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sexta-feira, 12 de abril de 2019

MINISTÉRIO PASTORAL: 2 livros que todo pastor deve ler

12.04.2019
Do portal VOLTEMOS AO EVANGELHO, 09.04.19
Por Thiago Guerra*

2-livros-que-todo-pastor-deve-ler

Sem dúvida alguma há dois livros que todo pastor deve ler: “O pastor aprovado” de Richard Baxter e “O pastor como teólogo público” de Kevin J. Vanhoozer e Owen Strachan. Com propostas diferentes e sem contradição, esses livros nos ajudam no ministério pastoral de maneira brilhante.

Richard Baxter escreve com uma preocupação específica, o cuidado particular de todo o rebanho. Seu livro foi motivado por uma reunião de pastores em Worcester, no dia 4 de dezembro de 1655, para acordarem a catequização de cada membro nas suas respectivas igrejas. Por motivo de doença, Baxter não pôde comparecer, mas deixou essa joia rara escrita com os seus pontos de vista para aqueles obreiros.

O que torna o livro de Baxter mais precioso ainda é que ele não escreve somente a partir de princípios bíblicos, mas pela própria experiência com a sua congregação. Veja o seu relato:

“Passamos as segundas e terças-feiras, desde cedo de manhã até ao cair da noite, envolvendo umas quinze ou dezesseis famílias, toda semana, nesta obra de catequese. Com dois assistentes, percorremos completamente a congregação que tem cerca de oitocentas famílias, e ensinamos cada família durante o ano. Nem uma só família se negou a visitar-me a meu pedido. E vejo mais sinais externos de sucesso com os que vêm do que em toda a minha pregação pública. O grande número me força a tomar uma família completa por vez, uma hora cada. O secretário da igreja vai adiante, com uma semana de antecipação, para organizar os programas de horários e itinerário. Também guardo anotações daquilo que cada membro da família aprendeu, para poder continuar e ensiná-lo sistematicamente” (p.31).

A preocupação de Baxter é demonstrada mais na frente: “[aqueles] que me ouviram durante oito ou dez anos, ainda não sabem se Cristo é Deus ou homem. Admiram-se quando lhes falo do Seu nascimento, vida e morte. Ainda não sabem que as crianças têm o pecado original. Tampouco sabem da natureza do arrependimento, da fé, ou da santidade que deles se requer” (p. 173). O apelo dele é para seguirmos o exemplo de Cristo que usava do diálogo para pregar aos seus discípulos; de Paulo que pregava e ensinava a todos para não tornar o seu trabalho inútil (Gl 2.2.) e dava instruções pessoais (carcereiro em Atos 16); de Pedro que ao mesmo tempo que pregou publicamente em Jerusalém para uma multidão (At 2), também pregou a Cornélio e seus amigos (At 10); de Filipe que discipulou pessoalmente o eunuco (At 16); entre outros. O autor entendia que o ministério pastoral consiste em cuidar de todo o rebanho através da catequização pessoal (At 20.28), sem exceção. Ele chega a dizer que “o tamanho do rebanho deve ser determinado pelo número de pastores. Não poderão ser pastoreados todos, se não houver suficientes pastores na igreja, ou se a congregação for pequena o suficiente para possibilitar o cuidado pastoral de cada membro” (p. 110).

O versículo base para toda argumentação de Baxter é Atos 20.28: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. A primeira parte do livro é direcionada ao coração do próprio pastor – “cuidem de vocês mesmos”. Baxter se preocupa com o caráter do obreiro e com a necessidade de ele ter experimentado a graça divina em sua própria vida. Ele chega a fazer um apelo corajoso pedindo o arrependimento público dos pastores perante suas congregações caso não tenham vivido de maneira exemplar. A segunda e terceira parte do livro é dedicada à outra metade do versículo: “e de todo o rebanho”. O autor chega a ser um pouco repetitivo e verboso por enfatizar constantemente a necessidade e obrigação pastoral em cuidar pessoalmente de todo o seu povo.

