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terça-feira, 10 de junho de 2014

Solitários, carentes e infelizes

10.06.2014
Do blog GOSPEL HOME BLOG, 09.06.14
 
Existe um tipo de aranha, chamada viúva negra (foto ao lado), que tem um comportamento bem peculiar: de tamanho mais avantajado que o dos machos de sua espécie, ela depende deles para se reproduzir. Por isso, aceita a corte do macho, estende a ele sua sedução e topa ter um relacionamento. Mas basta o macho ter terminado de fecundá-la que a viúva negra o agarra e o devora lentamente, com ele ainda vivo, deixando apenas uma casca vazia e retorcida. Isso mesmo. Aquele que foi tão importante em certo momento de sua vida simplesmente se torna seu jantar. Imagino os olhinhos esbugalhados do surpreso e assustado aranha-macho ao ver aquela de quem ele tanto precisava, que tanto quis, que afinal acreditou ter vindo para resgatá-lo de uma vida de tristeza… ser sua ruína final.
 
Pois em nossa vida existe uma viúva negra que age de modo muito semelhante. Seu nome é solidão (ou, em outros dialetos, carência afetiva). Fato é que tenho visto tantos e tantos cristãos solitários e carentes! Tão desesperados por preencher com alguém as lacunas que existem em suas almas que acabam cometendo grandes erros, equívocos dos quais vão se arrepender pelo resto de suas vidas – exatamente como o aracnídeo macho.
 
O processo é relativamente semelhante na maioria dos casos. Começa com a pessoa sentindo-se solitária, carente, incapaz de viver uma vida que tenha sentido se não houver alguém que preencha as lacunas que há em sua alma. A pessoa não se basta a si mesma.
 
Precisa de outro. “Não sei viver só”, diz. A falta de um ente amado lhe é tão ensurdecedora que, na ausência de um amor verdadeiro, acaba convidando para habitar em sua vida afetiva alguma pessoa por quem nutre algum tipo de sentimento benigno, seja uma amizade, um carinho, até mesmo atração física. Mas que não é AMOR. Eis o início do erro fatal.

A corte se inicia. Os dois se aproximam. A pessoa vê naquele outro a oportunidade de completar suas lacunas, seu vazio, sua solidão, sua carência. Até mesmo enxerga nele a possibilidade de ser o pai (ou a mãe) dos filhos que sonha ter. E o convida para entrar.
 
Então, motivada não pelo amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, mas por um vazio de solidão e carência, começa um namoro. É até gostoso, no início. O outro te diz palavras bonitas, exalta suas qualidades, diz que seus defeitos não importam, te chama de apelidos carinhosos, faz você se sentir querido, acolhido,  abraçado, acompanhado. De repente, a sensação de vazio some, o outro  te faz companhia, serenatas, te chama de “meu amor”, preenche os  espaços da sua carência.
 
Mas o tempo, ah, o tempo…esse  é implacável. Ele passa. E a sociedade tem suas exigências! Ela cobra. Aquele que está ali ocupando uma carência e tampando as rachaduras da solidão não pode ficar assim para sempre e, mais cedo ou mais tarde, terá de ser guindado ao posto de noivo – e, em breve, ao de marido (ou esposa). E, num dia qualquer, como um inseto que foi se enroscando numa teia até não conseguir mais sair dela, você vai acordar e descobrir que dorme ao seu lado, de aliança no dedo, alguém que foi trazido a sua vida por um tempo para ser reboco de lacunas vazias, mas só que agora ele não é mais isso: é seu cônjuge pa-ra-o-res-to-da-vi-da. Alguém com quem você terá de dormir todas as noites, entregar a ele seu corpo e sua intimidade, devotar-se completamente, dividir as fotos de viagem, ver TV abraçado sob o edredom, andar de mãos dadas, conversar sobre os pensamentos profundos que ele tiver na cabeça, dar beijos longos e ardorosos. Estar junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de sua vida, até que a morte os separe. Ali estará o pai (ou a mãe) de teus filhos – que terão a cara dele (ou dela).

O dia chegará

Mas um dia (e esse dia chegará, meu amigo, minha amiga, já vi isso incontáveis vezes, em especial entre evangélicos), deitada no travesseiro da sua teia, você vai se virar para o lado e deixar lágrimas escorrerem. Pois vai descobrir que aquele alguém muito legal que serviu para aplacar a sua solidão num certo momento da vida… não dá sentido humano a ela.
 
