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quinta-feira, 11 de junho de 2015

O transsexual e a negação do Sacrifício de Cristo

10.06.2015
Do portal GOSPEL PRIME,
Por Fernando Henriques

O “fogo do Céu” já desceu


    O “fogo do Céu” já desceuSobre o caso da “mulher” (na verdade era um transsexual – homem que, por algum estranho motivo, passa a se identificar como mulher) que desfilou exposta em uma cruz na 19º (!) Parada Gay de São Paulo, realizada no último domingo (07/06/2015):

    Li alguns cristãos relembrando Sodoma e Gomorra, afirmando que fogo do Céu descerá e consumirá aqueles que escarneceram do Senhor. Bom, na verdade fizeram bem mais que escarnecer, tripudiaram do sacrifício que aboliu todos os sacrifícios, que rasgou o véu e possibilitou que os próprios escarnecedores pudessem se achegar a Deus, ao verdadeiro Deus. O episódio é emblemático por dois motivos:

    1) Simboliza a total negação, da parte deles, escarnecedores, da própria necessidade daquele sacrifício. Não querem ser salvos, não acreditam precisar de salvação e por isso mesmo tripudiam de ato tão sublime;

    2) Sabia Jesus, claro, que futuramente o fariam, que, dois mil anos depois, seu sofrimento seria ironizado em público por aqueles a quem quis salvar, fato que só engrandece seu sacrifício na cruz.

    Jesus cumpriu seu papel e possibilitou que até mesmo seus carrascos e escarnecedores do Século XXI pudessem ser salvos. Mas eles não querem “salvação”, preferem o comportamento zombeteiro, preferem zombar daquilo que é mais sagrado. Se cremos em livre arbítrio, haveremos de entender que estão em seu direito de renegar a Deus.

    Aos irmãos que clamam por fogo, gostaria de lembrar que, primeiro, não foi a primeira vez que a zombaria deles chegou até Jesus, sendo, sim, a pior delas. Mas não a primeira (sempre há nas tais paradas a representação de Jesus como gay, da parte de um ou outro participante). Ainda não tinham posto alguém numa cruz, ok, mas já haviam feito mil e uma outras sandices envolvendo símbolos cristãos.

    Lembro-lhes do episódio em que santos católicos foram representados como homossexuais. 

    Então, fica difícil dizer que, dessa vez, superaram todos os limites. Essa turma simplesmente não tem limites a serem superados, não conhece barreiras, seja na seara do desejo — sexual mesmo –, seja no convívio social e respeito ao próximo. Lembro-lhes também do fatídico episódio da santa enfiada no ânus de uma manifestante na Marcha das Vadias que ocorreu em paralelo a JMJ (Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo dos católicos, realizada naquela ocasião no Rio de Janeiro), em 2013, para desvirtua-la.

    Não foi na Parada Gay, eu sei, mas numa “prima” sua, a Marcha das Vadias. Sim, este nobilíssimo evento encabeçado por mulheres super legais que reivindicavam nada mais que o direito de serem chamadas de vadias sem maiores implicações. Enfim, alguém duvida que sejam as mesmas pessoas, ou os mesmos perfis de pessoas que frequentam ambos os eventos? Eu não.

    Então, essa turma não é de hoje que ironiza, macula e perverte tudo aquilo que é cristão, que envolve o Cristianismo, somente porque tal cultura reprova cabalmente seus atos libidinosos. 

    São hedonistas em uma busca irrefreável por prazer, com o upgrade de não quererem ouvir nenhuma crítica a essa busca, seus métodos e ações. E não é de hoje também que algum “fogo do Céu” desce sobre eles, caros. Reparem.

    O fogo que consumiu Sodoma e Gomorra o fez rapidamente, minimizando o sofrimento daquelas gentes que preferiam ter relações com um anjo identificado em forma masculina do que com uma jovem virgem. Os sodomitas de hoje não têm a mesma “sorte”. Assim como fizeram um upgrade em suas buscas por prazer e perderam qualquer limite ou respeito que talvez um dia tiveram, para com o Pai, houve também um upgrade em suas “recompensas”.

