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sexta-feira, 22 de março de 2024

Origem e desenvolvimento do movimento de Crescimento da Igreja

22.03.2024
Do site MEDIUM, 10.06.2018
Por Orlando E. Costas*


A expressão “crescimento da Igreja” se refere a uma variedade de conceitos e fenômenos. Em um dos artigos prévios nos referimos a ela como um processo integral de expansão na vida e missão da igreja. Há muitos, não obstante, que a entendem num sentido técnico, isto é, como a designação de uma escola de pensamento missiológico que tem girado em torno das investigações e obras de Donald A. Mc Gavran, seus colegas e seus estudantes. Segundo C. Peter Wagner, o “Igrecrescimento” (como se chama a dita escola em alguns círculos evangélicos latino-americanos) é uma “ciência”. Uma descrição mais precisa, sem dúvida, seria a de uma teoria missional. No presente artigo nos referimos ao movimento de crescimento da Igreja neste sentido técnico.

A mera quantidade de produção literária de Mc Gravan, seus colegas e discípulos basta para justificar uma análise do seu trajeto histórico. Ele é ainda mais pertinente quando se considera a crescente influência de tal pensamento em setores significativos do protestantismo.

O movimento de crescimento de igreja não se originou nem na Europa e nem na América do Norte. Suas raízes se encontram no subcontinente da Índia. Contudo, a maioría de seus líderes tem sido estadunidenses e tem se tornado famoso em solo norte-americano.

A Índia e a obra de J. Waskom Pickett

O Igrecrescimento traz suas raízes e mais exitosas experiências do bispo metodista J. Waskom Pickett, com a conversão de grupos étnicos na Índia. Durante seus anos de trabalho missionário, Pickett observou que nas sociedades altamente estruturadas era mais fácil receber a fé cristã como grupo do que como indivíduo. No princípio chamou a conversão destes grupos “movimentos massivos”. Contra o crescente individualismo ocidental, defendeu a idéia de uma evangelização grupal como o modo mais natural para alcançar aos hindus e conduzi-los a Cristo.

O que o bispo Picket pode constatar a conversão progressiva de um segmento da sociedade dentro de um período relativamente curto. Assim, uma tribo inteira, casta ou grupo homogêno, ou pelo menos uma porção significativa de seus integrantes, recebia a fé cristã em um prazo de tempo determinado. Duas décadas mais tarde, Donald A. McGavran chamaria este fenônomeno de “os pontos de Deus”.

Durante as primeiras décadas do séc. XX, a obra missionária na Índia (e em outras partes do mundo) estava firmemente arraigada tanto na experiência da “modernidade” como da “cristandade”. Muitas das energias das sociedades missionárias protestantes históricas eram gastas em ministérios sociais. Concebia-se a missão como a grande contribuição da cristandade à “civilização” de povos primitivos, tecnologicamente atrasados e sociamente antiquados. O campo missionário havia sido invadido pela teologia do “evangelho social”, especialmente na obra realizada pelas sociedades missionárias do protestantismo liberal norteamericano. Daí que o mesmo McGravan, missionário da quarta geração da Igreja dos Discípulos de Cristo, havia se doutorado em educação e destacado como diretor de um asilo de leprosos durante seus primeiros anos de serviço missionário.

O denominador comum na Índia daquele tempo era o Império Britânico. A maioria das missões e dos missionários sentiam-se “em casa” sob a proteção das autoridades coloniais. Houve, sem dúvida algumas exceções. Uma das mais notáveis foi a de Stanley Jones, um apaixonado evangelista metodista norteamericano com uma sensível consciência social e uma grande amizade com Mahatma Ganddhi.

O método missionário por excelência era chamado de “estação missionária”. Todo o trabalho girava em torno de um complexo de residências de onde partiam os missionários para realizar sua obra entre os povos e aldeias limítrofes. A estação missionária permitia, por uma parte, a concentração de recursos em uma área geográfica, e por outra, separava o pessoal missionário das comunidades às quais servia.


A atitude prevalecente na comunidade missionária da Índia da época em questão era a de uma minoria complexada. Pensava-se que as raízes religiosas da vasta população do subcontinente eram demasiadamente profundas para esperar mudanças significativas na fé e prática religiosa de seus habitantes. Os cristãos eram (e continuam sendo) uma pequena minoria. Não havia muita esperança de que vastos setores da Índia chegassem à fé cristã.

Fica claro que o movimento de crescimento da igreja não somente tem suas raízes na Índia, sim também na obra de missionários protestantes de igrejas históricas e liberais. A história posterior do movimento mostra, sem dúvida, uma resistência da parte das estruturas missionárias históricas e uma crescente abertura dos setores missionários independentes e evangélicos conservadores, grande parte dos quais tem sido tradicionalmente reacionários e separatistas.

A Sociedade Missionária Cristã Unida e a obra de Donald A. Mc. Gavran

Donald A. Mc. Gavran foi por muitos anos, como se tem indicado, missionário da Sociedade Missionária Cristã Unida da Igreja dos Discípulos de Cristo. De 1954–55, durante seu ano de licença na América do Norte, se dedicou a organizar o pensamento missiológico desenvolvido como resultado de suas experiências na Índia. O resultado foi a publicação de sua monumental obra: Os pontos de Deus. Pode-se dizer que esta obra deu impulso inicial à escola de pensamento relacionada com a pessoa e obra literária de Mc. Gravan.

Como resultado imediato de sua obra, sua junta missionária lhe pediu que não regressasse à Índia e ficasse nos EE.UU para realizar estudos sobre o crescimento da Igreja. Levou à cabo projetos de investigação no México, Filipinas, Tailândia, Congo, Jamaica e Porto Rico. Tarefas que o mantiveram ocupado até o fim da década de 60. Um resultado desses estudos foi a universalização de sua teoria sobre a igreja e seu crescimento, o mesmo que foi divulgado em círculos ecumênicos e missionários. Como conseqüência recebeu numerosos convites para fazer apresentações diante de assembléias, consultas e conferências ecumênicas e denominacionais. Porém segundo McGravan, em nenhum desses lugares encontrou uma recepção entusiasta:

Meus ouvintes se perguntavam se o que eu dizia sobre o crecimento era o certo. Era legítima a preocupação sobre o crescimento da igreja, ou simplesmente um exagerado interesse nos números? Como quer que se explique, nada surgiu de meus discursos em todas as reuniões. Fui escutado e ouvido.

