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sábado, 9 de janeiro de 2016

POR QUE SÃO IMPORTANTES OS ESCRITOS DA IGREJA PRIMITIVA?

09.10.2016
Do blog COMPILADOR CRISTÃO

Quem entende melhor os apóstolos?

Os cristãos que acreditam em a Bíblia usualmente pensam que são seguidores do cristianismo como o ensinaram os apóstolos. Os cristãos primitivos também criam que seguiam os ensinos apostólicos. Como podemos saber se eles seguiam melhor a norma estabelecida pelos apóstolos, ou se a igreja moderna a segue melhor?
Chega-nos o pensamento: “Bom, comparemos o que eles ensinavam e o que a igreja atual com a Bíblia.” Muito bem, mas tal resposta realmente não resolve o problema. Os cristãos primitivos baseavam suas crenças na Bíblia, o mesmo que fazem todas as denominações. Citavam as Escrituras para apoiar o que diziam como também o fazemos nós. O problema ao fundo chega a ser de interpretação. Bem que podemos comparar suas interpretações das Escrituras com as nossas, mas isto por si só não resolve o problema.
Há ainda outra pergunta que fazer: É mais provável do que a interpretação da igreja moderna seja a correta, ou a deles?

A vantagem do tempo

É de interesse notar que os cristãos primitivos tinham uma disputa com os Gnósticos que é muito semelhante à disputa da igreja evangélica com eles. Tanto a igreja como os Gnósticos afirmavam que estavam no correto quanto ao evangelho. Tertuliano escreveu: “Eu digo que o evangelho meu é o correto. Marciano [um dos principais mestres gnósticos] diz que o seu é o correto. Eu digo que o evangelho de Marciano se adulterou. Ele diz que o meu se adulterou. Bom, como pode resolver esta disputa, exceto pelo fundamento de tempo? Segundo este fundamento, tem a autoridade o que tem a posição mais antiga. Isto se baseia na verdade elementar que a adulteração está com aquele cuja doutrina originou mais recentemente. Já que o erro é a falsificação da verdade, a verdade tinha que existir antes do erro.”
O fundamento de tempo utilizado por Tertuliano é um dos fundamentos que os historiadores utilizam para avaliar relatórios históricos contraditórios. Um relatório escrito mais próximo em tempo ao fato histórico usualmente se considera mais confiável do que um relatório escrito depois. De semelhante maneira, os eruditos utilizam o fundamento de tempo para avaliar a fidelidade dos manuscritos da Bíblia. Onde diferem os manuscritos, geralmente se toma mais em conta os mais antigos, e não os mais recentes.
Pense você. Confiaria você num manuscrito do Novo Testamento que diferia dos demais e que foi produzido 1400 anos depois de que morreram os Apostolos? Especialmente se tivesse um manuscrito disponível que foi escrito uns poucos decênios depois da morte dos apóstolos, confiaria ainda no mais recente? Por que, pois, escolhemos doutrinas que se ensinaram pela primeira vez 1400 anos depois da morte dos apóstolos, ou ainda depois disso? Temos à vista as doutrinas que ensinaram os cristãos que viviam mal uns poucos decênios depois dos apóstolos.

O efeito acumulativo de mudanças leves

Uma cópia que se faz não reproduz exatamente o original. O cristianismo foi copiado de uma geração a outra, e através dos anos isto produziu mudanças. De uma geração à próxima, a maioria das mudanças foi muito leves, quase imperceptíveis. Não obstante, o efeito cumulativo de mudanças leves através de muitos séculos pode produzir mudanças verdadeiramente significantes. Tome, por exemplo, a língua espanhola. De uma geração a outra, nossa língua muda levemente. A mudança se produz tão devagar que mal nos damos conta dele. Notamos muito pouca diferença entre o nosso falar e o de nossos avôs. No entanto, através de muitos anos, o efeito cumulativo de tantas mudanças leves produz uma língua muito diferente do que era. Por exemplo, se nos puséssemos a ler o espanhol do século décimo terceiro, creríamos estar lendo uma língua mal conhecida.
Vemos o mesmo quanto ao cristianismo. Estou seguro que o cristianismo do segundo século não era uma cópia exata do cristianismo apostólico. Mas os cristãos do segundo século estavam, podemos dizer, na geração que seguia à dos apóstolos. E nós vivemos afastados do cristianismo primitivo por 1900 anos! Será razoável dizer que depois de dezenove séculos o cristianismo de hoje não mudou do cristianismo dos apóstolos? Especialmente quando, ao mesmo tempo, dizemos que o cristianismo do segundo século tinha mudado grandemente depois de mal 50 anos?

A vantagem de língua e de cultura

Mas o fundamento de tempo não é a única vantagem que os cristãos primitivos levavam com respeito a nós. Eles também estavam numa posição muito melhor para interpretar os escritos dos apóstolos.

Pensa você no grego antigo?

Como primeiro ponto, os cristãos primitivos podiam ler as Escrituras do Novo Testamento no grego original dos apóstolos. Quantos de nós podemos fazer isto? Alguns pastores estudam o grego antigo vários anos nos seminários. Mas poucos deles dominam bem o grego. A maioria deles nem podem ler um texto grego sem a ajuda de um léxico grego-espanhol. E os cristãos primitivos? Não tinham que estudar o grego antigo; era sua língua materna. Não só falavam o grego; pensavam em grego.
Quanto nós entendemos da cultura da época do mundo mediterrâneo?
O que falar da barreira cultural? A maioria dos cristãos de hoje sabem muito pouco a respeito da cultura e o ambiente histórico da época do Novo Testamento. E muitas vezes, o que julgam saber é mais falso que verdadeiro. Ainda os eruditos que dedicam a vida inteira ao estudo da cultura e o ambiente histórico do Novo Testamento jamais poderão entendê-lo tão bem como entendiam aqueles que viviam nesse tempo. Desta maneira, outra vez os cristãos primitivos levam uma vantagem importante sobre nós quanto a entender as Escrituras.

Falamos nós com o apóstolo João?

