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sexta-feira, 22 de março de 2024

Origem e desenvolvimento do movimento de Crescimento da Igreja

22.03.2024
Do site MEDIUM, 10.06.2018
Por Orlando E. Costas*


A expressão “crescimento da Igreja” se refere a uma variedade de conceitos e fenômenos. Em um dos artigos prévios nos referimos a ela como um processo integral de expansão na vida e missão da igreja. Há muitos, não obstante, que a entendem num sentido técnico, isto é, como a designação de uma escola de pensamento missiológico que tem girado em torno das investigações e obras de Donald A. Mc Gavran, seus colegas e seus estudantes. Segundo C. Peter Wagner, o “Igrecrescimento” (como se chama a dita escola em alguns círculos evangélicos latino-americanos) é uma “ciência”. Uma descrição mais precisa, sem dúvida, seria a de uma teoria missional. No presente artigo nos referimos ao movimento de crescimento da Igreja neste sentido técnico.

A mera quantidade de produção literária de Mc Gravan, seus colegas e discípulos basta para justificar uma análise do seu trajeto histórico. Ele é ainda mais pertinente quando se considera a crescente influência de tal pensamento em setores significativos do protestantismo.

O movimento de crescimento de igreja não se originou nem na Europa e nem na América do Norte. Suas raízes se encontram no subcontinente da Índia. Contudo, a maioría de seus líderes tem sido estadunidenses e tem se tornado famoso em solo norte-americano.

A Índia e a obra de J. Waskom Pickett

O Igrecrescimento traz suas raízes e mais exitosas experiências do bispo metodista J. Waskom Pickett, com a conversão de grupos étnicos na Índia. Durante seus anos de trabalho missionário, Pickett observou que nas sociedades altamente estruturadas era mais fácil receber a fé cristã como grupo do que como indivíduo. No princípio chamou a conversão destes grupos “movimentos massivos”. Contra o crescente individualismo ocidental, defendeu a idéia de uma evangelização grupal como o modo mais natural para alcançar aos hindus e conduzi-los a Cristo.

O que o bispo Picket pode constatar a conversão progressiva de um segmento da sociedade dentro de um período relativamente curto. Assim, uma tribo inteira, casta ou grupo homogêno, ou pelo menos uma porção significativa de seus integrantes, recebia a fé cristã em um prazo de tempo determinado. Duas décadas mais tarde, Donald A. McGavran chamaria este fenônomeno de “os pontos de Deus”.

Durante as primeiras décadas do séc. XX, a obra missionária na Índia (e em outras partes do mundo) estava firmemente arraigada tanto na experiência da “modernidade” como da “cristandade”. Muitas das energias das sociedades missionárias protestantes históricas eram gastas em ministérios sociais. Concebia-se a missão como a grande contribuição da cristandade à “civilização” de povos primitivos, tecnologicamente atrasados e sociamente antiquados. O campo missionário havia sido invadido pela teologia do “evangelho social”, especialmente na obra realizada pelas sociedades missionárias do protestantismo liberal norteamericano. Daí que o mesmo McGravan, missionário da quarta geração da Igreja dos Discípulos de Cristo, havia se doutorado em educação e destacado como diretor de um asilo de leprosos durante seus primeiros anos de serviço missionário.

O denominador comum na Índia daquele tempo era o Império Britânico. A maioria das missões e dos missionários sentiam-se “em casa” sob a proteção das autoridades coloniais. Houve, sem dúvida algumas exceções. Uma das mais notáveis foi a de Stanley Jones, um apaixonado evangelista metodista norteamericano com uma sensível consciência social e uma grande amizade com Mahatma Ganddhi.

O método missionário por excelência era chamado de “estação missionária”. Todo o trabalho girava em torno de um complexo de residências de onde partiam os missionários para realizar sua obra entre os povos e aldeias limítrofes. A estação missionária permitia, por uma parte, a concentração de recursos em uma área geográfica, e por outra, separava o pessoal missionário das comunidades às quais servia.


A atitude prevalecente na comunidade missionária da Índia da época em questão era a de uma minoria complexada. Pensava-se que as raízes religiosas da vasta população do subcontinente eram demasiadamente profundas para esperar mudanças significativas na fé e prática religiosa de seus habitantes. Os cristãos eram (e continuam sendo) uma pequena minoria. Não havia muita esperança de que vastos setores da Índia chegassem à fé cristã.

Fica claro que o movimento de crescimento da igreja não somente tem suas raízes na Índia, sim também na obra de missionários protestantes de igrejas históricas e liberais. A história posterior do movimento mostra, sem dúvida, uma resistência da parte das estruturas missionárias históricas e uma crescente abertura dos setores missionários independentes e evangélicos conservadores, grande parte dos quais tem sido tradicionalmente reacionários e separatistas.

A Sociedade Missionária Cristã Unida e a obra de Donald A. Mc. Gavran

Donald A. Mc. Gavran foi por muitos anos, como se tem indicado, missionário da Sociedade Missionária Cristã Unida da Igreja dos Discípulos de Cristo. De 1954–55, durante seu ano de licença na América do Norte, se dedicou a organizar o pensamento missiológico desenvolvido como resultado de suas experiências na Índia. O resultado foi a publicação de sua monumental obra: Os pontos de Deus. Pode-se dizer que esta obra deu impulso inicial à escola de pensamento relacionada com a pessoa e obra literária de Mc. Gravan.

Como resultado imediato de sua obra, sua junta missionária lhe pediu que não regressasse à Índia e ficasse nos EE.UU para realizar estudos sobre o crescimento da Igreja. Levou à cabo projetos de investigação no México, Filipinas, Tailândia, Congo, Jamaica e Porto Rico. Tarefas que o mantiveram ocupado até o fim da década de 60. Um resultado desses estudos foi a universalização de sua teoria sobre a igreja e seu crescimento, o mesmo que foi divulgado em círculos ecumênicos e missionários. Como conseqüência recebeu numerosos convites para fazer apresentações diante de assembléias, consultas e conferências ecumênicas e denominacionais. Porém segundo McGravan, em nenhum desses lugares encontrou uma recepção entusiasta:

Meus ouvintes se perguntavam se o que eu dizia sobre o crecimento era o certo. Era legítima a preocupação sobre o crescimento da igreja, ou simplesmente um exagerado interesse nos números? Como quer que se explique, nada surgiu de meus discursos em todas as reuniões. Fui escutado e ouvido.

