14.11.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO*
NOVIDADES OU A ETERNA ESCRITURA?
Texto Básico: 2 Timóteo 3.14-17
Para ler e meditar durante a semana
Domingo
– Sl 19 – A revelação divina
Segunda
– At 2.17-18 – Os últimos dias;
Terça
– Dt 6.6-8 – A educação cristã;
Quarta
– 2Tm 1.4-5 – Eunice e Loide;
Quinta
– 2Tm 3.10-11 – Paulo e Timóteo;
Sexta
– Rm 1.16-17 – O poder do evangelho;
Sábado
– 2Pe 1.20-21 – A doutrina da inspiração
INTRODUÇÃO
Nosso tempo é contraditório no que diz respeito à Bíblia. Por um
lado, ela circula entre nós livremente. Hoje, a Bíblia é publicada com
comentários específicos para diferentes grupos de pessoas e encadernada
de tantas formas diferentes, que é possível encontrar edições para todos
os tipos e para todos os gostos. Por outro lado, vivemos um tempo de
analfabetismo bíblico e de falta de apego à Escritura Sagrada. Na mesma
proporção em que a Bíblia é aproximada das pessoas, elas se afastam
dela.
Nesta lição abordaremos o apego que o cristão precisará ter à Palavra
de Deus, diante da oposição doutrinária sofrida pela igreja.
I. O CONTEXTO
1. O que Paulo diz a Timóteo que aconteceria nos últimos dias? Como Timóteo deveria se comportar? Por quê?
A segunda carta a Timóteo foi escrita pelo apóstolo Paulo no fim de
sua vida. Muito provavelmente ele a escreveu quando estava preso em
Roma, na iminência de ser executado a qualquer momento. Essa proximidade
do martírio pode ser inferida do conteúdo da própria carta: “Quanto a
mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é
chegado” (2Tm 4.6). Essa é a razão pela qual essa carta possui um tom
exortativo – as últimas palavras de Paulo. É como um testamento.
Umas das advertências de Paulo a Timóteo, nessa carta, se refere ao
florescimento do mal nos últimos dias. Ele alerta o jovem pastor dizendo
que “nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis” (2Tm 3.1). Esses
tempos difíceis seriam, primeiramente, resultado do modo de vida dos
homens (2Tm 3.2-5), e da presença do falso ensino que seduz as pessoas e
as corrompe (2Tm 3.6-9).
Esses tempos difíceis seriam vividos em um momento que ele denomina
“últimos dias”. Comumente essa expressão tem sido interpretada como uma
referência a um curto período de tempo exatamente anterior à segunda
vinda de Cristo. Todavia, quando a Bíblia usa essa expressão, refere-se a
um período mais longo, que vai desde a primeira até a segunda vinda de
Cristo.
No sermão do Pentecostes, por exemplo, Pedro interpreta o
acontecido naquela ocasião, como sendo o derramamento do Espírito Santo,
profetizado pelo profeta Joel: “… acontecerá nos últimos dias,
diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e
sonharão vossos velhos, até sobre os meus servos e sobre as
minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão”
(At 2.17-18). Pedro entendia que estava vivendo os últimos dias.
Semelhantemente, a orientação de Paulo a Timóteo quanto ao florescimento
do mal não se refere a um tempo futuro, do qual Timóteo não
participaria, mas ao período em que viviam. A ordem dada no v. 5, “foge
também destes”, é evidência disso. Trata-se de uma advertência para o
presente e não para o futuro.
II. A PÓS-MODERNIDADE E O APEGO ÀS NOVIDADES
2. Segundo o sociólogo Bauman, o que caracteriza a sociedade contemporânea? Qual impacto isso tem produzido na igreja?
O falso ensino, no entanto, também está presente em nossos dias e se
encaixa de maneira justa ao modo de ser contemporâneo. Uma das
características mais marcantes do modo de ser do mundo pós-moderno é a
ênfase no caráter fluido, dinâmico e mutável das experiências humanas.
Zygmunt Bauman, um estudioso da sociedade contemporânea, afirma que
nós vivemos, nos últimos anos, a transição entre um período histórico
denominado “modernidade sólida” para a “modernidade líquida”. Bauman diz
que há alguns anos, vivíamos um tempo de maior solidez, em que as
coisas estavam mais claramente estabelecidas, o tempo do preto no
branco.
Naquele tempo, a permanência era considerada uma virtude. As
pessoas tinham orgulho da festa de aposentadoria realizada na empresa em
que haviam começado a sua carreira profissional. Um indivíduo entrava
em determinada empresa, trabalhava nela por 30 anos e, quando saía,
recebia uma festa, um relógio de ouro de presente, como símbolo da
solidez de sua carreira profissional naquele lugar.
