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sábado, 28 de dezembro de 2013

Relativismo, absolutismo e a burrificação da teologia brasileira

28.12.2013
Do portal NAPEC - APOLOGÉTICA CRISTÃ
Durante dois anos dediquei parte do meu tempo para discutir com relativistas ateus acerca da existência de uma verdade universal e absoluta. Sabe o que eu descobri? Que algumas pessoas têm uma vontade enorme de discordar, mesmo em face das maiores evidências. A segunda grande lição que tirei foi que o relativista é um debatedor desleal; como debater a verdade com alguém que crê que todas as proposições são igualmente verdadeiras (não havendo, conseqüentemente, nenhuma verdade?).
Mas se há (e eu tenho absoluta certeza que há!) uma verdade acerca da verdade, é que ela independe da nossa opinião sobre ela. Antigamente a humanidade achava que a terra era plana, mas a crença daquele homem primitivo e medieval não pode mudar a verdade de que a terra é redonda. Eles estavam bem intencionados, mas fracassaram. A verdade sempre existirá, independente do modo como nos relacionamos com ela.
Neste mundo pós-moderno com sua porteira aberta para o absurdo, não faltam cidadãos politicamente corretos para tratar de convencer-nos que a moralidade, por exemplo, nada mais é do que uma convenção social. Não existe um comportamento certo ou errado; não há regras exteriores a nós para se cumprir, tudo começa e termina em nós mesmos. Contudo, mesmo o maior dos relativistas abominará a idéia de ter uma esposa “relativamente fiel”. Neste caso, ele está absolutamente seguro que a fidelidade é um padrão moral legítimo, verdadeiro. Para muitos, todo comportamento é correto, até o dia que um tarado pervertido estupre a sua filhinha indefesa. Isso acontece porque a verdade nem sempre é evidente em nossas ações, mas pode ser percebida em nossas reações.
A exegese e a hermenêutica também tem sofrido influencia do relativismo. Há uma multidão de crentes relativizados, tratando de convencer-nos que o balão é azul, roxo e verde ao mesmo tempo. Para estes pseudo-pensadores, as palavras de Jesus tem um milhão de interpretações possíveis (e igualmente válidas). Quanta frescura! É claro que a Bíblia às vezes usa metáforas, analogias e parábolas, mas nestes casos o sentido do texto é claro. Do mesmo modo, há inúmeras passagens que são literais, e o sentido destas palavras é igualmente claro.
Às vezes penso que esta idéia burrificada de que cada um deve interpretar a Bíblia a sua maneira, e que verdades contradizentes podem ser igualmente verdadeiras é produto do péssimo sistema educativo brasileiro. A grande maioria dos alunos do ensino médio é incapaz de interpretar textos simples! Entende a gravidade do problema? Os nossos queridos relativistas morais e religiosos são, em grande parte, vítimas deste processo.
Por tudo isso que eu afirmo sem medo de errar: “não é o excesso de intelectualidade que está sufocando a igreja brasileira, mas a ausência dela”. E nestes dias confusos, quando os homens “chamam o mal de bem e o bem de mal”, nada pode ser mais normal do que uma multidão de ignorantes sendo aclamados como pensadores e filósofos, enquanto os verdadeiros pensadores são relegados ao anonimato. A burrice virou sinônimo de intelectualidade, e aqueles que usam o cérebro e contrariam as convenções pós-modernistas são chamados de intolerantes e irracionais.
Lamentável, desconcertante, triste, mas… não menos verdadeiro.
*****

domingo, 8 de dezembro de 2013

Quais são os perigos do pós-modernismo?

08.12.2013
Do portal GOT QUESTIONS

Pergunta: "Quais são os perigos do pós-modernismo?"

Resposta:Em termos simples, o pós-modernismo é uma filosofia que afirma que não existe nenhuma verdade objetiva ou absoluta, especialmente em questões de religião e espiritualidade. Quando confrontado com uma afirmação verídica sobre a realidade de Deus e prática religiosa, o ponto de vista do pós-modernismo é exemplificado na declaração "que algo pode ser verdade para você, mas não para mim." Embora tal resposta seja completamente apropriada quando se fala de comidas favoritas ou preferências artísticas, tal mentalidade é perigosa quando aplicada à realidade porque confunde questões de opinião com questões de verdade.

O termo "pós-modernismo" significa literalmente "após o modernismo" e é usado para descrever filosoficamente a era atual, a qual veio depois do modernismo. O pós-modernismo é uma reação (ou talvez mais apropriadamente, uma resposta desiludida) à falha promessa do modernismo de usar apenas a razão humana para melhorar a humanidade e o mundo. Porque uma das crenças do modernismo era a de que absolutos não existem, o pós-modernismo procura "corrigir" as coisas através de eliminar primeiramente a verdade absoluta e tornar tudo (inclusive a religião e ciências empíricas) relativo às crenças e desejos de um indivíduo.

Os perigos do pós-modernismo podem ser vistos como uma espiral descendente que começa com a rejeição da verdade absoluta, o que leva a uma perda de distinções em questões de religião e fé, e culmina em uma filosofia do pluralismo religioso que diz que nenhuma fé ou religião é objetivamente verdadeira e, portanto, ninguém pode afirmar que a sua religião é verdadeira e a outra é falsa.