O Instituto de Crescimento da Igreja e o Seminario Teológico Fuller

Em 1960 McGravan decidiu ficar indenpendente da junta missionária dos Discípulos de Cristo. Havia se convencido que a única forma de mudar o rumo missionário do protestantismo era estabelecendo um instituto de investigação e formação missiológica que permitisse aos missionários e administradores de missões estudar a fundo as causas do crescimento e estancamento da igreja. Foi assim que fundou o Instituto de Crescimento da Igreja (ICI). Durante seus primeiros cinco anos o Instituto esteve filiado ao Colégio Cristão do Noroeste, uma pequena universidade dos Discípulos de Cristo em Eugene, Oregon.

O primeiro colaborador de McGravan foi Alan R. Tippet, um missionário metodista com várias décadas de serviço nas ilhas do Pacífico Sul. Tippet veio estudar com McGravan porém se converteu em sua mão direita. Por quase vinte anos se destacou na investigação e no ensino como seu principal companheiro de trabalho. Doutorou-se em Antropologia Cultural na Universidade de Oregon, o que deu ao instituto uma base teórica mais sólida do que a que McGravan podia prover. De fato, Tippet chegou a ser o complemento perfeito de McGravan. Este era o estrategista e promotor do movimento e o seu primeiro cientista social. Essa combinação fez possível uma formulação ideológica digerível ante o público evangélico-conservador norte-americano. A divulgação da mesma se facilitou quando em 1964 se fundou uma publicação mensal o “Boletim de Crescimento da Igreja”, sob a direção de McGravan e o auspício financeiro da “Cruzadas de Ultramar”, uma agência missionária independente com sede em Palo Alto, Califórnia.

Cinco anos depois de sua fundação, o instituto de Crescimento da Igreja se mudou para Pasadena, Califórnia, e se incorporou à nova Escola de Missões Mundiais do Seminário Teológico Fuller. McGavran foi indicado como o primeiro deão e professor de crescimento de Igreja, e Tippett como o primeiro professor de antropologia missionária. O casamento entre o Seminário Fuller e o ICI se realizou graças à influência do falecido diretor da Missão Latino-americana e fundador do Movimento de Evangelismo a Fundo, R. K. Strachan. Em 1964, um ano antes de sua morte, Strachan havia servido como professor visitante no Seminário Fuller. (Foi das conferências apresentadas no Seminário Fuller que surgiu sua obra póstuma, El llamado ineludible). De acordo com seus amigos da Missão Latinoamericana, Strachan foi convidado a ser o primeiro deão da nova faculdade, porém devido à sua saúde como ao seu compromisso com a América Latina ele declinou o convite e recomensou em seu lugar a Donald A. McGavran.

O fato de que Strachan tenha desempenhado um papel tão estratégico no casamento do ICI e o Seminário Fuller explica, em parte, a influência exercida pela América Latina nos primeiros anos de vida da Faculdade de Missões Mundiais- FMM. Daí, por exemplo, que o primeiro grande projeto de investigação tenha sido o estudo sobre o crescimento das igrejas protestantes na América Latina, levado à cabo por William R. Read, Víctor M. Monterroso y Harmon Johnson, três missionários em países latino-americanos, sob a direção de Mcgavran y Tippett. Assim mesmo, depois de Tippett y McGavran, as primeiras nomeações de professores foram de Ralph Winter, missionário presbiteriano na Guatemala, e C. Pedro Wagner, ex-diretor associado da Missão Evangélica Andina na Bolivia.

Pouco depois da integração do ICI com o Seminário Fuller, a casa editorial William B. Eerdmans (uma das editoras religiosas estadunidenses de mais prestígio no mundo evangélico) começou a publicar uma série de livros sobre o crescimento da igreja, sob a direção do “decano” dos missiólogos protestantes norte-americanos, R. Pierce Beaver, então professor de história das missões da Faculdade de Divindade da Universidade de Chicago. Ele não somente ajudou a criar interesse da comunidade missionária pelo problema e desafio do crescimento da igreja, sim também estimulou o debate em torno de postulados de igrecrescimento.

O êxito dos livros da Eerdmans e o crescente número de invstigações de campo realizadas por estudantes e professores da FMM, despertaram a imaginação empresarial de Ralph Winter, que devido ao seu doutorado em antropología (com especialidade em lingüística) havia chegado a ocupar a cátedra de história das missões. Winter viu o potencial comercial da literatura missiológica em geral, e de crescimento da igreja em particular. Quando não pode persuadir a administração do Seminário Fuller a lançar uma empresa editorial, Winter investiu seus recursos pessoais e criou sua própria editora sob o nome célebre de William Carey Library (Livraria Guillerme Carey). Começou a publicar a baixo custo, usando máquinas de escrever elétricas em vez de imprensas, pessoal mínimo e a motivação de um “clube de livros” integrados ao Boletim. Em poucos anos a editora experimentou um extraordinário incremento em vendas e títulos publicados. Assim mesmo estimulou a divulgação de crescente número de teses de graduação sobre temas missiológicos e demonstrou que a literatura missiológica tinha um potencial no público protestante estadounidense.

No princípio da década dos anos 70, muitas denominações históricas estadunidenses começaram a mostrar uma profunda preocupação sobre a perda de membros e a diminuição em apoio e contribuições. A década de 70 havia deixado as igrejas do país com uma grande crise de identidade por causa do êxodo juvenil, a polarização ideológica e racial, e o desequilíbrio teológico. Algumas denominações e certas congregações começaram a interessar-se por situações onde a igreja estava experimentando crescimento rápido. Em 1973 umas cem denominações protestantes (de corte tanto liberal como conservadora), em colaboração com várias dioceses católicas, auspiciaram um esforço concentrado de mobilização evangelítica com o nome de Key’73. Inspirado em movimentos como o Evangelismo a Fundo, Key’73 ajudou a criar um grande impacto psicológico em muitas igrejas.

