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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Salomão e o excesso de bagagem

28.11.2013
Do portal ULTIMATOONLINE, 25.11.13


“E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas, bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.” “Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto deseja, e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e má enfermidade.” Ecl 5; 19 e 6; 2

Salomão expõe duas situações semelhantes; pessoas abastadas. Porém, com predicados diferentes. Uma pode usufruir suas posses, outra, não. Ora, se o direito à propriedade é sagrado em qualquer regime democrático, por que alguém não pode usufruir o que possui? Acontece que essa restrição não reside nas leis humanas, antes, na alma de tal “rico”. Para o que pode, o dinheiro é um meio; para o outro, um fim. Aquele, do que possui faz sua vida regalada; esse, do que ainda não tem, o alvo de sua cobiça.

Assim foi com Acabe, por exemplo; mesmo com as regalias do palácio real, sofria por não ter a vinha de Nabote. A megera rainha Jezabel maquinou como possuí-la a preço de fraude e sangue; isso lhe custou a vida.

Então, quando Deus “dá poder” para usufruir, devemos entender com isso uma alma iluminada quanto ao papel dos bens e um coração liberal, altruísta. “Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isto é vaidade e aflição de espírito.” 6; 9 

Muitos católicos que se dão às peregrinação como a de Santiago de Compostela, na Espanha, por exemplo, dizem que o primeiro aprendizado é que devem descartar tudo o que for supérfluo para que a bagagem seja um socorro essencial, não, um peso.

Se sabemos que a vida terrena é mera peregrinação, posto que mais extensa, por que nos sobrecarregarmos de bagagens mui pesadas que não poderemos levar além? “Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.” 5; 12 Salomão ensinando parte do “não poder” desse materialmente apegado.

Desgraçadamente, muitos sedizentes evangélicos ao invés de ensinar o vero sentido de nossa peregrinação, cujo alvo é ser sal e luz aos semelhantes, e ajuntar Tesouros no Céu para si, ensinam a cobiça mundana, como se âncora e asas fossem sinônimos.

Ora, o Salvador denunciou que do que o coração está pleno a boca fala. Lógico e natural que seja assim. Como apresentaria eu, a outrem, como desejável, aquilo que não for desejável a mim? Assim foi o pecado original. Satanás propôs como alvo ao primeiro casal algo que era seu sonho; ser como Deus.

Então, quando um pilantra qualquer acena ainda que pisoteando textos bíblicos, com a busca de mais bagagem, obscenamente expõe seu avarento coração; e sua mensagem só ecoa noutro igual. Assim, tais igrejas vivem sua “simbiose”; mercenário e incauto completam-se, como otário e vigarista.

Claro que em casos de privação extrema os bens são a primeira “oração” que devemos fazer em socorro de um necessitado qualquer, não se trata de omitir o óbvio. A ideia é uma profilaxia para evitar que a mosca dourada da cobiça nos possa inocular seu vírus. “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.” 5; 10

Não alude o pensador aos bens em si, antes, a um sentimento deslocado que faz amar coisas, bens, quando deveria fazê-lo em relação a pessoas. Paulo amplia: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e transpassaram a si mesmos com muitas dores.” I Tim 6; 10

O livro de Atos, aliás, traz o exemplo de Ananias e Safira que, por amor ao dinheiro mentiram solenemente perante Deus, e isso lhes custou mais que dores, mas, a vida.

Conheço pessoas de bem poucos bens que vivem felizes; e outras de muitas posses, que sofrem; todos conhecem! Certo que é saudável certa emulação ao vermos a prosperidade de nossos semelhantes, que nos faz trabalharmos mais em busca de melhorias de nossas condições de vida. Entretanto, é insano e destrutivo dar asas à cobiça desenfreada, pois, além de não apreciarmos devidamente o que temos, podemos incorrer em ilícitos almejando o que sequer carecemos.

“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, … ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão.” Prov 30; 8 e 9

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terça-feira, 12 de novembro de 2013

EVANGELISMO:Bíblias falsas, palavra verdadeira

12.11.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO, 11.11.13
Por Lyndon De Araújo Santos*
 
A Sociedade Bíblica Britânica procedeu a uma significativa distribuição de Bíblias em Portugal no século 19. Esta ação provocou reações diversas e extremas por parte de segmentos da sociedade. Portugal foi um dos países onde o aparelho inquisitorial havia sido dos mais efetivos no período moderno, como na Espanha vizinha. E uma das funções da Inquisição era a vigilância, a captura, o julgamento e a punição de hereges de todo tipo, sobretudo os protestantes. Embora oficialmente a Inquisição portuguesa tivesse terminado em 1821, sua mentalidade permanecia.