    Ora, o que seria pior do que ter de passar por um processo sofrido e imundo como a penetração anal para ter prazer? Ou, sendo mulher, conviver sexualmente sem a presença de um falo orgânico, numa relação de prazer eternamente incompleto? O que seria pior do que não ter a possibilidade de gerar um filho seu, com seu sangue, com aquele a quem chama de “Amor”, e isto por escolha própria? O que seria pior, ainda, do que viver em busca de aprovação, tendo que chocar para ser visto, numa relação de respeito “forçado” com a sociedade, que teme ofendê-los?

    Caros, o “fogo do Céu” já consome estes zombeteiros a muito e eles nem perceberam, o que é pior do que ser transformado em cinzas em um segundo.
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    Fonte:http://artigos.gospelprime.com.br/o-fogo-do-ceu-ja-desceu/

    quarta-feira, 9 de outubro de 2013

    Vadia e cristã: Tamar, a Marcha e o uso político do corpo

    09.10.2013
    Do blog NOVOS DIÁLOGOS,08.10.13
    Por Aletuza Gomes Leite

    Discursos e querelas têm surgido no âmbito religioso devido a Marcha das Vadias. “É lógico que a roupa da mulher, ou a falta dela, não justifica o estupro, mas isso não significa que concordamos que uma mulher possa vestir-se de maneira indiscreta, expondo o seu corpo indevidamente”, escreveu a pastora batista Zenilda Reggiani Cintra em um texto publicado em O Jornal Batista (OJB) de 08 de julho de 2012, no qual ela pretende pôr em discussão a Marcha das Vadias. A princípio, como mulher, felicitei-me e fui atraída pelo texto de uma mulher, pastora e discutindo a Marcha no OJB, considerando que este espaço fora constantemente restrito aos homens batistas e, portanto aos seus interesses, valores e experiências. No percorrer do texto, no entanto, defrontei-me com meu próprio incômodo tão recorrente ao ler ou ouvir comentários de lideranças religiosas acerca de diversos movimentos construídos pelas mulheres. Uma frustração insurge em mim diante da negação de uma discussão política do corpo da mulher e sua presença nos enfrentamentos sociais e históricos, bem como a falta de análise em torno dos significados do corpo, das suas construções, domesticações e da vigilância a ele imposta. Pondero estes elementos como necessários ao tratarmos da temática da corporeidade para um exercício do desafiar-se a uma aproximação das dores e experimentos de mulheres diversas, frente a uma proposta mais emancipadora e libertadora destas.
    Há muito já se movimentam as discussões em torno do corpo como espaço de construções através da “educação”, vigilância e formatações que moldam corpos de homens e mulheres aos valores vigentes de uma “moral e bons costumes” e que decidem e orientam a descrição e a indiscrição, a dignidade e a indignidade, o devido e o indevido, o moral e o imoral, a decente e a vadia. As decisões do que é moral, longe do inocente ou neutro, constroem-se sócio-historicamente permeadas nas relações assimétricas que movimentam os jogos e poderes dentro de uma sociedade. Neste sentido o construir dos corpos é também uma construção de símbolos, na medida em que esta tenta embebê-los de sentidos, tornando-os representações de uma cultura, no nosso caso, sexista, racista, classicista, homofóbica e que decide a partir deste universo de sentidos o que é tornar-se mulher ou homem. Esta tentativa enfrenta a recepção do indivíduo, o que impede uma produção em série de corpos comuns a mulheres e homens. Isto ocorre a partir do encontro com uma subjetividade humana que se inscreve também como produção de significação e não como mera reprodução desta.