Como ponto final, a primeira geração de cristãos primitivos teve a oportunidade de ouvir aos Apostolos pessoalmente, como também de fazer-lhes perguntas.
Clemente de Roma é um exemplo. Ele era discípulo pessoal tanto do apóstolo Paulo como também do apóstolo Pedro. Paulo fala especificamente de Clemente em sua carta aos filipenses: “Assim mesmo te rogo a ti, colega fiel, que ajudes a estas que combateram juntamente comigo no evangelho, com Clemente também e os demais colaboradores meus, cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses 4.3). Será provável que Clemente, o colega pessoal de Paulo, entendesse mau o que Paulo ensinava a respeito da salvação? Por que falaria Paulo com tanto apreço de seu colaborador se este ensinasse o erro?
Já falei da relação de Policarpo com o apóstolo João, quem lhe ordenou como bispo da igreja de Esmirna. Se os “anjos” das sete igrejas do Apocalipse se referem aos bispos destas igrejas, é bem possível que o “anjo” de Esmirna fora o mesmo Policarpo. E, em Apocalipse, Jesus não diz nem uma palavra a respeito de algum erro doutrinal na igreja de Esmirna. De fato, Jesus não teve que corrigir nada nesta igreja. Nada (Apocalipse 2.8-11). Claro que a igreja de Esmirna caminhava muito bem sob a liderança de Policarpo; de outra maneira teria dito o Senhor.
Para os cristãos primitivos ouvir os apóstolos explicar seus próprios escritos não era luxo; era necessário. Que comentou Pedro mesmo dos escritos de Paulo? “Nosso amado irmão Paulo. escreveu-vos, quase em todas suas epístolas, falando nelas destas coisas; entre as quais há algumas difíceis de entender, as quais os incrédulos e inconstantes torcem, como também as outras Escrituras, para sua própria destruição” (2 Pedro 3.15-16). Pedro escrevia a cristãos que dominavam bem o grego e que entendiam perfeitamente a cultura em que viviam a mesma que tinha Paulo. Mas ainda com estas vantagens, Pedro admite de que há coisas “difíceis de entender” nos escritos de Paulo. E nós, que vivemos distanciados deles por quase 2000 anos e falamos outro idioma, cremos que é impossível que entendêssemos mal os escritos de Paulo!

A maioria dos ensinos dos apóstolos era falada

Todos os ensinos de Jesus se comunicavam oralmente. Ele não deixou nem sequer uma palavra escrita de instrução para a igreja. Quando a igreja teve seu princípio no dia de Pentecostes, o único ensino cristão era a palavra falada. De fato, o Novo Testamento que conhecemos hoje não se completou até quase terminar o primeiro século. Por esta razão a igreja do primeiro século tinha que depender, grandemente dos ensinos falados dos apóstolos. E os apóstolos ensinavam oralmente a estes cristãos.
Realmente você crê que o Apostolo Paulo, evangelista e pregador incansável, não ensinou nada mais às igrejas senão só as 13 ou 14 cartas breves que temos em nosso Novo Testamento? Claro que ensinou mais! Paulo exortou aos Tessalonicenses: “Assim que, irmãos, estai firmes, e retende a doutrina que aprendestes, seja por palavra, ou por carta nossa” (2 Tessalonicenses 2.15). Paulo desejava que os cristãos seguissem seus ensinos falados tanto como os escritos.
E os demais apóstolos? Crie você que Pedro nunca escreveu nada senão umas sete páginas? E o que falar dos apóstolos André, Tiago, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Tiago (o filho de Alfeu), Simão o zelote, e Judas (filho de Tiago)? Realmente crê que eles não tinham nada que compartilhar com a igreja? Incrível! Estes eram os homens que Jesus mesmo tinha escolhido. Tinham estado com ele por três anos, um grupo de discípulos íntimos que escutaram seus ensinos. Segundo o depoimento da igreja primitiva, todos os apóstolos dedicavam sua vida à pregação do evangelho, ensinando constantemente.
Paulo escreveu aos Coríntios: “Vos louva, irmãos, porque em tudo vos lembra de mim, e retendes as instruções tal como vo-las entreguei” (1 Coríntios 11.2). Paulo segue com uma advertência a algumas mulheres de Corinto que não levavam um véu sobre a cabeça. Não sabemos de nenhum mandamento apostólico escrito antes disso de que as mulheres cristãs levassem um véu quando oravam ou profetizavam. Mas claramente os apóstolos tinham dado uma instrução falada. E Paulo testemunha que as igrejas já tinham um costume quanto ao uso do véu : “Se algum quer ser contencioso, nós não temos tal costume [a de andar uma mulher sem véu], nem as igrejas de Deus” (1 Coríntios 11.16).
Por favor, não se adiante aqui concluindo que existam outras doutrinas, ou outros mandamentos morais, ou outras revelações que receberam os cristãos primitivos só verbalmente. Em verdade, os escritos dos cristãos primitivos dão uma evidência ampla de que não tinha nenhuma doutrina senão só as que temos escritas. Nosso Novo Testamento contém todas as doutrinas e todos os mandamentos morais necessários para a vida cristã.
Em vez disso, a tradição apostólica (ou seja, os ensinos falados dos apóstolos) constava de duas coisas maiores. Primeiro, estabeleciam ou aprovavam práticas com respeito à adoração e o companheirismo cristão. Em verdade, a igreja primitiva recebeu a maioria de suas praticas nestes pontos por tradição apostólica falada, não por escrito. Por exemplo, em nenhuma parte do Novo Testamento lemos quando devem reunir-se os cristãos, ou quantas vezes devem celebrar a santa ceia. Mas o depoimento dos cristãos primitivos nos ensina que definitivamente tinha tradições dadas pelos apóstolos e seus colegas quanto a esses pontos.
O governo da igreja também se estabeleceu por tradição apostólica, ou seja, pelos ensinos falados dos apóstolos. Quando Paulo deu a Timóteo e Tito as instruções a respeito de escolher anciãos e diáconos para a igreja, não instituía uma nova forma de governar a igreja (1 Timóteo 3.1-13; Tito 1.5-9). Singelamente descrevia aos homens que deviam ser escolhidos para tomar os postos que todos já conheciam.
Em segundo lugar, os ensinos falados dos apóstolos aclaravam e explicavam os pontos que se tinham tratado (ou que cedo seriam tratados) nos escritos que compõem o Novo Testamento. Os apóstolos nunca creram que a igreja devesse interpretar seus escritos por si sós, aparte dos muitos ensinos faladas que davam. E já que a igreja primitiva se aferrava às abundantes instruções faladas dos apóstolos, levavam uma vantagem enorme a nós quanto a interpretar os escritos dos apóstolos.
Mas, por favor, não confunda você as tradições apostólicas com as tradições humanas adotadas pelas igrejas depois. A grande maioria das tradições ensinadas pela igreja católica romana e pela igreja ortodoxa (da Grécia e Rússia) eram desconhecidas aos cristãos primitivos. Tais tradições se adotaram depois do tempo de Constantino.
Será que os cristãos primitivos de propósito falsificaram a verdade? Os cristãos primitivos estavam em melhor posição para entender e imitar os apóstolos.