O Instituto de Crescimento da Igreja e o Seminario Teológico Fuller

Em 1960 McGravan decidiu ficar indenpendente da junta missionária dos Discípulos de Cristo. Havia se convencido que a única forma de mudar o rumo missionário do protestantismo era estabelecendo um instituto de investigação e formação missiológica que permitisse aos missionários e administradores de missões estudar a fundo as causas do crescimento e estancamento da igreja. Foi assim que fundou o Instituto de Crescimento da Igreja (ICI). Durante seus primeiros cinco anos o Instituto esteve filiado ao Colégio Cristão do Noroeste, uma pequena universidade dos Discípulos de Cristo em Eugene, Oregon.

O primeiro colaborador de McGravan foi Alan R. Tippet, um missionário metodista com várias décadas de serviço nas ilhas do Pacífico Sul. Tippet veio estudar com McGravan porém se converteu em sua mão direita. Por quase vinte anos se destacou na investigação e no ensino como seu principal companheiro de trabalho. Doutorou-se em Antropologia Cultural na Universidade de Oregon, o que deu ao instituto uma base teórica mais sólida do que a que McGravan podia prover. De fato, Tippet chegou a ser o complemento perfeito de McGravan. Este era o estrategista e promotor do movimento e o seu primeiro cientista social. Essa combinação fez possível uma formulação ideológica digerível ante o público evangélico-conservador norte-americano. A divulgação da mesma se facilitou quando em 1964 se fundou uma publicação mensal o “Boletim de Crescimento da Igreja”, sob a direção de McGravan e o auspício financeiro da “Cruzadas de Ultramar”, uma agência missionária independente com sede em Palo Alto, Califórnia.

Cinco anos depois de sua fundação, o instituto de Crescimento da Igreja se mudou para Pasadena, Califórnia, e se incorporou à nova Escola de Missões Mundiais do Seminário Teológico Fuller. McGavran foi indicado como o primeiro deão e professor de crescimento de Igreja, e Tippett como o primeiro professor de antropologia missionária. O casamento entre o Seminário Fuller e o ICI se realizou graças à influência do falecido diretor da Missão Latino-americana e fundador do Movimento de Evangelismo a Fundo, R. K. Strachan. Em 1964, um ano antes de sua morte, Strachan havia servido como professor visitante no Seminário Fuller. (Foi das conferências apresentadas no Seminário Fuller que surgiu sua obra póstuma, El llamado ineludible). De acordo com seus amigos da Missão Latinoamericana, Strachan foi convidado a ser o primeiro deão da nova faculdade, porém devido à sua saúde como ao seu compromisso com a América Latina ele declinou o convite e recomensou em seu lugar a Donald A. McGavran.

O fato de que Strachan tenha desempenhado um papel tão estratégico no casamento do ICI e o Seminário Fuller explica, em parte, a influência exercida pela América Latina nos primeiros anos de vida da Faculdade de Missões Mundiais- FMM. Daí, por exemplo, que o primeiro grande projeto de investigação tenha sido o estudo sobre o crescimento das igrejas protestantes na América Latina, levado à cabo por William R. Read, Víctor M. Monterroso y Harmon Johnson, três missionários em países latino-americanos, sob a direção de Mcgavran y Tippett. Assim mesmo, depois de Tippett y McGavran, as primeiras nomeações de professores foram de Ralph Winter, missionário presbiteriano na Guatemala, e C. Pedro Wagner, ex-diretor associado da Missão Evangélica Andina na Bolivia.

Pouco depois da integração do ICI com o Seminário Fuller, a casa editorial William B. Eerdmans (uma das editoras religiosas estadunidenses de mais prestígio no mundo evangélico) começou a publicar uma série de livros sobre o crescimento da igreja, sob a direção do “decano” dos missiólogos protestantes norte-americanos, R. Pierce Beaver, então professor de história das missões da Faculdade de Divindade da Universidade de Chicago. Ele não somente ajudou a criar interesse da comunidade missionária pelo problema e desafio do crescimento da igreja, sim também estimulou o debate em torno de postulados de igrecrescimento.

O êxito dos livros da Eerdmans e o crescente número de invstigações de campo realizadas por estudantes e professores da FMM, despertaram a imaginação empresarial de Ralph Winter, que devido ao seu doutorado em antropología (com especialidade em lingüística) havia chegado a ocupar a cátedra de história das missões. Winter viu o potencial comercial da literatura missiológica em geral, e de crescimento da igreja em particular. Quando não pode persuadir a administração do Seminário Fuller a lançar uma empresa editorial, Winter investiu seus recursos pessoais e criou sua própria editora sob o nome célebre de William Carey Library (Livraria Guillerme Carey). Começou a publicar a baixo custo, usando máquinas de escrever elétricas em vez de imprensas, pessoal mínimo e a motivação de um “clube de livros” integrados ao Boletim. Em poucos anos a editora experimentou um extraordinário incremento em vendas e títulos publicados. Assim mesmo estimulou a divulgação de crescente número de teses de graduação sobre temas missiológicos e demonstrou que a literatura missiológica tinha um potencial no público protestante estadounidense.

No princípio da década dos anos 70, muitas denominações históricas estadunidenses começaram a mostrar uma profunda preocupação sobre a perda de membros e a diminuição em apoio e contribuições. A década de 70 havia deixado as igrejas do país com uma grande crise de identidade por causa do êxodo juvenil, a polarização ideológica e racial, e o desequilíbrio teológico. Algumas denominações e certas congregações começaram a interessar-se por situações onde a igreja estava experimentando crescimento rápido. Em 1973 umas cem denominações protestantes (de corte tanto liberal como conservadora), em colaboração com várias dioceses católicas, auspiciaram um esforço concentrado de mobilização evangelítica com o nome de Key’73. Inspirado em movimentos como o Evangelismo a Fundo, Key’73 ajudou a criar um grande impacto psicológico em muitas igrejas.

Nesse mesmo tempo, alguns líderes ministeriais estadunidenses (pastores e administradores denominacionais) começaram a interessar-se pelo programa de estudos da FMM. Concluíram que muitos dos princípios da teoria de crescimento eclesial poderiam aplicar-se à suas próprias congregações nos Estados Unidos. Um deles foi Winfield C. Arn, que fundou o Instituto Norteamericano de Crescimento de Igreja como resultado direto de seus estudos missiológicos no Seminário Fuller.

