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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Reflexão Cristã: Coringa, um filme genial e perturbador

8.10.2019
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO,7.10.19
Por  Joel Bueche Lopes


Tenho dificuldades em encontrar um título para este post. O novo filme do Coringa é daqueles que levamos para casa, dormimos com ele e acordamos com ele. Ou melhor, ele é que vai para casa connosco, dorme e acorda connosco. Vou tentar não dar spoilers.
A crítica divide-se entre extremos, mas é compreensível. É um filme pesado, denso, dark, perturbador, já explico em poucas palavras porquê. A interpretação de Joaquin Phoenix é genial, a banda sonora é de outro mundo e a fotografia em todos os aspetos é perfeita. O filme prende do início até ao fim, há críticos que apontam repetitividade e excesso em algumas cenas, mas acho que esse excesso funciona bem na medida em que nos quer fazer infrutiferamente avançar naquilo que é perturbador mas não pode ser evitado, faz parte porque é a realidade.
E esse é um dos pontos que podemos sentir até à nossa alma: a realidade crua e fria da natureza humana e da sociedade. O filme é niilista, existencialista, é uma espiral descendente e assustadora do caos, tanto do Coringa quanto de Gotham, tanto do indivíduo quanto do coletivo.
Coringa, Arthur Fleck, no início cuida exaustivamente da mãe, tem um trabalho como palhaço, mas aquilo que era uma estabilidade a caminhar sob a corda bamba, torna-se gradativamente numa queda vertiginosa de circunstâncias aliadas às perturbações mentais já presentes que terminam com ações hediondas destituídas de qualquer senso de certo e errado, de tristeza ou remorso. E isto reconhecemos no último Coringa que tivemos em “The Dark Knight”. (Não vou dar detalhes para não dar spoiler).
A própria Gotham já no início não está bem, mas deterioria-se a uma velocidade vertiginosa também e Coringa acaba por ser o símbolo que se torna inspiração para a maldade na cidade. Ao mesmo tempo podemos dizer que mesmo daqueles que esperávamos alguma bondade não encontramos. E este é o ponto perturbador do filme: não existe bondade no filme, não existe esperança, não há beleza, não há um herói, não há redenção. Não há um motivo pela qual ter uma cara feliz (“Put on a happy face”, frase que surge no filme), não há motivo pelo qual ser Happy (apelido que a mãe de Coringa lhe dá).
Temos um vilão que cria empatia nos habitantes revoltados com o sistema presente em Gotham e cria empatia com os espectadores da sala de cinema. O contexto, as circunstâncias, a educação levam Coringa a se tornar quem é, não sabemos o que sentir quanto a Coringa, a relativização do mal que ele apregoa é o que a personagem e a sua história e contexto nos fazem sentir em relação a ele. Somos sedutora e subtilmente levados a entrar na mente de Coringa.
A única ponta, quase invisível, de esperança e redenção que surge no filme é o pequeno Bruce Wayne (futuro Batman), a personagem em volta de quem, em escassos minutos, é apresentada inocência. A esperança só é associada a ele porque temos noção de em quem ele se tornará, caso contrário passar-nos-ia completamente ao lado.
Este filme não retrata a vitória do bem contra o mal, nem sequer a luta existente entre eles, mas o mal como um beco sem saída, onde todos são vítimas e perpetradores do mal. E de facto essa é a triste e crua realidade da humanidade sem um Redentor. É por isso que eu não tenho problema com este tipo de filmes, muito pelo contrário, é uma apologia da Depravação Radical, embora creia na Graça Comum, na imagem de Deus no homem e na transformação que o Herói dos heróis pode produzir no indivíduo e no coletivo, mas esse é exatamente o ponto: sem uma intervenção externa da Graça Comum e da Graça Salvífica, todos somos Coringa, todos estamos em Gotham e nem sequer há uma noção de certo e errado. Não há absolutos. O mal e o bem são relativizados. O mal é um total beco sem saída. Todos se tornam vítimas e perpetradores do mal.
Artisticamente e filosoficamente o filme é excelente, por retratar esta realidade tão bem. Podia ter diálogos melhores, mas posso dizer que é um filme genial. É um filme genialmente feio, retrata coisas feias e faz-nos sentir coisas feias, mas isso não é necessariamente mau, pelo contrário, é curativo, pois leva-nos ao anseio por beleza, por esperança, por salvação, por redenção, por paz, por harmonia, por bondade e esse é o caminho que nos leva à fonte da beleza, esperança, salvação, redenção, paz, harmonia e bondade – o Deus Triúno, Pai, Filho e Espírito Santo, que nos pode tirar do beco sem saída do mal, aquele que de facto coloca em nós um rosto genuinamente feliz.