Sem dúvida alguma o livro de Baxter é um alerta a todos nós ministros do evangelho para não perdermos o rumo na nossa caminhada. Há hoje em dia uma tendência pecaminosa no ministério de se preocupar com a igreja somente como instituição ou “departamentalizar” o ministério em diversas áreas. É comum vermos pastores somente pregadores, ou administradores. Pastores não sabem mais os nomes de seus membros, não oram mais por eles e não se envolvem nas vidas de suas ovelhas. Precisamos de pastores à moda antiga. Temos perdido a essência do ministério pastoral!

Se o livro de Baxter nos chama ao cuidado pessoal do rebanho, o livro de Vanhoozer e Strachan nos convoca à necessidade de sermos bons teólogos. A preocupação dele é que a teologia foi separada do ministério pastoral: “Aqui jaz um pastor e um teólogo” (P.13), duas coisas distintas e não características de um único pastor. O que Deus uniu, o homem separou, e a preocupação dos autores é que o “teólogo no mundo acadêmico corre o risco de tornar-se uma mente sem corpo…” e que as “mentes teológicas [devem pertencer] a corpos eclesiásticos” (p. 15). Se a teologia continuar no “exílio” (p.18), a igreja se tornará uma “terra árida”, um local onde não é possível “cultivar ou desenvolver algo” (p.19).

Vanhoozer identifica um problema atual no ministério pastoral, as imagens distorcidas desse ministério: “liderança, diretor executivo, guru psicoterapêutico, agitador político, mestre, pregador de avivamento, construtor, treinador moral, ativista comunitário”, entre outras. A maneira de evitarmos esse erro é respondermos a sua pergunta crucial: “o que pastores têm a dizer e a fazer que seja papel exclusivamente seu?” (p. 26). O autor resume seu argumento da seguinte forma: “Primeiro, pastores são e sempre foram teólogos. Em segundo lugar, cada teólogo é, em certo sentido, um teólogo público, um tipo particular de intelectual, uma classe específica de generalista. […] Em terceiro lugar, o propósito de o pastor-teólogo ser um intelectual público é servir ao povo de Deus, edificando-o na ‘fé entregue aos santos de uma vez por todas’” (p. 36).

Por “teólogo”, o autor sugere que seu papel principal é “dizer o que Deus está fazendo em Cristo a favor do mundo”. Por “público”, significa que “pastores trabalham com o público de Deus e em favor dele, para o bem do público/povo em todos os lugares”. Por último, “intelectual” é “uma forma específica de generalista que sabe como relacionar grandes verdades a pessoas reais”. Vanhoozer acredita que pastores devem estar adiante das congregações e para isso devem ser fundamentados no evangelho e culturalmente competentes. Ele deve ser um “intelectual orgânico” que “enuncia com clareza as necessidades, convicções e aspirações do grupo social ao qual pertence.” Em outras palavras, “ele traz para o nível do discurso as doutrinas e os desejos da comunidade.”

Dois pontos merecem destaque no livro “O pastor como teólogo público”. O primeiro é que entre os capítulos do livro, os autores colocam as “perspectivas pastorais”, artigos de diversos pastores abordando, a partir da experiência e exegese bíblica, pontos importantes do ministério. Um outro ponto de destaque é o capítulo 2, escrito por Owen Strachan, sobre “uma breve história do ministério pastoral”. O autor traça um panorama histórico brilhante de pastores teólogos, desde Ireneu de Lião (130-200 d.C.) até os dias atuais, destacando os grandes nomes da nossa fé como exemplos de ministério. A intenção com esse capítulo é demonstrar que a Igreja cristã sempre acreditou que pastores devem ser bons teólogos à serviço da igreja local. Segundo o autor, foi somente no final do século 19 e no início do século 20 que “pastores concederam aos acadêmicos a condição de líderes intelectuais, abrindo mão de boa parte da grade de disciplinas que o Cristo de Kuyper (e de Edwards) havia reivindicado: ‘Minha!’” (p.122).

Me resta uma última observação sobre os dois livros. A necessidade que temos para considerar essas duas obras, é porque, se ao mesmo tempo elas estão preocupadas com áreas distintas do ministério pastoral, essas áreas andam de mãos juntas! Baxter nos convida ao cuidado pessoal do rebanho, Vanhoozer e Owen nos ensinam que sem a teologia pública, o nosso serviço ministerial estará comprometido.

