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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quais as principais objeções à "teoria da evolução"?

26.11.2014
Do blog FÉ E CIÊNCIA

Objeções à "teoria da evolução" referem-se, entre outros itens:
  • à abordagem da "teoria" em si, que alega ser científica, mas apresenta inquestionáveis dificuldades de transparência, lógica e método;
  • aos mecanismos postulados para o processo "evolutivo";
  • ao seu desempenho quando testada contra experiências especiais;
  • às formulações vagas utilizadas, por exemplo, no enunciado de suas hipóteses ou quando (não) explica comoexatamente um organismo supostamente evoluiu ou mudou a um outro.
Edgar H. Andrews (Professor Emérito do Departamento de Ciência dos Materiais, Queen Mary College, Universidade de Londres) escreve em seu livro No princípio ...: "A evolução não é uma boa teoria. ... Ela não explica todos os fatos, e aqueles que explica não são explicados de modo claro. A teoria não tem um bom desempenho quando testada contra experiências especiais, porque nenhum experimento jamais mostrou que o processo de evolução acontece realmente. A teoria é frequentemente vaga e obscura, por exemplo, quando se pergunta como exatamente uma criatura supostamente evoluiu ou mudou para uma outra. Não consegue dar respostas exatas, nem mesmo boas estimativas." A análise de Andrews é compartilhada por outros cientistas de renome. Richard Smalley (Prêmio Nobel de Química de 1996), por exemplo, refere-se ao assunto ao comentar um texto recente sobre evolução e suas alternativas: "A evolução acabou de receber seu golpe mortal. Após ler Origins of life com meu conhecimento de química e física, fica claro que evolução biológica não pode ter ocorrido."
Mesmo assim, atualmente é comum que cientistas aceitem um darwinismo revisto, chamado neodarwinismo, a versão mais usual da "teoria da evolução". Outros, como foi exemplificado, veem os modelos e postulados neodarwinistas com ressalvas. E há também cientistas que desautorizam a "teoria" até mesmo como hipótese. Este é o caso de Wolfgang Smith (Professor Emérito de Matemática que lecionou no MIT, na Universidade da Califórnia Los Angeles e na Universidade do Estado de Oregon). "Oponho-me ao darwinismo, ou melhor, oponho-me à hipótese transformista como tal, não importa qual seja o mecanismo ou causa (talvez até mesmo teleológica ou teísta) dos saltos macroevolutivos postulados. Estou convencido, além disso, de que o darwinismo, independentemente do formato, de fato não é uma teoria científica, mas uma hipótese pseudo-metafísica pomposamente vestida em roupagem de ciência. Na realidade, a teoria deriva sua sustentação não dos dados empíricos ou das deduções lógicas de natureza científica, mas da circunstância de ser a única doutrina sobre as origens biológicas concebível na limitada Weltanschauung (= visão do mundo) a que a maioria dos cientistas indubitavelmente subscreve." (citado em H. Margenau; R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos, Open Court, 1992)
O seguinte trecho de autoria do Prof. Kenneth Hsu, Professor Emérito da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH Zürich), concisamente expõe a dificuldade de sustentar-se a denominação ciência para o Darwinismo:
O juiz William Overton [do Arkansas, EUA, na sua decisão dos anos 80 de que o criacionismo não seria científico] adotou cinco critérios para a definição legal de ciência, a saber:
  1. É guiada pela lei natural.
  2. Deve ser explanatória com referência à lei natural.
  3. É testável contra o mundo empírico.
  4. É falsificável.
  5. Suas conclusões são tentativas, isto é, não são necessariamente palavras finais.
A teoria Darwiniana foi considerada científica porque é guiada pela "lei" da seleção natural, e é explanatória com referência a esta lei.
Mas é a seleção natural uma lei natural? Darwin emprestou a idéia da ideologia social de Malthus. Apresentou poucos fatos históricos, e durante o último século os paleontólogos não encontraram muita evidência que suporta a noção de que seleção natural é uma lei natural.
