segmento da fé evangélica no Brasil. Dito isso, passo a expor minhas observações quanto ao que tenho assistido e ouvido como pregação da Palavra de Deus em grande parte dos nossos eventos e festividades, principalmente.
Falando a verdade, para ser “pregador bom” (o contrário de bom pregador) para a sincera e simples massa pentecostal, você precisa ser conferencista internacional, adornar-se com uma bela e escandalosa pedra de ametista encravada num bonito anel (ou seja, manifestar que você é bacharel em teologia. Infelizmente, para um monte desses conferencistas, isso é apenas faz de conta – pois se quer sabem o que são o método histórico crítico, análise retórica, análise narrativa ou semiótica). Mas o que começou nos dedos desceu aos pés dos mais famosos e abastados e passaram a usar uns sapatos de escamas (couro) de cobra; mas aos aspirantes que ainda não tem grana para exibir essas questionáveis extravagâncias – passam a usar sapatos brancos ou vermelhos – pois quanto mais chamarem a atenção a si mesmos, melhor. E continuando, orquestrar o timbre de voz, ser apelativo às emoções do auditório e ser meio esquisito. Sim, principalmente esquisito mesmo, daqueles que chutam e esbofeteiam o ar, que saem de si (pois é o que insinuam) quando rodopiam, olham para o vazio, elevam o olhar e dizem: “eu vou falar Papai”, como se naquele momento estivem recebendo uma nova revelação para a igreja. Mas a performance só se completa com caras, bocas e contrações faciais. Te pergunto: isso é ou não é incoerente e esquisito para quem se diz um sério e comprometido pregador do Evangelho?
Porque a grande parte dos “conferencistas internacionais” que dizem ser pregadores pentecostais, precisam agir assim? Resposta: porque a maioria dos crentes pentecostais gostam de pregadores assim. E se gostam, seus pastores mais inconsequentes ainda (sem generalizar é claro) convidam os tais oradores, pagam os cachês que os tais insistem em taxar de oferta, mas sabemos que é cachê mesmo (pois se propor valor abaixo do que pedem, eles simplesmente não vão ao evento). E aí meu irmão, se o sujeito é PAGO e CONTRATADO como ATRAÇÃO dessas festividades polvorosas – é só acender o estopim que o SHOW literalmente vai acontecer – e mais que isso, vão explodir exageros, implodir a ordem da celebração e o que era para ser um CULTO DE GRATIDÃO transforma-se num ESPETÁCULO DE ESTRANHEZAS com gente caindo, rodando e correndo para tudo quanto é canto do ambiente com o pretexto litúrgico de que a glória de Deus desceu.
De onde esses profissionais do púlpito tiraram essas composições e performances? Acaso aprenderam na bíblia com Cristo e seus apóstolos sobre os trejeitos da face, a ostentação das vestes e a na maioria das vezes a notória e deliberada distorção das Escrituras? Claro que não! Essa estirpe de pregadores nada mais é que o espectro dos “expositores showman” de um importante congresso missionário que anualmente ocorre em Camboriú-SC, e com versões menores em suas sucursais representativas país afora.
O trabalho da igreja e da entidade por trás do aludido congresso, de fato tem feito a diferença na obra missionária e devemos louvar a Deus por isso, mas do ponto de vista bíblico, hermenêutico e homilético (referência específica a grande parte do conteúdo das mensagens que nesse congresso são apresentadas), é uma ofensa a genuína e boa pregação evangélica. Muitas exposições que lá são apresentadas podem ser classificadas como heresias do tipo: a última transferência das riquezas em que se afirmou que Deus tiraria a riqueza das mãos dos ímpios e as transferiria para as mãos dos crentes (de onde tiraram isso senão de algum compêndio herético da teologia da prosperidade). Ou algum absurdo do tipo: Jesus tinha uma grande casa na praia (praticamente uma mansão).
Sem falar de devaneios interpretativos. Lembra da polêmica pregação “Somos deuses” em que o deputado-pregador apresentou no congresso de Camboriú? Dispensa comentários – pois a aberração interpretativa – que o deputado explanou – realça o tipo fraco de pregador incapacitado de bíblia que anda ocupando os altares pentecostais para ministrar (é fraco porque a pregação é mais feita de conjecturas e achismos do que das Escrituras propriamente). Como um pregador que de fato conhece a Palavra de Deus em sã consciência vai afirmar: “o homem é um deus pequeno, diminuto, um deus em essência de poder”. Pois o pregador deputado fez isso, você acredita?
E a parte mais grave: se grande parte desses pregadores, personalistas, polêmicos e famosos do meio pentecostal e seus admiradores ministeriais (que funcionam como papagaios dos grandes em nossas congregações e eventos locais), estão a pregar o que o “povão” gosta, a violar regras de interpretação bíblica, a distorcerem passagens das Escrituras a ponto de inserir nelas condenáveis heresias. Esses realmente são perigosos à minha e a sua fé. Desse modo, comportam-se como “apresentadores contratados”; e pregador pago entrega um pseudo-evangelho que gera crentes de araque; oferecem pregações continuamente triunfalistas que por sua vez conceberão o cristão fantasia (que nunca vai ser levado à sério por ninguém – pois ignora a berrante realidade que o cerca); mensagens só de vitória, prosperidade e sucesso são na verdade meias verdades – porque o que está escrito na bíblia contém muito mais que isso: derrotas, pobreza, doenças e rejeição e a melhor de todas as mensagens: a salvação do indivíduo – fato ignorado na maioria dessas mega e incompletas pregações.
É preciso fazer uma distinção entre esses pregadores pentecostais. 
Existem aqueles que são dependentes e aprisionados as facilidades e apelos do mundo gospel (2 Tm 4:3 Ap 3:15-18); afinal não precisa de muita coisa para impressionar essas multidões, emocionalmente manobráveis (tem muitos desses pregadores que nem bíblia levam mais para o púlpito, quanto mais uma mensagem bíblica coerente, esquece). Esses primeiros não vão mudar, vão continuar com o show e manterão suas agendas lotadas – e o povão vai continuar dando glória a Deus e aleluia e sendo enganado – por esses falsificadores da palavra de Deus (2 Co 2:17; 2 Pe 2:1).