Nesse mesmo tempo, alguns líderes ministeriais estadunidenses (pastores e administradores denominacionais) começaram a interessar-se pelo programa de estudos da FMM. Concluíram que muitos dos princípios da teoria de crescimento eclesial poderiam aplicar-se à suas próprias congregações nos Estados Unidos. Um deles foi Winfield C. Arn, que fundou o Instituto Norteamericano de Crescimento de Igreja como resultado direto de seus estudos missiológicos no Seminário Fuller.

À obra que Winfield realizou juntou-se C. Peter Wagner, que à parte de suas responsabilidades docentes assumiu a direção da Fuller Evangelistic Association (Asociacão Evangelística Fuller, AEF). Era uma fundação para a promoção da obra evangelística no terceiro mundo, criada pelo falecido evangelista Charles E. Fuller (pregador do famoso programa The Old Fashioned Recital Hour — A hora do avivamento tradicional). A AEF havia sido uma das três entidades fundadas por Fuller e seu ministério evangelístico (as outras duas haviam sido o programa de rádio e o seminário, que, seja dito de antemão, havia sido originalmente desenhado por Fuller como uma escola para a preparação de evangelistas e missionários, porém fora transformado em uma faculdade teológica na época de sua fundação (1947) por seu primeiro reitor, Harold Okenga). O único herdeiro de Charles E. Fuller foi seu filho, Daniel, ex-deão e professor do seminário. Reconhecendo que seus dons não eram os do seu pai, Daniel Fuller teve a grande visão de dedicar-se à docência e à investigação neotestamentária, deixando as instituições criadas por seu pai ao cuidado de pssoas mais idôneas. Foi assim que o seminário continuou sua boa marcha sob a direção de uma junta diretiva, pessoal administrativo e corpo docente. O programa de rádio experimentou uma mudança de nome The Joyful Sound (Uma Alegre Melodía) e ficou a cargo de David Hubbard, reitor do seminário e professor de Antigo Testamento. Finalmente a AEF foi colocada sob a direção de Peter Wagner.

Wagner havia se destacado como um hábil administrador e estrategista durante seus dezesseis anos de serviço missionário na Bolívia. Havia realizado seus estudos teológicos básicos no Seminário Fuller e havia voltado para fazer estudos de pós-graduação em missiologia sob a direção de McGavran, depois de haver realizado um programa de mestrado em história eclesiástica no Seminario Teológico Princeton. McGavran viu em Wagner a pessoa idônea para sucedê-lo na cátedra de crescimento da igreja e na promoção do movimento. Wagner, por outro lado, viu em McGavran um mentor competente e fez sua a causa missiológica dele. Como mostra de seu grande afeto e respeito pelo seu professor, lhe dedicou sua obra: Teologia Latino-americana, esquerdista ou evangélica? McGavran o nomeou diretor associado do O Boletim e depois de sua jubilação conseguiu fundos para a criação de uma cátedra permanente de crescimento da igreja (que foi honrada com seu próprio nome) para a qual foi eleito Peter Wagner.

Nos anos que se seguiram, como diretor da AEF, Wagner pois esta instituição à serviço do movimento, desconectando-a paulatinamente de seus próprios projetos. Foi interessando-se mais e mais pelos problemas missionários das igrejas norteamericanas até que se viu completamente envolvido com estudos sobre o crescimento e estancamento das igrejas estadunidenenses. Ainda criou um departamento de ministério hispanicoamericano, para cuja direção nomeou o argentino Juan Carlos Miranda. Juan Carlos Miranda, se ocupou do estímulo e promoção do movimento EE. UU., e da promoção de serviços de consulta à denominações e congregações dentro do país. Quando Wagner ocupou a cátedra de D.A. McGavran (uma função que requeria sua dedicação exclusiva), ele, David Hubbard e outros líderes do complexo de entidades Fuller decidiram converter a AEF no Charles E. Fuller of Evangelism and Church Growth (Instituto de Evangelização e Crescimento de Igreja Charles E. Fuller), dedicado ao serviço das igrejas nas Américas e afiliado à FMM.

É importante reconhecer que houve outros desenvolvimentos no movimento dentro da FMM como fora dela. Ao trabalho de Tippett, Winter y Wanger se juntou os serviços de Arthur Glasser como sucesor de McGavran na decanatura da Faculdade e professor de teologia da missão. Glasser chegou ao Fuller com uma larga experiência missionária na China e na direção da Overseas Missionary Fellowship (Companheirismo Missionário de Ultramar). Conhecido em círculos conservadores por sua rigidez teológica, Glasser ofereceu grande ajuda teológica à FMM. Como teólogo da Faculdade, procurou dar-lhe certa estabilidade teológica e dissipar as críticas que vinham levantando-se contra a perspectiva do movimento de crescimento de igreja, especialmente aquelas dirigidas à carência de uma sólida estrutura fundamentada em uma exegese bíblica séria.

A contribuição de Glassler foi muito oportuna, dada a rivalidade que havia surgido entre as Faculdades de Teologia e Missão no Seminário Fuller. Os esforços bíblico-teológicos de Glassler, sem dúvida, não conseguiram superar o estado de crítica entre os “teólogos” e os “missiólogos”. No geral, persistiram as suspeitas mútuas de falta de seiriedade bíblico-teológica, por uma parte, e carência de praticabilidade missional, por outra. Contudo, a era Glassler como deão da FMM (que concluiu em 1981, quando se jubilou da decanatura e se dedicou exclusivamente à docência como professor benemérito) conseguiu um módus vivendi entre ambas as faculdades, promovendo o espaço para que alguns professores começassem a colaborar em projetos afins. Outros, lamentavelmente, fizeram-se omissos, desconhecendo-se mutuamente.

Um professor que já tinha sustentado um frutífero diálogo com alguns membros da Faculdade de Teologia foi Charles H. Kraft, professor de antropologia e estudos africanos. Sua formação linguística, seu interesse na tradução da Bíblia às línguas vernáculas e seus estudos em hermenêutica e contextualização tinham possibilitado sustentar um interessante diálogo com teólogos e biblistas dentro e fora do Seminário Fuller. De fato, sua obra principal, Christianity in Culture (O cristianismo e a cultura) foi prefaciada pelo conhecido teólogo batista Bernard Ramm. Kraft mesmo reconhece no começo de seu livro sua dívida para com colegas como Jack Rogers e David Hubbard. Desde o ponto de vista do crescimento de igrejas, a obra de Kraft procura aprofundar a base antropológica do movimento e dar legitimidade teológica à meta de estabelecer igrejas culturalmente autóctones entre os povos da terra. Devido a isso, a obra de Kraft possui também implicações explosivas para o crescimento da igreja e se expõe à críticas de ordem sócio-teológicas, porém delas não nos ocuparemos nesse momento.