    Os corpos, portanto, transitam dentro de uma permissão espacial construída nos limites do que é decidido como moral, a esta se submetendo disciplinadamente. A moral é o “bom” e, portanto capaz de prescrever o que é devido aos corpos de homens e de mulheres. Os que se preservam nos limites da decência são representações do bom. Os que se instalam e/ou são instalados em processos diferenciados de recepção e extrapolam tais limites recebem a sanção de indignos, pervertidos, vadios e imorais. Corpos que significam o mau. Sendo assim, eles ainda são representações dos jogos e forças políticas que, por meio de manipulação destes, desejam, constroem e mantém as relações de uns sobre outros. Faz-se urgente um discurso que celebre a autonomia dos corpos e a transgressão da “moral e dos bons costumes” que classicamente objetifica o humano, legitimando sobre minorias domínio e opressão em formas de violências diversas. Discutir a maneira indiscreta ou indevida de expor o corpo de uma mulher, ao mesmo tempo que reforça a “moral e bons costumes”, reafirma as relações de poder na qual ela é inscrita, violenta a autonomia da mulher sobre seu corpo e autoriza violências sobre o mesmo, ainda que tal discurso, superficialmente, diga a isso se opor. Deste modo oponho-me a fazer coro com quaisquer discursos que digam promover libertação se estes se assentam sobre pilares que agenciam opressões e violências.
    Desejo aqui evocar um novo símbolo de mulher cristã que ecoa das páginas da Bíblia para que rapidamente não rotulem meu discurso da ausência de princípios religiosos, mas que nem por isso intimide-se em ser um símbolo transgressor, indevido, que se exponha de maneira imprópria e indiscreta. Quero convidar uma de maus costumes e imoral. Vadia! Poderia ser outra com este perfil, encontro-as nas páginas bíblicas, mas é Tamar que conclamo (Gn 38), aquela que na luta pelos seus direitos se fez corpo autônomo e indecente. 
    Vestiu-se, portou-se e atuou como vadia. O que estava em jogo para Tamar eram as condições de mínima liberdade e direito. Na vadiagem ondulante e labiríntica ela encontra a possibilidade da construção de seus caminhos de mulher, enfrentando a moral, o controle e a vigilância. A transgressão e o inapropriado são as veredas rumo à libertação dos jogos de poder encenados por Judá e designados próprios e devidos na sociedade patriarcal. Tamar é um convite a marcharmos como Vadias na luta pela nossa dignidade e autonomia de corpos e sexualidade, tantas vezes objetificados e transformados em mercadorias; domesticados, explorados e consumidos nas sinuosidades das relações de mercado, relações androcêntricas, embranquecedoras e heteronormativas, mas relações obedientes, morais, descentes, próprias, discretas e cristãs. Em contraposição a estas, conduzamo-nos, extrapolando os limites da moral no enfrentamento político, bem como Tamar, por uma digna condição de ser mulher no exercício da autonomia sobre sua vida, seu corpo e no combate a todo o tipo de violência. Das páginas da Bíblia inauguremos a vadia Tamar como símbolo de mulher cristã para afirmar inclusive que uma mulher cristã deve sim participar da Marcha, sem constrangimentos, também pelo nome e pela maneira política como usamos o nosso corpo em contraposição à instrumentalização deste na sociedade e suas diversas relações de domínio.
    Pela memória de Tamar. Na inauguração de um novo símbolo de testemunho de mulher cristã vadia: Vadias pela justiça, pela equidade, pela igualdade, vadias pela liberdade, pela vida. Na Marcha das Vadias pelos valores cristãos. 
    Aletuza Gomes Leite*Aletuza Gomes Leite faz parte da Igreja Batista Nazaré, em Salvador, e da Comunidade de Jesus, em Feira de Santana. Téologa e filósofa, atua desde 2002 como professora de Teologia, trabalhando com língua bíblicas, Antigo e Novo Testamentos, hermenêutica, exegese e gênero. É professora de Teologia na Faculdade Batista Brasileira, em Salvador, e de Filosofia na Faculdade Anísio Teixeira e no CETEP, em Feira de Santana.
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