A teoria Darwiniana não é experimentalmente testável contra o mundo empírico, porque o mecanismo proposto opera num horizonte de tempo muito maior que nosso tempo de vida. Como uma teoria para explicar fatos históricos, é falsificável pelo registro fóssil. Assim, foi uma hipótese científica quando proposta inicialmente. Após mais do que um século, entretanto, percebemos que sua premissa não é suportada pelo registro paleontológico, e suas numerosas predições mostraram-se incorretas [o autor cita uma referência]. O atual estado do Darwinismo, em minha opinião, é comparável àquele da teoria geocêntrica de Ptolomeu durante a Idade Média. A teoria de Ptolomeu foi ciência durante a Antigüidade, mas transformou-se em dogma depois que suas predições foram falsificadas pelas novas observações de Galileu. Do mesmo modo, o Darwinismo foi uma hipótese científica, mas transformou-se numa ideologia durante o século XX.
O último critério do juiz Overton é uma expressão da filosofia de Popper de que "a verdade científica pode ser somente falsificada, mas não verificada". No que diz respeito a este ponto, Darwinistas ortodoxos, com sua insistência de que não há nenhuma alternativa científica à seleção natural, não se deram muito melhor do que fundamentalistas religiosos.
(Extraído de: Hsu, K.J. - "Evolution, ideology, darwinism and science", Klinische Wochenschrift, v. 67, pp. 923-928, 1989. Traduzido pelo autor desta página.)
A discussão de objeções à "teoria da evolução" e/ou de dificuldades desta teoria não é objetivo deste site. Exemplos de tal discussão encontram-se nas referências listadas a seguir. Reconheço estas publicações como merecedoras de atenção; sua citação não implica concordância irrestrita com todos os pontos de vista e argumentos nelas expostos.
  • M.N. Eberlin - Fomos planejados, um livro que está sendo escrito online pelo Prof. Marcos N. Eberlin, com ênfase em evidências e aspectos relacionados à Química. O Prof. Eberlin é membro da Academia Brasileira de Ciências e professor de Química da Unicamp.
  • W. Gitt – Did God use evolution?, 2. edição, Bielefeld: CLV, 2001. ISBN 3-89397-725-2. (Neste livro Werner Gitt discute implicações e objeções científicas e não-científicas à "teoria da evolução". Uma versão online pode ser acessada aqui. Até sua aposentadoria em 2002, Gitt foi Professor da Universidade Técnica de Braunschweig e Diretor da Physikalisch-Technische Bundesanstalt Braunschweig, PTB, a entidade técnica normativa da Alemanha.)
  • W. Heitler - "Considerações sobre a probabilidade de surgimento de um novo gene", trecho transcrito de Naturphilosophische Streifzüge, F. Vieweg und Sohn, Braunschweig, 1970.
  • K.J. Hsu - "Evolution, ideology, darwinism and science", Klinische Wochenschrift (título atual: Journal of Molecular Medicine), v. 67, número 17, pp. 923-928, 1989. (Neste artigo o Prof. K. Hsu explica porque darwinismo não é ciência.)
  • A. Locker – "Evolução e teoria da 'evolução' sob análise da teoria de sistemas e análise metateórica"Diálogo e Antítese, v. 1, número 1, pp. 69-93, 2009. (Este artigo de Alfred Locker é uma sinopse da sua crítica da "teoria da evolução". O conhecimento abrangente do autor bem como o rigor que busca na argumentação torna a leitura do artigo muito interessante, porém trabalhosa. O texto integral do artigo no idioma original - o alemão - está disponível aqui. Locker (1922-2005) foi Professor Emérito de Física Teórica da Universidade Técnica de Viena.)
  • A. Lourenço – Como tudo começou, São José dos Campos: Editora Fiel, 2007. ISBN 978-85-99145-38-8. (Este é um livro sobre origens dirigido ao público em geral. É auto contido, acessível e bem ilustrado.)
  • A.E. Wilder-Smith - The natural sciences know nothing of evolution, Master Books, 1981. ISBN 0890510628. (Este livro discute objeções empíricas à "teoria da evolução". Parte do conteúdo pode ser acessado aqui. Wilder-Smith, químico falecido em 1995, recebeu três títulos de doutorado e atuou em universidades da Europa e EUA, bem como na indústria farmacêutica.)
Referências adicionais podem ser obtidas em sites na Internet dedicados aos assuntos origemevolução e criação. Mas fica aqui um alerta para a falta de objetividade e/ou confiabilidade das informações disponibilizadas em alguns desses sites. Um exemplo de site confiável é a Internet Library, um site mantido pelo Dr. W.-E. Lönnig, geneticista do Max-Planck Institute for Plant Breeding Research, Alemanha. 
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/resp.htm#perg13