Mas, tem um segundo grupo, influenciado pela fama e glória dos primeiros; e estes estão a PAGAR PARA PREGAR em eventos de algumas sucursais daquele evento missionário que mencionei acima – ou em outros da mesma natureza. Bom, quem paga para pregar – tem segundas intenções nada cristãs – e na boa: esse “pregador” não confia em Cristo – pois se confiasse que o Senhor tem realmente uma chamada dirigida a ele para o ministério da Palavra jamais pagaria para apresenta-la dessa forma (a meu ver esse já foi reprovado aí).
E finalmente, tem um terceiro grupo de jovens sonhadores que desejam pregar a Palavra de Deus mesmo – mas nos moldes dos conferencistas internacionais – tão questionados neste artigo. A estes digo, se espelhem em outros exemplos e não nos desses comerciantes da Palavra. Pratiquem o evangelho que lhes está sendo ensinado nas classes da EBD, estudem a palavra (se possível, matriculem-se num bom curso ou faculdade teológica), orem, jejuem e sirvam a igreja local de vocês e fiquem tranquilos (esperando no Senhor), pois se o Senhor vos chamou – Ele mesmo trará grandes oportunidades até vocês!
*Silvio Costa mora na belíssima cidade de Guarapari no ES; é administrador de empresas por profissão; estudou teologia no Seminário SEET e na Faculdade FAIFA. É membro do conselho editorial da revista Seara News. Contribui como colunista em outros portais evangélicos e é palestrante em escolas bíblicas realizadas em seu Estado. Escreve também para o seu blog Cristão Capixaba e é o editor responsável pelo portal Litoral Gospel.
*******
Fonte:https://colunas.gospelmais.com.br/pentecostal-que-tipo-de-pregador-e-mensagem-voce-tem-ouvido-e-recebido-em-sua-igreja_32702.html

quarta-feira, 9 de março de 2016

Brevíssima história do reavivamento da Rua Azuza

09.03.2016
Do portal GOSPEL PRIME
Por Moisés C. Oliveira

“Se você controla a história, você controla o passado. Aquele que controla o passado controla o futuro.” George Orwell

Brevíssima história do reavivamento da Rua AzuzaNesse artigo, dividido em duas partes, há um esforço em descrever com certa atualidade, e de forma brevíssima – devido a limitação imposta pelo veículo – o evento que teve início em Los Angeles, EUA, que veio a repercutir no Brasil e no mundo, influenciando gerações ao longo dos últimos cem anos. A primeira parte, cobre de forma introdutória o período do surgimento do movimento pentecostal, com menção de três de seus principais nomes que deixaram um legado teológico, enquanto o segundo trata da biografia de William J. Seymour o pastor e líder da igreja que surgiu desse movimento.

A fim de dirimir qualquer confusão em torno de nomenclaturas é preciso estabelecer que a teologia pentecostal norte-americana nomeia por reavivamento, esses movimentos oriundos pela manifestação mais efusiva e marcante do Espírito Santo nas igrejas evangélicas. Sua interpretação é que há um só avivamento, a saber, aquele ocorrido em Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento. Enquanto os eventos posteriores, seriam um re-avivamento daquela primeira visitação provocada pelo Espírito Santo, conforme previsto por Jesus Cristo antes de ascender aos céus. Enquanto, no Brasil, comumente não se diferencia assim, e nomeia-se como avivamento toda a manifestação do Espírito Santo com maior abrangência e duração. A interpretação adotada aqui é a norte-americana.

Em 6 de abril de 1906, na casa de Richard e Ruth Asberry na Rua Bonnie Brae, 244 em Los Angeles – Califórnia – EUA, deu-se um evento que segundo Sidney Ahlstrom, historiador da Universidade de Yale, revelou o líder negro que exerceu influência direta sobre a História religiosa norte-americana, colocando-o a frente de figuras como W. E. B. 

Dubois e Martin Luther King, Jr. Após um mês de intensa oração e jejum, enquanto acontecia uma singela reunião entre poucos frequentadores cristãos, dirigida por William J. Seymour, houve a manifestação espontânea e marcante do Espírito Santo na qual todos os presentes foram impactados. Esse evento rapidamente desencadeou um movimento – conhecido por pentecostalismo – que veio a tomar proporções mundiais e que no Brasil, a igreja Assembleia de Deus é, talvez, seu mais destacado fruto e consequência direta do impacto daquela visitação.

A origem e a história do reavivamento que aconteceu na Rua Azuza é assunto pouco frequentado nas Assembleias de Deus, no Brasil. É de se lamentar, porque ao ignorar fatos importantes dessa natureza, a Igreja, muitas vezes se torna como uma criança que não atinge a maturidade por não superar problemas que surgiram do confronto de ideias e valores sucitados por gerações anteriores e que fazem parte mesmo da sua essência. 

Muitos desses problemas perduram de igual modo, outros já foram superados por gerações anteriores, outros eles deixaram apontada uma direção segura a ser tomada (Jr. 6:16). Se a Igreja contemporânea insistir em omitir tema essencial como esse dos seus debates, a consequência é que o senso histórico esvai-se, gerando um vácuo entre passado e futuro, restando a cada geração permanecer patinando sobre os mesmos problemas, consciente apenas do próprio umbigo, alheia ao propósito para o qual surgiu. O diálogo com o passado e as origens é necessário à medida que dá sentido ao presente e aponta para o futuro.