À obra que Winfield realizou juntou-se C. Peter Wagner, que à parte de suas responsabilidades docentes assumiu a direção da Fuller Evangelistic Association (Asociacão Evangelística Fuller, AEF). Era uma fundação para a promoção da obra evangelística no terceiro mundo, criada pelo falecido evangelista Charles E. Fuller (pregador do famoso programa The Old Fashioned Recital Hour — A hora do avivamento tradicional). A AEF havia sido uma das três entidades fundadas por Fuller e seu ministério evangelístico (as outras duas haviam sido o programa de rádio e o seminário, que, seja dito de antemão, havia sido originalmente desenhado por Fuller como uma escola para a preparação de evangelistas e missionários, porém fora transformado em uma faculdade teológica na época de sua fundação (1947) por seu primeiro reitor, Harold Okenga). O único herdeiro de Charles E. Fuller foi seu filho, Daniel, ex-deão e professor do seminário. Reconhecendo que seus dons não eram os do seu pai, Daniel Fuller teve a grande visão de dedicar-se à docência e à investigação neotestamentária, deixando as instituições criadas por seu pai ao cuidado de pssoas mais idôneas. Foi assim que o seminário continuou sua boa marcha sob a direção de uma junta diretiva, pessoal administrativo e corpo docente. O programa de rádio experimentou uma mudança de nome The Joyful Sound (Uma Alegre Melodía) e ficou a cargo de David Hubbard, reitor do seminário e professor de Antigo Testamento. Finalmente a AEF foi colocada sob a direção de Peter Wagner.

Wagner havia se destacado como um hábil administrador e estrategista durante seus dezesseis anos de serviço missionário na Bolívia. Havia realizado seus estudos teológicos básicos no Seminário Fuller e havia voltado para fazer estudos de pós-graduação em missiologia sob a direção de McGavran, depois de haver realizado um programa de mestrado em história eclesiástica no Seminario Teológico Princeton. McGavran viu em Wagner a pessoa idônea para sucedê-lo na cátedra de crescimento da igreja e na promoção do movimento. Wagner, por outro lado, viu em McGavran um mentor competente e fez sua a causa missiológica dele. Como mostra de seu grande afeto e respeito pelo seu professor, lhe dedicou sua obra: Teologia Latino-americana, esquerdista ou evangélica? McGavran o nomeou diretor associado do O Boletim e depois de sua jubilação conseguiu fundos para a criação de uma cátedra permanente de crescimento da igreja (que foi honrada com seu próprio nome) para a qual foi eleito Peter Wagner.

Nos anos que se seguiram, como diretor da AEF, Wagner pois esta instituição à serviço do movimento, desconectando-a paulatinamente de seus próprios projetos. Foi interessando-se mais e mais pelos problemas missionários das igrejas norteamericanas até que se viu completamente envolvido com estudos sobre o crescimento e estancamento das igrejas estadunidenenses. Ainda criou um departamento de ministério hispanicoamericano, para cuja direção nomeou o argentino Juan Carlos Miranda. Juan Carlos Miranda, se ocupou do estímulo e promoção do movimento EE. UU., e da promoção de serviços de consulta à denominações e congregações dentro do país. Quando Wagner ocupou a cátedra de D.A. McGavran (uma função que requeria sua dedicação exclusiva), ele, David Hubbard e outros líderes do complexo de entidades Fuller decidiram converter a AEF no Charles E. Fuller of Evangelism and Church Growth (Instituto de Evangelização e Crescimento de Igreja Charles E. Fuller), dedicado ao serviço das igrejas nas Américas e afiliado à FMM.

É importante reconhecer que houve outros desenvolvimentos no movimento dentro da FMM como fora dela. Ao trabalho de Tippett, Winter y Wanger se juntou os serviços de Arthur Glasser como sucesor de McGavran na decanatura da Faculdade e professor de teologia da missão. Glasser chegou ao Fuller com uma larga experiência missionária na China e na direção da Overseas Missionary Fellowship (Companheirismo Missionário de Ultramar). Conhecido em círculos conservadores por sua rigidez teológica, Glasser ofereceu grande ajuda teológica à FMM. Como teólogo da Faculdade, procurou dar-lhe certa estabilidade teológica e dissipar as críticas que vinham levantando-se contra a perspectiva do movimento de crescimento de igreja, especialmente aquelas dirigidas à carência de uma sólida estrutura fundamentada em uma exegese bíblica séria.

A contribuição de Glassler foi muito oportuna, dada a rivalidade que havia surgido entre as Faculdades de Teologia e Missão no Seminário Fuller. Os esforços bíblico-teológicos de Glassler, sem dúvida, não conseguiram superar o estado de crítica entre os “teólogos” e os “missiólogos”. No geral, persistiram as suspeitas mútuas de falta de seiriedade bíblico-teológica, por uma parte, e carência de praticabilidade missional, por outra. Contudo, a era Glassler como deão da FMM (que concluiu em 1981, quando se jubilou da decanatura e se dedicou exclusivamente à docência como professor benemérito) conseguiu um módus vivendi entre ambas as faculdades, promovendo o espaço para que alguns professores começassem a colaborar em projetos afins. Outros, lamentavelmente, fizeram-se omissos, desconhecendo-se mutuamente.

Um professor que já tinha sustentado um frutífero diálogo com alguns membros da Faculdade de Teologia foi Charles H. Kraft, professor de antropologia e estudos africanos. Sua formação linguística, seu interesse na tradução da Bíblia às línguas vernáculas e seus estudos em hermenêutica e contextualização tinham possibilitado sustentar um interessante diálogo com teólogos e biblistas dentro e fora do Seminário Fuller. De fato, sua obra principal, Christianity in Culture (O cristianismo e a cultura) foi prefaciada pelo conhecido teólogo batista Bernard Ramm. Kraft mesmo reconhece no começo de seu livro sua dívida para com colegas como Jack Rogers e David Hubbard. Desde o ponto de vista do crescimento de igrejas, a obra de Kraft procura aprofundar a base antropológica do movimento e dar legitimidade teológica à meta de estabelecer igrejas culturalmente autóctones entre os povos da terra. Devido a isso, a obra de Kraft possui também implicações explosivas para o crescimento da igreja e se expõe à críticas de ordem sócio-teológicas, porém delas não nos ocuparemos nesse momento.