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Que significa ser cristão? Como alguém pode se tornar cristão?

28.07.2014
Do blog FÉ E CIÊNCIA

Foi no primeiro século d.C., em Antioquia da Síria, que os seguidores de Jesus passaram a ser chamados cristãos. Cristãos são pessoas que reconhecem em Jesus Cristo a solução de Deus para o problema do pecado.
Quando não é entendido corretamente, o conceito de pecado pode ser percebido como ofensivo ou ridículo. Muitas pessoas acham que pecar significa quebrar regras "divinas" de comportamento. Mas a Bíblia ensina que: (a) pecado é rebeldia contra Deus; (b) "o salário do pecado é a morte" (Rom 6.23).
Paulo de Tarso, um dos principais líderes das primeiras comunidades cristãs, escreveu: "Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós" (Rom 5.8). Em outra ocasião, ele escreveu:"somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós... Ele morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas vivam para aquele que morreu e ressuscitou para a salvação deles" (2 Cor 5.14-15). Desta forma Jesus tornou possível que cristãos de todas as épocas e tradições afirmem juntamente com William Daniel Phillips (Prêmio Nobel de Física de 1997): "Creio em Deus como criador e como amigo. Isto é, creio que Deus é pessoal e interage conosco".
A Bíblia ensina - e a experiência individual comprova - que se tornar cristão significa transformação de vida. Paulo de Tarso explica isto da seguinte forma: "Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo. Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele" (2 Cor 5.17-18).
O primeiro passo para se tornar cristão é o arrependimento, que não consiste apenas em lamentar esta ou aquela má ação, mas inclui: (a) o reconhecimento da nossa rebeldia contra Deus, e (b) o desejo de mudança. O segundo passo é aceitar que a solução para nossa condição é Jesus Cristo e aquilo que ele fez por nós. Para tal é preciso ter, obviamente, uma noção básica a respeito de Jesus Cristo. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João contém informações de primeira mão sobre Jesus, sua vida e obra. Um texto derivado destes, cuja leitura também tem sido útil a muitas pessoas é Cristianismo puro e simples, de C.S. Lewis, um dos grandes professores de literatura da Universidade de Cambridge.
Tornar-se cristão tem um aspecto individual e outro corporativo. Quando nos tornamos cristãos o fazemos pessoalmente, por exemplo, numa oração; mas também o fazemos de forma pública, ao nos tornarmos membros de uma igreja local (comunidade cristã). João escreve aos cristãos: "A mensagem que vocês ouviram desde o princípio é esta: Que nos amemos uns aos outros" (1 João 3.11). Nas igrejas e através delas temos oportunidades de praticar isso. É difícil viver uma vida cristã sem um grupo de amigos cristãos, sem uma comunidade que crê o que você também crê.
Mas há céticos com relação às igrejas, pois de uma forma ou de outra cristãos e suas comunidades desapontaram muitas pessoas. Isto não surpreende realmente; comunidades cristãs nunca foram (e nunca serão) comunidades perfeitas. De fato, Paulo de Tarso alertou que "entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho ... se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (Atos 20.29). Assim, um pouco de pesquisa e uma pitada de discernimento são importantes para escolher a sua comunidade cristã. 
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/resp.htm#perg7

terça-feira, 10 de junho de 2014

"Fé e ciência" ou "criacionismo × evolucionismo"?

10.06.2014
Do blog FÉ E CIÊNCIA,
Por Karl Heinz Kienitz
 
Tenho notado que muitas vezes se identifica o assunto “fé e ciência” com o debate entre criacionismo e evolucionismo, embora este debate enfoque apenas uma das muitas questões com alguma interação entre fé e ciência. Dos pontos de vista filosófico e teológico a questão das origens é muito interessante. Mas pelo seu modesto impacto sobre as ciências aplicadas, essa questão é – quando muito – moderadamente relevante de um ponto de vista científico pragmático. Por outro lado, uma ampla discussão do assunto “fé e ciência” é muito necessária, pois continua sendo difundida nas escolas, nas universidades e na mídia a mentira de que fé e ciência seriam incompatíveis ou, na melhor das hipóteses, não relacionadas. Às vezes tal ensino chega a ser expresso de forma virulenta em frases como “Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão”
 
1, atribuída a Nietzsche. Como antídoto pode-se explorar a página Fé e Ciência que mantenho. Via de regra, a identificação do tema “fé e ciência” com “criacionismo × evolucionismo” vem de um entendimento equivocado de ciência e/ou fé. Há os que confundem ciência com plausibilidade e aceitam como “científicas” explicações tornadas plausíveis, como, por exemplo, certas explicações do  evolucionismo. Explicações e teorias plausíveis chamam nossa atenção e - às vezes - merecem ser investigadas, contudo plausibilidade nunca foi sinônimo de ciência. Por outro lado pode haver confusão entre os conceitos de fé e doutrina. Fé não é doutrina, nem tampouco alguma coleção tradicional de explicações (por exemplo, sobre a origem da vida). Fé encontra-se explicitamente definida na Bíblia em Hebreus 11 e, no contexto do cristianismo, é a confiança que possibilita um relacionamento do ser humano com Deus. Deus se revelou historicamente conforme anotado na Bíblia. Esta revelação atingiu sua forma mais completa em Jesus Cristo. Portanto fé cristã exige algum (pouco) conhecimento dos contecimentos relacionados a Jesus Cristo, mas prescinde de doutrinas, por fundamentar-se em fatos.
 
Ainda assim doutrina é algo considerado importante na Bíblia. O Novo Testamento prioriza a “doutrina de Cristo” (2 João 9), que se refere aos ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte e sobre o reino de Deus em geral. A “doutrina de Cristo” tem impacto direto sobre a vida do cristão, uma vida que resulta daquela fé que “move” seu relacionamento com Deus. Outras doutrinas, por exemplo ideias dogmáticas sobre a questão das origens, são secundárias do ponto de vista dos evangelhos e podem levar a equívocos, especialmente no contexto de uma redução do assunto “fé e ciência” a “criacionismo × evolucionismo”.
 
O debate sobre as origens é atual e oportuno não só para satisfazer nossa curiosidade, mas também pela relevância das implicações filosóficas e teológicas. Contudo é preciso ter certeza que este debate não seja confundido com a discussão de fé e ciência, que é motivada por um pragmatismo mais específico diante e falsos ensinos que contrariam o entendimento de grandes cientistas como, por exemplo, Walter Heitler (1904-1981, físico, recebedor da Medalha Max Planck de 1968), para quem “natureza definitivamente não pode ser discutida de modo completo em termos científicos sem incluir também a indagação por Deus”.
 
Notas:
 
1. A frase encontra-se no texto
 
Das Gesetz wider das Christenthum, que integra o espólio literário de Nietzsche.
 