Não devemos decidir qual caminho escolher, devemos percorrer pelos dois. Sem uma dessas “asas” nosso voo perderá seu rumo, e o que nos aguarda é a queda.

*Thiago Guerra é pastor da Igreja da Trindade, em São José dos Campos, SP. Pós-graduado em Teologia Bíblica pelo Andrew Jumper, cursando bacharel em Teologia no Seminário Martin Bucer. É casado com Raquel Guerra, e sua filha se chama Helena.
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terça-feira, 1 de novembro de 2016

Eu deveria deixar o seminário em prol do ministério pastoral?

01.11.2016
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO, 28.10.16

eu-deveria-deixar-o-ministerio-pastoral

Recentemente, recebi um e-mail com uma pergunta de prender a atenção. Ela veio de um influente professor de seminário e veio com um pano de fundo, mas o e-mail inteiro poderia ser reduzido a essa questão sobre definição de chamado: “Eu deveria deixar o seminário em prol do ministério pastoral?”. Numa tentativa de ajudá-lo, eu propus quatro perguntas para que ele considerasse, conforme fosse orando e buscando aconselhamento. Os pensamentos abaixo representam uma versão editada do que eu enviei a ele.
A Questão da Pregação: eu me sinto chamado para ir além do ensino e assumir o papel de pregador?
A sua comunicação e/ou dons de ensinar já parecem ter sido provados e dado frutos, então essa não é uma questão de capacidade. É melhor considerar essa questão no nível de desejo, aspiração ou motivação interna. Você encontra dentro de si um desejo crescente de construir uma igreja através da proclamação do evangelho às pessoas e de ajudá-las a aplicá-lo?
Uma forma adicional de considerar essa pergunta poderia ser o exame dos frutos do seu ensino/pregação atual. Suas habilidades de comunicação se estendem para além da educação, mas também para construir valores do evangelho? Sua esposa e amigos dizem que suas mensagens são relativamente claras e fáceis de acompanhar? Você pode conectar a Bíblia com a vida das pessoas? E quanto às vidas dos não-crentes? As pessoas acham que você se importa com elas, depois de ouvirem você falar?
Uma das coisas que tirou John Piper de seu papel de ensino e o colocou na igreja foi a forma que suas devocionais na sala de aula afetavam seus alunos. Seus dons pastorais se tornaram evidentes conforme ele abria a Escritura a outros. À medida que você pondera sobre o ministério, tome um tempo para considerar esse papel e a pregação em sua responsabilidade e como o seu ministério público afeta os outros.
A Questão do Foco: como me atinge a ideia de se tornar um ministro na prática, ao invés de um especialista em ministério?
Lecionar em um seminário coloca alguém num papel muito focado. Você está ensinando assuntos específicos que são familiares a você, e os ensina de novo e de novo. Tenho certeza que isso permite a você encontrar uma certa rotina conforme cada semestre passa.
O ministério pastoral, entretanto, força alguém a ministrar num papel muito mais amplo e mais imprevisível. Você serve como pregador, professor, conselheiro, visitador no hospital e administrador. Você tem de estar “em posição” para então falar, mesmo em áreas nas quais você possa não ter especialidade. Quando uma crise aparece na vida de uma pessoa, você deve estar disponível para ministrar a ela. Então, eu penso que uma consideração real precisa ser dada se um estilo de vida de desenvolvimento mais amplo, ao invés de mais profundo, faz do ministério pastoral mais ou menos atrativo.
A Questão do Modelo: a ideia de construir um modelo mais bem trabalhado das coisas que eu creio parece ser mais ou menos importante nessa próxima fase da vida?
Uma das coisas que me levou ao ministério pastoral e para um papel principal em particular foi que isso me permitiu construir um modelo de trabalho das coisas que eu creio. Por exemplo: eu afirmo e ensino que a vida cristã deve ser centrada no evangelho. Ser um pastor me permitiu reconhecer o que isso parece realmente para os cristãos medianos e como ajudá-los a chegar lá. Permitiu-me desenvolver um modelo de trabalho (ao invés de um teórico) do que significa ser centrado no evangelho.