Perigos do Pós-modernismo - # 1 - Verdade Relativa

A posição do pós-modernismo quanto à verdade relativa é a consequência de muitas gerações de pensamento filosófico. De Agostinho à Reforma, os aspectos intelectuais da civilização ocidental e o conceito de verdade foram dominados pelos teólogos. No entanto, com o Renascimento dos séculos XIV - XVII, os pensadores começaram a elevar a humanidade ao centro da realidade. Se olhássemos os períodos da história como uma árvore genealógica, o Renascimento seria a avó do modernismo e o Iluminismo seria a sua mãe. A afirmação "Penso, logo existo" de Renée Descartes personificava o início da época. Deus não era mais o centro da verdade - o homem era.

O Iluminismo foi, de certa forma, a imposição completa do modelo científico de racionalidade sobre todos os aspectos da verdade. Alegou que somente os dados científicos podiam ser objetivamente entendidos, definidos e defendidos. A verdade como pertencia à religião foi descartada. O filósofo que contribuiu à ideia da verdade relativa foi o prussiano Immanuel Kant e sua obra A Crítica da Razão Pura, que apareceu em 1781. Kant argumentou que o verdadeiro conhecimento de Deus era impossível, por isso ele criou uma divisão de conhecimentos entre "fatos" e "fé". Segundo Kant, "Os fatos não têm nada a ver com religião." O resultado foi que os assuntos espirituais foram atribuídos ao reino da opinião e apenas as ciências empíricas tinham a autoridade de falar a verdade. Enquanto o modernismo acreditava em verdades absolutas na ciência, a revelação especial de Deus (a Bíblia) foi expulsa do reino da verdade e da certeza. Do modernismo vieram o pós-modernismo e as ideias de Frederick Nietzsche. Como o santo patrono da filosofia pós-moderna, Nietzsche se apegou ao "perspectivismo", que diz que todo o conhecimento (incluindo a ciência) é uma questão de perspectiva e interpretação. Muitos outros filósofos têm construído sobre a obra de Nietzsche (por exemplo, Foucault, Rorty e Lyotard) e compartilharam a sua rejeição de Deus e da religião em geral. Eles também rejeitaram qualquer sugestão de verdade absoluta ou, como Lyotard disse, a rejeição de uma metanarrativa (uma verdade que transcende todos os povos e culturas). Esta guerra filosófica contra a verdade objetiva resultou no pós-modernismo sendo completamente avesso a qualquer reivindicação de absolutos. Tal mentalidade naturalmente rejeita qualquer coisa que declare ser a verdade infalível, como a Bíblia.

Perigos do Pós-Modernismo - # 2 - Perda de Discernimento

O grande teólogo Tomás de Aquino disse: "É a tarefa do filósofo fazer distinções." O que Aquino quis dizer é que a verdade depende da capacidade de discernir - da capacidade de diferenciar "isso" e "aquilo" no domínio do conhecimento . No entanto, se a verdade objetiva e absoluta não existe, então tudo se torna uma questão de interpretação pessoal. Para o pensador pós-moderno, o autor de um livro não possui a correta interpretação de sua obra; é o leitor quem realmente determina o que o livro significa - um processo chamado de desconstrução. Além disso, já que há vários leitores (ao invés de um só um autor), existem naturalmente diversas interpretações válidas.

Tal situação caótica torna impossível fazer distinções significativas ou duradouras entre interpretações diferentes porque não existe um padrão que possa ser usado. Isso se aplica especialmente a questões de fé e religião. Tentar fazer distinções adequadas e significativas na área da religião não é mais significativo do que discutir que o chocolate tem um sabor melhor do que baunilha. O pós-modernismo diz que é impossível julgar objetivamente entre reivindicações concorrentes sobre a verdade.

Perigos do Pós-Modernismo - # 3 – Pluralismo

Se a verdade absoluta não existe, e se não houver nenhuma maneira de fazer distinções significativas entre o certo e errado dos diferentes credos e religiões, então a conclusão natural é de que todas as crenças devem ser consideradas igualmente válidas. O termo apropriado para este comportamento do pós-modernismo é "pluralismo filosófico." Com o pluralismo, nenhuma religião tem o direito de pronunciar a si mesma verdadeira e as outras religiões concorrentes falsas ou até inferiores. Para aqueles que defendem o pluralismo religioso filosófico, não existe mais nenhuma heresia, exceto talvez a visão de que há heresias. D.A. Carson reforça as preocupações do evangelicalismo conservador sobre o que considera ser o perigo do pluralismo: "No meu humor mais sombrio, às vezes me pergunto se a cara feia do que chamo de pluralismo filosófico é a mais perigosa ameaça ao evangelho desde o surgimento da heresia gnóstica no segundo século".

Estes perigos progressistas do pós-modernismo - a verdade relativa, uma perda de discernimento e o pluralismo filosófico - representam ameaças ao Cristianismo porque coletivamente desprezam a Palavra de Deus como algo que não tem autoridade real sobre a humanidade e sem capacidade de mostrar-se verdadeira em um mundo de religiões concorrentes. Qual é a resposta do Cristianismo a esses desafios?