Outros colegas de McGavran durante seus anos de deão no Seminário Fuller foi Ralph Winter. Em seus anos de trabalho missionário na Guatemala, Winter se destacou por seu estímulo e promoção do movimento de educação teológica por extensão. Havia sido um dos pioneiros desse movimento, junto com Rosse Kinsler e James Emery, ainda que servisse ao corpo docente do Seminário Presbiteriano da Guatemala, logo passou a ser secretário executivo da Associação de Escolas Teológicas Latino-americanas, Região Norte (ALET) desde onde procurou globalizar a experiência “extensionista” do seminário guatemalteco. Foi assim que co-editou o primeiro livro sobre a educação teológica por extensão.

Em Pasadena, Winter começou a promover esse inovado enfoque educativo, porém poucos anos depois se envolveu de cheio com o ensino e investigação no campo da história das missões. Deu a esse ramo da missiologia um enfoque antropológico-cultural e logo conseguiu estabelecer sua própria linha dentro do crescimento de igreja. Esta consistiu no desenvolvimento de uma hermenêutica histórica baseada na observação do fenômeno de estruturas para-eclesiais (“tropas de choques”) dedicadas ao cumprimento da missão cristã no mundo. Segundo Winter a igreja cristã é um movimento composto de uma dupla estrutura: hierárquica ou vertical, e missional ou horizontal. A primeira se dedica ao fortalecimento interno e institucional da igreja. A segunda responde à necessidade da igreja extender-se por todos os povos. Para Winter essas estruturas não devem confundir-se: necessitam-se mutuamente. A primeira corresponde às denominações; a segunda às sociedades missionárias. Dada essa dualidade, as sociedades missionárias não somente devem ocupar-se de estabelecer igrejas sim também sociedades missionárias.

Outro estudo de Winter é sua tipologia da evangelização mundial, na que distingue quatro tipos de evangelização: EO — a evangelização entre cristãos nominais dentro da mesma cultura; E1 — a evangelização do vizinho não cirstão dentro da mesma cultura; E2 — a evangelização de pessoas em outras culturas relativamente próximas; E3 — a evangelização daqueles que se encontram em culturas que estão totalmente fora da órbita evangelística da igreja. Para Winter os tipos E2 e E3 constituem “a prioridade mais alta” na obra missionária. “Para alcançá-los com o evangelho são necessárias agências especializadas e apóstolos devidamente capacitados para a comunicação intercultural”.

Com essa perspectiva Winter retornou à linha que havia levado a McGavran a estabelecer o Instituto de Crescimento de Igreja em 1960. Winter quis que a FMM invidasse todas as suas energias na promoção do que ele passou a chamar “as missões fronteiriças” (E3). Porém, assim como a administração do Seminário Fuller não havia conseguido entusiasmar-se quando Winter propôs o projeto incial de uma casa editorial e ele se viu forçado a fazê-lo independentemente, tampouco encontrou muito entusiasmo em relação à sua nova proposta. Viu-se obrigado a criar seu próprio complexo de instituições.

Foi assim que Winter fundou o U.S. Center for World Mission (Centro Estadunidense de Missão Mundial) e a William Carey International University (Universidade Internacional William Carey) no antigo campus de uma universidade nazarena na mesma cidade de Pasadena. O Centro é um consórcio de agências missionárias e institutos de investigação missiológica à serviço de Ralph Winter “as missões fronteiriças”, e a universidade é um esforço combinado de capactiação missional dedicado a fomentar a visão dos povos escondidos e preparar pessoal idôneo à curto prazo para sua evangelização. A Universidade não pareceria estar diretamente em competição com a FMM, já que esta possui um programa de estudos formais e serve majoritariamente a missionários de carreira (Winter mesmo seguiu atuando como professor adjunto da FMM). Diferentemente os programas da Universidade são de curta duração e apelam a jóvens universitários e professionais, com carreiras seculares, que desejam colocar seus recursos ao serviço da obra missionária nas áreas onde o evangelho ainda não tem sido comunicado. Sem dúvida, o fato de que a Universidade tenha começado recentemente a oferecer graus acadêmicos indica que cedo ou tarde entrararia em competição com o Seminário Fuller.

A perspectiva “winteriana” já havia feito eco nos círculos evangélicos conservadores desde a celebração do Congresso de Lausanne em junho de 1974, quando Winter apresentou pela primeira vez sua tese sobre “a prioridade mais alta”. Posteriormente o Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial procurou incorporar dita perspectiva ao elaborar um enfoque evangelistico estratégico orientado rumo aos “povos não-alcançados”. A Conferência sobre Missões Fronteiriças celebradas em Edimburgo, Escócia, em 1980, refletiu uma relação ainda mais direta com o “projeto” de Winter ao concentrar-se somente em regiões com nenhum tipo de presença cristã.

A independência de Winter, sua ênfase na evangelização dos povos mais remotos da terra, e sua promoção das sociedades missionárias como componente fundamental da natureza da igreja tem dado uma dimensão nova ao movimento de crescimento de igrejas. Por uma parte, tem garantido a continuidade radical da ênfase original de McGavran no treinamento de pessoas para a evangelização dos povos, o estabelecimento de igrejas em sua própria situação e a mobilização das sociedades missionárias (tanto denominacionais como interdenominacionais) para o serviço à “a mais alta prioridade”. Por outro lado, o Seminário Fuller tem resistido em aceitar o “projeto” de Winter, ainda que tenha declarado que sua missão é a de servir, ao menos, a evangelização E1, E2 e E3.

