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terça-feira, 26 de maio de 2015

Literatura fantástica cristã

26.05.2015
Do portal ULTIMATO ON LINE, 21.05.15
Por José Miranda Filho*

A literatura fantástica, às vezes chamada de ficção, tem uma grande variedade de estilos e propósitos. Alguns escritores de ficção optam por criar histórias com situações extraordinárias e impensáveis para o leitor comum, sem se preocuparem muito em fazer paralelos com o mundo real no qual vivemos, como Isaac Asimov, autor de ficção científica. Outros, como Aldous Huxley (autor de “Admirável Mundo Novo”) e George Orwell (autor de “1984”), incluem uma tentativa de descrever um futuro plausível a partir da realidade presente.

Escrevo aqui sobre a ficção cristã e o seu papel na exposição da mensagem e de valores aos leitores. Temos poucos desses livros escritos por brasileiros e poucos traduzidos para o português. John White e George Mac Donald estão entre os autores de ficção cristã praticamente sem tradução. O mais conhecido entre os traduzidos para o português é C. S. Lewis, escritor da série “Nárnia”, da trilogia do espaço (“Longe do Planeta Silencioso”, “Perelandra” e “Essa Força Medonha”), além de “O Grande Abismo”. A ficção cristã mais conhecida entre nós (C. S. Lewis) tem forte teor alegórico (personagens e fatos facilmente identificáveis na vida real).

O poder de comunicação das estórias é tremendo. Usamos essas estorinhas como parábolas para ensinar nossas crianças. A ficção alegórica desperta nossa curiosidade e nos transporta para um mundo que pode ser sonhado e talvez alcançado. Jesus usou parábolas para trazer entendimento de coisas profundas até pessoas simples. Em suas parábolas ele usava personagens e fatos bem conhecidos do povo, possibilitando a identificação de cada um com a estória contada.

Assim como nas parábolas de Jesus, uma das características que me chama a atenção nesse tipo de ficção é o poder profético e estimulador, desde que mantida a fidelidade do autor às escrituras. O poder profético, tanto para exortar como para consolar, é exercido pela nossa identificação com um ou mais personagens da estória. Na parábola do filho pródigo, por exemplo, Jesus ligou o incompassivo irmão mais velho aos fariseus (exortação), ao mesmo tempo em que mostrava aos desgarrados a esperança da restauração através da volta ao Pai (consolação).

Tenho o hábito de ler várias vezes o mesmo livro de ficção cristã. Percebi que me identifico com pessoas e situações de tal forma que me sinto “dentro” da estória. Vejo nos personagens meus próprios defeitos e dilemas. As soluções encontradas dentro das estórias também me ajudam muito. Ao reler esses livros estou revisando as situações, relembrando as soluções encontradas e renovando as esperanças na solução dos problemas. Às vezes tenho até “saudade” de uma ou outra estória, como tenho de alguns lugares que gostaria de revisitar. Nessas estórias, os heróis, geralmente frágeis, me fazem querer ser esse tipo de herói: fraco, mas corajosamente perseverante; com problemas, mas com a esperança que o move para frente; com tropeços, mas com o perdão que o levanta; com choro, mas com a consolação que se torna semente do júbilo; com fracassos que o humilham para levá-lo à sabedoria da dependência de Deus.

Outra característica fantástica das estórias é que elas atingem pessoas de qualquer idade. Acredito que há poucas pessoas que não gostam de ler ou ouvir estórias. Nessa característica está a esperança e o perigo da ficção. A esperança por ela ser capaz de levar uma boa mensagem a todo um povo. Perigo por ser capaz de levar uma mensagem destrutiva a todo um povo. As estórias são caixas atrativas e apetitosas que podem levar bom ou mau alimento. No meu entender a igreja brasileira tem feito pouco uso desse instrumento. Penso que isso ocorre até em algumas pregações. Creio que se acrescentássemos estórias e experiências às informações que trazemos ao púlpito, as mensagens poderiam se tornar mais inteligíveis, mais atraentes, dando algum sabor àquelas que poderiam ser tachadas de chatas. Uma pregação pode ser muito bem preparada, até erudita, mas as estórias conseguem dar simplicidade às coisas profundas e fazer com que elas sejam entendidas por todos. Acho que a atração pelas “estorinhas” faz com que nossas crianças gostem das historinhas bíblicas. Infelizmente essas historinhas são contadas no mesmo contexto das “estorinhas”.