Resposta aos Perigos do Pós-modernismo

O Cristianismo afirma ser absolutamente verdadeiro, que existem diferenças significativas em questões de certo / errado (assim como a verdade e falsidade espiritual), e que para ser correto em suas afirmações sobre Deus, todas as reivindicações contrárias das religiões concorrentes devem estar incorretas. Tal postura provoca gritos de "arrogância" e "intolerância" do pós-modernismo. No entanto, a verdade não é uma questão de atitude ou preferência, e quando analisada de perto, as bases do pós-modernismo desmoronam rapidamente, revelando que as reivindicações do Cristianismo são plausíveis e convincentes.

Em primeiro lugar, o Cristianismo afirma que a verdade absoluta existe. Na verdade, Jesus diz especificamente que foi enviado para fazer uma coisa: "Dar testemunho da verdade" (João 18:37). O pós-modernismo diz que nenhuma verdade deve ser afirmada, mas a sua posição é auto-destrutiva - ele afirma pelo menos uma verdade absoluta: a de que nenhuma verdade deve ser afirmada. Isso significa que o pós-modernismo acredita na verdade absoluta. Os seus filósofos escrevem livros afirmando coisas que esperam que seus leitores abracem como verdade. Colocando em termos simples, um professor disse: "Quando alguém diz que não há tal coisa como verdade, eles estão pedindo-lhe para não acreditar neles, então não acredite."

Em segundo lugar, o Cristianismo afirma que existem diferenças significativas entre a fé cristã e todas as outras crenças. Deve ser entendido que os que afirmam que distinções significativas não existem estão, na verdade, fazendo uma distinção. Estão tentando mostrar uma diferença entre o que eles acreditam ser verdade e o que o cristão acredita. Autores pós-modernos esperam que os seus leitores cheguem às conclusões certas sobre o que escreveram e corrigirão aqueles que interpretam o seu trabalho de forma diferente. Mais uma vez, a sua posição e filosofia revelam que o pós-modernismo é auto-destrutivo porque ansiosamente fazem distinções entre o que acreditam ser correto e o que veem como sendo falso.

Finalmente, o Cristianismo afirma ser uma verdade universal no que diz respeito à condição perdida do homem diante de Deus, ao sacrifício de Cristo em favor da humanidade caída e à separação entre Deus e quem opta por não aceitar o que Deus diz sobre o pecado e a necessidade de arrependimento. Quando Paulo dirigiu-se aos filósofos estoicos e epicuristas na reunião do Areópago, ele disse: "Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam" (Atos 17:30). A declaração de Paulo não era "isto é verdade para mim, mas pode não ser verdade para você"; ao contrário, era um comando exclusivo e universal (ou seja, uma metanarrativa) de Deus para todos. Qualquer pós-modernista que diga que Paulo está errado está cometendo um erro contra a sua própria filosofia pluralista, a qual afirma que nenhuma fé ou religião está incorreta. Mais uma vez, o pós-modernista viola a sua própria visão de que toda religião é igualmente verdadeira.

Assim como não é arrogante quando um professor de matemática insiste que 2 +2 = 4 ou quando um serralheiro insiste que apenas uma chave se encaixará na porta trancada, não é arrogante que o cristão se erga contra o pensamento pós-moderno e insista que o Cristianismo é verdadeiro e qualquer coisa que se oponha a ele é falsa. A verdade absoluta existe, assim como existem consequências de estar errado. Embora o pluralismo seja até desejável em matéria de preferências alimentares, não é útil em questões sobre o certo e errado. O cristão deve apresentar a verdade de Deus em amor e simplesmente perguntar a qualquer pós-modernista irritado com as reivindicações exclusivistas do Cristianismo: "Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?" (Gálatas 4:16).




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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/perigos-pos-modernismo.html

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Novidades ou a eterna Escritura?

14.11.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO*


NOVIDADES OU A ETERNA ESCRITURA?

Texto Básico: 2 Timóteo 3.14-17

Para ler e meditar durante a semana
 
Domingo
– Sl 19 – A revelação divina
Segunda
– At 2.17-18 – Os últimos dias;
Terça
– Dt 6.6-8 – A educação cristã;
Quarta
– 2Tm 1.4-5 – Eunice e Loide;
Quinta
– 2Tm 3.10-11 – Paulo e Timóteo;
Sexta
– Rm 1.16-17 – O poder do evangelho;
Sábado
– 2Pe 1.20-21 – A doutrina da inspiração

INTRODUÇÃO

Nosso tempo é contraditório no que diz respeito à Bíblia. Por um lado, ela circula entre nós livremente. Hoje, a Bíblia é publicada com comentários específicos para diferentes grupos de pessoas e encadernada de tantas formas diferentes, que é possível encontrar edições para todos os tipos e para todos os gostos. Por outro lado, vivemos um tempo de analfabetismo bíblico e de falta de apego à Escritura Sagrada. Na mesma proporção em que a Bíblia é aproximada das pessoas, elas se afastam dela.

Nesta lição abordaremos o apego que o cristão precisará ter à Palavra de Deus, diante da oposição doutrinária sofrida pela igreja.