Conforme falo a pastores e líderes, construir um modelo de trabalho para o ministério não é um instinto incomum. O modelo, então, torna-se o laboratório e a plataforma pela qual certas ideias e práticas teológicas são concebidas, refinadas e exportadas. Quando eu penso em Keller, MacArthur ou mesmo Spurgeon (para não mencionar um monte de outros homens), a força do ministério deles não está em seus dons proeminentes, mas no modelo de trabalho que eles construíram e nos quais permanecem. Arnold Dallimore uma vez escreveu sobre a igreja de Spurgeon: “O Metropolitan Tabernacle [Tabernáculo Metropolitano] não era, como alguns pensavam, meramente um centro de pregação altamente popular. . . O Tabernacle era uma ótima igreja que trabalhava” (ênfase minha).
Um anseio de construir uma “ótima igreja que trabalhava”, expressão que uso para designar uma igreja devotada à aplicação, pode ser uma indicação de que Deus está tirando você da academia e o aproximando do ministério pastoral.
A Questão do Desejo: eu poderia ficar satisfeito se minha vida se acabasse e eu nunca tivesse pastoreado uma igreja?
Essa é uma pergunta muito subjetiva, então deve ser explorada cuidadosamente. No entanto, é uma pergunta importante. O ministério pastoral é um alvo inevitável e é só uma questão de tempo, ou você poderia ficar contente em terminar seus dias como um professor de seminário?
Uma forma de lidar com essa pergunta poderia ser explorar se você crê que Deus o chamou para treinar estudiosos para o serviço da igreja ou para discipular e treinar líderes e membros de igreja comuns. Se você é chamado para o estudo, o ministério pastoral será provavelmente uma experiência agitada. A maioria das posições pastorais irão forçar você a simplificar o complexo, e não necessariamente permitirão que haja tempo para se desenvolver mais profundamente em áreas específicas (a menos que você seja fenomenalmente dotado, o que você pode muito bem ser, ou pastor de uma igreja muito grande com um pessoal muito capaz, liderado por um excelente pastor executivo). Isso não significa que você não possa voltar para a academia depois do ministério pastoral. Isso significa somente que o ministério pastoral irá armá-lo mais no aplicar a verdade mais amplamente versus o estudar mais profundamente as nuances.
Uma coisa que deve ser mantida à vista, eu espero, resolverá alguma coisa da angustia relacionada a essa decisão: se mover para o pastorado não é fatal para um futuro na academia, se você decidir mantê-lo. Eu acho que esse pensamento ajuda os homens a evitar abordar decisões como essa como se estivessem tomando uma decisão para o resto de suas vidas. Pense nisso como uma decisão para a próxima temporada, talvez os próximos três anos. Então, se você decidir pelo ministério pastoral, faça somente um compromisso de três anos, e construa uma porta dos fundos para você mesmo e para a igreja para a qual você é chamado. Isso irá providenciar tanto para você quanto para a igreja uma oportunidade de avaliar sua eficácia no ministério pastoral e, se necessário, providenciar um trilho de volta à academia.
Qualquer que seja a decisão que você tome, pode estar confiante de que Deus o fará frutífero. A igreja precisa de eruditos e de pastores. Que Deus dê a você graça e luz para ajudá-lo a descobrir o papel no qual você trará a ele mais glória!

*Dave Harvey é pastor na Convenant Fellowship Church, Pennsylvania (EUA), que faz parte da família de igrejas do ministério Sovereign Grace. Dave Harvey é um dos líderes desse ministério, cujo objetivo é estabelecer e apoiar igrejas. Dave também dirige o envolvimento do Sovereign Grace na Europa, África e Ásia. Em 2001, concluiu o doutorado em Cuidado Pastoral, pelo Westminster Theological Seminary.

Tradução: João Pedro Cavani. Revisão: Yago Martins. © 2016 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Eu deveria deixar o seminário em prol do ministério pastoral?

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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/10/eu-deveria-deixar-o-seminario-em-prol-do-ministerio-pastoral/?utm_source=inf-resumo-diario-ve&utm_medium=inf-resumo-diario-ve&utm_campaign=inf-resumo-diario-ve