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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

DOUTRINA DA SALVAÇÃO: Compreendendo a Graça Preveniente

16.11.2017
Do portal CPADNEWS, 09.11.17
Por Valmir Nascimento

Valmir NascimentoNa soteriologia arminiana, a graça preveniente é uma doutrina essencial. Graça preveniente é o termo teológico que explica a forma como Deus capacita o homem previamente para que possa atender ao chamado da salvação. Assim como muitas outras doutrinas bíblicas, a exemplo da Trindade e da depravação total, o termo “graça preveniente” não se encontra expressamente[1] nas Escrituras, mas o ensino sim, visto tratar-se de uma categoria bíblica tácita, evidenciada por meio da interpretação sistemática do Texto Sagrado.
A graça preveniente está dentro do retrato maior das Escrituras, a partir da compreensão do trabalho divino para a salvação do homem[2]. Brian Shelton, com razão, afirma que a teologia sistemática examina cada doutrina à luz do maior testemunho das Escrituras para maior coerência ou correção. “Esta é a melhor maneira de testar a nossa interpretação de qualquer doutrina bíblica, incluindo o de nossa capacidade restaurada a crer em Cristo”[3].
Ao captar essa perspectiva H. Ray Dunning aponta, então, que a graça preveniente é “uma categoria teológica desenvolvida para capturar um motivo bíblico central”[4]. Ela é o resultado da análise cumulativa do texto bíblico, tendo como parâmetro as seguintes verdades: a Queda de Adão; a redenção proporcionada por Deus em Cristo; a incapacidade do homem de, e por si mesmo, voltar-se para Deus; a graça de Deus trazendo salvação a – todos –  os homens; o convite para que o homem se arrependa de seus pecados e creia (tenha fé) na obra de Cristo; a atuação de Deus para o convencimento e preparação do coração do pecador e; a possibilidade de resistência pelo homem.
Uma vez harmonizadas, essas verdades bíblicas deixam entrever a veracidade do conceito teológico da graça preveniente.
Etimologicamente, advém do latim gratia praevenians (prae = antes de + venire = venha), ou seja, “graça que vem antes”. Antes de quê? Antes de qualquer coisa no processo de salvação. Daí porque Jeff Paton recorda que muitos outros termos poderiam ser usados para descrever esta obra de Deus, como iniciativa divina, graça anterior e graça preparatória[5].
Em uma definição inicial, portanto, a graça preveniente é o meio pelo qual Deus, antes de qualquer ação humana, atrai graciosamente o pecador e o capacita espiritualmente para que se arrependa e se converta a Cristo. Ela não salva por si só[6], mas apenas permite o arrependimento, criando uma condição favorável para que todos venham a crer (Jo 3.16).
O expositor bíblico Willian Burton Pope afirma que ela “é a única causa eficiente de todo o bem espiritual no homem; do começo, continuação e consumação da religião na alma humana”[7]. Roger Olson[8] expressa que a graça preveniente é a poderosa, porém resistível, atração de Deus para que o pecador se arrependa. Assim, uma pessoa é salva porque Deus iniciou uma relação e habilitou tal pessoa a responder livremente com arrependimento e fé. Desse modo, ninguém pode ser salvo sem o auxílio sobrenatural, do início ao fim, do Espírito Santo, bastando que a pessoa não lhe resista.
Em sua obra Prevenient Grace: God´s provision for fallen humanity, W. Brian Shelton diz que “a doutrina da graça preveniente fornece um link – uma solução – para a lógica desconexão entre a depravação espiritual humana e a necessidade de crer para a salvação”[9].
A graça preveniente, portanto, é o meio pelo qual Deus vai ao encontro do pecador para começar a obra da salvação, atraindo-o e capacitando-o espiritualmente para responder à obra divina. Tal doutrina bíblica ensina que em se tratando de salvação é Deus quem toma a iniciativa de chegar-se ao homem caído, e nunca o contrário, reconhecendo ao mesmo tempo tanto a total depravação humana quanto a possibilidade de o homem resistir a essa oferta graciosa.