I. O CONTEXTO

1. O que Paulo diz a Timóteo que aconteceria nos últimos dias? Como Timóteo deveria se comportar? Por quê?

A segunda carta a Timóteo foi escrita pelo apóstolo Paulo no fim de sua vida. Muito provavelmente ele a escreveu quando estava preso em Roma, na iminência de ser executado a qualquer momento. Essa proximidade do martírio pode ser inferida do conteúdo da própria carta: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado” (2Tm 4.6). Essa é a razão pela qual essa carta possui um tom exortativo – as últimas palavras de Paulo. É como um testamento.

Umas das advertências de Paulo a Timóteo, nessa carta, se refere ao florescimento do mal nos últimos dias. Ele alerta o jovem pastor dizendo que “nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis” (2Tm 3.1). Esses tempos difíceis seriam, primeiramente, resultado do modo de vida dos homens (2Tm 3.2-5), e da presença do falso ensino que seduz as pessoas e as corrompe (2Tm 3.6-9).

Esses tempos difíceis seriam vividos em um momento que ele denomina “últimos dias”. Comumente essa expressão tem sido interpretada como uma referência a um curto período de tempo exatamente anterior à segunda vinda de Cristo. Todavia, quando a Bíblia usa essa expressão, refere-se a um período mais longo, que vai desde a primeira até a segunda vinda de Cristo.

No sermão do Pentecostes, por exemplo, Pedro interpreta o acontecido naquela ocasião, como sendo o derramamento do Espírito Santo, profetizado pelo profeta Joel: “… acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos, até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (At 2.17-18). Pedro entendia que estava vivendo os últimos dias. 

Semelhantemente, a orientação de Paulo a Timóteo quanto ao florescimento do mal não se refere a um tempo futuro, do qual Timóteo não participaria, mas ao período em que viviam. A ordem dada no v. 5, “foge também destes”, é evidência disso. Trata-se de uma advertência para o presente e não para o futuro.
 
II. A PÓS-MODERNIDADE E O APEGO ÀS NOVIDADES

2. Segundo o sociólogo Bauman, o que caracteriza a sociedade contemporânea? Qual impacto isso tem produzido na igreja?

O falso ensino, no entanto, também está presente em nossos dias e se encaixa de maneira justa ao modo de ser contemporâneo. Uma das características mais marcantes do modo de ser do mundo pós-moderno é a ênfase no caráter fluido, dinâmico e mutável das experiências humanas.

Zygmunt Bauman, um estudioso da sociedade contemporânea, afirma que nós vivemos, nos últimos anos, a transição entre um período histórico denominado “modernidade sólida” para a “modernidade líquida”. Bauman diz que há alguns anos, vivíamos um tempo de maior solidez, em que as coisas estavam mais claramente estabelecidas, o tempo do preto no branco. 

Naquele tempo, a permanência era considerada uma virtude. As pessoas tinham orgulho da festa de aposentadoria realizada na empresa em que haviam começado a sua carreira profissional. Um indivíduo entrava em determinada empresa, trabalhava nela por 30 anos e, quando saía, recebia uma festa, um relógio de ouro de presente, como símbolo da solidez de sua carreira profissional naquele lugar.

Hoje, contudo, vivemos um tempo de liquidez, de fluidez, em que as coisas não estão tão claramente definidas. Um tempo marcado pelo relativismo. A permanência não é mais vista como virtude, mas como defeito. Para nossos dias, virtude é a mudança, a capacidade constante de adaptação ao novo. Neste tempo, se alguém se encontra trabalhando há mais de três ou quatro anos em uma empresa, corre o risco de ser considerado um indivíduo acomodado, ou até mesmo um falido profissionalmente. De acordo com pesquisas recentes, o tempo médio de um jovem profissional da área de tecnologia em uma empresa é de mais ou menos oito meses. De maneira ilustrativa, Bauman compara o homem contemporâneo a um turista, é um sujeito ávido por mudanças. Ele está sempre de passagem, contempla coisas, relaciona-se temporariamente com elas, mas não se compromete.

Essa característica do homem contemporâneo afeta as mais diversas áreas da vida humana e as mais diferentes manifestações do homem na sociedade. A religião não foge da influência desse modo de ser. Alguém já disse que o mundo contemporâneo viu nascer um novo tipo de crente: “o crente macaco”, que pula de galho em galho, ou de igreja em igreja, não se fixando em lugar algum. O maior problema é que não apenas as religiões em geral sofrem com essa influência, mas o próprio cristianismo.

Mais especificamente ainda, a pregação evangélica também sofre a influência dessa mentalidade turística. Basta olhar para o cenário evangélico brasileiro, para perceber que ele é ávido por novidades. Nesse cenário, ondas vêm e vão a cada instante. Dia após dia, as novas doutrinas e práticas evangélicas surgem. E tão rapidamente quanto surgem, são substituídas por outras. O poeta Sérgio Pimenta escreveu sobre essa tendência de mudança do falso ensino, com as seguintes palavras: “Toda a novidade que vem no vento, ao peso da força, na rotina cai na monotonia do pensamento, que à busca de outra novidade sai”. Essa sede do homem contemporâneo por novidades, e o caráter fortemente reprodutivo do falso ensino, torna muito atual a orientação de Paulo ao jovem pastor Timóteo.