Hoje, contudo, vivemos um tempo de liquidez, de fluidez, em que as
coisas não estão tão claramente definidas. Um tempo marcado pelo
relativismo. A permanência não é mais vista como virtude, mas como
defeito. Para nossos dias, virtude é a mudança, a capacidade constante
de adaptação ao novo. Neste tempo, se alguém se encontra trabalhando há
mais de três ou quatro anos em uma empresa, corre o risco de ser
considerado um indivíduo acomodado, ou até mesmo um falido
profissionalmente. De acordo com pesquisas recentes, o tempo médio de um
jovem profissional da área de tecnologia em uma empresa é de mais ou
menos oito meses. De maneira ilustrativa, Bauman compara o homem
contemporâneo a um turista, é um sujeito ávido por mudanças. Ele está
sempre de passagem, contempla coisas, relaciona-se temporariamente com
elas, mas não se compromete.
Essa característica do homem contemporâneo afeta as mais diversas
áreas da vida humana e as mais diferentes manifestações do homem na
sociedade. A religião não foge da influência desse modo de ser. Alguém
já disse que o mundo contemporâneo viu nascer um novo tipo de crente: “o
crente macaco”, que pula de galho em galho, ou de igreja em igreja, não
se fixando em lugar algum. O maior problema é que não apenas as
religiões em geral sofrem com essa influência, mas o próprio
cristianismo.
Mais especificamente ainda, a pregação evangélica também sofre a
influência dessa mentalidade turística. Basta olhar para o cenário
evangélico brasileiro, para perceber que ele é ávido por novidades.
Nesse cenário, ondas vêm e vão a cada instante. Dia após dia, as novas
doutrinas e práticas evangélicas surgem. E tão rapidamente quanto
surgem, são substituídas por outras. O poeta Sérgio Pimenta escreveu
sobre essa tendência de mudança do falso ensino, com as seguintes
palavras: “Toda a novidade que vem no vento, ao peso da força, na rotina
cai na monotonia do pensamento, que à busca de outra novidade sai”.
Essa sede do homem contemporâneo por novidades, e o caráter fortemente
reprodutivo do falso ensino, torna muito atual a orientação de Paulo ao
jovem pastor Timóteo.
III. O CRISTÃO E O APEGO À PALAVRA DE DEUS
3. O que Timóteo deveria fazer para combater o paganismo de seu tempo? Por quê?
Após apresentar um tempo difícil, caracterizado por uma moralidade
ímpia e pela presença do falso ensino, Paulo orienta o líder Timóteo
sobre como reagir a essas circunstâncias.
Contrariamente a essa tendência de apego às novidades, Paulo orienta
Timóteo a se apegar àquilo que ele já havia aprendido: “Tu, porém, permanece naquilo
que aprendeste e de que foste inteirado” (v. 14). A conjunção
adversativa “porém” estabelece que a atitude de Timóteo deveria ser
contrária à dos perversos e falsos mestres. Ele deveria seguir um curso
exatamente oposto àquele seguido pelos falsos mestres e seus adeptos,
não se amoldando às novidades, mas adotando uma posição conservadora,
isto é, conservando o ensino aprendido.
Em seguida, o texto apresenta três razões pelas quais a posição
conservadora era desejável para Timóteo e, consequentemente, para todo
cristão:
A. O poder do conhecimento adquirido
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado” (v.14).
A primeira razão pela qual Timóteo deveria permanecer no que
aprendera era porque o conhecimento recebido por ele era mais do que
informação teórica, era o poder de Deus que transformara a sua vida. A
expressão “foste inteirado” significa literalmente “foste convencido”.
Com essa expressão, o apóstolo deseja lembrar Timóteo que ele não havia
apenas aprendido intelectualmente a verdade, mas que o conhecimento
possuído por ele fora aplicado ao seu coração pelo Espírito Santo e
havia transformado seu ser de maneira integral.
O conhecimento do evangelho é transformador. “O evangelho é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e
também do grego” (Rm 1.16). Timóteo, portanto, tinha experiência
própria de que o conhecimento recebido por ele era um conhecimento
verdadeiro do evangelho. Por isso, apesar de todas as novidades,
ele deveria se apegar ao conhecimento que havia recebido.
B. A fidedignidade dos instrutores
“Sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras” (v. 14-15). A segunda razão apresentada por Paulo a
Timóteo, para que, diante das novidades, se apegasse ao conhecimento
outrora recebido, foi a fidedignidade dos seus instrutores.
Ao lembrar do aprendizado que Timóteo recebeu na infância, Paulo
tem em mente sua mãe e sua avó, Eunice e Loide, respectivamente. Elas
eram judias e lembraram-se da orientação do Senhor dada ao seu povo,
recém-saído do Egito: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no
teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os
olhos” (Dt 6.6-8). Isto é comprovado pelas palavras do apóstolo no
início dessa carta. Falando do desejo de encontrar em breve o jovem
Timóteo, ele afirma: “estou ansioso por ver-te, para que eu transborde
de alegria pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma
que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e
estou certo de que também, em ti” (2Tm 1.4-5).