Porém, Winter ia em uma direção, Wagner e os promotores do crescimento de igreja na América do Norte iam em outra. Certamente a ênfase na revitalização e expansão da Igreja norte-americana não se opunha necessariamente à ênfase nas “missões fronteiriças”. Porém, no princípio, McGavran o entendeu como uma ameaça. Para ele, nos EE.UU havia muita gente que poderia levar a cabo a obra evangelizadora. O movimento de crescimento de igreja não poderia dar-se ao luxo de investir energias nesse país, isso acabaria roubando pessoal e recursos da tarefa prioritária: evangelizar o mundo fora da América do Norte e Europa. Sem dúvida, Wagner, Arn e outros foram convencendo McGavran de que no EE.UU, havia um extraordinário desafio missionário intercultural (pela crescente presença de grupos étnicos). Além do mais, se não revitalizassem a base, não se poderia contar um uma sólida força missionária. Assim McGavran não somente deu sua benção à fase intranorte-americana do movimento, mas deu também seu apoio pessoal (Winter, sem dúvida, se mostrou indiferente).

A década de 70 viu, pois, o movimento de crescimento da igreja ampliar suas bases operacionais. Porém que no princípio estava limitado a uma entidade, para fins da década de 70 havia proliferado em várias instituições e movimentos. É um fato, sem dúvida, que pese à crescente literatura e estudos sobre o tema, pese ao incremento de instituições ao serviço do crescimento de igrejas, e pese a ampliação da agenda missiológica do movimento, suas principais vozes seguem aquelas que estão direta ou indiretamente associadas com a FMM do Seminário Fuller (professores titulares e adjuntos, alunos e ex-alunos, institutos afliados e entidades amigas)


Notas e referências

1. Veja a publicaão Church Growth Bulletin del Fuller Institute of Evangelism and Church Growth, Pasadena, California. Sobre a noção do crescimento de igreja como ciência veja a obra de C. Peter Wagner, You¿ Church Can Grow: Seven Vital Signs of a Healthy Church (Glendale, Calif.: Regal Books, 1976), pp. 40–41 (versión castellana por Editorial Vida, Miami, Fla.); idem, Church Growth and The Whole Gospel A Biblical Mandate (New York: Harper and Row, 1981), pp. 75–77.

2. Cf. J. Waskom Pickett, Christian Mass Movements (Lucknow, India: Lucknow Publishing House, 1933).

3. Entendemos por “modernizacão” o processo civilizatório experimentado no Ocidente e suas dependências coloniais através do mundo durante os últimos quatro séculos como resultado do surgimento da ciência moderna, a revolucão industrial e tecnológica e a expansão capitalista. (Para uma extensa discusão deste conceito no contexto da obra misionária, veja o ensaio de Stephen C. Knapp, “Mission and Modernization”, en American Missions in Bicentennial Perspective, editado por R. Pierce Beaver (So. Pasadena, Cal.: William Carey Library, 1977), pp. 146–198. Por “cristandade” entendemos o projeto (histórico) de uma sociedade “cristã” sustentada por princípios e valores religiosos, com a igreja como gerente ou mentor espiritual. Para uma discusão mais detalhada do problema da cristandade na missão cristã, veja a Orlando A. Costas, Christ Outside the Gate: Mission Beyond Christendom (Maryknoll, NY: Orbis Books), pp., xvii, 14, 35–36, 68, 123–24, 179–81, 189–90, 192–94.

4. Donald A. McGavran, Christian Missions in Mid India (Lucknow, India: Luck-now Publishing House, 1936). Esta obra foi posteriormente reimpressa em J. W. Pickett, A. L. Warnshuis, y Donald A. McGavran, Church Growth and Group Conversion (So. Pasadena, Ca: William Carey Library, 1962).

5. Donald A. McGavran, The Bridges of God (Londres: World Dominion; Nueva York: Friendship Press, 1955).

6. Cf. as seguintes obras de McGavran: “ A Study of The Life and Growth of the Disciples of Christ in Puerto Rico” , United Christian Missionary Society, Indianapolis, 1956 (mimeografiado); “ Church Growth in West Utkul, Orissa, India” , United Christian Missionary Society, Indianapolis, 1956 (mimeografiado); Multiplying Churches in the Philippines, United Church of Christ in the Philippines, Manila, 1958 (reimpreso por Overseas Crusade Ministries in the Philippines, Manila, 1980); Church Growth in Jamaica (Lucknow, India: Lucknow Publishing House, 1962); Church Growth in Mexico (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1963).

7. Donald A. McGavran y Winfield C. Arn, Ten Steps for Church Growth (San Francisco, Cal.: Harper and Row, 1977), p. 4.

8. Kenneth Strachan, El llamado ineludible (San José, Costa Rica: Editorial Caribe, 1968).

9. Cf. William R. Read, Víctor M. Monterroso y Harmon A. Johnson, Avance evangélico (El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones, 1970).

10. C. Pedro Wagner, Teología latinoamericana, ¿izquierdista o evangélica? (Miami: Editorial Vida, 1969).

11. Veja, por exemplo, as seguintes obras de Wagner: Your Church Can Grow (Glendale, Cal.: Regal Books, 1976; versão castelhana por Editorial Vida, Miami); Your Church Can Be Healthy (Nashville, Tenn.: Abingdon, 1979); Your Spiritual Gifts Can Help Your Church Grow (Regal, 1979; versão castelhana por Editorial Vida); Our Kind of People (Atlanta, Ga.: John Knox Press, 1979).

12. Charles H. Kraft, Christianity in Culture: A Study in Dynamic Theologizing in an Inter Cultural Perspective (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1978).

13. Cf. James Emery, Ross Kinsler, Louise Walker y Ralph D. Winter, Seminario de extensión: un manual (So. Pasadena, Cal.: William Carey Library, 1970).

14. Cf. Ralph Winter, “The Two Structures of God’s Redemptive Mission”, en Perspectives on the World Christian Movement: A Reader, editado por Ralph D. Winter y Steven C. Hawthorne (So. Pasadena, Ca. William Carey Library, 1981), pp. 178–190; idem, “The Planting of Younger Missions”, en Church/Mission Tensions, compilado por C. Peter Wagner (Chicago: Moody Press, 1972).

15. Cf. Ralph D. Winter, “The New Macedonia: A Revolutionary New Era in Mission Begins”, en Perspectives on the World Christian Movement, pp. 293–311; idem “The Task Remaining: All Humanity in Mission Perspective”, en ibíd. pp. 312–328.

