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quinta-feira, 5 de maio de 2022

A vocação de Deus e nossa vocação

05.05.2022 
Do BLOG DO TIM CARRIKER
Por Timóteo Carriker   
 
Nos últimos dois ou três anos o tema da vocação missionária voltou a ser bastante ventilado. Nunca ficou muito distante da preocupação e preparo missionários, mas o assunto recebe bem mais destaque recentemente. Em muitos dos estudos e palestras uma vocação “geral” é distinguida de uma “específica”, e por boas razões. Na ufania do desafio missionário pode se interessar muito mais em saber onde se deve “ir” (denominado frequentemente como “vocação específica”, mas que considero melhor denominado como “direção específica”) do que como se deve se conformar à imagem de Cristo e refletir as características de Cristo na própria vida (“vocação geral”). A distinção entre “geral” e “específica” trata disto e assim faz muito bem. Entretanto, há mais duas questões envolvidas no assunto da vocação que não recebem a atenção que merecem: primeiro, o lugar da “nossa” vocação dentro da vocação de Deus, e segundo, o desenvolvimento da nossa vocação ao longo da vida. Vamos considerar cada uma destas duas questões, a primeira nesta reflexão e a segunda posteriormente…

A vocação missionária dentro da vocação de Deus

Antes de pensar qual é o meu papel como cristão ou até mesmo o nosso papel coletivo como povo de Deus, é essencial considerar a vocação de Deus, e isto especialmente se o nosso papel tem algo a ver como assemelhar-se a Cristo, isto é, se a nossa vocação tem a ver com o sermos “imitadores de Cristo”. Não falo de vocação de Deus no sentido dEle ser chamado por outro, pois não há ninguém acima dEle. Mas falo de vocação em termos do “propósito” ou “plano” de Deus. Afinal, vocação tem tudo a ver com isto.

Normalmente nós simplesmente pressupomos que saibamos o que é este propósito ou plano em termos da redenção do mundo que, por sua vez, entendemos cada vez mais como alcançar todos os povos pelo anúncio do evangelho, a implantação da igreja e a demonstração da compaixão e de justiça em termos concretos. Confesso que nem sempre o propósito missionário parecia tão abrangente para mim. Como muitas, eu imaginava o empenho missionário como uma só das diversas preocupações da igreja… um só dos departamentos… um só dos ministérios, e não o exercício que melhor definia o propósito da igreja. Com os anos e os estudos, percebi, como muitos dos leitores, que a vocação missionária parte de muito mais que a Grande Comissão, mas que permeia todas as Escrituras para quem tem olhos para ler com atenção. Esta leitura mais abrangente e mais inclusiva da vocação missionária já é consagrada pelo menos no meio do movimento missionário e ganha cada vez mais respaldo de estudiosos importantíssimos da Bíblia como o N.T. Wright. Foi também o motor mestre por trás da Bíblia Missionária de Estudo (Baueri: Sociedade Bíblia do Brasil, 2014), uma novidade no mundo inteiro.

Não tão consensual, mas igualmente importante é o reconhecimento de que redimir a humanidade significa o seu resgate integral e que a justificação por Deus e a demonstração da justiça e da compaixão de Deus andam de mãos dadas nas Escrituras… digo também nas Escrituras todas mesmo que notoriamente nos Profetas e nos Evangelhos. Procurei deixar esta missão “integral” explícita no livro O caminho missionário de Deus (terceira edição em Brasília: Palavra, 2005), que por sua vez foi uma revisão do livro Missão Integral (São Paulo: Sepal, 1992). Hoje esta perspectiva de integralidade é aceita pelas maiores instituições de cooperação missionária (Concílio Mundial de Igrejas, Movimento Lausanne, a Aliança Evangélica Mundial) mas a nível popular e entre alguns estudiosos ainda é mal representada e entendida e assim encontra resistência, principalmente porque concluem indevidamente que o discurso sobre “missão integral” depende do discurso marxista, um equivoco imenso de quem não dá o trabalho de ler os documentos principais que defendem a integralidade da missão. Mas isto é assunto de outra reflexão…