Outros colegas de McGavran durante seus anos de deão no Seminário Fuller foi Ralph Winter. Em seus anos de trabalho missionário na Guatemala, Winter se destacou por seu estímulo e promoção do movimento de educação teológica por extensão. Havia sido um dos pioneiros desse movimento, junto com Rosse Kinsler e James Emery, ainda que servisse ao corpo docente do Seminário Presbiteriano da Guatemala, logo passou a ser secretário executivo da Associação de Escolas Teológicas Latino-americanas, Região Norte (ALET) desde onde procurou globalizar a experiência “extensionista” do seminário guatemalteco. Foi assim que co-editou o primeiro livro sobre a educação teológica por extensão.

Em Pasadena, Winter começou a promover esse inovado enfoque educativo, porém poucos anos depois se envolveu de cheio com o ensino e investigação no campo da história das missões. Deu a esse ramo da missiologia um enfoque antropológico-cultural e logo conseguiu estabelecer sua própria linha dentro do crescimento de igreja. Esta consistiu no desenvolvimento de uma hermenêutica histórica baseada na observação do fenômeno de estruturas para-eclesiais (“tropas de choques”) dedicadas ao cumprimento da missão cristã no mundo. Segundo Winter a igreja cristã é um movimento composto de uma dupla estrutura: hierárquica ou vertical, e missional ou horizontal. A primeira se dedica ao fortalecimento interno e institucional da igreja. A segunda responde à necessidade da igreja extender-se por todos os povos. Para Winter essas estruturas não devem confundir-se: necessitam-se mutuamente. A primeira corresponde às denominações; a segunda às sociedades missionárias. Dada essa dualidade, as sociedades missionárias não somente devem ocupar-se de estabelecer igrejas sim também sociedades missionárias.

Outro estudo de Winter é sua tipologia da evangelização mundial, na que distingue quatro tipos de evangelização: EO — a evangelização entre cristãos nominais dentro da mesma cultura; E1 — a evangelização do vizinho não cirstão dentro da mesma cultura; E2 — a evangelização de pessoas em outras culturas relativamente próximas; E3 — a evangelização daqueles que se encontram em culturas que estão totalmente fora da órbita evangelística da igreja. Para Winter os tipos E2 e E3 constituem “a prioridade mais alta” na obra missionária. “Para alcançá-los com o evangelho são necessárias agências especializadas e apóstolos devidamente capacitados para a comunicação intercultural”.

Com essa perspectiva Winter retornou à linha que havia levado a McGavran a estabelecer o Instituto de Crescimento de Igreja em 1960. Winter quis que a FMM invidasse todas as suas energias na promoção do que ele passou a chamar “as missões fronteiriças” (E3). Porém, assim como a administração do Seminário Fuller não havia conseguido entusiasmar-se quando Winter propôs o projeto incial de uma casa editorial e ele se viu forçado a fazê-lo independentemente, tampouco encontrou muito entusiasmo em relação à sua nova proposta. Viu-se obrigado a criar seu próprio complexo de instituições.

Foi assim que Winter fundou o U.S. Center for World Mission (Centro Estadunidense de Missão Mundial) e a William Carey International University (Universidade Internacional William Carey) no antigo campus de uma universidade nazarena na mesma cidade de Pasadena. O Centro é um consórcio de agências missionárias e institutos de investigação missiológica à serviço de Ralph Winter “as missões fronteiriças”, e a universidade é um esforço combinado de capactiação missional dedicado a fomentar a visão dos povos escondidos e preparar pessoal idôneo à curto prazo para sua evangelização. A Universidade não pareceria estar diretamente em competição com a FMM, já que esta possui um programa de estudos formais e serve majoritariamente a missionários de carreira (Winter mesmo seguiu atuando como professor adjunto da FMM). Diferentemente os programas da Universidade são de curta duração e apelam a jóvens universitários e professionais, com carreiras seculares, que desejam colocar seus recursos ao serviço da obra missionária nas áreas onde o evangelho ainda não tem sido comunicado. Sem dúvida, o fato de que a Universidade tenha começado recentemente a oferecer graus acadêmicos indica que cedo ou tarde entrararia em competição com o Seminário Fuller.

A perspectiva “winteriana” já havia feito eco nos círculos evangélicos conservadores desde a celebração do Congresso de Lausanne em junho de 1974, quando Winter apresentou pela primeira vez sua tese sobre “a prioridade mais alta”. Posteriormente o Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial procurou incorporar dita perspectiva ao elaborar um enfoque evangelistico estratégico orientado rumo aos “povos não-alcançados”. A Conferência sobre Missões Fronteiriças celebradas em Edimburgo, Escócia, em 1980, refletiu uma relação ainda mais direta com o “projeto” de Winter ao concentrar-se somente em regiões com nenhum tipo de presença cristã.

A independência de Winter, sua ênfase na evangelização dos povos mais remotos da terra, e sua promoção das sociedades missionárias como componente fundamental da natureza da igreja tem dado uma dimensão nova ao movimento de crescimento de igrejas. Por uma parte, tem garantido a continuidade radical da ênfase original de McGavran no treinamento de pessoas para a evangelização dos povos, o estabelecimento de igrejas em sua própria situação e a mobilização das sociedades missionárias (tanto denominacionais como interdenominacionais) para o serviço à “a mais alta prioridade”. Por outro lado, o Seminário Fuller tem resistido em aceitar o “projeto” de Winter, ainda que tenha declarado que sua missão é a de servir, ao menos, a evangelização E1, E2 e E3.

Porém, Winter ia em uma direção, Wagner e os promotores do crescimento de igreja na América do Norte iam em outra. Certamente a ênfase na revitalização e expansão da Igreja norte-americana não se opunha necessariamente à ênfase nas “missões fronteiriças”. Porém, no princípio, McGavran o entendeu como uma ameaça. Para ele, nos EE.UU havia muita gente que poderia levar a cabo a obra evangelizadora. O movimento de crescimento de igreja não poderia dar-se ao luxo de investir energias nesse país, isso acabaria roubando pessoal e recursos da tarefa prioritária: evangelizar o mundo fora da América do Norte e Europa. Sem dúvida, Wagner, Arn e outros foram convencendo McGavran de que no EE.UU, havia um extraordinário desafio missionário intercultural (pela crescente presença de grupos étnicos). Além do mais, se não revitalizassem a base, não se poderia contar um uma sólida força missionária. Assim McGavran não somente deu sua benção à fase intranorte-americana do movimento, mas deu também seu apoio pessoal (Winter, sem dúvida, se mostrou indiferente).