16. Sobre o desenvolvimento do conceito dos “povos não alcançados” (ou “povos fronteiriços”), de acordo com Winter, veja seu ensaio (inédito), “Unreached Peoples: The Development of the Concept”, Consulta Reformada sobre a misão, Filadelfia, Penn., 16 de marzo 1983 (mimeografiada), 28 pp.

17. A fundacão do Centro teve como finalidade dar solidez a um movimento dedicado exclusivamente a alcançar aos “povos escondidos”, aqueles em meio dos quais não há nenhuma igreja.

(Obs.: Tradução livre de Regina Fernandes Sanches)

Regina Fernandes Sanches

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Fonte:https://medium.com/sabercriativo-com-br/origem-e-desenvolvimento-do-movimento-de-crescimento-da-igreja-5072dbcabe92

terça-feira, 1 de novembro de 2016

5 sinais do distanciamento ou aproximação da Reforma Protestante

01.11.2016
Do portal GOSPEL PRIME
Por Sady Santana*

A Igreja é reformada e está sempre se reformando

5 sinais do distanciamento ou aproximação da Reforma ProtestanteUm homem está na porta de uma catedral importante na Europa. Logo abaixo um povo ignorante e enganado por um clero, observa. Este monge começa a cravar naquela porta um protesto com 95 itens, são alguns dos erros que a sua igreja querida estava cometendo contra a verdade do evangelho.

Este dia ficou para a história da igreja na terra como mais um capítulo da redenção. Um dia importante e decisivo que o Deus soberano reservou para os seus. Tanto é verdade que o mundo todo foi impactado nas estruturas. Reinos e estados terrenos foram sacudidos por uma mudança sem precedentes.
Você pode até estar aí a não dar importância devida, ou dizer que a Reforma Protestante é coisa de homens. No entanto, me aponte, fora a Salvação em Cristo, alguma obra aqui na terra de avanço do evangelho que não tenha sido feito por homens santos e separados pelo próprio Deus. Deus moveu Lutero até aquela porta. Deus levantou Calvino e a muitos outros homens neste mesmo período para dar continuidade e trazer a Bíblia de volta ao Corpo de Cristo.
Inclusive, Deus já tinha usado muitos outros homens, antes mesmo de Lutero nascer, para lutar pela Verdade. E Ele mesmo continuará levantando homens que leiam cuidadosamente as Escrituras, que se afadiguem em explica-la, que se esmerem em fazê-la compreensível e acessível aos menos sábios do reino, com a ajuda do Espírito e com trabalho duro.
Em todo lugar, em toda igreja, em toda casa onde uma bíblia for desprezada e deixada para empoeirar-se, uma graça será esquecida e o evangelho será distorcido. Veja aqui cinco sinais claros que podem te orientar sobre se a sua igreja, a que você pertence, ou mesmo a sua vida tem andado na mesma trilha dos apóstolos, e dos reformadores.

Somente a ESCRITURA

Quando saímos do culto temos que nos fazer algumas perguntas como: Entendi as palavras da Bíblia, ela me foi explicada adequadamente, posso explicar a outra pessoa o que eu entendi. E mais, saí do culto desejando ler mais as Escrituras em casa, sou desafiado pela minha liderança a conhecer e ler toda a Bíblia.
E ainda, a Bíblia é a única fonte de revelação em minha igreja, ou a experiência individual tem pautado o andar da minha comunidade? Nos dias de Lutero, a igreja se dizia Igreja mas não estava nem aí para que a Bíblia dizia. Versículos eram destacados e isolados, e depois usados para referendar as práticas de pedir dinheiro.

Somente CRISTO

Palavras de conquista, de buscar a benção, de prosperidade foram substituindo palavras como redenção, arrependimento e santidade? Quando vou à igreja ouço sobre Cristo e seu sacrifício, ouço que a cruz de Cristo não me fará mais rico, sem doença, não me fará imune a problemas e dificuldades? A minha igreja dá mais ênfase a santidade na Palavra, ou para as campanhas de desafio e conquista?

Somente a GRAÇA

Por incrível que pareça, as indulgencias voltaram. Se você desconhece que um dia uma igreja quis vender a salvação em um pedaço de papel, e que esse papel atestava o perdão dos pecados para toda a vida, procure ler a respeito e você ficará impressionado com tamanha ousadia. Contudo, atualmente uma suposta salvação começou a ser vendida novamente. A ênfase no dinheiro, e nos desafios envolvendo ganhos, tomaram proporções absurdas no movimento evangélico em todo o mundo. E igrejas simplesmente só falam disso, o tempo inteiro. As modernas indulgencias voltaram. Pergunte-se se em algum ponto da sua vida cristã, você não teria feito parte, inconscientemente, desse desvio da graça. Toda vez que a salvação em Cristo for velada e escondida por outras pregações, então a Graça foi pervertida e o verdadeiro evangelho foi encoberto.

Somente a FÉ

Aqui é a fé para a salvação, não a fé para conseguir coisas, ou a fé do pensamento positivo. Somente essa fé que nos salvou nos fará suportar as perseguições. É a fé para viver o evangelho mesmo tendo oposição do mundo inteiro. É a fé para buscar santidade com coragem. É a fé para entender e esperar que este mundo não estará melhorando, e sim que ele está em franca destruição. É a fé para entender que somos peregrinos aqui e a nossa pátria está no céu.

Somente A DEUS TODA A GLÓRIA

Onde está a glória de Deus em tempos de celebridades gospel, de fãs, de seguidores, de fumaça e de luzes no púlpito-palco? Se seu pastor pula e grita o tempo todo, os crentes giram e saem de órbita, e as “experiências “ de adoração extravagante aumentaram, enquanto o lugar da explicação das Escrituras foi diminuindo?
Então, a glória de Deus certamente não está sendo enaltecida. Se a congregação está negligenciando a pregação cuidadosa da cruz de Cristo, da graça, e da fé, então a glória de Deus está sendo desviada e corrompida. O conselho é que você não faça parte disso, é perigoso, é tóxico.
Existe uma frase, um mote, um lema que foi usado pelos reformadores que diz: Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est, que quer dizer, “A Igreja é reformada e está sempre se reformando”. Mas, não se confunda com mudança para frente, para longe das Escrituras, o movimento é sempre para trás, pois, a igreja sempre estará retornando aos ensinos dos apóstolos enquanto avança sobre as portas do inferno.
Quando tudo o mais for invenção, barulho e confusão, uma igreja remanescente estará fazendo o movimento de retorno às Escrituras, aparando exageros, reformando-se.
Soli Deo Glória!
Sempre foi assim, e sempre será.