O reavivamento da Rua Azuza não foi um evento planejado, mas um caso complexo (Jacobsen, p.57), e ainda carece de muito estudo no Brasil. Foi uma surpreendente manifestação do Espírito Santo que provocou todo aquele fervor espiritual que incendiou Los Angeles e posteriormente o mundo. Líderes cristãos de igrejas já estabelecidas por lá, não tardaram em expressar sua desaprovação pela turba de “fanáticos” que acorriam de todos os lugares em busca de seu pentecoste.

Jornalistas e curiosos vinham de todos os lugares para observar ou zombar do que acontecia ali. Aproveitadores e oportunistas também foram atraídos para experimentar do que havia ali. Os cultos estrepitosos e a diversidade dos participantes também provocou toda sorte de interpretações por parte das outras igrejas.

Uma característica interessante do reavivamento da Rua Azuza, foi que por ser algo  espontâneo – não havia sido planejado – não dispunha de uma teologia necessária para dar sustentação racional e senso de direção a tudo aquilo, nem havia sido organizada ainda, pois a experiência vivida por todos e suas implicações eram fortes o suficiente para aquele momento. Esse movimento só foi ter formulada sua teologia de forma tardia – “a posteriori” – após o arrefecimento daquele fervor espiritual dos primeiros anos. Ainda não há consenso de como se conseguiu reunir sob o mesmo teto, cristãos com orientações teológicas tão divergentes que afluíam em torno daquele sentimento de piedade espiritual e poder. Caso é que o que aconteceu ali, surpreendeu a todos, pela novidade que se apresentava, devido a divergência com qualquer definição teológica vigente à época.

Charles Parhan que havia sido professor de William J. Seymour na Escola Bíblica no Texas, foi visitar o aluno a fim de avaliar seu desempenho e de outros a frente da enorme tarefa que se lhes apresentava, logo no início do movimento. Ocorre que o professor quis impor sua teologia – alienada a tudo o que ocorria ali – mas foi rapidamente rechassado por Seymour, que num entendimento espiritual, nutria um temor impetuoso quanto à interferência humana em tudo o que estava acontecendo diante de seus olhos.

Missão da Fé Apostólica, como ficou conhecida a igreja por eles aberta para abrigar a imensa aglomeração de pessoas atraídas pelo fervor espiritual desde a primeira reunião em casa dos Asberry na Rua Bonnie Brae, tinha Seymour como líder e pastor. Porém, vale lembrar que ele não desenvolveu tudo sozinho, antes, foi auxiliado por outros líderes de não menos importância. Merece menção especial  Clara Lum, que manteve circulando mensalmente o informativo interno da Missão e que teve papel fundamental na orientação e divulgação do trabalho ali desenvolvido.

Seymour entendeu desde o início, como parte do seu chamado pastoral, prover meios e oportunidade ali na Missão da Fé Apostólica, de modo que cada um que para ali acorresse, pudesse ter sua experiência pentecostal pessoal, dando sentido e ambasado em orientações teológicas para tal. Com o posterior arrefecimento do fervor espiritual da Azuza e com a Missão já inserida no contexto pentecostal da cidade, Seymour dedicou-se a escrever o livro “As doutrinas e a disciplina da Missão da Fé Apostólica de Los Angeles”, no qual foram compiladas sua teologia e práticas pastorais. Fica evidente, até pelo título do livro, que a teologia que surge dali, de início, era muito mais prescritiva e prática do que propriamente especulativa. Seu lema era: “não saia daqui falando sobre as linguas, fale de Jesus”. Outra façanha sua foi manter negros e brancos trabalhando juntos, harmoniosamente, numa época de intensa segregação racial.

Outro nome de destaque no auge do reavivamento da Azuza, foi o de George F. Taylor, da Carolina do Norte, influenciado por G. B. Cashwell, que chegou a atuar em cultos na Missão. Embora Taylor nunca tenha frequentado a Missão em Los Angeles, tornou-se um fervoroso pentecostal e “atento observador do movimento”, como afirmou Cashwell. Seu livro “O Espírito e a Noiva”, publicado em 1907, demonstra Taylor como um vigoroso e sistemático pensador cristão. Esse livro representou um salto na articulação e um avanço intelectual a respeito da teologia gerada pelo movimento pentecostal da Azuza. Taylor arguia que seu livro nada mais fazia que expor cuidadosamente a Bíblia; cujo reavivamento pentecostal o ajudou criativamente na sua tentativa de trazer velhas verdades bíblicas em novas revelações. E aqui vale o parêntese para que não se confunda A Revelação, enquanto Palavra de Deus, com essas “ideias”, por assim dizer, que suscitaram em Taylor a partir de seu contato com o movimento pentecostal.

David Wesley Myland, foi um pregador pentecostal itinerante, com participação no lançamento de outras denominações pentecostais e autor do livro “O pacto da Chuva Serôdia”, publicado em 1910, com sua interpretação tipológica e profética do Movimento de Reavivamento da Azuza à luz do Velho Testamento. Ao contrário do rigor sistemático de Taylor, Myland se utilizava muito mais de metáforas e símbolos para expor sua teologia. 

Entendia a caminhada de fé muito mais como um progresso constante que iria cessar apenas no encontro do fiel com Deus. Myland se preocupava muito mais em não separar a vida prática da caminhada de fé e tentar articular entre essas dimensões do que entendê-las como coisas distintas.