Ora, a perspectiva missionária em termos da redenção dos povos é muitíssima importante e sem dúvida reflete grande parte da preocupação bíblica ao longo do desdobramento das Escrituras. Entretanto, por mais importante que seja, é interessante que a Bíblia nem começa e nem termina assim. Ou para dizer a mesma coisa de outra maneira, a Bíblia não começa em Gênesis 12 e não termina em Apocalipse 7. Começa em Genesis 1-2 e termina em Apocalipse 21-22, sendo nos dois casos, dois capítulos intimamente vinculados. Para falar de modo simples e direto, a vocação ou o plano de Deus é de resgatar aquilo que Ele criou. A origem e o alvo final é a criação, não exclusivamente a humanidade, mesmo que a humanidade tenha um papel primordial tanto na criação quanto na nova criação. Da mesma forma que a Bíblia começa com a criação dos céus e da terra, termina com o novo céu e a nova terra. Se a perspectiva missionária na sua versão “integral” procurou resgatar os ensinos bíblicos acerca da manifestação da justiça e da compaixão de Deus, alego dizer que não é “integral” o suficiente se negligencia as implicações da vocação de Deus para a criação toda e não apenas para a humanidade.

A base bíblica

Certo que surgem muitos protestos contra esta integralidade mais abrangente. O principal é de natureza escatológica e se refere à perspectiva bíblica sobre o destino deste planeta. É muito comum o protesto que este planeta é destinado à destruição e ao fogo e logo vem a mente a passagem cuja leitura superficial parece sustentar esta perspectiva: 2 Pedro 3.1-8. É impressionante como uma só passagem bíblica sobre a “destruição” do planeta é lembrada contra múltiplas passagens que falam do plano divino de resgatar este planeta, tais como:

  • Gênesis 1.4, 10, 13, 18, 21, 25; Deuteronômio 10,14; Salmo 24.1; Jó 41.11 A criação tem composição essencialmente benéfica
  • Isaías 11.1-9 a salvação futura inclui o reino animal
  • Habacuque 1.14 especifica a terra como o lugar da eventual plenitude do conhecimento da glória de Deus
  • João 3.16 especifica este cosmos (kosmos é a palavra traduzida como “mundo”) como o objetivo do amor de Deus e pelo qual enviou Jesus como seu instrumento de salvação
  • Efésios 1.9-10 especifica céus e terra como os objetos da sua reconciliação em Cristo
  • Filipenses 2.9-11 o senhorio de Jesus inclui todos os habitantes do céu, da terra e debaixo da terra
  • Romanos 8.18-26 fala explicitamente da salvação futura da criação atual deixando de lado a qualificação de outra sorte ambígua de “nova” (outra ou renovada) para “criação”
  • Colossenses 1.20 obra de salvação abrange não só a humanidade, mas “todas as coisas, quer sobre o céu, quer sobre a terra”
  • 1 Coríntios 15.22-28 antes da ressurreição final Cristo está reinando (“sujeitando) todas as coisas no céu e na terra
  • 2 Coríntios 5.17 O ser humano salvo é literalmente nova criação e assim já contribui para o resgate da criação
  • Apocalipse 21.1-4 a salvação futura envolve a descida do céu para a terra

De volta para 2 Pedro 3.1-8

Mas o que dizer de 2 Pedro 3.1-8 e a “destruição” por esta passagem prevista? Uma leitura mais cuidadosa da passagem revela que tal destruição futura pelo fogo se compara à destruição passada pela água, isto é, pelo dilúvio, destruição essa, por sinal, muito abrangente. Entretanto, aquela destruição não pode ser entendida como aniquilação porque Noé se desembarcou no mesmo planeta que antes. Basta acrescentar que fogo e água são mencionadas outras vezes nas Escrituras como metáforas (não confunda metáfora com irrealidade) de purificação (Ml 3.1-4; 1Co 3.12-15). Enfim – e isto é de sumo importância missiológica – a vocação ou plano redentor de Deus é de salvar aquilo que Ele próprio havia criado e entregue à humanidade para administrar cuidadosamente (Gn 1.26-27; 2.15). Por isto a Bíblia começa e termina com este tema e o recheio central (Salmos) é repleto de louvores por esta criação.

Mas se isto fosse a verdade bíblica, quais são as implicações para o engajamento missionário e quais modelos deste engajamento encontramos nas Escrituras, especialmente no Novo Testamento? Ou para dizer a coisa de outra maneira: Jesus e os apóstolos incorporavam esta perspectiva?

Implicações para o engajamento missionário hoje…

Vou procurar compensar o pouco espaço que temos para tratar isto com referência a outras leituras. Em relação ao ensino e à prática de Jesus, recomendo os exemplos especialmente do livro, Jesus e a Terra – A ética ambiental nos Evangelho, de James Jones (Editora Ultimato, 2008). Mas mais importante que o ensino e a prática de Jesus – pois o seu contexto socioambiental certamente contribuiu para a sua prática ou não prática imediata ­– mais importante que isto foi o seu propósito e papel no plano de Deus para a reconciliação de céus e terra, o que as passagens citadas acima afirmam. E isto foi também exatamente o foco de atenção dada pelo apóstolo Paulo que pouco falou sobre o ensino e o ministério terrestre de Jesus.