Simplesmente é incapaz de cumprir o papel de compleitude, pois o papel dele era provisório, tinha prazo de validade, funcionava por um tempo – e o que você acha que ele faria pelo resto de seus dias ele é incapaz de fazer: ser AMOR.
 
Para ser honesto e cruel, falando friamente não haveria razão lógica ou emocional para ele continuar ali. Mas você é um bom cristão, então divórcio está fora de cogitação. Fica então um oco. E para sua surpresa (hoje você não sabe disso, mas descobrirá) nem mesmo os filhos que ele te deu preenchem esse vácuo, pois o tipo de amor paterno/materno é absurdamente diferente do amor que precisamos dar e receber de um homem/uma mulher.
 
Você percebe que há um enorme rasgo e um incomensurável vazio em suas entranhas.
 
Elas foram devoradas e você nem percebeu. Você quis matar a solidão e de repente se vê imerso numa indissolúvel solidão a dois. Sim, Cazuza acertou nessa: solidão a dois existe. E muito. E nossas igrejas estão abarrotadas delas.
 
Isso é um fenômeno muito comum entre cristãos de diferentes faixas etárias. Somos adestrados a casar. Achamos que é no outro que encontraremos nossa felicidade, nossa compleitude. E, meu irmão, minha irmã… estamos errados. Pois se o que buscamos é fugir da solidão, qualquer coisa ou pessoa que acabe com nossa solidão serve. Se o objetivo é suprir carência, qualquer um que nos chame de “meu amor” recebe o nosso sim. Ou mesmo um filho que venha pelo meio do caminho achamos que suprirá nossa carência ou aplacará nossa solidão.
 
Mas você, que é veterano e a essa altura já criou os filhos, percebe que eles foram embora cuidar de suas vidas, curtir seus amigos, viver seus amores, ter seus próprios filhos. E o que restou a você no ninho vazio foi aquela pessoa legal a quem tem que chamar todos os dias de “meu amor” e dormir ao seu lado na cama. Abraçado, se ainda sobrar algum sentimento nobre que te obrigue a fingir que ele é seu grande amor. Mas não é isso. Não é isso! Não é isso o que nos fará feliz, não é isso o que Deus deseja nem o que Ele planejou para os seus.

Ossos e carne

Deus criou homem e mulher para se completarem. Para serem, como diz Gn 2.23, “osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Para não conseguirem viver um sem o outro. Se arrancarem os seus ossos veja se consegue seguir vivendo sem eles. Arranque-se sua carne e veja quanto tempo dura sem desfalecer. Deus criou homem e mulher que se unem em casamento para viverem como um e morrerem como um. Casamento é uma coisa muito séria.

Aliás, amor é uma coisa muito séria. Não é brincadeira. Não é coisinha de poeta. E muitos de nós, especialmente nas igrejas, temos vivido nossos amores como uma grande equação matemática. Algo frio: preciso casar, é o que esperam de mim, não sei viver só, é o que todos fazem, então pronto: subo ao cadafalso do altar, me entrego ao carrasco do pastor e deixo que me executem. Mas, querido, querida, amor é razão, mas também é emoção e ação. Amor é um milagre. Amor é uma força que derrubou impérios, motivou guerras, gerou as maiores obras de arte da história da humanidade. No amor há livros, no amor há pintura, há escultura, há beleza e lágrimas. O amor é tão fundamental que ele é a essência do Deus que é amor. Como tratar isso apenas matematicamente? Racionalmente? Tratar o amor somente pela lógica seria ilógico.

Existe amor verdadeiro. Existe amor que dura para sempre. É ou não é o que a Biblia diz em 1 Co 13.8: “O amor jamais acaba”? Existe um amor, além do de Cristo,  que dá razão a um relacionamento. A uma vida. E esse amor não será jamais ocupado por rolhas postas para vedar lacunas de solidão e carência: só será preenchido por alguém que faça sua vida brilhar. Que faça sua vida ser.