O luso-catolicismo secular era arraigado nas tradições familiares, nos rituais, nas festas, nas procissões e nas romarias. O clero estava organizado sob o pensamento ultramontano conservador, contra os ventos da modernidade e do liberalismo. A sua força conflitava com as reformas liberais desde o Marquês de Pombal, a Revolução do Porto em 1820 e a retomada do poder por Dom Pedro IV - o nosso Pedro I - em 1834, com o exílio de seu irmão Dom Miguel.

Numa estratégia de mercado, e ao mesmo tempo amparada pelos acordos comerciais entre Inglaterra e Portugal, a Sociedade Bíblica Britânica introduziu suas Bíblias a partir das cidades de Lisboa e do Porto, espalhando-as por todo o país, com preços muito baratos. O crescimento de leitores de classe média favoreceu a expansão de um mercado editorial, possibilitando a impressão em maiores escalas de livros e de Bíblias. As camadas mais empobrecidas, na quase absoluta maioria, iletradas, tinham alguma chance de adquirir um exemplar, até mesmo de graça.

Na cidade de Braga, o jornal “O Primaz”, de postura liberal, crítico ao bispo da cidade, mas fiel às tradições católicas, noticiou e discutiu acerca das “Bíblias protestantes”. A veemente oposição se dava por causa da suposta ameaça à religião oficial que deveria ser protegida e garantida pelo governo. O periódico procurou deslegitimá-las usando os argumentos de que não tinham o número completo de livros e a tradução era suspeita. Ainda outro periódico, o jornal “O Bracarense”, publicou em 5 de maio de 1866 a seguinte nota:

"Biblias falsas. Circulam por ahi biblias falsas, sob a mais lisongeira apparencia. Muito ..., muito esmeradas, e muito bem encadernadas por um cruzado! Dizem no frontispício serem tradução do padre Antonio Pereira de Figueiredo, mas é uma tradução totalmente corrompida e viciada e faltam-lhe alguns livros essenciaes tanto do antigo como do N. T. A typographia é a Universal, da rua dos Calafates, de Lisboa. Este veneno, desenganem-se, não produz effeito algum. A população de Braga felizmente está bem prevenida contra os esforços do protestantismo. É porém do dever da auctoridade vigiar por isto, e do novo avisar os incautos para que se não deixem illudir."

O “veneno”, entretanto, havia se disseminado. O “O Primaz” dizia que alguns protestantes, “sinceros e miseráveis apóstatas”, “entre os quais se conta algum cônego e professores de seminários católicos”, “se venderam por um punhado de libras” (Edição de 8/1/1867). Um “passador de Bíblias” que percorreu as cidades de Porto, Braga e Guimarães, fora preso e impedido de atuar, vender e distribuir, depois de ver seu material apreendido. Certamente, era um colportor missionário protestante enviado por alguma igreja, agência missionária ou a própria Sociedade Bíblica.

Em mais uma estratégia, a Sociedade Bíblica de Londres utilizou a tradução do Padre Antonio Pereira de Figueiredo. Além disso, a sua distribuição estava protegida pela portaria de Antonio Bernardo da Costa Cabral, o Marquês de Tomar, de 17 de outubro de 1842. O Partido Liberal e alguns periódicos como o “Campeão das Províncias” e “O Portuguez” não reconheceram serem falsas as Bíblias, e condenaram a queima pública de Bíblias na cidade de Covilhã, num “auto de fé” semelhante aos tempos da Santa Inquisição.

Foram tempos de intolerância e de disputas pela Bíblia verdadeira. A Palavra de Deus, porém, era algo raro, com poucas Bíblias e pregadores. Hoje também são tempos de intolerâncias, as Bíblias e os pregadores são muitos, disputando fatias do mercado religioso. Mas a Palavra continua sendo rara (1 Sm 3.1).

Fontes:

SERRÃO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal (1832-1851). 2 ed. Lisboa: Ed. Verbo, 1985.
Jornais: “O Bracarense” e “O Primaz”.

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/biblias-falsas-palavra-verdadeira