Os super-heróis da telinha nem sempre são separados dos nossos “heróis da fé”. Talvez estorinhas alegóricas nos ajudassem a conduzir nossas crianças às historinhas bíblicas, assim como as parábolas de Jesus conduzia o povo à verdade da palavra de Deus. As possibilidades para o uso sadio, tanto das parábolas e estorinhas, como dos livros de ficção cristã, são enormes. Mesmo entre os pregadores esses textos podem ser usados de forma muito efetiva. Já perdi as contas das pregações e treinamentos onde eu usei textos de ficção cristã. Não esqueçamos que Pentecostes é amigo da boa comunicação enquanto que Babel é fã dos mal-entendidos. Quando percebo alguma dificuldade de meus ouvintes em entender algo, ou em se concentrar no que eu estou falando, costumo logo falar “por exemplo” e entrar com uma estória que substitui minha explicação original. A boa comunicação agradece.
* José Miranda Filho foi presidente da ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil), ministério este ao qual ele está envolvido há mais de três décadas.

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/literatura-fantastica-crista

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Uma carta de C. S. Lewis que você nunca leu

30.12.2012
Do portal ULTIMATO ON LINE, 18.12.14


No último dia 9, o jornal inglês “The Guardian” publicou uma notícia alvissareira para os milhões de leitores do autor de Surpreendido pela Alegria. Acaba de ser encontrada uma carta, escrita à mão, na qual C. S. Lewis define a sua noção de alegria. [Veja uma foto da carta no final deste texto]

Em sua letra inconfundível, o autor das “Crônicas de Nárnia” escreve que “a alegria é quase tão diferente de segurança ou prosperidade quanto é diferente de agonia”. Aliás, definição um tanto desconcertante para as costumeiras saudações de fim de ano: “Muita paz, alegria e prosperidade...”

A carta, desconhecida até a semana passada, foi escrita em 1945 e parece uma prévia do que viria três anos mais tarde, o lançamento das memórias do autor: Surprised by Joy – the shape of my early life. Conhecida em todo o mundo como autobiografia espiritual, Surpreendido pela Alegria será o lançamento da Editora Ultimato de março de 2015.

Segundo o jornal britânico, a carta de Lewis “foi descoberta dentro de um livro usado e registra o autor escrevendo que a alegria “entra pelas costelas e desce fazendo cócegas pelas costas e faz com que a pessoa se esqueça das refeições e a mantém acordada e cheia de entusiasmo a noite toda”.

E, por último, um detalhe: a carta vai a leilão exatamente hoje. Para ler a notícia na íntegra (em inglês), acesse o site do The Guardian


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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/uma-carta-de-c-s-lewis-que-voce-nunca-leu

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

50 anos sem C. S. Lewis

28.11.2013
Do portal VERBO DA VIDA, 22.11.13
Por C.S.LEWIS


No mês em que “comemoramos” os cinquenta anos da morte de C.S. Lewis, eu não poderia deixar de homenageá-lo. Mas o que um irlandês, nascido dois anos antes da virada do século 19 para o 20, que viveu as duas Grandes Guerras, poderia dizer a nós, brasileiros, hoje?

É preciso considerar antes de tudo, que sua leitura não é fácil e exige habilidades de interpretação e avaliação crítica que poucos leitores brasileiros têm até hoje. É só olharmos para os resultados dos exames aplicados pelo governo em todo o sistema de ensino brasileiro. Tanto é assim que quando eu procurei uma editora em 1989 (ano em que festejávamos os cem anos do nascimento de Lewis), a resposta para a minha proposta de série de palestras comemorativas foi: “Quem é que vai ler C.S. Lewis no Brasil”? 

Não obstante, Deus colocou em meu coração a fé nesse projeto e hoje, principalmente após a produção de três filmes de cinema sobre as “Crônicas de Nárnia”, perdi a conta de conferências, semanas teológicas e eventos em igrejas, seminários, faculdades e universidades pelas quais já fui convidada até hoje para falar sobre o autor.