A notícia não muito agradável é que pode demorar anos para você encontrar esse amor. Pode demorar muito tempo para chegar a pessoa que preencherá não só suas lacunas, mas que se fundirá 100% à sua alma. E esse é o problema. Não queremos esperar. Não suportamos a pressão. Não suportamos a carência. Seu peso nos esmaga. Ela é mais forte do que nós. A viúva negra tem um tamanho bem maior que o do macho. E muitos se sentem impotentes diante dela. Por isso, sucumbem. E, mais à frente, terão suas entranhas devoradas. Mas… naquele momento… Ah, que importa? A viúva negra lhe chama de “meu amor”, acaricia seu ego e seus cabelos, faz a solidão desaparecer. Lhe faz companhia. Manda flores. Ela te seduz, te atrai, te enreda em sua teia.

Mas a viúva negra traz morte.Meu irmão, minha irmã. Eu e você vivemos numa sociedade que nos empurra para a teia. Mas não importa quanto tempo demore para que você encontre o amor. Na verdade, isso é o que menos importa, em se tratando de amor. Veja o exemplo de Jacó, que sabia exatamente quem queria e esperou o tempo que fosse:  “Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava” (Gn 29.20).  Isso é amor. Isso é verdade. Isso é tudo. Não troque o ouro puro do amor verdadeiro, aquele que em termos humanos dará sentido a tudo o que você viverá até chegar ao seu leito de morte, pelo latão enferrujado de uma solidão suprida. Pela pobreza de uma carência afetiva aparentemente resolvida. Por um nada travestido de alguma coisa.
 
Se estiver em dúvida, pergunte ao macho da viúva negra, de olhos esbugalhados e entranhas devoradas, se valeu a pena entrar naquela relação apenas para suprir sua solidão e sua carência. Lembre-se que o macho da viúva negra chegou à teia dela com um vazio na alma e com tristeza no coração. Mas inteiro. E, depois que aquela relação se consumou, tudo o que sobrou dele foi uma casca vazia, do que um dia foi alguém carente sim, mas cheio de possibilidades e de potencial para viver um grande amor. De viver uma VIDA. Nunca abra mão disso. Nunca.  Ou você estará se condenando voluntariamente à morte. A propósito, os filhos daquela relação entre a viúva negra e o macho seguiram seus rumos, foram viver suas vidas. A viúva negra também foi em frente, feliz que só. O macho? Acabou a vida oco, seco, triste e morto.
 
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
 
Fonte: Genizah

Nota do Blog: o casamento não é adição; é multiplicação. Assim: 1x1=1. Essa é a fórmula perfeita. Os dois tornam-se uma só carne. Agora se cada um não está completo (0,5 por exemplo) e quer casar para "se completar" olha o que acontece: 0,5x0,5=0,25 (resultado menor do que o inicial). Ou seja, os problemas aumentam! Um relacionamento para dar certo tem que ser direcionado pelo Espírito Santo. Realmente, não sabemos se um namorado(a) na adolescência vai ser o marido(esposa) e homem(mulher) de nossas vidas.
 
Mas para isso é que existe o discernimento espiritual: devemos pedir a Deus para nos orientar, para sabermos se estamos "carentes" ou se a pessoa é àquela que nos acompanhará pelo resto de nossas vidas. O jovem deve ser desde cedo orientado para isso, e os pais devem orar a Deus, para que direcione seus filhos a terem boas escolhas, conforme a direção d'Ele.
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Fonte:http://gospelhomeblog.blogspot.com.br/2014/06/solitarios-carentes-e-infelizes.html

domingo, 13 de abril de 2014

Razão, romantismo e fé

14.04.2014
Do portal ULTIMATO ON LINE, 24.03.14
PorRonaldo Lidório


Tão importante quanto saber o destino da estrada é entender o significado da caminhada.

Faço parte de uma geração profundamente influenciada pelo racionalismo e romantismo. O racionalismo, marcado pelos avanços do conhecimento humano nos últimos 200 anos, tenta nos convencer que tudo pode ser explicado intelectualmente. Todos os mistérios podem ser desvendados e aquilo que não se pode provar não possui valor. O racionalismo desenha uma linha imaginária entre os que reconhecem apenas a razão e aqueles que buscam o significado da vida. Os primeiros se veem como racionais e apontam os outros como ingênuos. 