A década de 70 viu, pois, o movimento de crescimento da igreja ampliar suas bases operacionais. Porém que no princípio estava limitado a uma entidade, para fins da década de 70 havia proliferado em várias instituições e movimentos. É um fato, sem dúvida, que pese à crescente literatura e estudos sobre o tema, pese ao incremento de instituições ao serviço do crescimento de igrejas, e pese a ampliação da agenda missiológica do movimento, suas principais vozes seguem aquelas que estão direta ou indiretamente associadas com a FMM do Seminário Fuller (professores titulares e adjuntos, alunos e ex-alunos, institutos afliados e entidades amigas)


Notas e referências

1. Veja a publicaão Church Growth Bulletin del Fuller Institute of Evangelism and Church Growth, Pasadena, California. Sobre a noção do crescimento de igreja como ciência veja a obra de C. Peter Wagner, You¿ Church Can Grow: Seven Vital Signs of a Healthy Church (Glendale, Calif.: Regal Books, 1976), pp. 40–41 (versión castellana por Editorial Vida, Miami, Fla.); idem, Church Growth and The Whole Gospel A Biblical Mandate (New York: Harper and Row, 1981), pp. 75–77.

2. Cf. J. Waskom Pickett, Christian Mass Movements (Lucknow, India: Lucknow Publishing House, 1933).

3. Entendemos por “modernizacão” o processo civilizatório experimentado no Ocidente e suas dependências coloniais através do mundo durante os últimos quatro séculos como resultado do surgimento da ciência moderna, a revolucão industrial e tecnológica e a expansão capitalista. (Para uma extensa discusão deste conceito no contexto da obra misionária, veja o ensaio de Stephen C. Knapp, “Mission and Modernization”, en American Missions in Bicentennial Perspective, editado por R. Pierce Beaver (So. Pasadena, Cal.: William Carey Library, 1977), pp. 146–198. Por “cristandade” entendemos o projeto (histórico) de uma sociedade “cristã” sustentada por princípios e valores religiosos, com a igreja como gerente ou mentor espiritual. Para uma discusão mais detalhada do problema da cristandade na missão cristã, veja a Orlando A. Costas, Christ Outside the Gate: Mission Beyond Christendom (Maryknoll, NY: Orbis Books), pp., xvii, 14, 35–36, 68, 123–24, 179–81, 189–90, 192–94.

4. Donald A. McGavran, Christian Missions in Mid India (Lucknow, India: Luck-now Publishing House, 1936). Esta obra foi posteriormente reimpressa em J. W. Pickett, A. L. Warnshuis, y Donald A. McGavran, Church Growth and Group Conversion (So. Pasadena, Ca: William Carey Library, 1962).

5. Donald A. McGavran, The Bridges of God (Londres: World Dominion; Nueva York: Friendship Press, 1955).

6. Cf. as seguintes obras de McGavran: “ A Study of The Life and Growth of the Disciples of Christ in Puerto Rico” , United Christian Missionary Society, Indianapolis, 1956 (mimeografiado); “ Church Growth in West Utkul, Orissa, India” , United Christian Missionary Society, Indianapolis, 1956 (mimeografiado); Multiplying Churches in the Philippines, United Church of Christ in the Philippines, Manila, 1958 (reimpreso por Overseas Crusade Ministries in the Philippines, Manila, 1980); Church Growth in Jamaica (Lucknow, India: Lucknow Publishing House, 1962); Church Growth in Mexico (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1963).

7. Donald A. McGavran y Winfield C. Arn, Ten Steps for Church Growth (San Francisco, Cal.: Harper and Row, 1977), p. 4.

8. Kenneth Strachan, El llamado ineludible (San José, Costa Rica: Editorial Caribe, 1968).

9. Cf. William R. Read, Víctor M. Monterroso y Harmon A. Johnson, Avance evangélico (El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones, 1970).

10. C. Pedro Wagner, Teología latinoamericana, ¿izquierdista o evangélica? (Miami: Editorial Vida, 1969).

11. Veja, por exemplo, as seguintes obras de Wagner: Your Church Can Grow (Glendale, Cal.: Regal Books, 1976; versão castelhana por Editorial Vida, Miami); Your Church Can Be Healthy (Nashville, Tenn.: Abingdon, 1979); Your Spiritual Gifts Can Help Your Church Grow (Regal, 1979; versão castelhana por Editorial Vida); Our Kind of People (Atlanta, Ga.: John Knox Press, 1979).

12. Charles H. Kraft, Christianity in Culture: A Study in Dynamic Theologizing in an Inter Cultural Perspective (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1978).

13. Cf. James Emery, Ross Kinsler, Louise Walker y Ralph D. Winter, Seminario de extensión: un manual (So. Pasadena, Cal.: William Carey Library, 1970).

14. Cf. Ralph Winter, “The Two Structures of God’s Redemptive Mission”, en Perspectives on the World Christian Movement: A Reader, editado por Ralph D. Winter y Steven C. Hawthorne (So. Pasadena, Ca. William Carey Library, 1981), pp. 178–190; idem, “The Planting of Younger Missions”, en Church/Mission Tensions, compilado por C. Peter Wagner (Chicago: Moody Press, 1972).

15. Cf. Ralph D. Winter, “The New Macedonia: A Revolutionary New Era in Mission Begins”, en Perspectives on the World Christian Movement, pp. 293–311; idem “The Task Remaining: All Humanity in Mission Perspective”, en ibíd. pp. 312–328.

16. Sobre o desenvolvimento do conceito dos “povos não alcançados” (ou “povos fronteiriços”), de acordo com Winter, veja seu ensaio (inédito), “Unreached Peoples: The Development of the Concept”, Consulta Reformada sobre a misão, Filadelfia, Penn., 16 de marzo 1983 (mimeografiada), 28 pp.

17. A fundacão do Centro teve como finalidade dar solidez a um movimento dedicado exclusivamente a alcançar aos “povos escondidos”, aqueles em meio dos quais não há nenhuma igreja.