Falsificaram-se de propósito os ensinos dos apóstolos?

Se o cristianismo mudou radicalmente dentro de poucos decênios depois da morte do apóstolo João, não creio que fora porque a igreja não entendesse os ensinos dos apóstolos. Sejamos razoáveis. Se os cristãos que receberam instrução pessoal dos apóstolos não puderam entender seus ensinos, quem as poderá entender? Por isto digo, se os cristãos se apartaram fundamentalmente do cristianismo dos apóstolos, tiveram que ter feito de propósito, com pleno conhecimento.

Criam que não teria nenhuma nova revelação de Deus.

Criam os cristãos primitivos que os apóstolos erraram em alguns pontos da fé? Criam que a igreja tinha recebido alguma revelação nova depois da morte dos apóstolos? Ou que a doutrina apostólica chegou a passar de moda?
A resposta a todas estas perguntas é um “não” inequívoco. A igreja primitiva ensinava claramente que não teve nenhuma revelação nova depois da morte dos apóstolos. Criam firmemente que tudo o que podemos saber de Deus já nos foi revelado por meio dos apóstolos. Ademais, a igreja cria que os apóstolos não tinham ensinado nada errôneo e que seus ensinos aplicavam aos cristãos até o fim do século.
Por exemplo, Tertuliano escreveu: “Nos apóstolos do Senhor achamos nossa autoridade. Mas nem ainda eles se atreveram a introduzir nada novo, mas fielmente entregaram às nações (de todo mundo) a doutrina que eles tinham recebido de Cristo. Portanto, se ainda ‘um anjo do céu. anunciar outro evangelho’, que seja anátema [Gálatas 1.8]. Portanto, temos esta norma: Já que o Senhor Jesus cristo mandou aos apóstolos que pregassem [o evangelho], não recebemos nenhum outro que prega senão só aos mandados por Cristo. O Filho não revelou [a seu Pai] a ninguém senão só aos apóstolos, a quem também encarregou que pregassem o que lhes tinha revelado.”
Em verdade, o desacordo principal da igreja primitiva com os grupos heréticos tratava isso mesmo: o tema de revelação. Quase todos os hereges afirmavam ter revelações novas além das dos apóstolos.
Os cristãos primitivos se aferravam firmemente à posição de que não teria outra revelação de Deus depois da revelação dada aos apóstolos. Por isso, a igreja recusava imediatamente qualquer ensino que não tinham recebido dos lábios dos apóstolos.

Os líderes da igreja primitiva eram homens de integridade

Mas, para continuar nossa discussão, o fato de que os cristãos primitivos diziam que não tinha nenhuma revelação depois da que foi dada aos apóstolos não quer dizer que eles mesmos não mudassem com astúcia os ensinos apostólicos, com intenção de enganar. O que falar da sua integridade? Eram eles homens honrados, tementes de Deus, ou buscavam riqueza e poder com pouco escrúpulo? A evidência incontestável é que eles eram homens tementes a Deus, humildes e honrados. Como primeiro ponto, não receberam nenhuma remuneração econômica por sua posição. Não recebiam nenhum salário. Os que serviam como anciãos na igreja se negavam das comodidades da vida e viviam em pobreza. Só os hereges sacavam ganho de sua posição de liderança. Tinha pouquíssimos atrativos para alguém que quisesse uma posição de liderança na igreja senão só um anseio honrado de servir a Deus.
Mais do que isso, em tempo de perseguição, os líderes da igreja eram o grupo mais procurado dos soldados e das multidões. Durante algumas épocas, ser nomeado como ancião de igreja quase equivalia a receber a pena de morte. Contudo, quase sem exceção, os líderes da igreja primitiva estavam dispostos a suportar as torturas desumanas antes de negar a Cristo. Muitos dos líderes cristãos que citamos neste dicionário, Inácio, Policarpo, Justino, Hipólito, Cipriano, Metódio, e Orígenes, de boa vontade deram suas vidas por sua fé em Jesus Cisto. Se estes homens tivessem sido enganadores sem escrúpulos, torcendo os ensinos de Cristo e seus apóstolos, estariam dispostos a morrer por Cristo? Os Gnósticos não estavam dispostos a morrer por sua fé. Ainda que afirmassem ter recebido novas revelações de Deus, quando lhes defrontava a tortura e a morte, cedo se rendiam e negavam sua fé. Poucas pessoas estão dispostas a morrer por um engano conhecido.
Não usamos esta mesma verdade quando defendemos a veracidade da ressurreição de Jesus? Não dizemos que os apóstolos não tivessem estado dispostos a dar suas vidas por um engano que eles mesmos iniciaram? Que nos faz crer que os seguidores dos apóstolos tivessem morto por um engano?