De certa forma podemos pensar que o racionalismo é a morte da esperança. Ao reconhecer que nossa vida não passa daquilo que podemos plenamente explicar, perdemos de vista a possibilidade de nos encantarmos com o inexplicável que nos tira as palavras e o fôlego. Ao usar a razão como único crivo para as experiências da vida, reduzimos a vivência humana às combinações químicas do cérebro e biológicas do ambiente perdendo, assim, o anseio pela relação com o a força mais transformadora – o amor – e Deus, aquele que primeiro nos amou. Ao resumirmos a história aos fatos palpáveis nos perdemos na própria história. Olhamos, analisamos e explicamos a humanidade, mas sem enxergar a vida.

O romantismo é uma influência quase antagônica ao racionalismo cientificista, porém ao mesmo tempo o complementa na construção da nossa sociedade e da corrente visão de mundo. O romantismo não é esperança, mas aparência de esperança. Não é alegria, mas imagem de alegria. É a busca por uma vida ideal, idílica e perfeita, portanto puramente imaginária. Todos os aspectos da sociedade estão influenciados pelo romantismo. A vida que se almeja nunca é a sua – real – mas a outra. Não há contentamento, mas desejo. Não há satisfação, apenas busca. A família ideal é uma imagem vista em anúncios onde todos sorriem, estão sempre em movimento, o clima é perfeito, todos são belos e se divertem exaustivamente. Eles não são uma família, mas uma ideia. E esta ideia de perfeição tem como missão tornar todas as vidas potencialmente insatisfeitas com o que são e o que tem. É a morte do contentamento e a justificativa das insatisfações. 

O romantismo colabora para a construção de uma sociedade hedônica – onde todos buscam o prazer – e narcisista – que cultua o belo. O racionalismo colabora para que esta sociedade seja também materialista – valorizando apenas o que se vê – e triunfalista – definindo a vida pelos rasos critérios do sucesso público, tangível e contábil. Busca-se uma roupa nova como quem busca o ar que respira. O novo aparelho eletrônico não é apresentado como uma utilidade para o homem, mas como significado para a vida. Coisas triviais e desnecessárias passam a ter maior importância que o real sofrimento humano, a injustiça social, o desespero da alma e os valores da vida. Se o racionalismo mata a esperança, o romantismo faz nascer a futilidade. 

É justamente nesta sociedade cada dia mais melancólica e rasa que Jesus lança o mais fascinante convite: siga-me! Não é um convite solto no ar ou palavra de um guia que simplesmente aponta o rumo, mas uma chamada ao relacionamento. 

O convite de Jesus não promete os prazeres hedônicos, as fenômenos narcisistas, as futilidades materiais ou os aplausos triunfalistas. É um convite que anda na contramão das propostas irrecusáveis da sociedade moderna, pois é precedido por “negue-se a si mesmo” e “tome a sua cruz”. Não nos convida a uma simples caminhada, mas a um coração transformado. Não é um passeio de fim de tarde, mas o início de um relacionamento eterno. 

Possivelmente as três convocações mais enfáticas de toda a Bíblia sejam: amar a Deus, amar ao próximo e fazer discípulos. É na caminhada, seguindo a Jesus, que estes fenômenos acontecem. Passamos a aprender a amar Deus, que primeiro nos amou; começamos a ver os que estão ao nosso lado com olhos de interesse, compaixão e fascínio; passamos a fazer discípulos para que todos nos pareçamos mais com Jesus. 

A caminhada de Jesus não apenas propõe o rumo, mas expõe o significado da vida ao longo do percurso. É no caminho que nossos olhos se abrem e um relacionamento muito além das limitadas propostas racionalistas e românticas se apresenta. É um relacionamento perceptivo, mas além da nossa compreensão. É visivelmente transformador, mas não possui uma fonte mensurável. É resultado de fé, mas dá significado à própria matéria. Não é racionalista, mas confere sentido racional à existência. Não é romântico e fantasioso, mas real e libertador. Não é um encontro com seu próprio ‘eu’, mas com o próprio Criador. 

Observe que o primeiro passo para este relacionamento não é dado por nós, mas pelo que nos convida. Ao ouvir a sua voz... siga-o. Se estiver em outro caminho... volte.

“E Jesus dizia a todos: se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida, a perderá. Mas quem que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará”. (Lucas 9.23-24)

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/razao-romantismo-e-fe