*Sady Santana  é jornalista pelo Mackenzie, estudou teologia no IBEL onde descobriu o seu amor por missões e pela noiva de Cristo. Atualmente está ajudando seu esposo, pastor Nelson Ferreira, na implantação de uma igreja no Grajaú, SP.


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Fonte:https://artigos.gospelprime.com.br/5-sinais-do-distanciamento-ou-aproximacao-da-reforma-protestante/

quarta-feira, 30 de abril de 2014

As Preocupações da Vida

30.04.2014
Do portal  ENCONTRE A PAZ


Sem dúvida, vivemos em uma época muito especial, em que podemos contar com a volta de Jesus a qualquer momento. Os sinais dos tempos falam uma linguagem muito clara e sempre mais insistente. Parece que nos aproximamos da Grande Tribulação a largos passos. Em Israel busca-se a paz, a Terra Prometida está sendo repartida e a globalização avança com velocidade vertiginosa. Na Europa o clamor por um novo Império Romano torna-se cada vez mais forte. O novo presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, recentemente expressou sua visão de um novo Império Romano ao afirmar: "Pela primeira vez desde a queda do Império Romano temos a chance de unir a Europa – desta vez não pela força das armas, mas na base de ideais comuns e de regras negociadas". Na Alemanha, a igreja luterana e a igreja católica chegaram a uma unidade e a uma aproximação jamais vistas. Mas, conforme alguns teólogos evangelicais, a declaração oficial conjunta sobre a doutrina da justificação seria somente um ideal ecumênico, nada tendo em comum com seu sentido original, sendo interpretada apenas no sentido católico-romano.

Uma notícia ruim segue à outra. Os intervalos entre elas são cada vez menores e sua intensidade aumenta. Alguém disse recentemente: "A situação está tão séria que não podemos mais apenas comentá-la – devemos elevar nossa voz". Entretanto, como nós cristãos ainda nos encontramos sobre a terra e somos confrontados com sofrimentos e dificuldades, corremos o risco de ficar com medo e de preocupar-nos com o atual estado de coisas. Muitos olham para o futuro com apreensão. O perigo para os crentes nestes tempos finais, conforme as palavras do Senhor Jesus, não está no risco de sucumbir no meio de tantos problemas, mas em se preocupar com tudo o que está acontecendo. E é justamente em relação às preocupações que Ele nos alerta, quando nos diz em Lucas 21.34:"Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e daspreocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço".

Paul Schütz escreveu:
As preocupações da vida são o maior tirano que existe, e ele lidera um exército de algozes e verdugos que nos comandam e escravizam. A seu serviço encontramos a desconfiança, o medo, a consciência pesada, o desalento, a murmuração, a crítica, a irritação, a amargura, a teimosia, a tristeza, a depressão, o desespero e a frieza para com Deus. "Não vos preocupeis!", é o brado contra essas inclinações diabólicas.
A respeito, vale lembrar algumas estrofes de um antigo hino:
Entrega os teus enfados,
do coração a dor,
aos paternais cuidados
do Altíssimo Senhor.
Quem nuvens, sol e vento
e o mundo faz andar,
teus passos a contento
ao bem há de guiar.

Os teus, hás de salvá-los,
ó Pai e Protetor!
Do mal hás de afastá-los
e dar-lhes Teu favor
O que lhes concederes,
será para o seu bem;
e tudo que lhes deres
o Teu amor contém.

Confia, ó alma aflita,
espera sem temor.
Humilha-te contrita,
confia em Seu amor.
Verás o Sol Eterno,
a santa luz dos céus,
que por amor paterno,
Deus dá aos filhos Seus.

(Paul Gerhardt, 1607-1676)
Tempestade
Realmente, devemos lembrar que o Senhor é Soberano e cuida de cada detalhe da nossa vida. Jesus disse em Lucas 12.6-7: "Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais." (Norbert Lieth - http://www.apaz.com.br
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Fonte:http://www.apaz.com.br/mensagens/preocupacoes.html

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Pergunta: "O que é o existencialismo?"

01.01.2014
Do portal GOT QUESTIONS


Resposta: O existencialismo não é tanto um sistema formal de filosofia quanto é uma orientação geral para as questões filosóficas. Ele foi mais popular na Europa no início do século XX. Foi uma reação ao excesso de confiança do Iluminismo na razão humana. 

Algumas das influências que provavelmente tornaram-no atraente incluem a visão de Kierkegaard de que a fé cristã não pode ser reduzida a um conjunto de proposições racionais, mas que também inclui mais amplas implicações emocionais e relacionais. Ainda mais significativamente, certos eventos históricos, como a devastação da Primeira Guerra Mundial, os colapsos econômicos das décadas de 1920 e 1930 e os horrores da Segunda Guerra Mundial, exibiram a falsa esperança do modernismo de que a razão humana possa superar todos os problemas.

O existencialismo, portanto, minimiza a capacidade da razão humana. Ele não consegue dar significado ao lugar de alguém em um cosmos racional e ordenado. A ordem racional em si é suspeita aos existencialistas. Portanto, a explicação racional fica em segundo lugar a outras abordagens para encontrar sentido. Alguns existencialistas expressam significado em termos das realizações de um indivíduo em transcender as suas circunstâncias. Outros expressam significado em termos de se conectar e se comunicar com outras pessoas sobre a experiência humana. A experiência de existir é o foco. A explicação racional é colocada de lado.