Mas a pergunta ainda persiste: se Deus enviou Jesus para salvar o cosmos (Jo 3.16), se Jesus veio para reconciliar todas as coisas nos céus e aa terra (Cl 1.20), e ele veio para unir tudo que está no céu e na terra (Ef 1.10), se o seu senhorio abrange céu e terra (Fp 2.9-11, Mt 28.18) e atualmente está colocando efetivamente todas estas coisas debaixo da sua autoridade (1Co 15.22-28) para a eventual libertação desta criação (Rm 8.18-26)… por mais importantes e incisivas que sejam estas passagens por que não há mais enfoque ao longo das Escrituras nisto?

Novamente a resposta está no reparo da vocação de Deus. Logo no início das Escrituras, Deus criou a humanidade a sua imagem justamente para ordenar e cuidar a sua criação (Gn 1.26-27, incumbência, por sinal, dada para o “homem” como ambos macho e fêmea). Ou seja, a chave para o resgate sempre foi o ser humano, mesmo que o meio disto acontecer chegou a ser um, ou melhor, o Filho do Homem. É exatamente esta a mensagem de Paulo em Romanos 8.18-26, só que não é qualquer humanidade, é a humanidade redimida. Por isso o surgimento da nova criação, novos céus e nova terra, acompanhar a redenção do povo de Deus em Apocalipse 21-22. E é justamente por isso, que a grande ênfase, ao longo das Escrituras, está na redenção dos povos, porque a redenção da criação é participa disto. Por exemplo, a minha redenção última, não a minha “decisão de seguir Jesus” ou a minha “eleição por Deus” é descrito diversas vezes na Bíblia, especialmente nos escritos de Paulo, como a minha ressurreição corporal e o livramento consequente do julgamento final. Isto é a minha salvação “ultima” no sentido final (Jo 11.17-25; 1Co 15.52; Fp 3.11; 1Ts 1.10; 4.16). E esta ressurreição, de acordo com as Escrituras, segue o exemplo da ressurreição de Cristo e da se depende (Rm 6.5; 8.11; 1Co 6.14; 15.20-22; 2Co 4.14). E se considerarmos o final dos Evangelhos poderemos concluir que a ressurreição corporal de Jesus significava a existência ainda de ar para respirar, animais e plantas para comer e chão para andar. Ou seja, a doutrina consagradíssima da ressurreição corporal é a maior testemunha da necessidade de um mundo como aquele que conhecemos e não alguma convivência nas nuvens.

O que esta pequena reflexão significa para o engajamento missionário? Primeiro, o engajamento missionário continua enfocando a redenção nos povos e a manifestação cada vez mais da justiça de Deus (justiça e justificação nas Escrituras são dois lados da mesma moeda, não dois assuntos um subordinado a outro). Isto significa que a evangelização de modo completo, a plantação da igreja e o discipulado das nações são o “arroz e feijão” do trabalho missionário, e isto condicionado em obreiros que espelham e emanam a imagem de Cristo nas suas vidas. Mas se o alvo desta redenção for a redenção eventual deste mundo do modo que será chamado um dia de novo céu e nova terra, uma séria de atividades humanas adquiram uma importância maior e certamente os seguidores de Cristo não estarão ensinando os novos discípulos a fugirem deste mundo, e sim, de redimi-lo. O enfoque será mundano no bom sentido da redenção deste mundo em nova criação, não no mal sentido do pecado.

Esta pequena afirmação exige muita elaboração e explicação e não há espaço para isto aqui. Basta dizer por enquanto, que precisamos computar a nossa vocação dentro da abrangência maior da vocação de Deus de estabelecer uma nova criação, tarefa que é nossa também (Romanos 8.18-25). Isto dá muito pano para manga e precisamos conversar cada vez mais sobre isto.

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Fonte: https://ultimato.com.br/sites/timcarriker/2016/12/04/a-vocacao-de-deus-e-nossa-vocacao/

sexta-feira, 12 de abril de 2019

MINISTÉRIO PASTORAL: 2 livros que todo pastor deve ler

12.04.2019
Do portal VOLTEMOS AO EVANGELHO, 09.04.19
Por Thiago Guerra*

2-livros-que-todo-pastor-deve-ler

Sem dúvida alguma há dois livros que todo pastor deve ler: “O pastor aprovado” de Richard Baxter e “O pastor como teólogo público” de Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan. Com propostas diferentes e sem contradição, esses livros nos ajudam no ministério pastoral de maneira brilhante.