(Obs.: Tradução livre de Regina Fernandes Sanches)

Regina Fernandes Sanches

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Fonte:https://medium.com/sabercriativo-com-br/origem-e-desenvolvimento-do-movimento-de-crescimento-da-igreja-5072dbcabe92

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Escândalos no meio da Igreja: o que podemos fazer para evitá-los?

19.09.2023

Escrito por pastor Irineu Messias

Escândalos no meio do povo de Deus têm preocupado a todos nós, mas não podemos esquecer que o Senhor Jesus Cristo nos alertou sobre isso há dois mil anos atrás. Em Mateus 18:7, Ele disse: "Ai do mundo por causa dos escândalos! Porque é necessário que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem". 

Infelizmente, temos visto pastores e crentes envolvidos em homicídios, adultérios e disseminação de ódio nas redes sociais. Isso não é apenas um erro, é um comportamento que escandaliza o nome santo de Jesus e afasta as pessoas da verdadeira essência do evangelho. 

No entanto, não podemos generalizar. Há homens e mulheres de Deus comprometidos com a verdadeira essência do evangelho, com comportamento exemplar e palavra de Deus. Não podemos deixar que os escândalos afastem-nos da igreja evangélica e da palavra de Deus. 

Jesus alertou sobre os falsos profetas e aqueles que usariam o Seu nome para outras coisas. Precisamos ter discernimento para identificar quem é sincero na sua fé e quem é hipócrita ou religioso como os fariseus. 

Devemos orar para que nós não sejamos agentes principais do escândalo diante da sociedade e diante de Deus, mas que possamos ser crentes exemplares, onde as pessoas olhem para nós e tenham vontade de se voltar para Deus pelo bom exemplo. 

Não podemos esquecer que escandalizar o nome de Jesus é ser desobediente a Deus. Que Deus nos guarde e ajude a não fazermos tal coisa. Devemos olhar para Jesus, o autor e consumador da fé, e não para aqueles que estão escandalizando o nome do nosso Senhor e salvador Jesus Cristo. 

Por isso, peço a todos que continuem se inscrevendo e compartilhando as mensagens aqui do canal do Pastor Irineu Messias através do WhatsApp, Facebook, Instagram e outras redes sociais, para que mais pessoas possam ter acesso ao conteúdo da bendita palavra de Deus tão necessária para tantas vidas que precisam ter um encontro real com nosso Senhor e salvador Jesus Cristo. 

Não esqueça de ativar o sininho para receber as notificações e nos ajudar a fazer crescer cada vez mais no canal do Pastor Irineu Messias porque o que nós fazemos aqui é ministrar a palavra de Deus para a edificação e evangelização das pessoas. Que Deus abençoe a todos!