Eles reuniram e preservaram o Novo Testamento

Em verdade, a autenticidade de nosso Novo Testamento tem seu fundamento na integridade dos cristãos primitivos. Afinal de contas, os líderes da igreja primitiva reuniram, preservaram, e provaram a autenticidade dos escritos que nós agora chamamos o Novo Testamento.
Alguns cristãos hoje em dia creem equivocadamente que os apóstolos, antes de morrer, reuniram seus escritos e os entregaram à igreja, um livro completo. Supõem que eles lhes disseram aos cristãos de então: “Aqui está o Novo Testamento. Com isto, não lhes falta nada. Aqui esta a revelação de Deus.” Mas não foi assim. As diferentes cartas e livros escritos pelos apóstolos não foram reunidos todos por uma só igreja num livro. Algumas igrejas reuniram uns; outras igrejas, outros. Os apóstolos nunca deixaram dito às igrejas quais escritos aceitar e quais eliminar. Os cristãos primitivos decidirem eles mesmos quais escritos foram legítimos dos apóstolos e quais não foram. E isso não era tão fácil.
Agora, se dizemos que os cristãos primitivos não eram homens honrados, colocamo-nos entre a espada e a parede. Se eles mudaram de propósito os ensinos dos apóstolos, temos que dizer que, com toda probabilidade, também mudaram os escritos dos apóstolos. Então, que base fica para nossas crenças? Resulta que quando defendemos o Novo Testamento como legítimo e autêntico estamos defendendo também a integridade dos cristãos primitivos. Usamos o depoimento deles e sua aceitação destes escritos como nosso fundamento primordial de defesa.
A integridade destes homens se nota especialmente em suas decisões de quais livros incluírem no Novo Testamento. Por exemplo, entendendo a doutrina dos cristãos primitivos com respeito às obras e a salvação, creríamos que a igreja primitiva tivesse dado grande ênfase à carta de Tiago, aceitando sem demora sua autenticidade. Ao mesmo tempo, esperaríamos que se opusessem à carta de Paulo aos romanos. Mas foi tudo ao contrário. Os cristãos primitivos poucas vezes citavam da carta de Tiago, e por um tempo muitas igrejas duvidaram de sua autenticidade. Por contraste, citavam muitas vezes das cartas de Paulo, e incluíam sem demora suas cartas no Novo Testamento.
Que integridade mais tremenda! Duvidavam a autenticidade do livro que mais os apoiava em sua doutrina da salvação. Ao mesmo tempo, aceitavam sem demorar aqueles livros que ao que parece davam menos ênfases ao que criam. Tivéssemos nós tão grande integridade?

Os cristãos primitivos eram muito conservadores

Os cristãos primitivos eram muito conservadores. Para eles a mudança equivalia ao erro. Já que não esperavam nenhuma revelação fora da dos apóstolos, eliminavam de imediato qualquer ensino que não tinham recebido dos apóstolos. Por exemplo, na carta que uma congregação escreveu a outra congregação, temos o seguinte: “Vocês entendem muito bem, sem dúvida, que aqueles que desejam promover novas doutrinas se acostumam cedo a perverter as provas nas Escrituras que desejam usar, conformando-as a seu próprio parecer. Portanto, um discípulo de Cristo não deve receber nenhuma doutrina nova, nenhuma que se adiciona ao que já nos foi dado pelos apóstolos.”
Quando um crê que qualquer mudança constitui erro, as coisas não mudam muito. Se compararmos o cristianismo do segundo século com o de terceiro século, vemos isto mesmo muito bem. Quando comparamos os escritos dos dois séculos, vemos muito poucas mudanças nas doutrinas ensinadas em todas as igrejas ou nos preceitos morais que seguiam. Tinha algumas mudanças leves, sim, mas, na maioria tinham a ver com o governo da igreja e sua disciplina.

Conferiram os discípulos dos apóstolos

Outra coisa que impressiona a respeito dos cristãos primitivos era seu desejo sincero de evitar o extraviar-se por descuido das praticas dos apóstolos. As igrejas do primeiro século se aferram aos ensinos por palavra dos apóstolos e conferiram com os apóstolos quando surgia qualquer dúvida. Se não podiam conferir com os apóstolos, conferiram com os anciãos daquelas igrejas onde os apóstolos tinham ensinado pessoalmente. Este último costume se praticava até o tempo de Constantino. Por exemplo, Irineu escreveu: “Ponhamos que se levanta entre nós uma discussão sobre um ponto importante. Não devêssemos voltar às igrejas mais antigas com as quais os apóstolos tratavam, aprendendo delas o que é verdadeiro e manifesto quanto a nossa dúvida?”
Recordemos que até o ano 150 tinha anciãos na igreja quem tinham sido instruídos pessoalmente por um ou mais dos apóstolos. Até os princípios do terceiro século, tinha líderes na igreja quem receberam instrução dos discípulos pessoais dos apóstolos. Claro, conferir com as igrejas fundadas pelos apóstolos não era o mesmo que conferir com os mesmos apóstolos. Mas quando tomamos em conta o espírito muito conservador da igreja primitiva, vemos que constitui um método válido para evitar desviar-se das praticas e os ensinos dos apóstolos.
Aqui devemos notar que este costume se praticava voluntariamente. Nenhuma igreja tinha autoridade sobre outras igrejas. Recordemos também que este costume não se baseava no pensamento que as igrejas fundadas pelos apóstolos tivessem alguma revelação ou autoridade nova, senão em que serviam como o melhor elo à revelação dada pelos apóstolos.

Todos ensinavam as mesmas doutrinas fundamentais

O cristianismo primitivo se caracteriza por uma diversidade de crenças sobre os pontos menos importantes de doutrina. Ao mesmo tempo, a grande maioria das doutrinas e as práticas fundamentais, ensinavam-se quase universalmente na igreja primitiva. Esta universalidade das doutrinas fundamentais da igreja nos convence que estas doutrinas vinham dos apóstolos. Não tinha nenhum cristão no segundo século que tivesse tido tal grau de influência em todas as igrejas que tivesse podido originar uma doutrina nova que seria recebida em todas.
Se as igrejas se tivessem apartado da única fé verdadeira pregada pelos apóstolos, como é possível que todas resultassem ensinando o mesmo? Nesse tempo, não tinha nenhum papa, nem hierarquias eclesiásticas, nem concílios mundiais, nem seminários, nem sequer impressos. Não tinha nenhuma maneira de disseminar ensinos errôneos em todas as igrejas. Não tinha nem sequer um credo que fora usado em todas as igrejas dos séculos dois e três. Cada congregação tinha sua própria declaração de doutrina cristã. Então, em que maneira tivessem podido estas igrejas chegar às mesmas interpretações e praticas se não é que seguiram fielmente o que lhes foi ensinado por Paulo e os demais apóstolos? E notemos uma coisa mais. Trezentos anos depois da morte de Cristo, os cristãos formavam um corpo unido. Mas, trezentos anos depois da Reforma, os cristãos estavam divididos entre centenas de grupos e seitas dissidentes. Não deveremos aprender um pouco de este fato?