Richard Baxter escreve com uma preocupação específica, o cuidado particular de todo o rebanho. Seu livro foi motivado por uma reunião de pastores em Worcester, no dia 4 de dezembro de 1655, para acordarem a catequização de cada membro nas suas respectivas igrejas. Por motivo de doença, Baxter não pôde comparecer, mas deixou essa joia rara escrita com os seus pontos de vista para aqueles obreiros.

O que torna o livro de Baxter mais precioso ainda é que ele não escreve somente a partir de princípios bíblicos, mas pela própria experiência com a sua congregação. Veja o seu relato:

“Passamos as segundas e terças-feiras, desde cedo de manhã até ao cair da noite, envolvendo umas quinze ou dezesseis famílias, toda semana, nesta obra de catequese. Com dois assistentes, percorremos completamente a congregação que tem cerca de oitocentas famílias, e ensinamos cada família durante o ano. Nem uma só família se negou a visitar-me a meu pedido. E vejo mais sinais externos de sucesso com os que vêm do que em toda a minha pregação pública. O grande número me força a tomar uma família completa por vez, uma hora cada. O secretário da igreja vai adiante, com uma semana de antecipação, para organizar os programas de horários e itinerário. Também guardo anotações daquilo que cada membro da família aprendeu, para poder continuar e ensiná-lo sistematicamente” (p.31).

A preocupação de Baxter é demonstrada mais na frente: “[aqueles] que me ouviram durante oito ou dez anos, ainda não sabem se Cristo é Deus ou homem. Admiram-se quando lhes falo do Seu nascimento, vida e morte. Ainda não sabem que as crianças têm o pecado original. Tampouco sabem da natureza do arrependimento, da fé, ou da santidade que deles se requer” (p. 173). O apelo dele é para seguirmos o exemplo de Cristo que usava do diálogo para pregar aos seus discípulos; de Paulo que pregava e ensinava a todos para não tornar o seu trabalho inútil (Gl 2.2.) e dava instruções pessoais (carcereiro em Atos 16); de Pedro que ao mesmo tempo que pregou publicamente em Jerusalém para uma multidão (At 2), também pregou a Cornélio e seus amigos (At 10); de Filipe que discipulou pessoalmente o eunuco (At 16); entre outros. O autor entendia que o ministério pastoral consiste em cuidar de todo o rebanho através da catequização pessoal (At 20.28), sem exceção. Ele chega a dizer que “o tamanho do rebanho deve ser determinado pelo número de pastores. Não poderão ser pastoreados todos, se não houver suficientes pastores na igreja, ou se a congregação for pequena o suficiente para possibilitar o cuidado pastoral de cada membro” (p. 110).

O versículo base para toda argumentação de Baxter é Atos 20.28: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. A primeira parte do livro é direcionada ao coração do próprio pastor – “cuidem de vocês mesmos”. Baxter se preocupa com o caráter do obreiro e com a necessidade de ele ter experimentado a graça divina em sua própria vida. Ele chega a fazer um apelo corajoso pedindo o arrependimento público dos pastores perante suas congregações caso não tenham vivido de maneira exemplar. A segunda e terceira parte do livro é dedicada à outra metade do versículo: “e de todo o rebanho”. O autor chega a ser um pouco repetitivo e verboso por enfatizar constantemente a necessidade e obrigação pastoral em cuidar pessoalmente de todo o seu povo.

Sem dúvida alguma o livro de Baxter é um alerta a todos nós ministros do evangelho para não perdermos o rumo na nossa caminhada. Há hoje em dia uma tendência pecaminosa no ministério de se preocupar com a igreja somente como instituição ou “departamentalizar” o ministério em diversas áreas. É comum vermos pastores somente pregadores, ou administradores. Pastores não sabem mais os nomes de seus membros, não oram mais por eles e não se envolvem nas vidas de suas ovelhas. Precisamos de pastores à moda antiga. Temos perdido a essência do ministério pastoral!