Esses três nomes aqui mencionados, não esgotam de maneira alguma a reflexão teológica produzida sobre o pentecostalismo na Azuza durante seu período de efervescência. Evidentemente que havia diferença nos pontos de vista e nas abordagens teológicas desenvolvidas por Seymour, Taylor e Myland, porém não eram visões antagônicas, mas tentativas individuais de preencher o vácuo criado por algo que surge com um impacto tremendo no ambiente cristão e que as teologias vigentes ainda não contemplavam, nem constava de seu cabedal de recursos interpretar ou dar sentido.
*****
Fonte:https://artigos.gospelprime.com.br/brevissima-historia-do-reavivamento-da-rua-azuza/

sábado, 30 de janeiro de 2016

HISTÓRIA DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS (BRASIL)

30.01.2016
Do portal WIKIPÉDIA



História

Assembleia de Deus
ClassificaçãoProtestante
OrientaçãoPentecostal
PolíticaEpiscopal e Congregacional
FundadorDaniel Berg e Gunnar Vingren
Origem1911 (105 anos) Belém, Pará
Site oficialwww.cgadb.org.br

A Assembleia de Deus chegou ao Brasil por intermédio dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do Estado do Pará, em 19 de novembro de 1910, vindos dos Estados Unidos. A princípio, frequentaram a Igreja Batista, denominação a que ambos pertenciam nos Estados Unidos. Os missionários suecos traziam a doutrina do batismo no Espírito Santo, com a glossolalia — o falar em línguas espirituais (estranhas) — como a evidência de manifestações que já vinham ocorrendo em reuniões de oração nos Estados Unidos e também de forma isolada em outros países, principalmente naquelas que eram conduzidas por Charles Fox Parham, mas teve seu apogeu através de um de seus principais discípulos, um pastor leigo negro, chamado William Joseph Seymour, na rua Azusa, Los Angeles, em 1906.[1]

A nova doutrina trouxe divergência. Enquanto um grupo aderiu, outro rejeitou. Assim, em duas assembleias distintas, conforme relatam as atas das sessões[2] , os adeptos do pentecostalismo foram desligados e, em 18 de junho de 1911[3] [4] , juntamente com os missionários estrangeiros, fundaram uma nova igreja e adotaram o nome de Missão de Fé Apostólica, que já era empregado pelo movimento de Los Angeles, mas sem qualquer vínculo administrativo com William Joseph Seymour. A partir de então, passaram a reunir-se na casa de Celina de Albuquerque. Mais tarde, em 18 de janeiro de 1918 a nova igreja, por sugestão de Gunnar Vingren, passou a chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1914, em Hot Springs, Arkansas, mas, sem qualquer ligação institucional entre ambas as igrejas.

A Assembleia de Deus no Brasil expandiu-se pelo estado do Pará, alcançando o Amazonas e propagou-se para o Nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Chegou ao Sudeste pelos idos de 1922, através de famílias de retirantes do Pará, que se portavam como instrumentos voluntários para estabelecer a nova denominação aonde quer que chegassem. Nesse ano, a igreja teve início no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, e ganhou impulso com a transferência de Gunnar Vingren, de Belém, em 1924, para a então capital da República. Um fato que marcou a igreja naquele período foi a conversão através de um folheto evangelístico de Paulo Leivas Macalão, filho de um general e precursor do assim conhecido Ministério de Madureira.

A influência sueca teve forte peso na formação assembleiana brasileira, em razão da nacionalidade de seus fundadores, e porque à igreja pentecostal escandinava, principalmente a Igreja Filadélfia de Estocolmo, que, além de ter assumido nos anos seguintes o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg, enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros em seu papel de fazer crescer a nova Igreja. Desde 1930, quando se realizou um concílio da igreja na cidade de Natal, a Assembleia de Deus no Brasil passou a ter autonomia interna, sendo administrada exclusivamente pelos pastores residentes no Brasil, sem contudo perder os vínculos fraternais com a igreja na Suécia. A partir de 1936 a igreja passou a ter maior colaboração das Assembleias de Deus dos Estados Unidos através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta com a estruturação teológica da denominação.
****
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_de_Deus_(Brasil)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Dons Espirituais e Ministerias - servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário.

15.01.2015
Do blog BELVEREDE,10.02.14
Por Eliseu Antonio Gomes

Este é o nome da revista Lições Bíblicas (CPAD) a ser disponibilizada ao segundo trimestre de 2014 aos estudiosos da Palavra de Deus, com os comentários do Pr. Elinaldo Renovato.


10. O ministério de mestre ou doutor
11. O presbítero, bispo ou ancião
13. A multiforme sabedoria de Deus

*****
Fonte:http://belverede.blogspot.com.br/2014/02/cpad-ebd-2-tri-2014-dons-espirituais-ministeriais-servindo-Deus-homens-poder-extraordinario-Renovato-Elinaldo.html

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As sandices de John MacArthur

21.10.2013
Do portal CPAD NEWS, 23.10.13
Por Silas Daniel

Em uma época em que os cristãos sérios deveriam se unir para combater males reais e comuns, MacArthur dirige seus ataques para o foco errado
 
Como prometido, segue abaixo algumas reflexões sobe declarações do pastor John MacArthur ao site do The Christian Post, nos EUA, no domingo, 20 de outubro. Os trechos traduzidos da matéria com MacArthur vêm em itálico e minhas observações em texto normal.
 
Para aqueles que disseram que MacArthur está atacando seus irmãos em Cristo, MacArthur respondeu que ele “desejava que pudesse afirmar isso [chamá-los de irmãos]”. [Mas,] Em sua opinião, como ele e seus colegas oradores observaram durante a conferência, o movimento carismático é feito, em grande parte, por “não-cristãos”.