Nesse sentido, Jacó Armínio tinha um profundo compromisso com a graça divina, e por isso atribuía a ela a causa principal das bênçãos espirituais. O exame das obras do teólogo holandês seria suficiente para afastar qualquer alegação de que ele teria defendido uma salvação baseada no mérito e na capacidade do livre arbítrio do homem. Armínio tinha total convicção bíblica e factual dos efeitos devastadores decorrentes da Queda no pecado e da completa incapacidade do homem de conseguir o favor divino, seja pensar, querer, ou fazer, por si mesmo, o que é realmente bom, necessitando para tanto da benevolência prévia e contínua de Deus.
Em Declarações de Sentimentos ele escreve:
Mas em seu estado de descuido e pecado, o homem não é capaz de pensar, nem querer, ou fazer, por si mesmo, o que é realmente bom; pois é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições e desejos, e em todos os seus poderes, por Deus, em Cristo, por intermédio do Espírito Santo, para que possa ser corretamente qualificado para entender, estimar, considerar, desejar e fazer aquilo que realmente seja bom. Quando ele é feito participante dessa regeneração ou renovação, considero que, estando liberto do pecado, ele é capaz de pensar, de querer e fazer aquilo que é bom, mas ainda não sem a ajuda continuada da graça divina.[10]
Desta maneira, atribuo à graça o início, a continuidade e a consumação de todo o bem, de tal forma que, sem a sua influência, um homem, mesmo já estando regenerado, não pode conceber, nem fazer bem algum, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem essa graça emocionante e preventiva, que coopera com o homem. Como fica claro a partir desta afirmação, de maneira nenhuma cometo alguma injustiça à graça, atribuindo, como é relatado de mim, uma quantidade excessiva de coisas ao livre-arbítrio do homem. Toda a controvérsia se reduz à solução desta questão: “A graça de Deus é uma certa força irresistível?” Ou seja, a controvérsia não se relaciona às ações ou operações que podem ser atribuídas à graça (pois reconheço e inculco mais dessas ações ou operações do que qualquer outro homem já o fez), mas se refere apenas ao modo de operação, irresistível ou não. Com relação a este tópico, creio eu, de acordo com as Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que lhes é oferecida[11].
Armínio reitera o conceito de graça preveniente presente na história da tradição cristã ao defender o favor divino antecedente que coopera com o homem antes mesmo da sua conversão, excluindo qualquer mérito humano. Evidentemente, ele não propõe uma nova doutrina heterodoxa, mas se vale de um conceito teológico tratado anteriormente na história da cristandade, inclusive pelo próprio Agostinho, e por teólogos do período medieval.
O ponto discordante no ensino da graça preveniente entre Armínio e Agostinho está na forma como se responde à seguinte indagação: “A graça de Deus é uma certa força irresistível?”. Por isso, Armínio é enfático ao dizer que “a controvérsia não se relaciona às ações ou operações que podem ser atribuídas à graça (pois reconheço e inculco mais dessas ações ou operações do que qualquer outro homem já o fez), mas se refere apenas ao modo de operação, irresistível ou não”[12].
Assim, enquanto a teologia agostiniana e calvinista responde de forma positiva à pergunta formulada, para dizer que a graça preveniente é irresistível, Armínio sustenta à luz das Escrituras que a resposta a tal indagação é negativa, sendo a graça preveniente resistível, podendo o homem rejeitá-la.
Em sua perspectiva, conforme escrito em sua Declaração de Sentimentos, “a graça é branda e se mescla com a natureza do homem, para não destruir dentro dele a liberdade da sua vontade, mas para lhe dar uma direção correta, para corrigir a sua depravação, e parar permitir que o homem possua as próprias noções adequadas”[13].
O teólogo holandês é enfático em afirmar que a Queda afastou o homem de Deus, colocando-o em uma “condição de aprisionamento da vontade”. Agora, “a mente do homem é escura, destituída do conhecimento salvífico de Deus e, de acordo com o apóstolo Paulo, incapaz de alcançar as coisas que pertencem ao Espírito”[14] pelo seu próprio esforço. Disso resulta a perversidade das afeições do coração, passando a buscar o que é mal.