Se o livro de Baxter nos chama ao cuidado pessoal do rebanho, o livro de Vanhoozer e Strachan nos convoca à necessidade de sermos bons teólogos. A preocupação dele é que a teologia foi separada do ministério pastoral: “Aqui jaz um pastor e um teólogo” (P.13), duas coisas distintas e não características de um único pastor. O que Deus uniu, o homem separou, e a preocupação dos autores é que o “teólogo no mundo acadêmico corre o risco de tornar-se uma mente sem corpo…” e que as “mentes teológicas [devem pertencer] a corpos eclesiásticos” (p. 15). Se a teologia continuar no “exílio” (p.18), a igreja se tornará uma “terra árida”, um local onde não é possível “cultivar ou desenvolver algo” (p.19).

Vanhoozer identifica um problema atual no ministério pastoral, as imagens distorcidas desse ministério: “liderança, diretor executivo, guru psicoterapêutico, agitador político, mestre, pregador de avivamento, construtor, treinador moral, ativista comunitário”, entre outras. A maneira de evitarmos esse erro é respondermos a sua pergunta crucial: “o que pastores têm a dizer e a fazer que seja papel exclusivamente seu?” (p. 26). O autor resume seu argumento da seguinte forma: “Primeiro, pastores são e sempre foram teólogos. Em segundo lugar, cada teólogo é, em certo sentido, um teólogo público, um tipo particular de intelectual, uma classe específica de generalista. […] Em terceiro lugar, o propósito de o pastor-teólogo ser um intelectual público é servir ao povo de Deus, edificando-o na ‘fé entregue aos santos de uma vez por todas’” (p. 36).

Por “teólogo”, o autor sugere que seu papel principal é “dizer o que Deus está fazendo em Cristo a favor do mundo”. Por “público”, significa que “pastores trabalham com o público de Deus e em favor dele, para o bem do público/povo em todos os lugares”. Por último, “intelectual” é “uma forma específica de generalista que sabe como relacionar grandes verdades a pessoas reais”. Vanhoozer acredita que pastores devem estar adiante das congregações e para isso devem ser fundamentados no evangelho e culturalmente competentes. Ele deve ser um “intelectual orgânico” que “enuncia com clareza as necessidades, convicções e aspirações do grupo social ao qual pertence.” Em outras palavras, “ele traz para o nível do discurso as doutrinas e os desejos da comunidade.”

Dois pontos merecem destaque no livro “O pastor como teólogo público”. O primeiro é que entre os capítulos do livro, os autores colocam as “perspectivas pastorais”, artigos de diversos pastores abordando, a partir da experiência e exegese bíblica, pontos importantes do ministério. Um outro ponto de destaque é o capítulo 2, escrito por Owen Strachan, sobre “uma breve história do ministério pastoral”. O autor traça um panorama histórico brilhante de pastores teólogos, desde Ireneu de Lião (130-200 d.C.) até os dias atuais, destacando os grandes nomes da nossa fé como exemplos de ministério. A intenção com esse capítulo é demonstrar que a Igreja cristã sempre acreditou que pastores devem ser bons teólogos à serviço da igreja local. Segundo o autor, foi somente no final do século 19 e no início do século 20 que “pastores concederam aos acadêmicos a condição de líderes intelectuais, abrindo mão de boa parte da grade de disciplinas que o Cristo de Kuyper (e de Edwards) havia reivindicado: ‘Minha!’” (p.122).

Me resta uma última observação sobre os dois livros. A necessidade que temos para considerar essas duas obras, é porque, se ao mesmo tempo elas estão preocupadas com áreas distintas do ministério pastoral, essas áreas andam de mãos juntas! Baxter nos convida ao cuidado pessoal do rebanho, Vanhoozer e Owen nos ensinam que sem a teologia pública, o nosso serviço ministerial estará comprometido.

Não devemos decidir qual caminho escolher, devemos percorrer pelos dois. Sem uma dessas “asas” nosso voo perderá seu rumo, e o que nos aguarda é a queda.

*Thiago Guerra é pastor da Igreja da Trindade, em São José dos Campos, SP. Pós-graduado em Teologia Bíblica pelo Andrew Jumper, cursando bacharel em Teologia no Seminário Martin Bucer. É casado com Raquel Guerra, e sua filha se chama Helena.
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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

10 planos de leitura bíblica e orante para 2018

09.02.2018
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHOS, 29.12.17
Por  Vinicius Musselman Pimentel

 10-planos-leitura-biblica-2018
“É absolutamente necessário, a fim de que a felicidade no Senhor possa continuar, que as Escrituras sejam lidas regularmente. Nós devemos especificamente, com regularidade, ler as Escrituras sequencialmente e não escolher um capítulo aqui e outro ali. Se fizermos assim, seremos sempre anões espirituais. Eu digo isso a vocês carinhosamente. Durante os primeiros quatro anos depois da minha conversão eu não fiz nenhum progresso porque eu negligenciei a Bíblia. Mas quando eu li regularmente através da Bíblia toda. eu imediatamente progredi. Então minha paz e alegria continuaram mais e mais. Eu tenho feito isso há 47 anos. Eu li a Bíblia inteira aproximadamente 100 vezes e eu sempre acho revigorante. Assim minha paz e alegria têm aumentado mais e mais.” (D. L. Moody).