2. W.H. Heitler - Die Natur und das Göttliche, Klett und Balmer, Zug, 1974.
 
Publicado em  www.ultimato.com.br em 09 de março de 2010.
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/fe-e-ciencia.pdf

Pensamos o suficiente quando lemos a Bíblia?

10.06.2014
Do blog FÉ E CIÊNCIA, 31.01.14*
Por Karl Heinz Kienitz
 
“Todos nós temos uma tendência a pensar que o mundo deve estar de acordo com os nossos preconceitos.
 
A visão oposta envolve algum esforço de pensamento, e a maioria das pessoas iria morrer antes de pensar - na verdade, é o que fazem.”
 
1 A frase é do matemático e filósofo ateu Bertrand Russell (1872-1970). É cutucão oportuno para que cristãos e não cristãos se perguntem se pensam – o suficiente, talvez – quando leem a Bíblia.
 
Arthur L. Schawlow, prêmio Nobel de Física de 1981, considerou que “somos afortunados em termos a Bíblia, e especialmente o Novo Testamento que nos fala sobre Deus em termos humanos muito acessíveis, embora também nos deixe algumas coisas difíceis de entender.”
 
2 Schawlow via na Bíblia valiosa fonte de conhecimento, da qual não se usufrui sem significativo envolvimento da mente, visto que ela também nos deixa “algumas coisas difíceis de entender.”
 
Obviamente há os que preferem não ler a Bíblia; desses, muitos se julgam capazes, mesmo assim, de opinar sobre o cristianismo. No meio acadêmico a situação é particularmente curiosa. O Prof. John Suppe, da Universidade de Princeton, membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA, parafraseou o que lhe caiu como raio em certa ocasião na capela universitária de Princeton, ainda antes de se tornar cristão convicto: “Vocês [professores e estudantes] conhecem muito bem o seu negócio acadêmico. Mas seu conhecimento do cristianismo é de jardim da infância.”
 
3 Pois para conhecer a proposta cristã é preciso ler e entender – ao menos até certo ponto – o relato bíblico. Quando lemos a Bíblia, a reflexão cuidadosa – como acontece também em ciência – precisa proceder em estrita conformidade com a natureza objetiva do que está sendo lido e estudado. Assim, por exemplo, é preciso dar aos evangelhos (a parte da Bíblia que trata da história de Jesus) a oportunidade de comunicar sua mensagem; e Jesus precisa ser entendido de acordo com seu próprio discurso.
 
Por isso não “vale” ler passagens bíblicas desconsiderando o contexto, inclusive as intenções nele expressas, ou ainda munido de preconceitos ou premissas especulativas. O evangelho de Lucas, por exemplo, precisa ser lido como um texto escrito pelo motivo exposto logo no seu início. Ali, Lucas informa a Teófilo, seu primeiro leitor, que lhe “pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever de modo ordenado... para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste.” (Lucas 1.1-4).
 
Semelhantemente, o evangelho de João precisa ser lido considerando que foi escrito “para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele” (João 20.31). Da mesma forma, é imprescindível lembrar que o Novo Testamento é portador de informação de “testemunhas oculares” (2 Pedro 1.16). E assim por diante. Com relação ao discurso de Jesus, principal veículo da mensagem do Cristianismo, percebe-se que ele:
 
 
É desafiador: “Eu lhes mostrarei a que se compara aquele que vem a mim, ouve as minhas
palavras e as pratica. É como um homem que ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa, mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica, é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces. No momento em que a torrente deu contra aquela casa, ela caiu, e a sua destruição foi completa” (Lucas 6.47-49).
 
 
É relacional: “Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor... O meu
 mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei” (João 15.9 e 12).
 
 
Não é endereçado aos autossuficientes: “Respondeu-lhes Jesus: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5.31-32).
 
 
É voltado à satisfação e segurança do homem: “O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir;
 
eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.” (João 10.10). Disso pode resultar em nós a “confiança em que Deus me será fiel em qualquer situação da vida, e em que Ele é o garantidor e o fundamento da minha vida, de forma que minha vida não mais poderá perder seu sentido.”
 
Esse foi o testemunho do Prof. Helmut Thielicke (1908-1986), ex-reitor da Universidade de
Hamburgo.
 
O chamado de Jesus na passagem de Lucas 5 mencionada anteriormente, e suas consequências são explicadas com maior detalhe por Paulo de Tarso:
 
1 Bertrand Russell –
 
The ABC of Relativity, 1a edição, 1925.
 
2 Em H. Margenau e R.A. Varghese (editores) –
 
Cosmos, bios, theos, Open Court, Chicago, 1992.
 
3 John Suppe – “Odinary memoir,” em P. M. Anderson (editor),
 
Professors Who Believe, InterVarsity Press, 1998.
 
 
“... deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês.”(Romanos 12.2)
 
 
“É preciso que o coração e a mente de vocês sejam completamente renovados.” (Efésios 4.23). É por isso que a leitura da Bíblia nos leva a “ler” nossa mente de forma crítica, e a reconheceremos nela não o instrumento soberano ao qual tudo se deve submeter, mas o grande instrumento que precisa da “completa renovação” operada por Deus, o soberano. A Bíblia e a mente: precisamos de uma para ler a outra.
 
