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sábado, 25 de janeiro de 2014

O modismo da imparcialidade: Chesterton e a educação

25.01.2014
Do portal ULTIMATO ON LINE, 22.01.14


“O que as pessoas chamam de imparcialidade pode significar simplesmente indiferença, e o que chama parcialidade pode significar apenas atividade mental”. (G.K. Chesterton)

Ao atualizar minhas leituras de G.K. Chesterton para palestras e um curso que darei em breve via internet1, em homenagem aos 140 anos de sua morte esse ano, deparei-me com a afirmativa acima no artigo “O erro da imparcialidade”, da coletânea “Considerando Todas as Coisas” (Editora Ecclesia), e pensei que haveria uma bela aplicação do mesmo para a educação.

Mas antes de falar em educação, tema do qual o autor confessadamente não trata de forma direta, mas que podemos entrever em vários dos seus artigos, vamos ao argumento do autor.

Referindo-se à dimensão jurídica da imparcialidade do júri e do juiz, primeiro ele ventila a possibilidade de que a imparcialidade (forçada) seja capaz de levar a uma injustiça maior que a parcialidade. “Como assim?”, perguntaria o leitor desavisado e desacostumado com a metodologia paradoxal aplicada por Chesterton. Explico: Não se pode impedir as pessoas de partirem de pressupostos (sem os quais, como ele deixa claro no artigo “Filosofia para a sala de aula2”, não seria sequer possível concatenar as ideias em um argumento ou veredicto coerente). Ou seja, ser parcial é nada mais nada menos do que um “sintoma” do que ele chama de “atividade mental”, coisa sem a qual apenas um débil mental pode viver.

Eu costumo dizer mais diretamente que a “neutralidade” é impossível em qualquer que seja o assunto do qual se pretende ensinar alguma coisa, o que não invalida o esforço que se deve empenhar nesse sentido. O professor de matemática precisa estar convencido da álgebra ou da geometria para ensiná-la e nem por isso ele é chamado de proselitista (outra palavra da moda nos meios educacionais atuais) ou dogmático. O mesmo vale para qualquer outro assunto, por mais “subjetivo” que se queira taxá-lo, como infelizmente se taxa hoje o ensino religioso nas escolas, por exemplo. Aliás, uma das suposições mais idiotas que se inventou no Brasil é que “sobre futebol, mulher e religião” não se possa discutir.

Então quer dizer que esses assuntos são “tabus”? Parafraseando o filósofo analítico Wittgenstein, ele já dizia (erroneamente, a meu ver), que “sobre o que não se pode falar, deve-se calar”.

Então o quê? Deve-se dogmatizar intencionalmente? Claro que não, pois esse seria cair do outro lado do cavalo. Chesterton mesmo alerta sobre o chamado viés que “o mero fato de que haja formado uma impressão temporária a partir do conhecimento que tinha dos primeiros fatos – isso não prova que não é um árbitro imparcial; prova apenas que não é um tolo sangue-frio”. 

Hoje, a grande ordem nas escolas é a da imparcialidade, tanto no que diz respeito à moral e questões sexuais quanto à religião. E ela é tomada de forma dogmática, muito baseada em um ceticismo crônico. Contra este, que é um dos maiores “dragões” enfrentados por Chesterton em qualquer nível, ele comenta: “Assume-se que o cético não tem viés; ao passo que o tem muito obviamente em favor do ceticismo”. O mesmo se poderia afirmar do ateísmo, que muitas vezes está por trás da tese da neutralidade religiosa e do chamado “pluralismo religioso”. A eles se aplica o tipo de raciocínio assim formulado por Chesterton “Todos os homens que contam chegaram à minha conclusão; pois, se chegarem à sua, não contam”.

Isso pode muito bem aplicar-se também aquele que tem uma crença definida e quer impô-la a todo o custo às demais pessoas, sendo chamado, com toda a razão, de “fanático religioso3”. 