2018 está chegando e, de costume, planejamos o que iremos fazer no próximo ano. Porém, conforme ressalta John Piper no artigo Um Apelo de Ano Novo: Planeje!, nós precisamos planejar tanto as nossas necessidades físicas quanto as espirituais. Assim, queremos incentivá-lo a ler a Bíblia durante o próximo ano.

Pensando nisso trazemos algo novo neste ano. Iremos fornecer dois tipos de plano de leitura: bíblica e orante. A leitura bíblica irá focar mais em ler trechos maiores das Escrituras, buscando ler a Bíblia inteira ou parte dela em certo período de tempo. A leitura orante tem como alvo pautar e enriquecer a oração, por isso ela foca na leitura diária do livro dos Salmos e de outras orações da Escritura.

2 Planos de Leitura Orante

O objetivo da leitura orante não é somente ler o trecho selecionado, mas refletir sobre ele e torná-lo seu, usá-lo como base de sua oração pessoal a Deus. Desta forma, ela irá auxilia-lo a adquirir um vocabulário bíblico de oração e orar com as próprias palavras inspiradas de Deus.

Com dúvida de como fazer, confira estas duas postagens:
  1. Como orar um salmo
  2. 6 dicas para ler os Salmos devocionalmente

Plano de Leitura Orante dos Salmos Trimestral Semestral

Pensar que Deus inspirou orações é algo incrível. Deus não só inspirou o que ele queria falar conosco, mas inspirou o que nós deveríamos falar para ele. Você tem dificuldade de orar? Não sabe o que pedir? Não sabe como pedir? Bom, seu Pai inspirou um livro inteiro chamado Salmos recheado de diversos tipos de orações (louvores, ações de graças, súplicas, confissões). Então, aprenda a orar com a própria Bíblia e leia um (semestral) ou dois (trimestral) salmos por dia e os torne sua oração.

Sugiro que invista 10 minutos do seu dia para esta devocional diária. Mas, caso perca algum dia, o plano tem 25 dias de leitura por mês para que você consiga recuperar sua devocional.

Plano de Leitura Orante Quadrimestral BAIXAR

Desenvolvi este plano para que pudéssemos aprender a orar não somente com os salmos, mas também as demais orações na Bíblia. Selecionei 50 das principais orações ou trechos sobre oração, desde a intercessão de Abraão por Sodoma até o simples “Maranata, vem Senhor Jesus!”, passando pelas orações de Paulo (importantíssimas para aprendermos sobre o que orar uns pelos outros, conforme D. A. Carson ensina no excelente livro Um chamado à reforma espiritual). Também encaixei estrategicamente 28 trechos que ensinam sobre oração e coloquei entre parênteses junto à oração principal a fim de ensinar e reforçar algo daquela oração (sugiro que leia o texto suplementar antes). Sugiro que invista 10 minutos do seu dia para esta devocional diária.

Sugiro que invista 10 minutos do seu dia para esta devocional diária. Mas, caso perca algum dia, o plano tem 25 dias de leitura por mês para que você consiga recuperar sua devocional.

8 Planos de Leitura Bíblica

Separamos 8 planos de leitura bíblica e listei aqui pela ordem de dificuldade. Se você é um novo convertido, considere comprometer-se com o “Plano de Leitura para Novos Convertidos”, pois possui só 30 dias e irá dar uma visão geral da Bíblia para você. Após, considere ler o Novo Testamento em 6 meses com o “Plano de Leitura do Novo Testamento” ou em um ano com o “Plano de Leitura do Novo Testamento 5×5”. Se você já é um cristão mais maduro na fé, mas está com dificuldade de manter o hábito da leitura, considere o “Plano de Leitura Bíblica Diário de Discipulado”, que possui pausas e dias de reflexão. Se você já é um cristão maduro na fé com o hábito regular de leitura, considere os demais planos.