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sábado, 4 de abril de 2015

Membresia de Igreja e Contextualização

04.04.2015
Do portal da EDITORA FIEL, 31.03.15


Fazer teologia envolve expressar constantes bíblicas universais de maneiras que sejam significativas a um contexto particular. Havendo passado a maior parte das duas últimas décadas plantando igrejas em outras culturas, eu não poderia ter recusado essa lição mesmo que quisesse fazê-lo. Plantadores de igrejas transculturais são continuamente desafiados pela necessidade de ensinar a doutrina cristã e, ao mesmo tempo, incitar aplicações contextualmente significativas e apropriadas daquela doutrina.
Como, então, formulamos uma doutrina da membresia da igreja local sensível ao contexto? Essa é a pergunta que este artigo buscará responder. Nossa doutrina da membresia de igreja deve nos aproximar de uma constante bíblica universal, mas formular como essa doutrina é vivida de modo cultural e contextual nos leva a uma variedade de expressões particulares dessa constante universal.
Uma doutrina bíblica universal da membresia de igreja
Plantadores de igreja em contextos estrangeiros hão de desejar, junto com os crentes locais, examinar a Escritura e tentar expressar uma doutrina simples da igreja local em linguagem apropriada. Isso há de envolver não apenas olhar para textos em que a palavra “igreja” (ekklesia) é utilizada, mas também a leitura de livros inteiros do Novo Testamento. O objetivo, aqui, é extrair o que o Novo Testamento diz sobre a igreja local, a comunidade identificável dos que crêem. Como se estabelece a linha entre os de dentro e os de fora? Entre os associados e os descrentes? Será importante considerar o que o texto bíblico assume e implica acerca da “membresia” em livros como Romanos, Hebreus, 1 João e 1 Pedro, assim como os códigos domésticos ao final das cartas de Paulo.
Por exemplo, deixe-me tentar expor, para um contexto pioneiro, a doutrina (constante bíblica universal) da membresia de igreja, do modo como poderia ser explicada a uma igreja local de primeira geração:
Uma igreja local tem uma membresia identificável de pessoas batizadas, segundo as Escrituras, com base em uma profissão crível de fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, considerando-se uma profissão crível aquela que é acompanhada por contínuo arrependimento e fé no evangelho. Esses membros são intencionais quanto a serem uma (ou a) assembléia local naquele determinado lugar. A participação nos benefícios do evangelho ordinariamente está vinculada a associar-se e estabelecer um pacto com uma igreja local, na qual os crentes buscam desenvolver todos os seus relacionamentos com humildade à luz do evangelho, como aqueles cujo verdadeiro lar é em outro lugar.
Certamente, muito mais poderia ser dito acerca da membresia de igreja, como a prática regular de tomar a Ceia do Senhor como um benefício do evangelho. Mas essa é apenas uma expressão simples da doutrina da membresia da igreja local para um contexto novo ao cristianismo, um contexto no qual o evangelho era desconhecido por pelo menos algumas gerações.
Terminologia da membresia: Associados? Membros? Participantes?
A Bíblia presume algum tipo de membresia na igreja local, mas não nos dá uma palavra específica para “membresia”. Como então nós podemos falar ou escrever acerca da “membresia” de uma maneira que seja significativamente compreendida na cultura? A resposta depende em parte das palavras que estão disponíveis a nós no idioma local. Um plantador de igreja transcultural precisa considerar que tipos de membresia já existem a fim de compará-las com o ideal bíblico – especialmente se escolhermos uma palavra mais genérica para membresia.
A membresia de igreja bíblica é de um tipo diferente da participação ou membresia em um monastério hindu, um templo budista, uma mesquita islâmica ou uma ordem sufi. Um plantador de igreja precisa estar cônscio dessas diferenças.
A vida doméstica e familiar pode oferecer alguns conceitos úteis de “pertencimento”. Mas a linguagem de “pertencimento” não necessariamente captura a idéia de “associar-se”, exceto talvez no contexto do casamento. Contudo, mesmo aqui, muitas culturas perderam de vista o que Gênesis diz acerca de deixar a própria família e tornar-se outra – uma nova unidade familiar.
Em resumo, a doutrina bíblica não muda, mas é preciso considerar cuidadosamente como as palavras relativas à membresia são traduzidas a um contexto particular. Em geral, o plantador provavelmente desejará usar a linguagem da “associação”, da “parceria” e da “irmandade” a fim de expressar a idéia bíblica da membresia de igreja.
Aplicação contextual: membresia e cartas escritas?
Nas sociedades móveis e difusas do Ocidente, os crentes são livres para se reunirem sem interferência oficial ou perseguição. Em tal cenário, listas escritas de membresia constituem uma aplicação apropriada das constantes bíblicas. Elas podem até mesmo ser necessárias a fim de permitir à congregação e seus líderes manterem registro de quem é e quem não é membro da igreja. O objetivo de tais listas é distinguir os membros da igreja de pessoas que professam a fé, mas não prestam contas, e manter registro daqueles que recebem a disciplina corretiva.
Mas em um contexto pioneiro, restritivo ou hostil, os poucos crentes provavelmente conhecerão todos uns aos outros. Pode ser que haja apenas uma opção de igreja local, uma reunião “não tão pública” em uma casa ou apartamento local. Ou pode haver uma rede de igrejas locais em apartamento. Aqui, manter listas de membros pode não ser sábio, uma vez que cria riscos desnecessários para o corpo local quando casas são vasculhadas e livros e papéis, confiscados. Além disso, não há crentes desconectados e as fronteiras da igreja local estão muito claras a todos. A perseguição esclarece as fronteiras ainda mais. Quando uma pessoa é batizada em tal contexto, é muito claro (para os de dentro e alguns de fora) que ela afora pertence a Cristo e à sua assembléia local. O desejo pelo batismo, em tais contextos, é uma profissão de fé inerentemente crível. Quando um crente é expulso de sua cidade natal e precisa se identificar com outra igreja subterrânea local, ele geralmente já é conhecido pela igreja que o recebe. As notícias de perseguição correm rápido. Geralmente não há necessidade de uma carta escrita de recomendação. Insistir nessa prática é simplesmente desnecessário.
Em uma sociedade mais complexa e diversificada, na qual o cristianismo é aceito e as igrejas locais desfrutam de permissão legal, listas de membresia e cartas de transferência escritas são aplicações sábias da membresia identificável.
A constante universal é que a igreja local deve saber quem é um participante e quem ainda está de fora. Preocupações culturais guiam o modo como essa constante é aplicada localmente.
Aplicação contextual: pactos escritos e seu conteúdo?
Associar-se a uma igreja local é concordar em viver junto a outros crentes de um modo que seja digno do chamado de Deus de viver como um povo eleito, sacerdócio real e nação santa. É concordar em demonstrar a glória de Deus por meio de uma vida centrada no evangelho e de relacionamentos centrados no evangelho. Em outras palavras, a igreja local é uma comunidade de fé em um mundo hostil, na qual nossos relacionamentos com Deus, uns com os outros e com os de fora são singularmente centrados no evangelho e visam à honra de Deus.
A fim de esclarecer essas responsabilidades relacionais com um conteúdo particular, muitas igrejas na história do cristianismo se beneficiaram do uso de um pacto congregacional escrito.
A tendência geral do ensino do Novo Testamento acerca da igreja aponta para o quão importante é ser claro a respeito de nossos propósitos ao nos congregarmos e a respeito da fronteira entre os de dentro (membros) e os de fora (não membros). Em um sentido, podemos dizer que a Bíblia inteira, e o Novo Testamento em particular, fornece à igreja uma lista completa de “regras pactuais” (propósitos e expectativas para a igreja). Ao mesmo tempo, um pacto escrito serve como um tipo de sumário recitável das expectativas relacionais para a igreja local.
Quanto mais intencionalmente bíblica for a linguagem de um pacto congregacional, melhor. Igrejas nos lares, por exemplo, podem reunir uma série de frases do Novo Testamento que descrevam os deveres e privilégios dos membros com apenas pequenos ajustes de linguagem (ou talvez nenhum) para o seu pacto congregacional.
Um pacto congregacional pode ser longo ou curto, mas deve enfatizar as expectativas relacionais para os membros da igreja. Ele pode ser escrito e regularmente recitado, ou memorizado, até mesmo cantado ou entoado, a depender da cultura e do nível literário. Pode ser cantado, recitado ou lido sempre que as ordenanças do batismo ou da Ceia do Senhor forem observadas. As famílias podem usar o pacto como um meio de ensinar as crianças o que significa associar-se à igreja e como o evangelho muda as vidas e capacita os seguidores de Jesus a viver de modo distinto neste mundo.
Um pacto congregacional deve incluir tanto afirmações ou versículos que seriam incluídos em quaisquer pactos como afirmações que dependem de considerações culturais. Assim, todos os bons pactos descreverão os deveres relacionais da vida familiar, da vida congregacional e da vida no mundo. Mas uma igreja estabelecida numa cultura abertamente hostil ao cristianismo pode precisar de um pacto que seja mais explícito acerca do amor pelos nossos inimigos ou do chamado a suportar perseguição. Pactos em todos os cenários culturais podem exortar a um compromisso diligente com a ousadia no evangelismo e no fazer discípulos, mas apenas alguns cenários podem demandar ser explícito acerca de exigir que os membros renunciem à adoração ancestral e a práticas supersticiosas. Em sociedades marcadas por guerra e uma mentalidade combatente, um compromisso com a pacificação e a reconciliação provavelmente devem ser inclusos. Se um pacto fosse escrito aos cretenses, que a si mesmo chamavam mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos, ela deveria incluir um compromisso com a verdade no falar, a bondade, boas obras, sobriedade e domínio próprio. Em culturas nas quais os relacionamentos são rotineiramente sexualizados, os pactos podem enfatizar a vida casta, a modéstia e a rejeição da pornografia.
Seja qual for o conteúdo, um pacto deve enfatizar a ética relacional universal do evangelho, bem como deve ser apropriadamente particularizada. Deve fazer sentido para uma igreja local, tendo em vista seus pecados relacionais particularmente prevalecentes. Esse equilíbrio entre universalidade e particularidade ajuda os membros da igreja a “disciplinarem” uns aos outros nas áreas em que isso é mais necessário.
Aplicação contextual: unindo-se à igreja local
Na definição acima acerca das constantes bíblicas universais da membresia da igreja local, eu não descrevi como as pessoas devem associar-se a uma igreja local. Isso foi intencional.
Eu de fato mencionei o batismo bíblico, uma profissão crível de fé e uma vida que exibe contínuo arrependimento e fé em Cristo. Mas o modo exato como as igrejas locais em contextos diversos devem examinar associados em potencial, provavelmente, será variável.
Entrevistas de membresia conduzidas por presbíteros podem fazer muito sentido em sociedades complexas e anônimas. Mas onde as igrejas são muito pequenas, talvez a igreja toda deva entrevistar os candidatos. Havendo toda a igreja ouvido o testemunho de conversão do indivíduo e sua explicação do evangelho é um procedimento cauteloso adequado e muito encorajador para a igreja local.
Em conclusão, plantadores de igreja transculturais, assim como todo líder de igreja fiel, devem trabalhar duro para expressar as constantes bíblicas universais em expressões doutrinárias significativas, mesmo quando buscamos distinguir a doutrina das aplicações particulares e culturais dessa doutrina. Em todo tempo, voltamos à Palavra em oração para recebermos instrução e correção.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel
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Fonte:http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/791/Membresia_de_Igreja_e_Contextualizacao