Que disse Jesus a respeito de seus ensinos?

Por fim, e como ponto mais importante tem o depoimento de Jesus mesmo a respeito destes cristãos. Ao final do primeiro século, ele avaliou a sete igrejas e deixou escrita sua avaliação no livro de Apocalipse. Muito poucos anos separaram este livro escrito por João dos primeiros escritos que citei neste livro. A verdade é que as cartas de Inácio e Clemente de Roma provavelmente foram escritas antes que Apocalipse.
No livro de Apocalipse, que disse Jesus a estas sete igrejas representantes das demais? As repreendeu por suas doutrinas falsas? Censurou-lhes porque criam que as obras têm que ver com a salvação? Não. Muito pelo contrário.
Exortou-lhes que aumentassem suas obras. Disse à igreja em Sardes que suas obras não eram completas. Mas não disse nada a nenhuma igreja a respeito de suas doutrinas fundamentais. Sua censura mais importante contra estas igrejas era que davam lugar entre eles a alguns mestres imorais e às pessoas que os seguiam. E este problema sim se remediou no segundo século.
Não há nada nas mensagens de Jesus às sete igrejas que nos fizesse crer que elas ensinassem doutrinas falsas. Como já disse Jesus não repreendeu em nenhum ponto à igreja de Esmirna, igreja onde Policarpo era o bispo. Que medida de aprovação maior do que essa pudesse receber? Agradavam a Deus.
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Fonte:http://www.compiladorcristao.com/blog/dicionario-da-igreja-primitiva/por-que-sao-importantes-os-escritos-da-igreja-primitiva/

domingo, 13 de abril de 2014

Perseveravam na Doutrina dos Apóstolos

13.04.2014
Do portal ESTUDOS DA BÍBLIA
Por Bryan Moody

O primeiro sermão produziu três mil convertidos! 3.000! Talvez alguns pensaram: “Agora, o que faremos com todas estas pessoas?” Lucas resumiu as atividades destes primeiros crentes em um versículo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42). Neste artigo, vamos destacar a primeira das quatro coisas citadas por Lucas: a doutrina dos apóstolos.

O ensinamento na primeira igreja foi chamado a doutrina dos apóstolos. Jesus revelou a sua vontade aos apóstolos e mandou que eles a entregassem ao mundo. Observe que este ensinamento não foi chamado “a doutrina da igreja”. A Igreja Católica Romana ensina que a igreja produz as Escrituras. É com esta base que eles aceitam os escritos dos “Pais da Igreja”, as tradições e até editos modernos como palavras de autoridade. Mas o relato de Lucas demonstra que aconteceu ao contrário. Foi a pregação do evangelho que deu origem à igreja. Então, santos apóstolos e profetas guiaram a igreja até Deus completar a sua revelação (Efésios 3:5). A doutrina da igreja primitiva veio dos apóstolos porque eles a receberam diretamente de Deus.

Perseveravam

Não devemos falhar em observar quem perseverava na doutrina. Todos os crentes, não somente os pregadores, perseveravam na doutrina. Freqüentemente, esperamos os outros se dedicarem à doutrina para nos guiarem. Todos os membros da primeira congregação foram dedicados à palavra. Todos desejavam aprender. Isso não significa que todos fossem mestres ou peritos. Deus não precisa de um monte de professores para cumprir seu plano. De fato, os estudiosos freqüentemente se acham sofisticados demais para aceitar a simplicidade do plano de Deus (1 Coríntios 1:18-31). Não precisamos fazer seminário, mas Deus quer que sejamos capazes de defender as razões da nossa esperança nele (1 Pedro 3:15). Essa defesa será possível somente por meio de um discipulado dedicado.

Ouvintes e Praticantes

Os primeiros cristãos desejavam aprender porque queriam fazer. O cristianismo não é uma busca acadêmica. No livro de Atos, Lucas escreveu sobre vidas transformadas, não sobre formaturas de faculdades. Os tessalônicos suportaram perseguições. Os efésios queimaram livros de artes mágicas. Um casal, Áqüila e Priscila, saíram de Roma, foram para Corinto e depois para Éfeso, e depois voltaram para Roma pelo seu desejo de divulgar o evangelho. Pessoas de fé se mostram dedicadas em ouvir e praticar!

E você? Ficaria bem no meio daqueles 3.000 convertidos?

Leia mais sobre este assunto:

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Fonte:http://estudosdabiblia.net/escb14_02.htm

quinta-feira, 6 de março de 2014

Não, você não é a Igreja!

06.03.2014
Do blog BEREIANOS
Por  Frank Brito


E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar”. (Atos 2.46-47)

“Contudo, uma vez que agora nosso propósito é discorrer acerca da Igreja visível, aprendamos, mesmo do mero título mãe, quão útil, ainda mais, quão necessário nos é seu conhecimento, quando não outro nos é o ingresso à vida, a não ser que ela nos conceba no ventre, a não ser que nos dê à luz, a não ser que nos nutra em seus seios, enfim, sob sua guarda e governo nos retenha, até que, despojados da carne mortal, haveremos de ser semelhantes aos anjos (Mt 22.30). Porque nossa habilidade não permite que sejamos despedidos da escola até que tenhamos passado toda nossa vida como discípulos. Anotemos também que fora de seu grêmio não há de esperar-se nenhuma remissão de pecados, nem qualquer salvação”. (João Calvino, Institutas da Religião Cristã, 4:1:5)

Um movimento que cresce cada vez mais em nosso país é o dos “cristãos desigrejados”. São pessoas que professam o Cristianismo, mas que, por diversos motivos, abandonaram a Igreja. Muitos são os argumentos utilizados para justificar o abandono. O objetivo deste artigo é analisar uma destas justificativas: a ideia de que a Igreja de Jesus Cristo não é visível e institucional, mas que cada cristão faz parte da Igreja, ainda que ele se recuse a frequentar qualquer culto ou se submeter a qualquer autoridade eclesiástica.