Por outro lado, Timóteo havia também sido instruído pelo
próprio apóstolo. Ele era seu discípulo, no sentido mais profundo da
Palavra. Timóteo é descrito por Paulo como aquele que estava seguindo,
de perto, o ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade,
amor, perseverança, perseguições, e sofrimentos do apóstolo (2Tm
3.10-11).
A segunda razão, portanto, pela qual Timóteo não deveria se afastar do ensino recebido, mas se apegar a ele, era o caráter fidedigno de seus instrutores.
As verdades nas quais Timóteo cria não haviam sido transmitidas a ele
por aventureiros sagazes, mas por testemunhas de fidelidade comprovada;
mulheres piedosas e o apóstolo de Cristo.
C. A fonte do conhecimento adquirido
4. “Toda Escritura é inspirada por Deus”. O que isso significa?
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra (v. 16-17).
Mais importante, contudo, é a terceira razão apresentada pelo
apóstolo a Timóteo. Diante das novidades, ele deveira se apegar ao
conhecimento outrora recebido, por causa da origem divina do conhecimento adquirido.
O conhecimento recebido por Timóteo era o das “sagradas letras” (v.
15), uma referência à Escritura Sagrada, que é “inspirada por Deus” (v.
16). O termo usado pelo apóstolo (theopneustos), traduzido por
“inspirada”, significa literalmente “expirada” ou “soprada”. Toda a
Escritura deve sua origem ao sopro de Deus. Deus é a fonte da Escritura
Sagrada. E isso significa que, embora tenha sido escrita por homens, a
Bíblia é a revelação de Deus. Tais homens, quando registraram a
revelação divina, foram guardados pelo Espírito Santo de Deus, de modo
que, mesmo mantendo suas características individuais, registraram tudo o
que Deus desejou que fosse registrado, e tão somente isso. A esse
respeito Pedro afirma: “…não vos demos a conhecer o poder e a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas,
mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade…” (2Pe 1.16).
E ainda: “…nenhuma profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto, homens santos] falaram da parte de Deus, movidos
pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21).
Dentre as consequências de ser Deus o autor último das Escrituras
Sagradas, está o fato de que elas são necessárias para que alguém se
torne um bom servo de Cristo. Ela é útil para ensinar, para apontar os
erros nos quais estamos incorrendo, para nos guiar pelo caminho correto e
para nos santificar na justiça de Deus.
O salmista Davi também nos apresenta outros diversos benefícios
da Escritura na vida daquele que a recebe: “A lei do SENHOR é perfeita e
restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos
símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o
mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR
é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e
todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que
muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos
favos” (Sl 19.7-10). Por isso, a Escritura Sagrada é o mais
básico recurso do discípulo de Cristo, o que torna o homem de Deus
“perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (v.17).
Eis a terceira e mais importante razão pela qual Timóteo deveria se
apegar ao conhecimento recebido: o fato de que seu conhecimento era o
conhecimento da Palavra revelada de Deus, do qual o próprio Deus é a
fonte.
CONCLUSÃO
5. Elabore um texto que resuma o conteúdo desta lição.
Timóteo vivia num tempo em que as falsas doutrinas proliferavam.
Assim como naquele tempo, hoje novas doutrinas surgem a cada dia. Diante
desse quadro, Paulo orientou Timóteo a que, como obreiro do Senhor, se
apegasse ao conhecimento anteriormente recebido, pois tal conhecimento
era poder de Deus, recebido por meio de testemunhas fiéis, exalado da
Revelação de Deus.
6. Como você pode aplicar o que aprendeu hoje de modo eficiente?
APLICAÇÃO
Qual é a novidade do momento?
Que nova “doutrina” você ouviu? Seja qual for, a orientação de Paulo a
Timóteo se aplica a você. Não se deixe cativar pelo sabor da novidade.
Não dê ouvidos à voz da maioria. Apegue-se à Palavra de Deus.
Leia a Bíblia. Procure conhecer o seu conteúdo. Creia na Bíblia.
Lembre-se de quantos cristãos deram sua vida para que a verdade do
evangelho chegasse até você. Pense no que o verdadeiro evangelho fez na
vida de tantas pessoas e até sociedades. Sobretudo, lembre-se do fato de
que Deus é a fonte da Escritura Sagrada.
*Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Cartas aos Líderes das Igrejas e Cartas Gerais. Usado com permissão.
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Fonte:http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/novidades-ou-a-eterna-escritura/