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sábado, 26 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Preocupação social de Jesus

09.10.2013
Do blog ENTRETEXTOSTEOLÓGICOS
Por Craig Blomberg*

Jesus nunca foi francamente político no sentido de procurar influenciar ou usur­par o poder terreno, ou ainda promover um partido político ou um programa socioeconômico específico. 

Quando seus seguidores tentaram pela força torná-lo rei, ele fugiu (Jo 6.15). Quando seus ensinos sobre a preparação para o perigo foram mal-interpretados no Getsêmani, ele curou o ferimento causado pela espada de Pedro (Lc 22.51). Embora tenha purificado o templo, esse foi um protesto secundário, sem efeito duradouro, que pretendia mais profetizar a destruição do templo do que promover uma mudança no sistema. Consequentemente, ele não foi nem um revolucionário social nem um reformador no sentido contemporâneo desses termos. 

Assim procedeu, em parte, porque sabia que o foco central de sua missão era morrer pelos pecados do mundo, mas também porque era radical de­mais para se conformar com uma reforma meramente estrutural: ele sabia que a regeneração do coração é a condição necessária para uma contínua distribuição social ou econômica de recursos. Apesar disso, ele intimou sua audiência a obser­var o que havia de mais importante na Lei, que ele definiu, à laMiquéias 6.8, como justiça, misericórdia e fidelidade (Mt 23.23) — o epítome da preocupação social. Estaremos falseando a sua ética da não-violência e da não-retaliação se a rotularmos simplesmente de passividade: Jesus deve ser comparado com os profe­tas do Antigo Testamento, cujas vigorosas denúncias da injustiça que viam, con­vidavam outros a praticar os justos padrões de Deus.

Ao rejeitar o poder institucional, Jesus convidou seus seguidores a se con­duzirem como servos, rejeitando a maneira autoritária do mundo romano que os cercava (Lc 22.25-27). Ele promoveu “o reino às avessas”, procurando sal­var os perdidos e os párias de sua sociedade, e convidando seus seguidores a fazer o mesmo. De qualquer forma, ele nunca endossou o Estado de forma acrítica. Mas Jesus percebia a possibilidade de mudança duradoura para melhor neste mundo, não pelo governo, nem mesmo pelos indivíduos, mas pelo corpo coletivo de seus seguidores, também conhecido como igreja. Hauerwas e Willimon observaram isso sucintamente: “A igreja não tem uma estratégia so­cial, a igreja é uma estratégia social”. Na história do protestantismo, vimos ten­tativas de criar um estado cristão (esp. pelo calvinismo) e uma atenção no arrependimento individual e na vida cristã (esp. por Lutero), mas é a visão anabatista da igreja coletivamente como o modelo de implementação das éticas do reino de Deus que melhor se aproxima dos contextos e intenções dos ensinos de Jesus.

No mundo de Jesus, sua opção foi a da via media entre o escapismo dos essênios e o fervor revolucionário dos zelotes. Em seus objetivos, ele estaria prova­velmente mais próximo dos fariseus — pretendendo que o povo de Deus vivesse a vida como um todo através de sua vontade —, mas os métodos de Jesus eram bem diferentes. Embora os conceitos venham de Paulo, eles se ajustam bem à vida de Jesus: capacitação não pela Lei, mas pelo Espírito. Quando uma comuni­dade compreende as possibilidades de viver desse modo, os líderes oficiais, políti­cos e religiosos, muitas vezes acabam se sentindo ameaçados, já que sua impotência em criar melhorias semelhantes fica destacada pelo contraste.

Misericórdia e justiça foram as preocupações fundamentais ao longo da vida de Cristo. Os ministérios de João e Jesus haviam sido preditos como os da recons­tituição de Israel através de atributos semelhantes a esses (Lc 1.17,50,72), e os próprios ensinos de João sobre tais tópicos enfim lhe custaram a vida (Lc 3.10- 14,19). O sermão inaugural de Jesus em Nazaré delineou o seu manifesto: as boas novas aos pobres, libertação dos presos, restauração da vista aos cegos, liber­dade aos oprimidos e uma declaração do ano do jubileu (Lc 4.16-21). O seu ministério holístico de curar espírito e corpo se concentrou em particular no desterrado social, nos pobres, nos samaritanos, nos gentios, nas mulheres, nas crianças e nos doentes (especialmente nos “leprosos intocáveis”). As suas parábo­las realçaram a graça e misericórdia de Deus (Lc 15.1-32), mas também o desejo de Deus por justiça social (Lc 18.1-8) que transcende todas as diferenças cultu­rais (Lc 10.25-37; Jo 4.1-42).

No entanto, a área sobre a qual ele mais ensinou foi a da mordomia de nossos bens materiais. Não se pode servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6.19-34 par.). Bem-aventurados são os materialmente pobres, cuja pobreza os leva a proclamar a dependência de Deus (Lc 6.20; Mt 5.3). Previna-se da cobiça ou da acumulação desnecessária de riqueza (Lc 12.13-21) e da vida luxuosa enquanto os pobres do mundo precisarem mendigar (Lc 16.19-31). Use a riqueza mundana para pro­pósitos eternos (Lc 16.1-13). Nenhuma porcentagem foi estabelecida para as doações (recorde-se o trio de passagens em Lc 18.18-30; 19.1-10,11-27), mas em cada exemplo todas as propriedades são, no final das contas, do Senhor. Sem dúvida, a questão mais instigante está em Marcos 8.36: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”.

Implementar a ética do reino de Jesus, especialmente sua ética da preocupação social e em particular numa sociedade democrática moderna, distinta do mundo romano do século I, exige considerável sensibilidade e sofisticação. É certo que temos o direito e a responsabilidade, tanto quanto qualquer um, de buscar o que possa, segundo pensamos, promover nosso “bem comum”. No entanto, não pode­mos nem pensar em contar com a legislação ou com partidos políticos para a reali­zação daquilo que somente o povo de Deus atuando como igreja pode fazer. Devemos assumir uma agenda completamente pró-vida: tentar impedir o aborto e evitar endossar o pecado sexual ou glamorizar a vida familiar desajustada. Mas, ao mesmo tempo, devemos também trabalhar para a melhor qualidade de vida dos nascidos, incluindo cuidados médicos adequados aos pobres, moradia para os sem-teto, empre­gos para os desempregados e alternativas positivas para os que caíram numa vida de crimes. 

Precisamos demonstrar uma preocupação genuína com a destruição do meio-ambiente, também uma criação de Deus. Nas sociedades, o que inclui a nossa, onde o racismo, o sexismo, a separação de classes e o etnocentrismo ainda mantêm milhões de pessoas separadas umas das outras, não sendo oferecidas a todos as mes­mas oportunidades de usufruir os direitos humanos básicos, devemos nos opor à injustiça e promover a libertação dos oprimidos. Entretanto, jamais devemos supor ser isso um fim em si mesmo, para que as pessoas não conquistem liberdades terre­nas sem estarem preparadas para seguirem Jesus Cristo na eternidade.

*Fonte: Jesus e os Evangelhos – Craig Blomberg.
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