E o que é que me fez apostar nesse autor e até defender uma tese sobre “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas”, publicada como “Antropologia Filosófica de C.S. Lewis” (editora Mackenzie, para cuja republicação estou em busca de editora) e resumida em “A Pedagogia Cristã na Obra de C.S. Lewis” (Ed. Vida)?

Certamente mais as diferenças entre a sua cultura, seu tempo e o pensamento, do que as semelhanças. Os britânicos são conhecidos por serem pontuais, disciplinados, tradicionalistas, sistemáticos, racionalistas e quase “medievais” na sua cultura. Nós somos o inverso de tudo isso e, portanto, precisamos ouvir o nosso “outro” para com ele aprendermos. Essa seria a abordagem “negativa” da obra de Lewis, ou seja, daquela parte que completa aquilo que falta à nossa cultura e educação. Em outras palavras, esse seria o “não” do autor irlandês para com a cultura, educação e ética brasileiras.

Por outro lado, o autor também tinha uma mensagem desse tipo, negativa, para a sua própria cultura, que é a atenção não apenas para a razão, mas também para as emoções e a imaginação, ou criatividade, e isso, nós, brasileiros, temos de sobra. Assim, sua mensagem adquire também uma dimensão positiva, não falando apenas do que “não devemos” ser, fazer ou pensar, mas também do que estamos “convidados” a ser, fazer ou pensar.

Lewis costumava dizer que enquanto a razão é o “órgão” da verdade, a imaginação é o do sentido, ou seja, apenas na interação entre esses dois aparelhos de leitura da realidade é que podemos ter uma compreensão significativa do mundo. (E a aprendizagem significativa, envolvendo a criatividade está em moda nas teorias educacionais de hoje, que também estão presentes no Brasil, ainda que de forma “importada”, ponto esse que tenho explorado bastante nas discussões sobre a atualidade do autor para a educação).

Mas será que nós valorizamos essa qualidade - a da criatividade - em nossa educação, ética e cultura (exceto, quem sabe, relacionada ao carnaval)? E nos meios evangélicos, nos seminários e igrejas, que espaço tem sido dado à criatividade? Certamente muito pouco, a não ser, quem sabe, no campo da música com graus de intensidade e diversidade bastante diferentes de acordo com a vertente denominacional. Os produtos da criatividade e da imaginação são usualmente encarados com desconfiança, como objetos e instrumentos do mal numa verdadeira “demonização” da cultura que não seja propriamente “evangélica”.

Independentemente da denominação, entretanto, e do preconceito ou medo que se tem contra tudo o que é imaginativo, principalmente se isso envolve “seres” de “outro mundo” (os do imaginário mitológico ou da interioridade humana), todos os cristãos admitiriam que Deus é infinitamente criativo, o que ele expressou ao máximo por ocasião da criação do mundo. Aliás, todas as religiões, não apenas as cristãs, têm uma narrativa da criação, mais ou menos fantasiosa, “revelada” pela Graça Comum.

A diferença é que na narrativa cristã do gênese, há claramente uma colaboração entre a razão (“No princípio era o verbo", - ou logos - Jo 1.1) e a visão (... e “viu que era bom”...); entre a imaginação e o fato histórico, que se deu de forma especial na criação do homem “à imagem e semelhança de Deus”. Se somos imagem e semelhança de Deus, também abarcamos em nós esses dois lados ao mesmo tempo: o da razão e o da imaginação. E como Jesus deixa claro na “Parábola dos Talentos”, nós nos tornamos culpáveis quando resolvemos enterrar e não fazer florescer os “talentos” que Deus nos deu. Com isso, ele não estava se referindo certamente a posses, riqueza ou dinheiro - ou pelo menos, não só a isso -, mas àquilo que já nascemos propensos a desenvolver: todos os nossos dons e talentos, inclusive os artísticos e culturais.

Certamente esses são apenas alguns aspectos da atualidade de Lewis para a cultura e cristianismo brasileiro. Convido o leitor a ajudar a escavar essas verdadeiras pepitas em sua obra.

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