III. O CRISTÃO E O APEGO À PALAVRA DE DEUS

3. O que Timóteo deveria fazer para combater o paganismo de seu tempo? Por quê?

Após apresentar um tempo difícil, caracterizado por uma moralidade ímpia e pela presença do falso ensino, Paulo orienta o líder Timóteo sobre como reagir a essas circunstâncias.

Contrariamente a essa tendência de apego às novidades, Paulo orienta Timóteo a se apegar àquilo que ele já havia aprendido: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado” (v. 14). A conjunção adversativa “porém” estabelece que a atitude de Timóteo deveria ser contrária à dos perversos e falsos mestres. Ele deveria seguir um curso exatamente oposto àquele seguido pelos falsos mestres e seus adeptos, não se amoldando às novidades, mas adotando uma posição conservadora, isto é, conservando o ensino aprendido.

Em seguida, o texto apresenta três razões pelas quais a posição conservadora era desejável para Timóteo e, consequentemente, para todo cristão:

A. O poder do conhecimento adquirido

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado” (v.14).

A primeira razão pela qual Timóteo deveria permanecer no que aprendera era porque o conhecimento recebido por ele era mais do que informação teórica, era o poder de Deus que transformara a sua vida. A expressão “foste inteirado” significa literalmente “foste convencido”. Com essa expressão, o apóstolo deseja lembrar Timóteo que ele não havia apenas aprendido intelectualmente a verdade, mas que o conhecimento possuído por ele fora aplicado ao seu coração pelo Espírito Santo e havia transformado seu ser de maneira integral.

O conhecimento do evangelho é transformador. “O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). Timóteo, portanto, tinha experiência própria de que o conhecimento recebido por ele era um conhecimento verdadeiro do evangelho. Por isso, apesar de todas as novidades, ele deveria se apegar ao conhecimento que havia recebido.
B. A fidedignidade dos instrutores

“Sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras” (v. 14-15). A segunda razão apresentada por Paulo a Timóteo, para que, diante das novidades, se apegasse ao conhecimento outrora recebido, foi a fidedignidade dos seus instrutores.

Ao lembrar do aprendizado que Timóteo recebeu na infância, Paulo tem em mente sua mãe e sua avó, Eunice e Loide, respectivamente. Elas eram judias e lembraram-se da orientação do Senhor dada ao seu povo, recém-saído do Egito: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos” (Dt 6.6-8). Isto é comprovado pelas palavras do apóstolo no início dessa carta. Falando do desejo de encontrar em breve o jovem Timóteo, ele afirma: “estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti” (2Tm 1.4-5).

Por outro lado, Timóteo havia também sido instruído pelo próprio apóstolo. Ele era seu discípulo, no sentido mais profundo da Palavra. Timóteo é descrito por Paulo como aquele que estava seguindo, de perto, o ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, perseguições, e sofrimentos do apóstolo (2Tm 3.10-11).

A segunda razão, portanto, pela qual Timóteo não deveria se afastar do ensino recebido, mas se apegar a ele, era o caráter fidedigno de seus instrutores. As verdades nas quais Timóteo cria não haviam sido transmitidas a ele por aventureiros sagazes, mas por testemunhas de fidelidade comprovada; mulheres piedosas e o apóstolo de Cristo.

C. A fonte do conhecimento adquirido

4. “Toda Escritura é inspirada por Deus”. O que isso significa?

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (v. 16-17).

Mais importante, contudo, é a terceira razão apresentada pelo apóstolo a Timóteo. Diante das novidades, ele deveira se apegar ao conhecimento outrora recebido, por causa da origem divina do conhecimento adquirido.

O conhecimento recebido por Timóteo era o das “sagradas letras” (v. 15), uma referência à Escritura Sagrada, que é “inspirada por Deus” (v. 16). O termo usado pelo apóstolo (theopneustos), traduzido por “inspirada”, significa literalmente “expirada” ou “soprada”. Toda a Escritura deve sua origem ao sopro de Deus. Deus é a fonte da Escritura Sagrada. E isso significa que, embora tenha sido escrita por homens, a Bíblia é a revelação de Deus. Tais homens, quando registraram a revelação divina, foram guardados pelo Espírito Santo de Deus, de modo que, mesmo mantendo suas características individuais, registraram tudo o que Deus desejou que fosse registrado, e tão somente isso. A esse respeito Pedro afirma: “…não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade…” (2Pe 1.16). E ainda: “…nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21).

Dentre as consequências de ser Deus o autor último das Escrituras Sagradas, está o fato de que elas são necessárias para que alguém se torne um bom servo de Cristo. Ela é útil para ensinar, para apontar os erros nos quais estamos incorrendo, para nos guiar pelo caminho correto e para nos santificar na justiça de Deus.

O salmista Davi também nos apresenta outros diversos benefícios da Escritura na vida daquele que a recebe: “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos” (Sl 19.7-10). Por isso, a Escritura Sagrada é o mais básico recurso do discípulo de Cristo, o que torna o homem de Deus “perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (v.17).

Eis a terceira e mais importante razão pela qual Timóteo deveria se apegar ao conhecimento recebido: o fato de que seu conhecimento era o conhecimento da Palavra revelada de Deus, do qual o próprio Deus é a fonte.