Mas não pode ser considerado fanático aquele “pensador que pensou completamente e até um fim definitivo” em determinada questão. Do contrário, um juiz seria destituído por dar uma sentença e o júri, por chegar a um veredito. E eu acrescento ainda que, sem pressupostos e pensamentos e valores consequentes e bem fundamentados, a própria escola deixará de ter razão de ser na sociedade.

Notas:

1. O curso vai acontecer de 10 a 28 de março. Mais informações aqui. Inscrições aqui.
2. Disponível aqui. Acesso em 17 de janeiro de 2014. 
3. Veja quanto a esse tema “Religião e Liberdade – a “Revanche de Deus”, Neo-Maniqueísmo e Fanatismo Religioso”, de Luiz Jean Lauand. Disponível aqui. Acesso em 17 jan. 2014.

Gabriele Greggersen é  mestre e doutora em educação (USP) e doutoranda em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-modismo-da-imparcialidade-chesterton-e-a-educacao

domingo, 8 de dezembro de 2013

Quais são os perigos do pós-modernismo?

08.12.2013
Do portal GOT QUESTIONS

Pergunta: "Quais são os perigos do pós-modernismo?"

Resposta:Em termos simples, o pós-modernismo é uma filosofia que afirma que não existe nenhuma verdade objetiva ou absoluta, especialmente em questões de religião e espiritualidade. Quando confrontado com uma afirmação verídica sobre a realidade de Deus e prática religiosa, o ponto de vista do pós-modernismo é exemplificado na declaração "que algo pode ser verdade para você, mas não para mim." Embora tal resposta seja completamente apropriada quando se fala de comidas favoritas ou preferências artísticas, tal mentalidade é perigosa quando aplicada à realidade porque confunde questões de opinião com questões de verdade.

O termo "pós-modernismo" significa literalmente "após o modernismo" e é usado para descrever filosoficamente a era atual, a qual veio depois do modernismo. O pós-modernismo é uma reação (ou talvez mais apropriadamente, uma resposta desiludida) à falha promessa do modernismo de usar apenas a razão humana para melhorar a humanidade e o mundo. Porque uma das crenças do modernismo era a de que absolutos não existem, o pós-modernismo procura "corrigir" as coisas através de eliminar primeiramente a verdade absoluta e tornar tudo (inclusive a religião e ciências empíricas) relativo às crenças e desejos de um indivíduo.

Os perigos do pós-modernismo podem ser vistos como uma espiral descendente que começa com a rejeição da verdade absoluta, o que leva a uma perda de distinções em questões de religião e fé, e culmina em uma filosofia do pluralismo religioso que diz que nenhuma fé ou religião é objetivamente verdadeira e, portanto, ninguém pode afirmar que a sua religião é verdadeira e a outra é falsa.

Perigos do Pós-modernismo - # 1 - Verdade Relativa

A posição do pós-modernismo quanto à verdade relativa é a consequência de muitas gerações de pensamento filosófico. De Agostinho à Reforma, os aspectos intelectuais da civilização ocidental e o conceito de verdade foram dominados pelos teólogos. No entanto, com o Renascimento dos séculos XIV - XVII, os pensadores começaram a elevar a humanidade ao centro da realidade. Se olhássemos os períodos da história como uma árvore genealógica, o Renascimento seria a avó do modernismo e o Iluminismo seria a sua mãe. A afirmação "Penso, logo existo" de Renée Descartes personificava o início da época. Deus não era mais o centro da verdade - o homem era.