Eu, sinceramente, não me importo se John MacArthur escreve e prega o cessacionismo. E daí? Problema dele. Ele tem todo o direito de fazê-lo. E obviamente também nem me importo de ele fazer uma conferência para defender, entre outras coisas, o cessacionismo. E daí? A igreja dele é pastoreada por ele e ela apóia fielmente o seu líder. Aliás, todos os anos MacArthur faz conferências em sua igreja e o templo desta, com capacidade para 3 mil pessoas, sempre enche, não só de visitantes, mas principalmente com o seu próprio povo, como prova de apoio ao seu líder. Neste ano, não foi diferente.

Os três únicos problemas são que MacArthur fez questão de desafiar publicamente pentecostais tratando-os como hereges; distorceu o próprio ensino pentecostal para asseverar a questão entre continuísmo e cessacionismo como uma doutrina primária, essencial, de suma importância para a saúde da fé de qualquer cristão, e não como uma doutrina secundária; e ainda colocou, no mesmo saco, pentecostais clássicos e neopentecostais. Aí não dá. As críticas que MacArthur sofreu por essa conferência foram justamente relacionadas a esses radicalismos e injustiça.


Em primeiro lugar, pentecostais clássicos têm a Bíblia como a sua única regra de fé e prática, e justamente por isso pregam constantemente contra “novas revelações” que se chocam com a Bíblia ou querem acrescentar algo a ela.


E em segundo lugar, pentecostais clássicos também pregam contra a Teologia da Prosperidade, contra a Confissão Positiva, contra o “cair no Espírito”, contra a “unção do riso” etc, que são desvios neopentecostais.


Como se não bastasse isso, ainda temos que ouvir MacArthur afirmar que acredita que a maioria dos cristãos no mundo que dizem crer na contemporaneidade dos dons espirituais é, na verdade, de “não-cristãos”.
 
“Se a questão [da continuidade ou não dos dons espirituais] não é clara – como alguns estão dizendo –, ela só se tornou clara sob a influência dos falsos mestres? Ficou clara para os apóstolos; ficou clara para os Pais da Igreja Primitiva; ficou clara para os reformadores; ficou clara para os puritanos; ficou clara nos credos, como a Confissão de Westminster; ficou clara para os teólogos reformados como B. B. Warfield; ficou clara para Spurgeon; ficou clara, nos tempos mais modernos, a R. C. Sproul. Terá agora se tornado clara por causa de Aimee Semple McPherson, Jimmy Swaggart, Jim Bakker e Kenneth Copeland? Essa é uma idéia ridícula”.

Não, MacArthur, a não descontinuidade dos dons espirituais se tornou clara para nós pelos próprios apóstolos, pela própria Bíblia Sagrada, a única regra de fé e prática para qualquer crente genuinamente pentecostal. Não há nenhum texto bíblico que diga que os dons espirituais não são mais para os nossos dias.

E a questão ficou clara também para Pais da Igreja e grandes nomes da Igreja dos primeiros séculos como Justino Mártir (100-165), Irineu (115-202), Teófilo de Antioquia (120-186), Tertuliano (160-220), Novaciano (200-258), Gregório Taumaturgo (213-270) e Hilário de Poitiers (300-368), mas, infelizmente, foi renegada pela maioria dos Pais da Igreja do terceiro século em diante como reação aos desvios Montanistas.


Apesar disso, há registros de contemporaneidade dos dons espirituais durante a Alta Idade Média e, depois, entre os valdenses, nos séculos 12 a 15, e com os anabatistas, no século 16; entre os quacres e pietistas, no século 17; na França, entre os Camisardes, chamados de “calvinistas das cavernas”, no século 18; na Finlândia, também no século 18, durante o avivamento que impactou os luteranos naquele país e que ficou conhecido como “Heränneet”; além de entre os Morávios, na República Tcheca, na mesma época. Nos séculos 18 e 19, há ainda registros na Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, Indonésia, Escócia, Austrália, Brasil (sim, entre batistas no Rio Grande do Sul, 30 anos antes da chegada de Gunnar Vingren e Daniel Berg), Armênia, Alemanha, África e Noruega, dentre outros países.


A contemporaneidade de todos os dons espirituais, inclusive a glossolalia, foi clara para John Wesley (1703-1791), que a defendeu em carta ao pastor Conyers Middleton (
The Works of John Wesley, A Letter to the Rev. Dr. Conyers Middleton, volume 10, pp. 54 a 56). Essa carta pode ser lida clicando AQUI.

A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre batista inglês F. B. Meyer (1847-1929), sobre o qual o cessacionista Spurgeon disse certa vez: “Ele prega como um homem que viu Deus face a face”.

Ela foi clara para o reverendo R. B. Swan, sua esposa e alguns membros de sua igreja em Providence, Rhode Island, EUA, em 1875, que receberam todos, segundo depoimento do próprio Rev. Swan, a glossolalia. E o que dizer dos relatos e/ou experiências próprias de glossolalia registrados nos séculos 18 e 19 por Thomas Walsh, William Doughty, William Arthur, Horace Bushnell, V. P. Simmons, J. C. Aroolappen e tantos outros?

Em 1801, há 212 anos, nos Estados Unidos, na localidade de Cane Ridge, Kentucky, cerca de 3 mil pessoas, em um acampamento da Igreja Presbiteriana, entraram no que descreveram como “estado de júbilo”, com “centenas” delas “falando em línguas sobrenaturalmente” (
Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 2007, p. 235).

A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre evangelista congregacional Dwight Lyman Moody (1837-1899), contemporâneo de Spurgeon e que foi, segundo historiadores, o homem que mais ganhou vidas para Jesus no século 19.