CONCLUSÃO

5. Elabore um texto que resuma o conteúdo desta lição.

Timóteo vivia num tempo em que as falsas doutrinas proliferavam. Assim como naquele tempo, hoje novas doutrinas surgem a cada dia. Diante desse quadro, Paulo orientou Timóteo a que, como obreiro do Senhor, se apegasse ao conhecimento anteriormente recebido, pois tal conhecimento era poder de Deus, recebido por meio de testemunhas fiéis, exalado da Revelação de Deus.

6. Como você pode aplicar o que aprendeu hoje de modo eficiente?

APLICAÇÃO

Qual é a novidade do momento?

Que nova “doutrina” você ouviu? Seja qual for, a orientação de Paulo a Timóteo se aplica a você. Não se deixe cativar pelo sabor da novidade. Não dê ouvidos à voz da maioria. Apegue-se à Palavra de Deus.

Leia a Bíblia. Procure conhecer o seu conteúdo. Creia na Bíblia. Lembre-se de quantos cristãos deram sua vida para que a verdade do evangelho chegasse até você. Pense no que o verdadeiro evangelho fez na vida de tantas pessoas e até sociedades. Sobretudo, lembre-se do fato de que Deus é a fonte da Escritura Sagrada.

*Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Cartas aos Líderes das Igrejas e Cartas Gerais. Usado com permissão.
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Fonte:http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/novidades-ou-a-eterna-escritura/

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O RELATIVISMO PÓS-MODERNO

23.10.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO, 
Por  Gene Edward Jr., Editora Cultura Cristã*


Texto Básico: 1 Timóteo 3.14-15

Leitura Diária:

Domingo:  Sl 19 – O valor da verdade de Deus
Segunda:  Sl 119 – A lei e a verdade
Terça:  Rm 1.18-32 – O pecado e a verdade
Quarta:  Jo 14.1-14 – Jesus Cristo e a verdade
Quinta:  Jo 16.1-24 – O Espírito Santo e a verdade
Sexta:  1Jo 1.5–2.6 – O teste da verdade
Sábado:  2Jo – Santificação e verdade

Introdução

De maneira geral, é possível afirmar que a vida cristã possui características e objetivos comuns em todos os momentos da história. A ordem de “santificar a Cristo no coração” (1Pe 3.15), por exemplo, se aplica a todos os cristãos em todos os momentos históricos. No entanto, é possível afirmar que cada momento histórico apresenta desafios próprios para o cristianismo. Nóssomos chamados por Deus para viver a vida cristã num tempo específico. Por isso, no exercício de santificar a Cristo no coração, por exemplo, cristãos de diferentes épocas se deparam com diferentes dilemas e desafios.

Nesta lição procuraremos avaliar à luz da Bíblia, um desafio próprio para os cristãos contemporâneos, que vivem na chamada pósmodernidade.

I. O relativismo dos tempos pós-modernos

Estudiosos de nosso tempo têm o denominado de pós-modernidade. Esta nomenclatura revela que o momento histórico em que vivemos é um momento que segue o período moderno. No entanto, a relação entre um momento histórico (modernidade) e outro (pós-modernidade) não é apenas temporal ou histórica, mas também conceitual e cultural. Em outras palavras, a pósmodernidade não é apenas um período que segue a modernidade em termos temporais, mas um período que segue a modernidade conceitual e culturalmente, rompendo, de certa forma, com aspectos do modo de pensar, viver e se organizar, próprio da modernidade.

Uma das características mais marcantes da pós-modernidade é o rompimento com o que poderíamos chamar de universal ou geral, em prol do particular ou individual. Na modernidade se pensava na história humana de modo geral, em termos de uma história universal. Hoje em dia o que importa é a história individual, quando muito a de um grupo de pessoas, mas não se costuma falar mais em uma história da humanidade.Na modernidade se falava também em uma verdade universal e absoluta. Para nossos dias, no entanto, falar em uma verdade universal e absoluta é algo quase que inaceitável. Por fim, a modernidade podia falar de um modo de agir universal e norteado por valores absolutos, enquanto para a pós-modernidade este é um discurso ultrapassado. Isto não significa que a modernidade tenha sido necessariamente cristã, mas apenas que ela teve em comum com a visão de mundo cristã o fato de assumir o universal e absoluto.

Ao contrário da modernidade, nosso tempo tem como princípio o relativismo. Tendo valorizado o particular, em detrimento do universal, a pós-modernidade abandonou a ideia de absolutos e assumiu o relativismo. O relativismo é a teoria de que a base para os julgamentos sobre conhecimento, cultura ou ética difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações (Dicionário de Ética Cristã, Carl Henry, Editora Cultura Cristã).

Esse relativismo contemporâneo se aplica aos três elementos apresentados no parágrafo anterior: história, conhecimento e ética. A pós-modernidade questiona, primeiramente, a existência de uma história comum que possa, de alguma forma, identificar os homens de modo universal. Em segundo lugar, no âmbito do conhecimento, questiona a existência de uma verdade que seja universal e absoluta. Por consequência, questiona por fim a possibilidade de se estabelecer princípios morais que devam reger a conduta de todas as pessoas universalmente. Nosso tempo rejeitaqualquer critério universalmente aceito para se medir valores (Carl Henry).