Um erro frequente entre cristãos modernos é o menosprezo e ignorância em relação ao que a Bíblia ensina sobre a Igreja visível e institucional. É uma heresia que se manifesta de muitas maneiras, mas, basicamente, se resume a ideia de que não temos a obrigação de frequentar e ser membro de uma igreja, pois, supostamente, cada cristão já “é igreja” onde quer que estejam e qualquer aglomeração de cristãos também “é igreja” e, consequentemente, basta se encontrar ocasionalmente com outros “desigrejados” para bater um papo sobre Deus que as obrigações bíblicas relacionadas à “comunhão dos santos” já terão sido cumpridas.

Na segunda vez em que a palavra “igreja” aparece no Novo Testamento, já podemos constatar o absurdo de dizer que cada cristão individualmente “é igreja” ou que qualquer aglomeração de cristãos seja uma igreja:

Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutara igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. (Mateus 18.15-18)

Aqui Nosso Senhor explicou como deve ser o procedimento por parte daqueles que foram seriamente ofendidos por alguém que, presume-se, é cristão. Inicialmente, o ofendido não deve expor o ofensor. Deve procurar resolver o problema a sós com o ofensor. O segundo passo, caso o ofensor não se arrependa do que fez, é chamar duas ou três testemunhas para buscar resolver o problema. Novamente, o ofensor não foi exposto publicamente. A diferença é que agora há a presença de duas ou três outras pessoas. É somente depois destes dois passos que o problema é finalmente levado a Igreja.

É aqui que devemos notar algo crucial. Todo o processo descrito por Jesus incluiria somente cristãos. A parte ofendida e as duas ou três testemunhas são cristãs e, segundo Jesus, deve-se presumir que o ofensor também seja até que todas as tentativas de conduzi-lo ao arrependimento tenham se esgotado. Mas, ainda assim, é somente no terceiro passo que Jesus falou na igreja. Ainda que Jesus tenha falado de cristãos o tempo inteiro, ele não reconheceu cada um desses cristãos como sendo igreja. A parte ofendida era um cristão. Mas, ele não era a igreja. As duas ou três testemunhas também eram cristãs. Todavia, eles também não eram a igreja. Jesus diz que eles deveriam falar a igreja. Isso demonstra que é a falsa a ideia de que cada cristão individualmente seja igreja ou que qualquer aglomeração de cristãos seja igreja. Se cada cristão individualmente fosse a igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que o indivíduo que foi conversar com seu ofensor. Se qualquer aglomeração de cristãos fosse uma igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que as duas ou três testemunhas foram acompanhar o indivíduo que foi ofendido. O indivíduo ofendido junto de duas ou três testemunhas somam três ou quatro cristãos. Eles eram uma igreja? Não. Pois, caso o ofensor não os escutasse, só então é que o problema seria levado à igreja. Isso mostra que a Igreja não é simplesmente as pessoas. A Igreja inclui as pessoas, mas não é simplesmente isso. A Igreja é maior do que as pessoas. A Igreja é uma instituição.

Para perceber como a visão dos desigrejados sobre a “igreja” é falsa, basta se fazer a seguinte pergunta: “Como um desigrejado poderia obedecer a Mateus 18? Como seria possível cumprir o terceiro passo da ordem de Jesus?”

O Governo Eclesiástico

A Igreja de Cristo não é uma anarquia. Ela tem um governo. Acima de tudo, há o governo de Cristo, pois Deus “sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja” (Ef 1.22). E, abaixo de Cristo, Deus instituiu também um governo humano para Sua Igreja:

E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, [Paulo e Barnabé] voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes feito eleger presbíteros em cada igreja e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. (Atos 14.21-23)

Aqui nós aprendemos que os apóstolos, neste caso Paulo e Barnabé (At 14.14), depois de estabelecerem novas igrejas em novos lugares, promoviam uma eleição em cada igreja para que homens fossem ordenados a presbíteros. Antes da eleição, eles eram membros comuns das igrejas. Depois da eleição, recebiam a autoridade para governar a Igreja. A palavra presbítero é πρεσβύτερος (presbuteros) no grego bíblico. A palavra também pode ser traduzida como ancião. Em outros textos, aprendemos também que o ofício do presbítero (πρεσβύτερος – presbuteros) era equivalente ao ofício do bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) e ao de pastor (ποιμήν – poimēn). As três palavras eram usadas como sinônimas:

E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros) da igreja… Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho (ποίμνιον – poimnion) sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos (ἐπίσκοπος – episkopos), para apascentardes (ποιμαίνω – poimainōa) a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”. (Atos 20.17,28-30)

Aqui o Apóstolo Paulo falou às autoridades eclesiásticas de Efésios sobre como os presbíteros/bispos/pastores foram instituídos por Deus para governar Sua Igreja, o que inclui a necessidade de protegê-la de falsos mestres. Ele escreveu essencialmente o mesmo nas cartas a Tito e Timóteo:

Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros), como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”. (Tito 1.5-9)

Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado (ἐπισκοπή – episkopē), excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”. (I Timóteo 3.1-7)

Aqui nós vemos o Apóstolo Paulo estabelecendo os critérios para que alguém fosse presbítero/bispo/pastor. Primeiro, ele menciona características morais. O presbítero/bispo/pastor deve ser um cristão moralmente “irrepreensível” (Tt 1.7; I Tm 3.2). Caso o candidato seja demasiadamente dominado por fraquezas, ele não é não é apto para se tornar “despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7). Além disso, Paulo compara a função que o presbítero/bispo/pastor exerce na igreja com a função que o pai de família exerce em casa: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito. pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”. (I Tm 3.4-5) Assim como o pai tem a responsabilidade de governar sua esposa (Ef 5.24; I Co 11.3) e filhos (Ef 6.1; Cl 3.20), o presbítero/bispo/pastor tem a responsabilidade de governar a igreja de Deus.