Ela foi clara também para o célebre pregador calvinista congregacional David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) (Leia
AQUI excelente artigo de John Piper a respeito). E nos dias de hoje, a contemporaneidade dos dons espirituais é aceita por calvinistas como Wayne Grudem, J. I. Packer, John Piper, Craig Keener, D. A. Carson, Mark Driscoll, C. J. Mahaney, Tim Keller, Sam Storms, Matt Chandler, Vincent Cheung, James MacDonald, Matt Slick, James K. A. Smith, Johanes Lilik Susanto e Paul Walsher, só para citar os conhecidos. Porém, MacArthur ignora essa gente toda e cita ele e R. C. Sproul como referência sobre o assunto, como que querendo dizer que a teologia dele e de Sproul está acima da de todos estes outros colegas calvinistas. Com todo respeito que possamos ter por MacArthur e Sproul como ensinadores (eu mesmo gosto de muitos textos de Sproul), eles não são melhores teólogos do que muitos daqueles que acabei de mencionar.

E para piorar, MacArthur, ao final de sua fala, cita nomes do pentecostalismo que pregavam heresias ou que caíram em pecado, quando deveria lembrar de pentecostais como Stanley Horton, Anthony D. Palma, William Menzies, David Wilkerson, Roger Stronstad, Myer Pearlman, George Wood etc etc etc, todos seus compatriotas. Já imaginou se cometo o mesmo pecado de tomar todos os reformados por nomes dentre eles que os constrangem justamente por não representarem a maioria dos reformados ou o que pensa os reformados, seja pelo seu ensino ou comportamento? Não seria correto, seria? Seria profundamente desonesto, na verdade.
 
Outra acusação foi que MacArthur e os cessacionistas estão falando de algo que só é verdade para extremistas, lunáticos do movimento, e ele afirma que “obviamente não é verdade”, porque acredita que há erro no movimento carismático que varre todo o movimento. “Noventa por cento das pessoas em todo o mundo ligadas ao movimento carismático apropriam-se do evangelho da prosperidade”, disse ele. “24 a 25 milhões deles negam a trindade, 100 milhões deles são católicos romanos. Esta não é uma franja. Este é o movimento, e está crescendo a uma taxa rápida”, acrescentou.

Se juntarmos todos os católicos carismáticos, os unitaristas e os carismáticos e neopentecostais adeptos da Teologia da Prosperidade ou de outras heresias em todo o mundo, eles provavelmente não chegam sequer a 30% dos mais de 800 milhões de pentecostais no planeta. Colocar todos eles no mesmo saco é de uma irresponsabilidade e insensibilidade enormes. Nas igrejas pentecostais europeias, por exemplo, quase inexiste a Teologia da Prosperidade. E mesmo nos EUA, Brasil e África, onde a Teologia da Prosperidade é forte, há muitos pentecostais que pregam e ensinam contra ela, inclusive a maior denominação pentecostal do nosso país. 
 
“Se os líderes reformados que conhecem a verdade, o Evangelho e a Palavra de Deus não policiarem o movimento, os terroristas espirituais vão dominar”, disse ele.

A moda agora é chamar todo divergente de “terrorista”. Vide Obama, que chamou os parlamentares republicanos mês passado de “homens bomba”, “terroristas” e “incendiários”.

MacArthur já chamou carismáticos de “não-cristãos” e “terroristas”. O que falta agora? “Doentes mentais”? “Demoníacos”?
 
“O movimento carismático tem aberto mais amplamente a porta para o erro teológico do que qualquer outra aberração doutrinária nos dias de hoje”, acrescentou MacArthur, observando que no capítulo 12 de seu livro ele escreveu uma carta aberta a seus amigos continuístas.

O neopentecostalismo é que tem aberto. E mais uma vez ele coloca os males do mundo evangélico na conta dos continuístas de forma geral. É de uma desonestidade enorme. Será que ele não leu nenhum livro da profusão de livros apologéticos pentecostais nos EUA e no mundo combatendo os erros do neopentecostalismo?
 
“Se os dons praticados na igreja carismática de hoje são equivalentes aos descritos no Novo Testamento, então esses dons originais não tinham nada de especial”, disse ele, acrescentando que estes “degradam os verdadeiros dons que Deus deu à igreja do primeiro século”.
Ele acrescentou que o movimento “desonra o Espírito Santo, atraindo pessoas com falsificações, e faz as pessoas pensarem que elas não têm o que precisam, e que há algo lá fora que precisam perseguir”.

Esse foi o argumento mais tíbio de todos. Os dons só seriam extraordinários se ficassem circunscritos à Era Apostólica?

Quanto a eventuais falsificações, MacArthur esquece que falsas e distorcidas manifestações de dons espirituais ocorreram até nos tempos apostólicos, vide, só para citar um exemplo, as orientações de Paulo aos crentes em Corinto sobre desvios nessa área ali.


O que devemos fazer não é negar os dons porque há gente que os perverte, mas orientar em favor das manifestações sadias. Como diz um velho e sábio provérbio latino,
Abusus non tollit usum – “O abuso não tolhe o uso”.

Não se joga o bebê fora junto com a água suja da bacia. Não se toma a maioria pela minoria. Não se deve transformar exceção em regra e regra em exceção. Regra é regra, exceção é exceção.


Quanto às declarações de que a contemporaneidade dos dons espirituais “desonra o Espírito Santo” e “faz as pessoas pensarem que elas não têm o que precisam, e que há algo lá fora que precisam perseguir”, trata-se de uma tremenda distorção das coisas:


1) Quem aceitou Jesus como Senhor e Salvador tem tudo o que precisa em termos de Salvação, mas isso não significa que os dons espirituais, que acompanham a Salvação, que são acessórios dela, não são importantes. Os dons (inclusive os espirituais) não são essenciais para a salvação, mas eles são importantes, porque foram dados à Igreja para a sua edificação, para o enriquecimento da vida cristã.