O Iluminismo foi, de certa forma, a imposição completa do modelo científico de racionalidade sobre todos os aspectos da verdade. Alegou que somente os dados científicos podiam ser objetivamente entendidos, definidos e defendidos. A verdade como pertencia à religião foi descartada. O filósofo que contribuiu à ideia da verdade relativa foi o prussiano Immanuel Kant e sua obra A Crítica da Razão Pura, que apareceu em 1781. Kant argumentou que o verdadeiro conhecimento de Deus era impossível, por isso ele criou uma divisão de conhecimentos entre "fatos" e "fé". Segundo Kant, "Os fatos não têm nada a ver com religião." O resultado foi que os assuntos espirituais foram atribuídos ao reino da opinião e apenas as ciências empíricas tinham a autoridade de falar a verdade. Enquanto o modernismo acreditava em verdades absolutas na ciência, a revelação especial de Deus (a Bíblia) foi expulsa do reino da verdade e da certeza. Do modernismo vieram o pós-modernismo e as ideias de Frederick Nietzsche. Como o santo patrono da filosofia pós-moderna, Nietzsche se apegou ao "perspectivismo", que diz que todo o conhecimento (incluindo a ciência) é uma questão de perspectiva e interpretação. Muitos outros filósofos têm construído sobre a obra de Nietzsche (por exemplo, Foucault, Rorty e Lyotard) e compartilharam a sua rejeição de Deus e da religião em geral. Eles também rejeitaram qualquer sugestão de verdade absoluta ou, como Lyotard disse, a rejeição de uma metanarrativa (uma verdade que transcende todos os povos e culturas). Esta guerra filosófica contra a verdade objetiva resultou no pós-modernismo sendo completamente avesso a qualquer reivindicação de absolutos. Tal mentalidade naturalmente rejeita qualquer coisa que declare ser a verdade infalível, como a Bíblia.

Perigos do Pós-Modernismo - # 2 - Perda de Discernimento

O grande teólogo Tomás de Aquino disse: "É a tarefa do filósofo fazer distinções." O que Aquino quis dizer é que a verdade depende da capacidade de discernir - da capacidade de diferenciar "isso" e "aquilo" no domínio do conhecimento . No entanto, se a verdade objetiva e absoluta não existe, então tudo se torna uma questão de interpretação pessoal. Para o pensador pós-moderno, o autor de um livro não possui a correta interpretação de sua obra; é o leitor quem realmente determina o que o livro significa - um processo chamado de desconstrução. Além disso, já que há vários leitores (ao invés de um só um autor), existem naturalmente diversas interpretações válidas.

Tal situação caótica torna impossível fazer distinções significativas ou duradouras entre interpretações diferentes porque não existe um padrão que possa ser usado. Isso se aplica especialmente a questões de fé e religião. Tentar fazer distinções adequadas e significativas na área da religião não é mais significativo do que discutir que o chocolate tem um sabor melhor do que baunilha. O pós-modernismo diz que é impossível julgar objetivamente entre reivindicações concorrentes sobre a verdade.

Perigos do Pós-Modernismo - # 3 – Pluralismo

Se a verdade absoluta não existe, e se não houver nenhuma maneira de fazer distinções significativas entre o certo e errado dos diferentes credos e religiões, então a conclusão natural é de que todas as crenças devem ser consideradas igualmente válidas. O termo apropriado para este comportamento do pós-modernismo é "pluralismo filosófico." Com o pluralismo, nenhuma religião tem o direito de pronunciar a si mesma verdadeira e as outras religiões concorrentes falsas ou até inferiores. Para aqueles que defendem o pluralismo religioso filosófico, não existe mais nenhuma heresia, exceto talvez a visão de que há heresias. D.A. Carson reforça as preocupações do evangelicalismo conservador sobre o que considera ser o perigo do pluralismo: "No meu humor mais sombrio, às vezes me pergunto se a cara feia do que chamo de pluralismo filosófico é a mais perigosa ameaça ao evangelho desde o surgimento da heresia gnóstica no segundo século".

Estes perigos progressistas do pós-modernismo - a verdade relativa, uma perda de discernimento e o pluralismo filosófico - representam ameaças ao Cristianismo porque coletivamente desprezam a Palavra de Deus como algo que não tem autoridade real sobre a humanidade e sem capacidade de mostrar-se verdadeira em um mundo de religiões concorrentes. Qual é a resposta do Cristianismo a esses desafios?