Como pode um cristão ser eficaz em responder às reivindicações do existencialismo? Por um lado, um cristão pode concordar que o modernismo tem uma falsa esperança na capacidade da razão humana de enfrentar e superar todos os desafios. Na verdade, há muitas coisas que, de acordo com o ensino bíblico, só são superadas pela graça de Deus, incluindo os problemas do pecado humano e da própria morte. Além disso, os cristãos reconhecem que há muitas coisas que a razão humana não pode descobrir e que são descobertas somente se Deus escolher revelá-las. Por outro lado, um cristão discorda com o espírito do existencialismo de desesperança. 

O Cristianismo altamente enfatiza dois aspectos do futuro. Primeiro, o Cristianismo afirma o julgamento final no qual tudo o que é errado, desordenado e quebrado será finalmente ajustado uma vez que Cristo voltará no fim dos tempos para vencer todo o mal do cosmos e reinar sobre todos. 

Segundo, o Cristianismo afirma a realidade esperançosa do futuro a todos os que confiam em Cristo, ou seja, a realidade da ressurreição, da vida eterna e a conclusão absoluta da santificação - tudo isso dado livremente pela graça de Deus. Muitas passagens bíblicas poderiam ser citadas sobre esses dois aspectos do futuro. Aqui está uma de muitas, Romanos 6:23: "porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor."

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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/existencialismo.html

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Hoje é o Dia da Reforma Protestante; conheça as 95 teses de Martinho Lutero

31.10.2013
Do portal VERDADE GOSPEL

No dia 31 de outubro é comemorado por evangélicos de todo o mundo o Dia da Reforma Protestante. Em 1517, um dia antes da festa católica de “Todos os Santos”, o monge agostiniano Martinho Lutero pregou publicamente suas 95 teses (veja abaixo), na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha. Seu apelo era por uma mudança nas práticas da Igreja Católica, por isso o nome “Reforma”.

A iniciativa teve consequências por toda a Europa, dividiu reinos, gerou protestos e mortes. E mudou para sempre a Igreja. Para alguns, Lutero destruiu a unidade do que era considerada a igreja, era um monge renegado que desejava apenas destruir os fundamentos da vida monástica. Para outros, é um grande herói, que restaurou a pregação do evangelho puro de Jesus e da Bíblia, o reformador de uma igreja corrupta.

O fato é que ele mudou o curso da história ao desafiar o poder do papado e do império, e possibilitou que o povo tivesse acesso à Bíblia em sua própria língua. A principal doutrina de Lutero era contra o pagamento de penitências e indulgências aos líderes religiosos. Ele enfatizava que a salvação é pela graça, não por obras.

Conta-se que muita coisa mudou dentro daquele monge até então submisso ao papa quando, em 1515, Lutero começou a dar palestras sobre a Epístola aos Romanos. Ao estudar as Escrituras se deparou com o primeiro capítulo de Romanos, que decretava “o justo viverá pela fé”. Desvendava-se diante dele o que é conhecida como “justificação pela fé”, ou seja, a justificação do pecador diante de Deus não é por um esforço pessoal, mas sim um presente dado àqueles que acreditam na obra de Cristo na cruz.



O movimento encabeçado por Lutero ocorreu durante um dos períodos mais revolucionários da história (passagem da Idade Média para o Renascimento) e mostra como as crenças de um homem pode mudar o mundo.

A controvérsia acabou sendo, segundo historiadores, maior do que Lutero pretendia ou imaginara. Porém, ao atacar a venda de indulgências por parte da igreja, acabou opondo-se ao lucro obtido por pessoas muito mais poderosas do que ele. Segundo Lutero, se era verdade que o Papa tinha poder de tirar as almas do purgatório, devia usar esse poder, não por razões egoístas, como a necessidade arrecadar fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e devia fazê-lo gratuitamente. A idolatria aos santos também foi um dos grandes pontos de discórdia com os lideres católicos.

A maioria dos historiadores concorda que Lutero teria tentado apresentar seus argumentos ao Papa e alguns amigos de outras universidades. No entanto, as teses colocadas na porta da Catedral de Wittemberg e os muitos argumentos teológicos impressos e distribuídos por ele nos meses seguintes, acabaram se espalhando por toda a Europa, fazendo com que ele fosse chamado ao Vaticano para se retratar perante o Papa. A partir de então, entrou abertamente em conflito com a Igreja Católica.

Acabou excomungado em 1520, pelo papa Leão X. Alegava-se que ele incorria em “heresia notória”. Devido a esses acontecimentos, Lutero temendo a morte, ficou exilado no Castelo de Wartburg, por cerca de um ano. Durante esse período trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, resultando na impressão do Novo Testamento em setembro de 1522.

Legado de Lutero

O famoso pastor Charles Spurgeon escreveu:

“Lutero aprendeu a ser independente de todos os homens, pois ele lançou-se sobre o seu Deus! Ele tinha todo o mundo contra ele e ainda viveu alegremente.

Se o Papa excomungou, ele queimou a bula de excomunhão! Se o Imperador o ameaçou, ele alegrou-se porque se lembrou das palavras do Senhor: “Os reis da terra se levantam, e os príncipes dos países juntos. Aquele que está sentado nos céus se rirá” (Salmo 2).

Quando disseram-lhe: “Onde você vai encontrar abrigo se o Príncipe Eleitor não protegê-lo?”. Ele respondeu: “Sob o escudo amplo de Deus”. Lutero não podia ficar parado. Ele tinha que escrever e falar! E oh, com que confiança ele falou! Abominava as dúvidas sobre Deus e as Escrituras!” 

Para algumas vertentes do catolicismo, os protestantes são hereges. Para outras, “irmãos separados”. O movimento originado por Lutero ficou conhecido como Protestantismo e seus seguidores como “protestantes”. O termo é pouco comum no Brasil, onde se prefere usar “evangélicos”.

 

As 95 teses:

1. Ao dizer: “Fazei penitência”, etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.
15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.
18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?
30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.
34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.
36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.
37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.
39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.
40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.
41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.
45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.
49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.
64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.
68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.
71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.
75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.
77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.
78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I Coríntios XII.
79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, eqüivale à cruz de Cristo.
80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.
81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.
82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?
83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?
85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?
88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.
91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz!
93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz!
94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.
95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.

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Fonte: Wikipédia e Protestante Digital
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Fonte:http://www.verdadegospel.com/hoje-e-o-dia-da-reforma-protestante-conheca-as-95-teses-de-lutero/?area=3