2) Desprezar os dons espirituais é que é negativo, pois é apagar uma ação específica do Espírito Santo em nossas vidas a qual tem por objetivo enriquecer ainda mais o nosso serviço a Deus e à Sua Igreja (1Ts 5.19-21).


3) A Bíblia nos orienta a buscarmos, a perseguirmos, “os melhores dons”, e inclusive menciona o de profecia como um destes melhores (1Co 14.1).
 
MacArthur também apontou para aqueles que são continuístas, auxiliando o problema, porque eles querem dar lugar para o movimento carismático e “não estão ajudando a resolver os problemas de falsa doutrina”.

Pois é, para MacArthur, gente como Wayde Grudem, J. I. Packer, John Piper e o falecido D. Martyn Lloyd-Jones seriam calvinistas que atrapalham, dando oportunidade à expansão da falsa doutrina. E como ele já disse que a maioria dos crentes continuístas é de “não-cristãos”, logo o próximo passo deve ser o Céu só para os cessacionistas. Não sei se ele vai chegar a tanto, mas ele já beira a isso em alguns momentos ao afirmar que seu cessacionismo não é uma questão secundária, mas de suma importância para toda a fé cristã.

Que pena. Em uma época em que os cristãos sérios deveriam se unir para combater males reais e comuns no meio evangélico, alguns deles dirigem seus ataques para o foco errado.
******
Fonte: http://www.cpadnews.com.br/blog/silasdaniel/?POST_1_84_AS+SANDICES+DE+JOHN+MACARTHUR.html

Exortações aos Carismaníacos: 1Coríntios 14 como paradigma da liturgia pentecostal

21.11.2013
Do portal da  CPAD NEWS, 08.07.13
Por Esdras Bentho

Em vez de adorarmos integralmente ao Senhor em nossas reuniões, dividimos o tempo com propagandas de viagens a Israel, bandeiras de cartão de crédito, consórcios.

O capítulo 14 de 1 Coríntios é uma terceira abordagem da mesma problemática desenvolvida nos capítulos 12 e 13. Observe que o capítulo inicia-se com o verbo imperativo "diokete"1, isto é, “ir após com insistência”, em vez de um conectivo. No capítulo 12, o apóstolo dos gentios descreve os dons espirituais classificando-os em: (v.4) "diversidade de dons" (diaireseis de charismaton); (v.5) "diversidade de ministérios" (diaireses diakonion); (v.6) "diversidade de operações" (diaireseis energematon). A ênfase está na unidade e diversidade dos carismas. No capítulo 13, Paulo, embora exorte os crentes a buscarem os melhores dons (12.31), sobrepõe o amor aos carismas.

Todavia, neste capítulo, o apóstolo discute a relação entre os dons espirituais e a edificação da comunidade cristã. O tema (leitmotiv) da perícope acha-se no v. 26: "Faça-se tudo para edificação" (v.12). O termo "edificar" (oikodomeo) aparece sete vezes no capítulo (vv.3, 4, 5, 12, 17, 26). O sentido básico é "construir", "erigir", "construir". De acordo com Vine, procede de "oikos" e "demo", literalmente "construir uma casa" e, metaforicamente, "promover o crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter"2.

Contexto Histórico e Propósitos

As religiões de mistérios multiplicaram-se nos domínios da Grécia e de Roma. Os adeptos desses cultos eram conhecidos pelos seus "dotes espirituais", "transes", "glossolalia", "visões", e seus iniciados eram chamados de "pneumatikos", "pessoas espirituais". 

Variegados membros dessas religiões converteram-se ao Evangelho e, não poucos, estavam presentes na comunidade cristã de Corinto (1 Co 12.1), como também na igreja cristã da cidade de Colossos, provocando uma espiritualidade confusa, sincrética e radical (Cl 2). Nesta última cidade, os crentes chegaram até mesmo a cultuar os anjos, evitar certos alimentos e condenar o casamento. Neste contexto sociorreligioso, as manifestações espirituais na igreja moviam-se entre o exibicionismo e a soberba espiritual, provocando uma balbúrdia e distorção dos carismas. Lembre-se o leitor que as religiões de mistério nessas duas cidades dividiam a humanidade em pneumatikoi (os espirituais), hilikoi (os materialistas) e psichikoi (os naturais ou racionais). No epicentro desta querela estavam os "profetas", dotados do carisma da profecia, e os "glossolalos"3, que falavam em variedades de línguas (vv. 3,4). Portanto, Paulo escreve com o propósito de:

1) distinguir o valor didático e coletivo da glossolalia e da profecia, vv.1-9;
2) apresentar a função didática dos carismas no culto, vv.12-19;
3) exortar à maturidade v.20;
4) descrever ambos os dons como sinal (semeion) na liturgia, vv.22-25;
5) solicitar ordem na liturgia, vv.26-40.

Em nenhum momento Paulo condena os carismas ou diminui sua importância, conclui: “procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas” (v.39). Pelo contrário, distingui o valor e a função pública dos carismas. Assim, o dom de variedades de línguas é considerado útil à congregação, caso haja quem o interprete, e igualmente importante para a devoção particular, quando não há intérprete (vv.2,4-5). O dom de profecia, um dom didático, exortativo e comunitário, é ressaltado pela sua importância pública e coletiva (v.3). O dom de línguas e o de profecias recebem elogios e exortações (v.2,4-28; vv.29-40). Os encômios são dirigidos à correta função dos carismas na edificação pessoal e comunitária, enquanto as advertências ao uso imprudente e inoportuno, que provocam balbúrdia. O espanto e tumulto eram tantos que Paulo afirma que “Deus não é de confusão” (v.33). O que significa afirmar que o uso incorreto dos carismas revelava desconhecimento da parte dos glossolalos (que falavam em línguas) e dos profetas da natureza eirênica e ordeira do Senhor. Ambos os dons servem de fundamento para compreendermos a necessidade de dons didáticos para a liturgia congregacional e de certos carismas cuja natureza é mais pessoal do que coletiva.