*www.ultimato.com.br em 31 de janeiro de 2014.
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/pensamos.pdf

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O que significa ser cristão? Como alguém pode se tornar cristão?

21.04.2014
Do blog FÉ E CIÊNCIA

Foi no primeiro século d.C., em Antioquia da Síria, que os seguidores de Jesus passaram a ser chamados cristãos. Cristãos são pessoas que reconhecem em Jesus Cristo a solução de Deus para o problema do pecado.
Quando não é entendido corretamente, o conceito de pecado pode ser percebido como ofensivo ou ridículo. Muitas pessoas acham que pecar significa quebrar regras "divinas" de comportamento. Mas a Bíblia ensina que: (a) pecado é rebeldia contra Deus; (b) "o salário do pecado é a morte" (Rom 6.23).
Paulo de Tarso, um dos principais líderes das primeiras comunidades cristãs, escreveu: "Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós" (Rom 5.8). Em outra ocasião, ele escreveu:"somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós... Ele morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas vivam para aquele que morreu e ressuscitou para a salvação deles" (2 Cor 5.14-15). Desta forma Jesus tornou possível que cristãos de todas as épocas e tradições afirmem juntamente com William Daniel Phillips (Prêmio Nobel de Física de 1997): "Creio em Deus como criador e como amigo. Isto é, creio que Deus é pessoal e interage conosco".
A Bíblia ensina - e a experiência individual comprova - que se tornar cristão significa transformação de vida. Paulo de Tarso explica isto da seguinte forma: "Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo. Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele" (2 Cor 5.17-18).
O primeiro passo para se tornar cristão é o arrependimento, que não consiste apenas em lamentar esta ou aquela má ação, mas inclui: (a) o reconhecimento da nossa rebeldia contra Deus, e (b) o desejo de mudança. O segundo passo é aceitar que a solução para nossa condição é Jesus Cristo e aquilo que ele fez por nós. Para tal é preciso ter, obviamente, uma noção básica a respeito de Jesus Cristo. Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João contém informações de primeira mão sobre Jesus, sua vida e obra. Um texto derivado destes, cuja leitura também tem sido útil a muitas pessoas é Cristianismo puro e simples, de C.S. Lewis, um dos grandes professores de literatura da Universidade de Cambridge.
Tornar-se cristão tem um aspecto individual e outro corporativo. Quando nos tornamos cristãos o fazemos pessoalmente, por exemplo, numa oração; mas também o fazemos de forma pública, ao nos tornarmos membros de uma igreja local (comunidade cristã). João escreve aos cristãos: "A mensagem que vocês ouviram desde o princípio é esta: Que nos amemos uns aos outros" (1 João 3.11). Nas igrejas e através delas temos oportunidades de praticar isso. É difícil viver uma vida cristã sem um grupo de amigos cristãos, sem uma comunidade que crê o que você também crê.
Mas há céticos com relação às igrejas, pois de uma forma ou de outra cristãos e suas comunidades desapontaram muitas pessoas. Isto não surpreende realmente; comunidades cristãs nunca foram (e nunca serão) comunidades perfeitas. De fato, Paulo de Tarso alertou que "entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho ... se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (Atos 20.29). Assim, um pouco de pesquisa e uma pitada de discernimento são importantes para escolher a sua comunidade cristã. 
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/resp.htm#perg5

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A "teoria da evolução" demonstrou que a Bíblia está errada?

15.04.2014
Do blog CIÊNCIA E FÉ




Quais as principais objeções à "teoria da evolução"?
Não. Embora a "teoria da evolução" não trate explicitamente da Bíblia, muitas pessoas são da opinião de que ela a contradiz, enquanto outras a consideram compatível com o texto bíblico. Uma visão geral sobre as origens e repercussões da "teoria da evolução" é apresentada no seguinte artigo:
Com alguma frequência, ouve-se a opinião de que a "teoria da evolução" é evidência a favor de um naturalismo ateu econtra a Bíblia. Um forte argumento de que a "teoria da evolução" é de fato incompatível com um naturalismo ateu foi apresentado por Alvin Plantinga, e foi relatado por ele de forma muito acessível no seguinte artigo:


 Quais as principais objeções à "teoria da evolução"?
Objeções à "teoria da evolução" referem-se, entre outros itens:
  • à abordagem da "teoria" em si, que alega ser científica, mas apresenta inquestionáveis dificuldades de transparência, lógica e método;
  • aos mecanismos postulados para o processo "evolutivo";
  • ao seu desempenho quando testada contra experiências especiais;
  • às formulações vagas utilizadas, por exemplo, no enunciado de suas hipóteses ou quando (não) explica comoexatamente um organismo supostamente evoluiu ou mudou a um outro.
Edgar H. Andrews (Professor Emérito do Departamento de Ciência dos Materiais, Queen Mary College, Universidade de Londres) escreve em seu livro No princípio ...: "A evolução não é uma boa teoria. ... Ela não explica todos os fatos, e aqueles que explica não são explicados de modo claro. A teoria não tem um bom desempenho quando testada contra experiências especiais, porque nenhum experimento jamais mostrou que o processo de evolução acontece realmente. A teoria é frequentemente vaga e obscura, por exemplo, quando se pergunta como exatamente uma criatura supostamente evoluiu ou mudou para uma outra. Não consegue dar respostas exatas, nem mesmo boas estimativas." A análise de Andrews é compartilhada por outros cientistas de renome. Richard Smalley (Prêmio Nobel de Química de 1996), por exemplo, refere-se ao assunto ao comentar um texto recente sobre evolução e suas alternativas: "A evolução acabou de receber seu golpe mortal. Após ler Origins of life com meu conhecimento de química e física, fica claro que evolução biológica não pode ter ocorrido."
Mesmo assim, atualmente é comum que cientistas aceitem um darwinismo revisto, chamado neodarwinismo, a versão mais usual da "teoria da evolução". Outros, como foi exemplificado, veem os modelos e postulados neodarwinistas com ressalvas. E há também cientistas que desautorizam a "teoria" até mesmo como hipótese. Este é o caso de Wolfgang Smith (Professor Emérito de Matemática que lecionou no MIT, na Universidade da Califórnia Los Angeles e na Universidade do Estado de Oregon). "Oponho-me ao darwinismo, ou melhor, oponho-me à hipótese transformista como tal, não importa qual seja o mecanismo ou causa (talvez até mesmo teleológica ou teísta) dos saltos macroevolutivos postulados. Estou convencido, além disso, de que o darwinismo, independentemente do formato, de fato não é uma teoria científica, mas uma hipótese pseudo-metafísica pomposamente vestida em roupagem de ciência. Na realidade, a teoria deriva sua sustentação não dos dados empíricos ou das deduções lógicas de natureza científica, mas da circunstância de ser a única doutrina sobre as origens biológicas concebível na limitada Weltanschauung (= visão do mundo) a que a maioria dos cientistas indubitavelmente subscreve." (citado em H. Margenau; R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos, Open Court, 1992)
O seguinte trecho de autoria do Prof. Kenneth Hsu, Professor Emérito da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH Zürich), concisamente expõe a dificuldade de sustentar-se a denominação ciência para o Darwinismo:
O juiz William Overton [do Arkansas, EUA, na sua decisão dos anos 80 de que o criacionismo não seria científico] adotou cinco critérios para a definição legal de ciência, a saber:
  1. É guiada pela lei natural.
  2. Deve ser explanatória com referência à lei natural.
  3. É testável contra o mundo empírico.
  4. É falsificável.
  5. Suas conclusões são tentativas, isto é, não são necessariamente palavras finais.
A teoria Darwiniana foi considerada científica porque é guiada pela "lei" da seleção natural, e é explanatória com referência a esta lei.
Mas é a seleção natural uma lei natural? Darwin emprestou a idéia da ideologia social de Malthus. Apresentou poucos fatos históricos, e durante o último século os paleontólogos não encontraram muita evidência que suporta a noção de que seleção natural é uma lei natural.
A teoria Darwiniana não é experimentalmente testável contra o mundo empírico, porque o mecanismo proposto opera num horizonte de tempo muito maior que nosso tempo de vida. Como uma teoria para explicar fatos históricos, é falsificável pelo registro fóssil. Assim, foi uma hipótese científica quando proposta inicialmente. Após mais do que um século, entretanto, percebemos que sua premissa não é suportada pelo registro paleontológico, e suas numerosas predições mostraram-se incorretas [o autor cita uma referência]. O atual estado do Darwinismo, em minha opinião, é comparável àquele da teoria geocêntrica de Ptolomeu durante a Idade Média. A teoria de Ptolomeu foi ciência durante a Antigüidade, mas transformou-se em dogma depois que suas predições foram falsificadas pelas novas observações de Galileu. Do mesmo modo, o Darwinismo foi uma hipótese científica, mas transformou-se numa ideologia durante o século XX.
O último critério do juiz Overton é uma expressão da filosofia de Popper de que "a verdade científica pode ser somente falsificada, mas não verificada". No que diz respeito a este ponto, Darwinistas ortodoxos, com sua insistência de que não há nenhuma alternativa científica à seleção natural, não se deram muito melhor do que fundamentalistas religiosos.
(Extraído de: Hsu, K.J. - "Evolution, ideology, darwinism and science", Klinische Wochenschrift, v. 67, pp. 923-928, 1989. Traduzido pelo autor desta página.)
A discussão de objeções à "teoria da evolução" e/ou de dificuldades desta teoria não é objetivo deste site. Exemplos de tal discussão encontram-se nas referências listadas a seguir. Reconheço estas publicações como merecedoras de atenção; sua citação não implica concordância irrestrita com todos os pontos de vista e argumentos nelas expostos.
  • M.N. Eberlin - Fomos planejados, um livro que está sendo escrito online pelo Prof. Marcos N. Eberlin, com ênfase em evidências e aspectos relacionados à Química. O Prof. Eberlin é membro da Academia Brasileira de Ciências e professor de Química da Unicamp.
  • W. Gitt – Did God use evolution?, 2. edição, Bielefeld: CLV, 2001. ISBN 3-89397-725-2. (Neste livro Werner Gitt discute implicações e objeções científicas e não-científicas à "teoria da evolução". Uma versão online pode ser acessada aqui. Até sua aposentadoria em 2002, Gitt foi Professor da Universidade Técnica de Braunschweig e Diretor da Physikalisch-Technische Bundesanstalt Braunschweig, PTB, a entidade técnica normativa da Alemanha.)
  • W. Heitler - "Considerações sobre a probabilidade de surgimento de um novo gene", trecho transcrito deNaturphilosophische Streifzüge, F. Vieweg und Sohn, Braunschweig, 1970.
  • K.J. Hsu - "Evolution, ideology, darwinism and science"Klinische Wochenschrift (título atual: Journal of Molecular Medicine), v. 67, número 17, pp. 923-928, 1989. (Neste artigo o Prof. K. Hsu explica porque darwinismo não é ciência.)
  • A. Locker – "Evolução e teoria da 'evolução' sob análise da teoria de sistemas e análise metateórica"Diálogo e Antítese, v. 1, número 1, pp. 69-93, 2009. (Este artigo de Alfred Locker é uma sinopse da sua crítica da "teoria da evolução". O conhecimento abrangente do autor bem como o rigor que busca na argumentação torna a leitura do artigo muito interessante, porém trabalhosa. O texto integral do artigo no idioma original - o alemão - está disponívelaqui. Locker (1922-2005) foi Professor Emérito de Física Teórica da Universidade Técnica de Viena.)
  • A. Lourenço – Como tudo começou, São José dos Campos: Editora Fiel, 2007. ISBN 978-85-99145-38-8. (Este é um livro sobre origens dirigido ao público em geral. É auto contido, acessível e bem ilustrado.)
  • A.E. Wilder-Smith - The natural sciences know nothing of evolution, Master Books, 1981. ISBN 0890510628. (Este livro discute objeções empíricas à "teoria da evolução". Parte do conteúdo pode ser acessado aqui. Wilder-Smith, químico falecido em 1995, recebeu três títulos de doutorado e atuou em universidades da Europa e EUA, bem como na indústria farmacêutica.)
Referências adicionais podem ser obtidas em sites na Internet dedicados aos assuntos origemevolução e criação. Mas fica aqui um alerta para a falta de objetividade e/ou confiabilidade das informações disponibilizadas em alguns desses sites. Um exemplo de site confiável é a Internet Library, um site mantido pelo Dr. W.-E. Lönnig, geneticista do Max-Planck Institute for Plant Breeding Research, Alemanha. 
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Fonte:http://www.freewebs.com/kienitz/resp.htm#perg13