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Igreja Batista em Salvador realiza curso para namorados

13.01.2015
Do portal GOSPEL PRIME,11.01.15
Por  Leiliane Roberta Lopes


A ideia é incentivar o namoro santo para gerar famílias saudáveis e abençoar as igrejas

Igreja Batista em Salvador realiza curso para namorados
Igreja Batista em Salvador realiza curso para namorados

O Ministério de Namorados da Igreja Batista Missionária da Independência (IBMI) de Salvador vai realizar durante o ano de 2015 um curso voltado para casais de namorados cristãos.

O curso será aberto para todos os cristãos da capital baiana, desde que seus líderes autorizem a participação nas aulas que acontecerão todos os domingos pela manhã.

Durante o curso, os casais serão preparados para edificarem novas famílias e para fortalecer a igreja. A referência de todo o conteúdo será a Bíblia tendo como objetivo incentivar os casais a manter um namoro santo e compromissado, para que gere um casamento saudável e abençoado.

“Deus nos deu esta missão de acompanhá-los durante esta trajetória de inúmeras experiências e decisões importantes”, disse Gustavo Mercês, um dos líderes do Ministério.

Para participar do curso para namorados é necessário fazer a inscrição, disponível até o mês de janeiro. Dados como nomes (casal), idades, igrejas, email e telefone para o e-mail namoradosibmi@zipmail.com.br. Pelo site do ministério é possível conhecer mais sobre o Ministério de Namorados da IBMI, acesse: www.ministeriodenamorados.com.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Líder de igreja é degolado enquanto orava por homem enfermo

28.10.2013
Do portal GOSPEL PRIME
Por Jarbas Aragão
 
Perseguição religiosa no Nepal aumentou nos últimos tempos
 
Líder de igreja é degolado enquanto orava por homem enfermo
Líder de igreja é degolado enquanto orava
 
 
Debalal, 36, era líder de uma pequena igreja do Nepal. O líder evangélico era conhecido por visitar frequentemente pessoas doentes e oferecer conforto e orar pela sua cura.
 
No início da manhã de domingo, 20 de outubro, ele foi chamado à casa de Kumar Sardar, 29 para orar pela sua cura. Kumar é hindu e estava doente há alguns meses.  Ele morava cerca de 30 minutos de distância da casa da família de Debalal.
 
A esposa de Kumar pediu naquele domingo que orassem pelo seu marido, que estava chorando, reclamando de uma dor aguda em seu corpo. Enquanto Debalal ajoelhou-se para orar, fechou os olhos. Não percebeu quando Kumar levantou-se e saiu do quarto.
 
Poucos minutos depois voltou segurando um khukuri, uma faca tradicional com uma borda curva.
 
Antes que pudesse reagir, Kumar cortou sua garganta. Debalal morreu sem saber o motivo pelo qual era odiado. Segundo foi noticiado pela Missão Gospel for Ásia, que ajudava no sustento de Debalal, Kumar está sob custódia policial.
 
“Oposição, perseguição e martírio são parte do custo de seguir o Senhor e levar o Evangelho a um mundo desesperadamente necessitado”, disse K P Yohannan, diretor geral da Gospel for Asia.”Sempre ficamos com o coração partido quando perdemos alguém, mas enquanto choramos aqui na terra, há alegria no céu pelos que vieram a conhecer Jesus através deste homem.”
 
A esposa de Debalal e seus dois filhos, de 9 e 15 anos, estão sendo atendidos pela igreja local durante este tempo.
 
“Debalal era um servo fiel de nosso Senhor Jesus Cristo”, disse o bispo Narayan Sharma, líder do trabalho missionário no Nepal. ”Ele era diligente no ministério do Senhor e ajudou a trazer muitos para o Reino de Deus.”
 
Assim como ele, centenas de crentes no Nepal enfrentam diariamente a perseguição por causa de sua fé. O extremismo hindu vem crescendo no país nos últimos anos.   O Código Penal nepalês, no artigo 160 prevê punição para toda tentativa de conversão ou desvio da religião hindu “por qualquer método”.
 
As pessoas que forem flagrada pregando outra religião além do hinduísmo ou distribuindo textos religiosos não-hindus, podem ser condenadas a pagar uma multa de 50 mil rúpias (cerca de 1300 reais) e até cinco anos de prisão. Se a pessoa que desobedece a lei for estrangeira, será imediatamente expulsa, o que tem prejudicado o envio de missionários de outros países para o Nepal. Com informações de Charisma News e Gospel for Asia.
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Fonte:http://noticias.gospelprime.com.br/evangelico-degolado-oracao-nepal/