Um dado importante no capítulo é que o dom, seja de línguas, seja de profecias, é encarnacional. Alguns entendiam que o dom era apenas sobrenatural, ou seja, o Espírito Santo é o agente e o cristão apenas o instrumento passivo dessa manifestação carismática. Desta forma, o glossolalo e o profeta se eximiam de qualquer responsabilidade na manifestação do carisma, atribuindo ao Espírito toda e qualquer desordem (v.33). Os dons porém são encarnacionais, isto é, o crente é também o agente e não apenas o instrumento. 

O profeta, por exemplo, não deixa de ser quem é, não perde sua cultura e formação, mas antes as exprime por meio do carisma. Ele, assim como o glossolalo, é responsável pelo modo como recebe o dom e o manifesta em público. De acordo com Paulo pode haver até mais de uma profecia no culto, mas instrui que cada profeta deve esperar sua vez; a recomendação também diz respeito ao que fala em línguas. Não existe edificação se não se entende o que se está dizendo ou acontecendo, se não há um propósito claro. Deus não se contradiz. Como pode “falar por meio de um profeta” e ao mesmo tempo ser repreendido por outro que também afirma falar em nome dele, ou melhor, que é “Ele quem fala?” Tal contradição não deve ser aceita na liturgia pentecostal!

Aqui os pregadores e avivalistas, sejam quais forem os nomes que lhes sejam dados (“vaso”, “canela de fogo”, etc.), sejam quais forem os cognomes que lhes sejam atribuídos (“filho do fogo”, “quebra-vaso”, “filho do trovão”, “ferrolho de fogo”, etc.) têm culpa por sua cumplicidade e adesão ao “culto maníacos”, ordenando “marchas”, “danças”, “pulos” entre outras esquisitices que não correspondem à herança pentecostal ensinada por nossos fundadores. 

Da mesma culpa compartilham os organizadores desses eventos. Num desses, o culto público realizado às quintas-feiras foi cancelado para os "profetas" irem ao monte a fim de se prepararem para "o encontro de vasos" que seria realizado no sábado daquela fatídica semana. Que dureza! Isso senhores, não é avivamento, mas manipulação das emoções e dos carísmas. Paulo exorta afirmando: "Irmãos, não sejais meninos" (v.20). Não se deixem usar pelos pregadores que buscam sucesso por meio da manipulação dos carismas.

Estrutura

O capítulo está dividido em quatro seções:
1) vv.1-25: Distinções, propósitos e superioridade do carisma profético;
2) vv.26-35: A liturgia e a regulamentação dos carismas;
3) vv.36-38: Autoridade paulina;
4) vv. 38,39: Síntese do discurso.

Comentário e Aplicação

O culto, tanto no Antigo ('abad) quanto em o Novo Testamento (latreuo), significa "servir", "serviço", referindo-se à liturgia sagrada oferecida ao Senhor (Êx 20.5; Mt 3.10). O culto é um serviço de gratidão e adoração a Deus por todas as bênçãos salvíficas (Sl 116.12,13). A pessoa principal da liturgia cristã não é o crente carismático, mas o Senhor Jesus Cristo (Ap 15.3,4).

Lamentavelmente, muitas igrejas têm substituído a divina pessoa de Jesus Cristo por outros personagens evangélicos. Deixam de lado Aquele que é manso e humilde de coração para abraçarem ególatras; abandonam Aquele que a si mesmo se doou para receberem os que pedem polpudas doações; se esquecem dAquele cujo corpo encheu-se das cicatrizes do amor para agradarem aos que estão cheios das medalhas da fama.  

Além de o culto ter como propósito a adoração a Deus, ele também nutre a edificação da comunidade redimida (vv.4,5,12s). Todavia, em vez de adorarmos integralmente ao Senhor em nossas reuniões, dividimos o tempo com propagandas de viagens a Israel, bandeiras de cartão de crédito, consórcios. Trocamos a adoração pelo comércio, a piedade pela hedonismo, a contrição pela evasão de si. Voltemos a celebrar ao Senhor e a unidade do Corpo de Cristo em nossos cultos, tornando-os didáticos, piedosos e festivos.

Sabemos que a liturgia da igreja primitiva era dinâmica, espontânea e com manifestações periódicas dos carismas concedidos pelo Espírito Santo (Rm 12.6-8; 1 Co 12.4-11, 28-31). 

Os cultos da igreja de Corinto eram carismáticos (1 Co 12; 13; 14), pois todas as manifestações do Espírito, as diversidades de ministérios e de operações, encontravam-se naquelas reuniões (1 Co 12.4-6). Porém, a igreja estava envolvida em diversas dissensões e litígios (1 Co 1.10; 6.1-11); pecados morais (1 Co 5) e, principalmente, desordem no culto de adoração a Deus (1 Co 11.17-19; 14.26-35). A desordem era tal que o próprio culto tornou-se um entrave ao progresso espiritual dos crentes. Eles eram imaturos e carnais (1 Co 3.1-4 ver v.20). 

Por fim, diz Paulo:

“Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo, são mandamentos do Senhor” (v.37).

Notas

1. Literalmente "ir após com persistência".
2. VINE, W. E. (et al.) Dicionário Vine. 7.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.582-3.
3. Tradução grega de "ho lalon glossei".

*****
Fonte:http://www.cpadnews.com.br/blog/esdrasbentho/?POST_1_79_EXORTA%E7%F5ES+AOS+CARISMAN%EDACOS:+1COR%EDNTIOS+14+COMO+PARADIGMA+DA+LITURGIA+PENTECOSTAL.html