Esta teoria consideravelmente complexa (o relativismo) pode ser vista nas palavras e ações do dia a dia das pessoas em nosso tempo. Provavelmente a maioria dos leitores já consegue perceber o quanto o homem contemporâneo se preocupa com a sua história individualmente, como se ela não estivesse relacionada à história de modo geral. Provavelmente, a maioria dos leitores deste texto já teve uma discussão encerrada com as seguintes palavras: “não vale a pena discutir, afinal, você tem a sua verdade e eu tenho a minha”. Ou, quem nunca foi perguntado de forma retórica, depois de ter emitido um juízo de valor sobre algo ou alguém: “quem é você para julgar?”. Essas palavras e ações revelam como o relativismo tomou conta de nossos dias.

A igreja, enquanto comunidade plantada e imersa em seu tempo histórico sofre as consequências deste relativismo. Uma das maiores evidências da influência do relativismo na igreja contemporânea é sua tendência ao ecumenismo. A defesa da aceitação indiscriminada de toda e qualquer crença revela o quanto o caráter exclusivista do evangelho soa mal aos ouvidos contemporâneos. Outra característica que tem se tornado cada vez mais comum no meio da igreja é o questionamento da necessidade e a ausência da disciplina eclesiástica. Esta prática revela que não apenas o relativismo quanto ao conhecimento tem adentrado a igreja, mas também o relativismo ético-moral.

II. O relativismo e a Bíblia

O relativismo é uma teoria coerente com os pressupostos que a definem. Mas seria coerente com a cosmovisão cristã? Uma rápida consideração das verdades bíblicas é suficiente para revelar que o relativismo não se sustenta diante de alguns elementos fundamentais da fé cristã.

A. A Bíblia e a história

Ao considerarmos a história à luz da Bíblia, concluímos que, embora seja possível falar em histórias individuais, existem elementos fundamentais que na história humana que identifica todos os indivíduos, universalmente.

Pense no tema bíblico básico: Criação, Queda, e Redenção. A narrativa bíblica afirma que Deus é o autor da realidade. Tudo aquilo que existe foi criado por Deus (Gn 1.1). O homem não é mero produto de uma evolução biológica, mas um ser criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). A origem do homem, portanto, identifica-nos todos uns com os outros. Além da criação, somos identificados pela queda em pecado. A rebeldia não fora uma característica específica do primeiro casal, mas é algo que se perpetua nas gerações. A Bíblia é contundente em afirmar que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23); ou ainda que “não há um justo sequer” (Rm 3.10). Deste modo, nossa história se identifica com a história de todos os demais homens, não apenas pela criação, mas também pela queda. Por fim, nossa história se identifica com a história de todos os demais pela redenção. É claro que a identificação, neste ponto, não se dá pelo fato de serem todos salvos, mas pelo fato de que nosso destino eterno se define pela nossa relação com Jesus Cristo e o plano redentor de Deus nele proposto. Mesmo distinguindo entre salvos e perdidos, a Bíblia identifica todos eles em termos finais, ao afirmar, por exemplo, que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.10-11).

A tríade Criação, Queda e Redenção é oelemento unificador da história humana. Embora existam particularidades na história dos indivíduos, existem aspectos em que a história é universal; a história do homem criado à imagem de Deus, que se rebelou contra ele, e foi alvo da graça de Deus em Cristo Jesus.

B. A Bíblia e a verdade

Segundo a Bíblia, Deus não apenas trouxe a realidade e o homem à existência, mas se revelou. Aliás, o próprio ato criador é revelação. Deus criou todas as coisas pela sua Palavra (E disse Deus… Jo 1.1-2). Esta é a razão pela qual a realidade criada revela quem Deus é; “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl19.1).

O Deus da Bíblia, portanto, não é imóvel, mudo, mas é um Deus que vai ao encontro do homem e fala com ele. Desde muito cedo somos informados pela Bíblia deste movimento de Deus em relação ao homem. De acordo com os capítulos iniciais do Gênesis, ouvir a voz de Deus, que andava no jardim pela viração do dia, parece ser algo com o qual Adão e Eva estavam acostumados (Gn 2.16; 3.8). Mesmo após a Queda, Deus fala com o homem (Gênesis 3.8). Durante toda a história, Deus continuou falando ao homem, e à medida que falava, Deus tomava providências para que suas palavras fossem preservadas para toda a posteridade (Êx 17.14; 34.27).

Até que ele falou de modo pessoal, pela pessoa de Cristo Jesus. Ele, a Palavra que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) é a revelação maior de Deus. Ele é a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3), que se apresentou dizendo: “quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12.45). Este mesmo Jesus se define como o caminho, a verdade e a vida (João 14.6), aquele cujo conhecimento significa liberdade (Jo 8.32).

Deus é a verdade, e ele se revelou a nós por meio de sua Palavra. Por isso, a verdade não é uma questão meramente subjetiva ou de construto social. Ainda que o homem atribua significados à realidade, a verdade é objetiva. Nós nos aproximamos da verdade, todas as vezes que nos aproximamos do que Deus revelou por sua Palavra. O contrário também é verdadeiro. Sempre que nos distanciamos da revelação que Deus deu por intermédio de sua Palavra, nos distanciamos da verdade. A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17).

