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terça-feira, 23 de junho de 2015

SANTÍSSIMA TRINDADE: Monoteísmo capenga fora da Trindade

23.06.2015
Do portal GOSPEL PRIME, 22.06.15

Eu conversava com Richard Shaull sobre seus interesses teológicos nos seus últimos anos de vida. Lembramo-nos de Paul Tillich. Este dizia que o Espírito de Deus não pode ser escorraçado da vida; ele é teimoso, persistente, vem na direção dos homens e das mulheres sem esperar que se voltem para ele. O rosto de Deus é refletido em três espelhos: Pai, Filho e Espírito Santo.

Desafiados a responder, se perguntados sobre a Trindade Divina numa linguagem compreensível, e não a dos teólogos e filósofos. “Quantas pessoas aqui estão pensando no ar”? Como dizia Rubem Alves, o ar é nossa vida e não precisamos pensar nele para respirar. E não precisamos pensar nele para que ele nos dê vida. No entanto, quem está se afogando só pensa no ar. Deus é assim. Não é preciso pensar nele, ou pronunciar o seu nome, para que sintamos a impossibilidade de negá-lo.

A forma pura de Deus é a suprema beleza, pensa o teólogo Jürgen Moltmann, pois a beleza reside na forma perfeita, se a medida é a essência íntima de um poder, ou de uma força criativa. Quando a forma é iluminada, e quando reflete a luz, então essa essência fica clara, brilhante. Assim é a Divina Trindade. É a isso que Paulo refere-se, frequentemente, à face de Deus como objeto clarificado.

Vemos o Deus trinitário nos espelhos diferentes. No entanto, os rostos do Pai, do Filho e do Espírito Santo são indescritíveis. Porém, a fé cristã sujeita e desenvolve-se dentro da cultura de símbolos e imagens, defenderia Richard Niebuhr. “O Espírito nos ajuda a compreender quem é o Filho e quem é o Pai, mas o Filho também nos ajuda a compreender quem é o Espírito e quem é o Pai”. Tertuliano, no terceiro século, encontrava a imagem decisiva da Trindade, enquanto buscava o teatro da época, quando um ator fazia um monólogo trocando as máscaras cenográficas (persona), conforme a fala. Tertuliano estabelecia a presença de três personagens interpretadas por um único ator diante da plateia. Maria Clara Machado, parece-me, escreveu peças infantis sob a mesma inspiração.

Deus não se conforma com a ingratidão e a indiferença da criatura quanto à sua salvação, por isso não nos abandona. Deus se apresenta face-a-face com o homem e a vida (disse Karl Barth, comentando a parábola do pródigo). A revelação da Trindade; a mais purificada concepção do amor de Deus pelos homens e mulheres, e o modo em três vias da revelação.

Da mesma forma, somos ajudados a compreender a criação e história do universo. Estas, distorcidas sob o prisma da corrupção, no próprio projeto humano e seu futuro de salvação sem Deus. Entendemos assim porque Ele criou espaço e companheirismo para que uma multidão imensa participe de sua vida, de sua glória e de sua felicidade (“Eis que faço novas todas as coisas” – Ap 21.5).

O Espírito Santo visa aos deserdados, despoderados, humilhados, esmagados, triturados pelos sistemas de pensar dominantes (Lc 4.16ss…), porque Jesus Cristo declarou aos seus discípulos: “vocês não ficarão órfãos”. O Espírito faz presente o Reino de Deus na restauração da vida e no alimento da esperança de um “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21); o Espírito se apresenta, sempre, para dizer: “faço novas todas as coisas”!

Um monoteísmo pentecostalista do Espírito se torna um espiritualismo que desprezaria nossas realidades humanas — indivíduos, grupos, comunidades, sociedades, imersos em situações econômicas, políticas, religiosas, sob opressão permanente –; que negaria nossas realidades corporais, gerando uma confusa concepção de que somos tão somente anjos ou demônios, ora divinos, outras vezes diabólicos. Pentecostais, estaríamos equivocados plenamente, imaginando que somos seres abstratos e ao mesmo tempo inatingíveis e invulneráveis; que o Mal é fatal, irredutível e sem salvação.

Sem o Pai e sem o Filho desconhecemos a filiação que nos é anunciada pela graça, pela misericórdia e pela compaixão de Deus, que nos liberta desses determinismos intencionais, em favor da esperança. O Espírito faz presente o Reino de Deus em todas as formas de ações, atua contra e combate às muitas mortes impostas a toda a Criação, neste mundo devastado, poluído e desertificado sistematicamente.

Um monoteísmo do Filho se tornaria um heroísmo militante, uma exagerada confiança no homem e em nós mesmos, meramente uma obediência ética e um seguimento ético e político sem transcendência e sem permanência na consciência dos homens; uma libertação solitária e precária no tempo e na história da humanidade. Sem o Pai – que está no coração do Filho –, e sem o seu Espírito em nossos próprios corações, não teríamos a experiência incrível da filiação divina, mas apenas um mito e um esforço vão, comparativo aos panteões religiosos e suas divindades antropomórficas.