Resposta aos Perigos do Pós-modernismo

O Cristianismo afirma ser absolutamente verdadeiro, que existem diferenças significativas em questões de certo / errado (assim como a verdade e falsidade espiritual), e que para ser correto em suas afirmações sobre Deus, todas as reivindicações contrárias das religiões concorrentes devem estar incorretas. Tal postura provoca gritos de "arrogância" e "intolerância" do pós-modernismo. No entanto, a verdade não é uma questão de atitude ou preferência, e quando analisada de perto, as bases do pós-modernismo desmoronam rapidamente, revelando que as reivindicações do Cristianismo são plausíveis e convincentes.

Em primeiro lugar, o Cristianismo afirma que a verdade absoluta existe. Na verdade, Jesus diz especificamente que foi enviado para fazer uma coisa: "Dar testemunho da verdade" (João 18:37). O pós-modernismo diz que nenhuma verdade deve ser afirmada, mas a sua posição é auto-destrutiva - ele afirma pelo menos uma verdade absoluta: a de que nenhuma verdade deve ser afirmada. Isso significa que o pós-modernismo acredita na verdade absoluta. Os seus filósofos escrevem livros afirmando coisas que esperam que seus leitores abracem como verdade. Colocando em termos simples, um professor disse: "Quando alguém diz que não há tal coisa como verdade, eles estão pedindo-lhe para não acreditar neles, então não acredite."

Em segundo lugar, o Cristianismo afirma que existem diferenças significativas entre a fé cristã e todas as outras crenças. Deve ser entendido que os que afirmam que distinções significativas não existem estão, na verdade, fazendo uma distinção. Estão tentando mostrar uma diferença entre o que eles acreditam ser verdade e o que o cristão acredita. Autores pós-modernos esperam que os seus leitores cheguem às conclusões certas sobre o que escreveram e corrigirão aqueles que interpretam o seu trabalho de forma diferente. Mais uma vez, a sua posição e filosofia revelam que o pós-modernismo é auto-destrutivo porque ansiosamente fazem distinções entre o que acreditam ser correto e o que veem como sendo falso.

Finalmente, o Cristianismo afirma ser uma verdade universal no que diz respeito à condição perdida do homem diante de Deus, ao sacrifício de Cristo em favor da humanidade caída e à separação entre Deus e quem opta por não aceitar o que Deus diz sobre o pecado e a necessidade de arrependimento. Quando Paulo dirigiu-se aos filósofos estoicos e epicuristas na reunião do Areópago, ele disse: "Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam" (Atos 17:30). A declaração de Paulo não era "isto é verdade para mim, mas pode não ser verdade para você"; ao contrário, era um comando exclusivo e universal (ou seja, uma metanarrativa) de Deus para todos. Qualquer pós-modernista que diga que Paulo está errado está cometendo um erro contra a sua própria filosofia pluralista, a qual afirma que nenhuma fé ou religião está incorreta. Mais uma vez, o pós-modernista viola a sua própria visão de que toda religião é igualmente verdadeira.

Assim como não é arrogante quando um professor de matemática insiste que 2 +2 = 4 ou quando um serralheiro insiste que apenas uma chave se encaixará na porta trancada, não é arrogante que o cristão se erga contra o pensamento pós-moderno e insista que o Cristianismo é verdadeiro e qualquer coisa que se oponha a ele é falsa. A verdade absoluta existe, assim como existem consequências de estar errado. Embora o pluralismo seja até desejável em matéria de preferências alimentares, não é útil em questões sobre o certo e errado. O cristão deve apresentar a verdade de Deus em amor e simplesmente perguntar a qualquer pós-modernista irritado com as reivindicações exclusivistas do Cristianismo: "Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?" (Gálatas 4:16).




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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/perigos-pos-modernismo.html