Ciência e teologia: mais próximas do que se imagina

18.04.2014
Do portal ULTILMATO ON LINE, 26.04.14

Em 1884, em palestra na reunião da Associação Britânica para o Progresso da Ciência, Lord Rayleigh – ele receberia o prêmio Nobel de Física duas décadas mais tarde – disse que “muitas pessoas excelentes temem a ciência como tendendo ao materialismo. Não é surpreendente que tal apreensão exista, pois, infelizmente, há escritores, falando em nome da ciência, que se fixaram a fomentá-la. É verdade que entre os homens de ciência, como em outros ramos, pontos de vista pouco refletidos podem ser encontrados a respeito das coisas mais profundas da natureza; mas que as crenças a que Newton, Faraday e Maxwell aderiram toda uma vida seriam incompatíveis com o hábito científico da mente é, sem dúvida, uma proposição que eu não preciso me delongar em refutar.”1 Dada assim a compatibilidade de fé cristã e ciência, o que se pode dizer de teologia cristã e ciência? 

Inicio resumindo constatações sobre a estrutura do conhecimento, inicialmente acerca do conhecimento científico e depois do teológico. Segundo Einstein e Polanyi, a estrutura do conhecimento científico é estratificada. Compreende três níveis de pensamento coordenados: um primeiro nível, com nossa experiência cotidiana ordinária e a cognição natural fracamente organizada que lhe é associada; um segundo nível, o da teoria científica, com sua busca de rigorosa unidade lógica de fatores empíricos e conceituais; e o terceiro nível, em que se desenvolve uma unidade lógica mais refinada e abstrata, com um mínimo de conceitos e relações.

Thomas Torrance, um dos principais teólogos do século XX e um dos poucos a investigar a relação entre teologia cristã e ciência, entende que, à semelhança do conhecimento científico, também o conhecimento de Deus é estruturado em três níveis distintos de crescente refinação conceitual. No primeiro nível, o de uma teologia tácita ou subentendida, nós apreendemos a realidade de Deus através da experiência pessoal – por exemplo através de um encontro pessoal com Jesus Cristo – sem ainda entendermos essa realidade conceitualmente. Num segundo nível, o de uma teologia (mais) formal, nós desenvolvemos uma compreensão da estrutura subjacente à nossa experiência pessoal. Finalmente, num terceiro nível, ocorre um aprofundamento na autorrevelação de Deus. Embora o pensamento teológico progrida no sentido de relações e conceitos cada vez mais refinados, ele sempre permanece coordenado com nosso conhecimento pessoal de Jesus Cristo, no qual está alicerçado. 