O Espírito faz presente o Reino de Deus na restauração da vida e no alimento da esperança de um “um novo céu e uma nova terra”; (Ap 21); o Espírito se apresenta, sempre, para dizer: “faço novas todas as coisas”! Devemos gostar da Trindade que os cristãos imaginam, movidos pela Fé, a Esperança e o Amor (também uma trindade!)? É por isso que nos alegramos em saudar os amigos da vida em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não compreendemos? O Reino de Deus está diante de nós, graças à Trindade Sagrada! Conforme testemunho do Espírito Santo, em Rm 8.26: “… o Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis”.

Foto: http://www.pexels.com/photo/bird-flying-clouds-cloudy-6642/

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Derval Dasilio. É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010). 


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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/monoteismo-capenga-fora-da-trindade

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

SEGUNDA VINDA DE CRISTO: Advento, esperança num mundo endurecido

02.12.2013
Do portal ULTIMATOONLINE, 29.11.13


Primeiro domingo do Advento – Ano “A”

Que podem significar os sinais apocalípticos que o evangelho sobre a “vinda do Senhor” aponta? Não são sinais de resistência ao tempo presente que nos apresenta um “futuro sem futuro”? Advento quer dizer “vinda”, “chegada”, e isso é o que nós preparamos para celebrar: a primeira vinda do Logos, a Palavra de Deus, revestida da carne dos homens e das mulheres deste mundo. Sua primeira vinda em humildade, também elegendo os humildes, os pobres, os sem-poder, sem-teto, sem-cidadania e sem-direitos, nos impressiona?

Como ficam as previsões sobre o futuro, quando a realidade imediata apresenta-nos a destruição da vida no planeta Terra em tempo real bem menor, se permanece o ritmo atual de destruição ambiental, do aumento da pobreza, das desigualdades, da fome em toda parte? Carl Sagan via no intento humano de demandar à Lua e enviar naves espaciais no mundo sideral uma manifestação do inconsciente coletivo que pressente o risco da extinção próxima. Como necessidade de sobreviver, cogitamos formas de viver para além da Terra. Para chegar a outros sistemas planetários, no entanto, teríamos que percorrer bilhões e bilhões de quilômetros no espaço sideral, necessitando pelo menos de um século de tempo para tanto. Qualquer astronauta adulto teria que viver pelo menos 130 anos, para deixar algum sinal de sua presença em qualquer dos lugares escolhidos na distância espacial.

Ocorre que somos prisioneiros da luz, cuja velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, é até hoje insuperável. Isso é esperança ou algo que conhecemos de sobra, desde os tempos imemoriais, enquanto examinamos a história humana sobre a face da Terra? O astrofísico Stephen Hawking fala da possível colonização extrasolar com naves, impulsionadas por raios laser que lhes confeririam uma velocidade de 30 mil quilômetros por segundo. Mesmo assim só para chegar à estrela mais próxima – a Alfa do Centauro – precisaríamos de quarenta e três anos, sem ainda saber como frear essa nave a esta altíssima velocidade quando ela chegar ao seu destino.

As advertências de Jesus põem uma nota de gravidade no tempo do Advento que hoje começamos a celebrar: não se trata somente dos enfeites natalinos dos quais já estão cheios os supermercados, as lojas, a mídia de marketing. Não se trata de uma falsa alegria, induzida artificialmente por musiquinhas gospel meladas, nem da falsa aparência de bem-estar ao se esbanjar dinheiro em compras desnecessárias e injustificáveis. 

Que sinais de esperança e de desesperança a sociedade atual “realista”, “pragmática”, sem utopias, desencantada, desesperançada, anestesiada pela proclamação do “final da história”, apresenta sobre o sinal do final desses tempos? Que papel os cristãos teriam nesta hora de endurecimento da esperança? Somos testemunhas da esperança ou do desespero, ou da fatalidade ou acomodação (Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos porque amanhã morreremos: 1Co 15.32)? O Advento está às portas, é tempo para refletir sobre nossas escolhas: "O mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance" (Dt 30.11).

"Diante de ti coloco à disposição dois caminhos..." "... ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal (Dt 30.15); "Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem fiquem apavorados por causa delas, pois o Senhor, o seu Deus, vai com vocês; nunca os deixará, nunca os abandonará" (Dt 31.6).

Leituras:

Isaías 2.1-5 – O Senhor reúne todas as nações para a paz do Reino.
Salmo 122 – Que alegria: “Vamos à casa do Senhor!”
Romanos 13.11-14 – A salvação está mais perto do que imaginamos
Mateus 24.37-44 – Fiquem atentos, preparem-se…

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 Derval Dasilio. É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).


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