Desigrejados que negam que a Igreja tenha um governo humano e autoridades humanas terão negar também a autoridade do pai de família, algo que foi explicitamente ordenado no quinto mandamento – “Honra a teu pai e a tua mãe” (Ex 20.12). Paulo deixou claro que a autoridade do presbítero/bispo/pastor sobre a igreja não é edificada sobre qualquer preferência ou consenso humano, mas é expressamente ordenada por Deus. Ele explicitamente comparou a autoridade do presbítero/bispo/pastor sobre a igreja com a autoridade do pai sobre sua própria família de maneira que não é possível negar uma coisa sem negar outra. Os membros da igreja não têm a mesma autoridade. “Os presbíteros… governam” (I Tm 5.7). Os outros membros da igreja não governam, mas são governados. É assim que Jesus Cristo estabeleceu Sua Igreja para ser. Como está escrito:

Os presbíteros que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino”. (I Timóteo 5.17)

Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obras”. (I Tessalonicenses 5.12-13)

Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”. (Hebreus 13.17)

Não Preciso de Ti!

Se Deus estabeleceu alguns na Igreja para governarem e outros para serem governados, segue-se que se alguém não governa um rebanho, ele necessariamente tem que estar submetido à autoridade daqueles que governam. Se alguém não governa, isto é, se não é presbítero/pastor/bispo, mas também, por consentimento próprio, não é governado, tal pessoa está excluída da Igreja de Deus, do corpo de Cristo e, consequentemente, deve ser, a priori, reconhecida como “gentio e publicano” (Mt 18.17). Não há alternativa lógica. A Igreja de Cristo não é uma anarquia onde “cada um [faz] o que [parece] bem aos seus olhos”. (Jz 17.6) Cristo estabeleceu Sua Igreja com um governo. Aqueles que não se submetem ao governo, não fazem parte da Igreja. Este é um dos grandes pecados dos desigrejados. Eles não se submetem as autoridades constituídas por Deus. Eles acreditam que não precisam das autoridades.

Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito… E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós”. (I Coríntios 12.13, 21)

Aqui o Apóstolo Paulo deixou claro que aqueles que se tornam cristãos são batizados pelo Espírito no corpo. Isto é, são incluídos na Igreja. Não existe Cristianismo sem Igreja. O cristão, quando se torna cristão, é incluído na Igreja de maneira que se ele se aparta da Igreja, ele está se rebelando contra a obra do Espírito. Com base nisso, o Apóstolo explica que os cristãos, como membros da Igreja, têm dons e vocações diferentes. Mas, ainda que sejam dons e vocações diferentes, o Deus que chama é o mesmo e a Igreja é a mesma. O fato de um cristão ser chamado a exercer um dom para uma coisa não significa que ele possa desprezar aqueles que não foram chamados com a mesma vocação. “E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (I Co 12.19) Dentre os diversos dons que o Apóstolo cita, ele menciona os “governos” (I Co 12.28). Aqueles que foram chamados para governar são parte do corpo. “E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti”. Aqueles que são governados não podem dizer aos que governam: Não preciso de ti! Deus estabeleceu alguns na Igreja para governarem e outros para serem governados. Aqueles que não se submetem aos que governam – presbíteros/bispos/pastores – pecam severamente contra Deus em sua “independência”. Deus não estabeleceu a Igreja para que cada cristão fosse independente. Ele estabeleceu a Igreja para ser governada por presbíteros/bispos/pastores. A Igreja não é cada cristão individualmente em sua própria casa onde “cada um [faz] o que [parece] bem aos seus olhos” (Jz 17.6). A Igreja é uma instituição com um governo legitimamente instituído por Deus. O Apóstolo Pedro não mediu palavras contra aqueles que se recusam a se submeter às autoridades:

O Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades”. (II Pedro 2.9-10)

A carta de Judas chega ao ponto de chamar aqueles que ensinam a rejeitar as autoridades de falsos mestres:

Contudo, semelhantemente também estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades”. (Judas 1:8)

O Culto Público

As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”. (I Coríntios 14.34-35)

Aqui, novamente, podemos constatar o absurdo de dizer que cada cristão individualmente é a igreja em qualquer lugar ou que qualquer aglomeração de cristãos seja uma igreja. Se cada cristão individualmente fosse igreja ou se qualquer aglomeração de cristãos fosse uma igreja, segue-se que, neste verso, Paulo estaria proibindo as mulheres de falarem em qualquer circunstancia e em qualquer lugar. Evidentemente, não é sobre isso que Paulo estava falando. A palavra igreja nestes versos, evidentemente, se refere especificamente à reunião publica especial. O que Paulo disse é que as mulheres não podem ensinar e pregar no culto público. Elas podem falar em qualquer outro lugar e situação, como, por exemplo, em suas casas, simplesmente porque neste caso elas não estão na reunião pública da igreja.

Desigrejados e outros hereges anarquistas têm dificuldades de entender isso porque eles não aceitam qualquer diferença entre o que acontece na igreja e o que acontece fora da igreja. Eles acreditam na mentira de que cada um de nós “é igreja em todo lugar” e, portanto, que não acreditam que há um momento especial para uma reunião pública especial com regras especiais que não vigoram em outros momentos. Diferente deles, o Apóstolo Paulo cria que em situações normais, as mulheres poderiam falar, mas que o culto público é uma ocasião especial com regras especiais, dentre as quais existe a seguinte regra: “as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas”. Com isso, Paulo claramente demonstra que as igrejas devem promover cultos públicos, que os cristãos tem a obrigação de frequentá-los, que essas reuniões são distintas de situações comuns do dia a dia (já que nelas vigoram regras diferentes de situações normais) e que estas reuniões devem ser reguladas pela vontade revelada de Deus e não pelo desejo do homem (I Co 14.36). Com isso, vemos claramente que não é possível “sermos igreja” cada um em sua própria casa. Deus estabeleceu sua Igreja de forma que cada cristão tem a obrigação de frequentar reuniões públicas especiais promovidas pelas autoridades da Igreja com o propósito de cultuar ao Senhor. Na carta aos Coríntios lemos que um dos propósitos destas reuniões era o de celebrar o sacramento da Ceia do Senhor:

“Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão… Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros. Mas, se alguém tiver fome, coma em casa, para que não vos ajunteis para condenação”. (I Co 10.16-17; 11.23-34)

Aqui o Apóstolo Paulo escreveu sobre o rito da Ceia do Senhor. Ele diferenciou as refeições comuns, que comemos em casa, da Ceia do Senhor. Assim como a reunião da igreja não é uma reunião comum, mas é uma reunião especial na qual vigoram regras especiais, a Ceia do Senhor não é uma refeição comum, mas é uma refeição especial e, portanto, vigoram regras especiais. O cálice, diz ele, é o “cálice da benção”, “a comunhão do sangue de Cristo” e o pão é “a comunhão do corpo de Cristo”. Diferente de nossas refeições comuns, o propósito da Ceia do Senhor não é matar nossa fome. “Se alguém tiver fome, coma em casa” (I Co 11.34). O propósito da Ceia do Senhor é se alimentar espiritualmente.