Torrance2 também enfatiza que, além da semelhança estrutural de conhecimento teológico e científico, existe também uma semelhança metodológica entre teologia e ciência, pois “o pensamento cuidadoso tanto em teologia quanto em ciência procede em estrita conformidade com a realidade ou natureza objetiva do que está sendo investigado e / ou interpretado, isto é, de acordo com o que realmente é.” A conclusão de Torrance é que, se “praticadas rigorosamente, teologia cristã e ciência natural contribuem positivamente uma com a outra, e que o impacto recíproco entre elas é muito mais profundo e heuristicamente relevante do que geralmente é percebido por teólogos e cientistas.” A história da ciência ocidental parece comprovar as conclusões de Torrance. A atividade científica depende de certos pressupostos devidamente organizados acerca do mundo, e foi na cultura europeia do final da Idade Média – permeada pelo Cristianismo – que condições adequadas a esse respeito propiciaram o desenvolvimento do método experimental da ciência como o conhecemos. Teólogos como Robert Grosseteste e o seu aluno Roger Bacon (século XIII) estiveram entre os primeiros a enfatizar o uso da experimentação para aferir afirmações sobre fenômenos naturais; deixaram clara uma sólida motivação para tal, enraizada numa visão de mundo cristã. Grosseteste e Bacon foram seguidos pelos primeiros cientistas modernos propriamente ditos, cristãos como Kepler, Pascal e Boyle. Séculos mais tarde Joule, Maxwell, Pasteur e outros continuariam a enfatizar a ligação positiva entre cristianismo e ciência.

Nesse ponto, retorno ao modelo estratificado do conhecimento teológico e do científico. Além de apontar semelhanças entre teologia e ciência, o modelo estratificado possui também utilidade explicativa. Por exemplo, à luz do modelo, ateísmo constitui ausência de conhecimento de Deus (em todos os níveis), uma vez que falta ao ateu o conhecimento do primeiro nível do conhecimento teológico, o nível tácito, cotidiano, ordinário, subjacente a qualquer discussão objetiva. Como ausência de conhecimento implica ausência do que discutir, é previsível que um ateísmo belicoso (à la Dawkins, por exemplo) se perca em deboche.

O modelo estratificado também auxilia no entendimento de algumas situações de conflito entre teólogos e cientistas, como o conflito do cristão Galileu Galilei (1564-1642) com certos teólogos de sua época. Galileu defendeu o heliocentrismo e sua compatibilidade com a Bíblia. No entanto, muitos teólogos contemporâneos seus discordaram de forma intransigente. O conflito residiu no segundo nível do conhecimento teológico, em que os teólogos discordantes sucumbiram ao problema hermenêutico, à sua falta de autocrítica e ao descuido com a falibilidade humana.

De forma análoga, a oposição de darwinistas à teoria do “design inteligente” manifesta-se no segundo nível do conhecimento científico e o lapso tem características semelhantes à dos teólogos que se opuseram a Galileu. Kenneth Hsu, Professor Emérito da Escola Politécnica Federal de Zurique, resume a situação da seguinte forma: “A teoria darwiniana não é experimentalmente testável contra o mundo empírico, porque o mecanismo proposto opera num horizonte de tempo muito maior que nosso tempo de vida. Como uma teoria para explicar fatos históricos, é falsificável pelo registro fóssil. Assim, foi uma hipótese científica quando proposta inicialmente. Após mais do que um século, entretanto, percebemos que sua premissa não é suportada pelo registro paleontológico, e suas numerosas predições mostraram-se incorretas [Hsu cita uma referência]. O atual estado do darwinismo, em minha opinião, é comparável àquele da teoria geocêntrica de Ptolomeu durante a Idade Média. A teoria de Ptolomeu foi ciência durante a Antiguidade, mas transformou-se em dogma depois que suas predições foram falsificadas pelas novas observações de Galileu. Do mesmo modo, o darwinismo foi uma hipótese científica, mas transformou-se numa ideologia durante o século XX.”3

Teologia cristã e ciência possuem coisas em comum, que Torrance apontou e discutiu com algum detalhe. Além de Torrance, John Polkinghorne, Alister McGrath, Carl Friedrich von Weidzsäcker e outros também investiram ou têm investido esforços para explorar o assunto. A continuidade de tais esforços poderá levar teólogos e cientistas ao próximo passo: identificar e solucionar questões e problemas que demandam o envolvimento conjunto de teologia cristã e ciência.


Notas:

1. Citado em Kneller, K.A. – Christianity and the leaders of modern science, B. Herder, Freiburg im Breisgau, 1911.
2. Em Torrance, T.F. Theological and natural Science, cap. 7, Wipf and Stock, 2002.
3. Hsu, K.J. - “Evolution, ideology, darwinism and science,” Klinische Wochenschrift, v. 67, p. 923-928, 1989.


Leia também


*Karl Heinz Kienitz tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). Escreve sobre Fé e Ciência em seu blog pessoal. 


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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/ciencia-e-teologia-mais-proximos-do-que-se-imagina