Plano de Leitura para Novos Convertidos BAIXAR

Com este plano elaborado pelo pastor Garret Kell, em 30 dias, com uma leitura diária, você terá um quadro geral da história da Bíblia. Exemplo: Dia 1 – Gênesis 1.1–3.19 – A Criação e a Queda da Humanidade

Este plano é ideal para discipular novos convertidos, pois dá a oportunidade de explicar um breve panorama da história e doutrinas bíblicas. É claro que há muito que fica de fora, mas é um ótimo lugar para começar. Você levará cerca de 7-10 minutos para fazer sua leitura diária.

Plano de Leitura do Novo Testamento 5×5 BAIXAR

Com este plano elaborado pelo Discipleship Journal, em um ano você lerá o NT inteiro uma vez, com 1 leitura diária de 5 minutos, 5 vezes por semana, com pausa e em uma sequência intercalada dos livros neotestamentários. Exemplo: Semana 4: Mc 16; At 1; At 2; At 3; At 4.

Este plano é ideal para quem está começando. Com apenas 5 minutos e somente 5 vezes na semana, você conseguirá ler o todo o NT. Os evangelhos estão distribuídos na leitura, tornando-a, assim, menos repetitiva no começo.

Plano de Leitura do Novo Testamento BAIXAR

Com este plano modificado da ESV Outreach Bible, em seis meses você lerá o NT inteiro uma vez, com 1 leitura diária, sem pausa e em uma sequência canônica dos livros. Exemplo: Dia 1 – Mt 1‐2.

Este plano é ideal para quem está começando e deseja algo um pouco além do plano 5×5. Você levará cerca de 5-7 minutos para fazer sua leitura diária.

Plano de Leitura Bíblica Diário de Discipulado   BAIXAR

Elaborado por Mark Bogart e Peter Mayberry para o Discipleship Journal, em um ano você lerá a Bíblia inteira uma vez, com 2 leituras diárias, pausa e em uma sequência intercalada dos livros bíblicos. Exemplo: Dia 1 – Gn 1-2; Sl 1 | Dia 22 – Mc 1-3; Sl 17.

Este plano é o meu favorito por três vantagens: possui somente 25 dias de leitura por mês (ou seja, se você perdeu um dia é mais fácil recuperar), possui leitura de um livro por vez (fica confuso ler 4 porções de diferentes lugares por dia) e possui uma leitura devocional nos Salmos ou Provérbios ou Isaías. Os pontos fracos deste plano é que se você é um leitor regular irá ficar, em média, 5 dias no mês sem uma leitura para fazer. Além disso, como tem duas leituras distintas, recomendo fazer uma pela manhã e outra pela noite. Você levará cerca de 7-10 minutos para fazer sua leitura diária.

Plano de Leitura Bíblica Capa-a-Capa   BAIXAR

O plano de leitura capa-a-capa irá fazer exatamente isso, ajudá-lo a ler a Bíblia, com 1 leitura diária e sem pausa, da primeira a última página na sequência de nossas Bíblias atuais. Exemplo: Dia 1 – Gn 1-3.

O ponto forte deste plano é que você seguirá a ordem de nossas Bíblias modernas e terá uma noção melhor da estrutura e história de cada livro bíblico. Por outro lado, pode ser que você tenha dificuldade de ficar um longo período em um estilo literário da Bíblia ou impactar em Levíticos (é tão inspirado quando quanto os Salmos, ok?). Você levará cerca de 10-15 minutos para fazer sua leitura diária.
Plano de Leitura Bíblica Cronológica  BAIXAR
Com este plano elaborado pelo ministério Back to the Bible, você lerá em um ano, com uma leitura diária e sem pausa, a Bíblia inteira em ordem cronológica. Exemplo: Dia 165 – 1Re 8, 2Cr 5 | Dia 166 – 2Cr 6‐7, Sl 136.

O ponto forte deste plano é que você terá uma noção melhor da história da redenção, mas ao custo da coesão literária de cada livro bíblico. Lembre-se, Deus não inspirou uma teologia sistemática ou um livro histórico moderno. Os livros da Bíblia possuem gêneros literários diferentes e devem ser compreendidos dentro de sua própria estrutura e beleza. Porém, é sempre bom saber quando certo Salmo foi escrito ou em que época Isaías viveu e profetizou. Você levará cerca de 10-15 minutos para fazer sua leitura diária.

Plano de Leitura Bíblica M‘Cheyne    BAIXAR

Com este clássico plano elaborado por Robert Murray M’Cheyne você lerá em um ano 1x o AT e 2x os Salmos e o NT, em 4 leituras diárias diferentes em uma sequência intercalada dos livros da bíblia. Exemplo: Dia 1 – Gn 1; Mt 1; Ed 1; At 1.