Além disso, devemos notar que se a Ceia do Senhor é “a comunhão do corpo de Cristo”, segue-se que este rito somente pode ser celebrado sob a autoridade da Igreja. Não é uma celebração do mundo, mas daqueles que “sendo muitos, [são] um só pão e um só corpo” (I Co 10.17). Isso, por si só, explica porque desigrejados não podem celebrar a Ceia do Senhor. Eles não fazem parte do corpo porque se recusam a se submeter às autoridades do corpo e, portanto, não podem comer do pão e beber do vinho. “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão”. Aqueles que não fazem parte do corpo, por não se submeterem às suas autoridades, não podem se alimentar do corpo e do sangue do Senhor.

Quanto aos que participam da Ceia do Senhor, o Apóstolo Paulo ameaçou “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor” (I Co 11.29). Em seguida, ele explica que muitos daqueles que Deus pune com doenças e até mesmo com morte alguns dos que participam indignamente: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (I Co 11.30-31). Se a questão é tão séria assim para aqueles que de fato participam de algo que foi ordenado por Deus, o que se dirá então daqueles que se dizem cristãos, mas pensam ser autossuficientes e por isso não frequentam os cultos da igreja, não se submete as autoridades e não tomam a Ceia do Senhor? Como Deus vê a arrogância daqueles que pensam que podem ser independentes das ordenanças que Deus estabeleceu para Sua Igreja?

O Mito da Igreja Primitiva

Muitos desigrejados se defendem argumentando que o problema é que a igreja hoje, diferente da igreja primitiva, é muito corrompida; que eles não teriam problema em fazer parte das igrejas do Novo Testamento, mas que os tempos agora são outros. É o mito da Igreja Primitiva. O fato é que o Novo Testamento não esconde a quantidade de problemas que assolava a Igreja Primitiva. Na Igreja Primitiva havia quem matinha relações sexuais com a própria madrasta (I Co 5), quem promovia bebedeiras na Ceia do Senhor (I Co 11.23), cultos desorganizados (I Co 14) incluindo mulheres que queriam pregar e exercer autoridade na Igreja (I Co 14.34-35), quem não cria na ressurreição dos mortos (I Co 15), quem defendia a idolatria e a participação em cultos pagãos (I Co 10, Ap 2.14, 2.20-21), quem queria reinstituir a necessidade das cerimonias judaicas (Cl 2), quem defendia que a circuncisão era um critério para a salvação (At 15, Gálatas), quem defendia a justificação com base nos méritos de cumprir a Lei (Gálatas), quem defendia o racismo (Gl 2.11-12) quem pregava com segundas intenções e interesses desonestos (Fp 1.15, II Ti 6.5), quem prestava culto a anjos (Cl 2.18), quem queria favorecer os ricos e desprezar os pobres na igreja (Tg 2.1-5), quem se apresentava como cristão mas na verdade era um anticristo (I João 2.18-19) e muitas outras coisas.

O fato é que, mesmo em meio a todos esses problemas, os apóstolos nunca justificaram os desigrejados. O Novo Testamento nem sequer cogita a possibilidade de um cristão genuíno ser um desigrejado. Nas páginas do Novo Testamento, ser cristão inclui ser membro da Igreja e não ser membro da Igreja significa ser pagão. O Novo Testamento desconhece a noção de Cristianismo sem Igreja e invariavelmente trata aqueles que não fazem parte da Igreja ou que abandonam a Igreja como rebeldes contra o Senhor. E isso em nenhum momento se baseia em um conceito utópico de Igreja. A Igreja era o corpo de Cristo. Mas, ao mesmo tempo, havia igrejas em diversos níveis espirituais diferentes. Havia igrejas maravilhosas, mas havia também igrejas afundadas no pecado. A Igreja era a congregação dos santos, mas era também um lugar em que havia facções, brigas e falsos mestres. O mesmo é verdade hoje. Há igrejas maravilhosas e há igrejas extremamente problemáticas. A reação dos apóstolos diante das problemáticas nunca foi a de abandonar tudo o que foi a de anular a verdade que a Igreja visível e institucional foi estabelecida por Jesus Cristo. A reação dos apóstolos era a de lutar pela purificação e santificação da Igreja, por meio da oração, do jejum e do ensino da Palavra. É exatamente isso o que os desigrejados não querem. Preferem acreditar que isso não fazia parte do Cristianismo Primitivo e, portanto, que estão muito acima de tudo isso. Isso é quando sequer dão justificativas. Na maioria dos casos nem se importam em se justificar.

Resumo

I – A Igreja visível e institucional foi estabelecida por Deus.

II – Ela é governada por autoridades humanas.

III – Ela promove reuniões públicas para cultuar a Deus, pregar Sua Palavra e celebrar os sacramentos.

IV – Todo cristão tem a obrigação de fazer parte da Igreja, se submetendo às suas autoridades e participando das reuniões publicas.

V – O Novo Testamento não reconhece a validade de um Cristianismo fora da Igreja visível e institucional.

Confissão Belga, um dos mais importantes documentos do protestantismo, resumiu bem a questão no Artigo 28, “O Dever de Juntar-se à Igreja”

Cremos, então, que ninguém, qualquer que seja a posição ou qualidade, deve viver afastado dela e contentar-se com sua própria pessoa. Mas cada um deve se juntar e se reunir a ela, mantendo a unidade da Igreja, submetendo-se a sua instrução e disciplina, curvando-se diante do jugo de Jesus Cristo e servindo para a edificação dos irmãos, conforme os dons que Deus concedeu a todos, como membros do mesmo corpo… todos os que se separam desta Igreja ou não se juntam a ela, contrariam a ordem de Deus”.

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Fonte:http://bereianos.blogspot.com.br/2013/11/nao-voce-nao-e-igreja.html#.UxfyMvmwKGA