C. A Bíblia e a moralidade

Assim como o relativismo ético é resultado do relativismo no âmbito do conhecimento, assim também a crença de que Deus se revela em sua Palavra tem como consequência a existência de valores morais universais e absolutos. Ao se revelar, Deus demonstrou sua vontade ao homem; o modo como Deus deseja que o homem viva neste mundo.

Desde o princípio o relacionamento de Deus com o homem é marcado pelo fato de que Deus é Senhor, e o homem é servo. Este fato de que Deus tem direitos sobre o homem para requerer dele obediência, é uma implicação natural da crença na verdade bíblica da criação. É possível dizer que, como criador do homem, Deus tem direitos autorais sobre o homem, e este direito se revela no fato de que Deus se relaciona com o homem na posição de seu Senhor.

A narrativa bíblica da criação apresenta Deus não apenas criando o homem, mas definindo, por meio de ordenanças, seu propósito e significado. Logo em Gênesis 1, encontramos o imperativo: “sede fecundos, multiplicai-vos”. Apenas um capítulo depois encontramos a ordem divina, que por ter sido desobedecida, deu origem a toda sorte de males que experimentamos ainda hoje; “de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Quando, depois da Queda, o mal havia se alastrado sobre a terra, e Deus se apresentou a Noé, foi com imperativos que ele o fez: “Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos” (Gn 6.18). Posteriormente, Deus se apresentou a Abrão, e mais uma vez o fez de forma imperativa: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei”(Gn 12.1). Todas estas passagens revelam que Deus se relaciona com o homem como Senhor, e o  tem como seu servo. E, na qualidade de Senhor, Deus estabelece os princípios por meio dos quais o homem deve viver neste mundo.

Os dez mandamentos são característicos desta vontade divina revelada em sua Palavra. Eles têm sido chamados de a lei moral de Deus, isto é, o conjunto de preceitos divinos absolutos e atemporais. A causa pela qual são atemporais e absolutos é o fato de que se fundamentam no caráter de Deus. E, sendo Deus imutável em seu ser, as perfeições de seu caráter, nas quais se baseiam os mandamentos, são imutáveis também. Essa é a razão pela qual se pode dizer que os dez mandamentos revelam a vontade atemporal e absoluta de Deus. “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade” (Sl 119.142).

III. A igreja: coluna e baluarte da verdade

Como temos visto, uma visão cristã do mundo pressupõe a existência de absolutos. Deus se revelou e em sua Revelação apresenta a história universal, nos oferece a verdade e os padrões morais para a vida. 1Timóteo 3.14-15afirma que a igreja é coluna e baluarte da verdade. As duas palavras, “coluna” e “baluarte”, indicam algo que sustenta e dá firmeza. Se pensarmos na metáfora de um edifício, por exemplo, e considerarmos o papel das colunas, como parte das estruturas que mantém um prédio de pé, perceberemos bem o que a Escritura deseja ensinar nesta passagem.

Essa metáfora não ensina que a igreja seja a fonte originadora da verdade. Ao contrário do que pensa o romanismo, não é a igreja quem define e estabelece o que é a verdade. A fonte originadora da verdade é Deus mesmo. E a igreja é a guardiã, a protetora, a defensora da verdade revelada e estabelecida por Deus. Esta lição sobre a igreja chama a nossa atenção para a necessidade de avaliarmos nosso compromisso com a verdade em tempos em que ela é tão questionada. Um detalhe importante é que 1Timóteo 3.14-15não está falando sobre algo que a igreja deve se esforçar para ser, mas sim o que a igreja é. O texto está definindo a igreja. Isto significa que um dos maiores compromissos da igreja é seu compromisso com a verdade, de modo que, se uma comunidade não é uma coluna e fundamento da verdade, ela não é uma verdadeira igreja de Cristo.

Conclusão

Vivemos tempos de desconsideração para com a verdade. Cada um parece defender e viver de acordo com o que pensa ser mais correto. No entanto, a Bíblia nos ensina que temos uma história comum, uma Revelação absoluta e princípios éticos normativos. E Deus estabeleceu sua igreja como coluna e baluarte da verdade. Isto significa que uma caraterística fundamental da igreja de Cristo é seu apego à verdade e sua proclamação.

Aplicação

Lembre-sede seu papel enquanto membro da igreja do Senhor. Você é uma pedra desta coluna que deve sustentar a verdade de Deus. Para cumprir este ministério: conheça a verdade; estude a Escritura com afinco até que você domine a verdade de Deus e seja dominado por ela; viva a verdade; seja uma referência nesses tempos onde os valores éticos e morais estão se tornando cada vez mais vulneráveis.

Proclame a verdade com coragem e ousadia. Não tenha medo. Ainda que isto custe a você um alto preço, lembre-se de que Deus não tem nos dado espírito de covardia, mas de moderação.

Boa leitura!

Tempos pós-modernos, Gene Edward Jr., Editora Cultura Cristã.

Verdade, realidade, identidade individual, tudo foi implodido pelo pós-modernismo, como produtos da sociedade, prisões da linguagem, máscaras de poder. Essas ideias estão nas escolas, na televisão, nos filmes, jornais e revistas. Então passando para o cidadão comum. Desafiam e minam a fé cristã. Fomos chamados para testemunhar a esta época. Vamos conhecê-la.

*Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão, 2013. Usado com permissão.

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