Este plano é ideal para quem gosta de ler de vários trechos da Bíblia, intercalar AT e NT e já possui o hábito da leitura regular da Bíblia. O ponto fraco deste plano é que se você for ler tudo de uma vez pode ser confuso manter a progressão literária e histórica de 4 livros da Bíblia ao mesmo tempo. Por isso, sugiro dividir a leitura em 4 momentos no dia (manhã, almoço, tarde, noite). Você levará cerca de 15-20 minutos para fazer sua leitura diária.

Plano de Leitura Bíblica M‘Cheyne-Carson    BAIXAR

D. A. Carson modificou o plano de M’Cheyne para dois anos. Assim, você lerá em dois anos 1x o AT e 2x os Salmos e o NT, em 2 leituras diárias diferentes em uma sequência intercalada dos livros da bíblia. Exemplo: Dia 1 – Gn 1; Mt 1.

Este plano é ideal para quem gosta de intercalar AT e NT e irá se comprometer com um plano de 2 anos. O ponto fraco deste plano é que se você for ler tudo de uma vez pode ser confuso manter a progressão literária e histórica de 2 livros da Bíblia ao mesmo tempo.Por isso, sugiro dividir a leitura em 2 momentos no dia (manhã, noite). Você levará cerca de 7-10 minutos para fazer sua leitura diária.

Aplicativo YouVersion

O aplicativo da Bíblia YouVersion também possui diversos outros planos de leitura bíblica, caso você use um aplicativo para ler.

Dicas

Leia corretamente

Tratamos anteriormente sobre as formas erradas de se ler a Bíblia. Uma delas, talvez a mais comum, é a A Abordagem Mina de Ouro: ler a Bíblia como uma mina vasta, cavernosa e sombria, onde ocasionalmente tropeça-se em uma pedra de inspiração. Resultado: leitura confusa. Ler a Bíblia assim provavelmente o levará ao desânimo quando chegar em Levíticos ou Números, por exemplo. Mas lembre-se: a Bíblia não é chata; avatar é chato!

Outra abordagem comum é A Abordagem Heróica: ler a Bíblia como um hall da fama moral que dá um exemplo após outro de gigantes espirituais que devem ser imitados. Resultado: leitura desesperadora. Se você lê a passagem que Davi mata Golias e tudo o que você medita sobre isso é como você irá vencer os gigantes de sua vida, você precisa parar de ler a Bíblia (especialmente o Antigo Testamento) de forma biográfica moralista.

Além dos artigos mencionados acima, aconselhamos a leitura dos artigos Como Interpretar a Bíblia e 5 formas de não ler a Bíblia

Hábito e Rotina

Escolha um momento e um lugar

Algumas pessoas tem a visão errônea de que tudo que é feito motivado por amor não pode ser feito em forma de uma rotina. É como dizer que o maratonista que treina todo dia não ama o que ele está fazendo.

Duas dicas: (1) planeje seu horário de devocional e, através da repetição, transforme isso em um bom hábito. Lembre-se: o diabo vence nossa devocional antes mesmo de acontecerem por não planejarmos; (2) Ore antes de ler (não se esqueça que compreender corretamente as Escrituras é uma obra sobrenatural do Espírito Santo, então você precisa tanto se esforçar para entender corretamente o texto como orar) – John Piper recomenda que oremos o IDDS:

Inclina-me o coração aos teus testemunhos (Salmos 119:36).
Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei. (Salmos 119:18).
Dispõe-me o coração para só temer o teu nome. (Salmos 86:11).
Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias. (Salmos 90:14).

O puritano Thomas Watson fornece mais dicas valiosas aqui.

Qual tradução usar?

Se você está preocupado com qual tradução usar, confira a resposta de Augustus Nicodemus. Minhas sugestão pessoal é: comece com a ARA (Almeida Revista e Atualizada) ou a NVI (Nova Versão Internacional) e a cada ano leia em uma tradução diferente (lembrando que tem Bíblias que são paráfrases e não traduções, conforme (Piper ressalta neste vídeo).

*Vinicius Musselman Pimentel é formado em engenharia química pela UNICAMP, graduando em Teologia pelo Seminário Martin Bucer e mestrando em MDiv com habilitação em Pregação pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Atualmente, trabalha como Editor Online no Ministério Fiel. Vinícius é casado com Aline e vive em São José dos Campos/SP.

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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2017/12/10-planos-de-leitura-biblica-e-orante-para-2018/#1483026367014-49086b0f-9439