Em tal condição, o homem não pode agradar a Deus (Rm 8.7,8), pois o seu coração é, segundo as Escrituras, “enganoso e perverso”, “duro” e de “pedra” (Jr 13.10; Jr 17.9; Ez 36.26), cuja imaginação é “só má continuamente” desde a meninice (Gn 6.5; 8.21). Logo, estando o homem morto em pecado (Rm 3.10-19), segue-se que a “nossa vontade não é livre desde a primeira Queda; ou seja, ele não é livre para o bem, a menos que seja libertado pelo Filho, por meio de seu Espírito”.[15] Isso ocorre quando:
(...) uma nova luz e o conhecimento de Deus e de Cristo e da vontade divina são acesos em sua mente; e quando novas afeições, inclinações e deslocamentos que estão de acordo com a vontade de Deus são incitados em seu coração, e novos poderes são produzidos nele; acontece que, sendo liberto do império das trevas e tendo sido feito agora ‘luz do Senhor’ (Ef 5.8), ele compreende o verdadeiro bem que pode salvá-lo[16].
Consequentemente, essa renovação altera completamente a condição humana e a sua capacidade de escolha. Uma vez que a dureza do coração de pedra é transformada em maciez da carne, e a Lei de Deus de acordo com a aliança da graça é inscrita nele (Jr 31.32, 3), o homem passa a abraçar aquilo que é bom, justo e santo.
Armínio, então, sublinha com vivas cores que “o início da obra de qualquer boa coisa assim como o seu progresso, continuidade e com e confirmação, e ainda além, a perseverança no bem não vêm de nós mesmos, mas de Deus, por meio maravilhoso Espírito Santo, uma vez que ‘aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo’ (Fp 1.6)”[17]. Ele atribui importância tanto à graça subsequente quanto à graça preveniente, ao dizer:
A graça subsequente ou a graça que vem a seguir assiste, de fato, o bom propósito do homem; mas esse bom propósito não teria existência, exceto por meio da graça precedente ou antecipada; E embora o desejo do homem, chamado bom, possa ser assistido pela graça logo que nasce, ainda sim, ele não nasce sem a graça; é inspirado por aquele sobre quem o apóstolo Paulo nos escreve, dizendo: ‘Graças a Deus, que pôs a mesma solicitude por vós no coração de Tito’. É Deus que incita qualquer um a ter ‘solicitude’ por outro; Ele colocará no ‘coração’ de outra pessoa o mesmo sentimento de ‘solicitude’ por Ele”[18].
Logo se vê que a teologia arminiana está encharcada da graça de Deus, seja antes ou depois da decisão do homem, como causa interior da salvação. É, portanto, a graça preveniente que restabelece o arbítrio no homem, a fim de poder entregar-se a Cristo. Nesse sentido, para Armínio a liberdade cristã é o estado de plenitude de graça e verdade em que os crentes ao colocados por Deus, por intermédio de Cristo. A causa eficiente é Deus, que exibe essa liberdade, mas depende do recebimento por parte do homem, mediante a fé em Cristo (Jo 1.12; Rm 5.2; Gl 3.26)[19].
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*Valmir Nascimento é ministro do evangelho, jurista, teólogo e mestrando em teologia. Possui pós-graduação em Direito e antropologia da religião. Professor universitário de Direito religioso, Ética e Teologia. Editor da Revista acadêmica Enfoque Teológico (FEICS). Membro e Diretor de Assuntos Acadêmicos da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure). Analista Jurídico da Justiça Eleitoral. Escritor e palestrante. Comentarista de Lições Bíblicas de Jovens da CPAD (Jesus e o seu Tempo). Evangelista da Assembleia de Deus em Cuiabá/MT.
NOTAS  E REFERÊNCIAS

[1] SHELTON, Brian W. Preveniente Grace: God’s Provision for fallen humanity. Indiana: Francis Asbury Press, 2014, posição 3443.
[2] SHELTON, 2014, posição 3443.
[3] SHELTON, 2014, posição 3443.
[4] SHELTON, 2014, posição 3475.
[5] PATTON, Jeff. Preveniente Grace. Disponível em: <http://www.eternalsecurity.us/prevenient_grace.htm&gt;. Acesso em 10 de maio de 2016.
[6] SHELTON, 2014, posição 106.
[7] POPE, Willian Burton. Apud: PATTON, Jeff.
[8] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 212.
[9] SHELTON, 2014, posição 313.
[10] ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 231.
[11] ARMÍNIO, 2015, p. 232.
[12] ARMÍNIO, 2015, p. 232.
[13] ARMÍNIO, 2015, p. 209.
[14] ARMÍNIO, 2015, p. 473.
[15] ARMÍNIO, 2015, p. 475.
[16] ARMÍNIO, 2015, p. 475.
[17] ARMÍNIO, 2015, p. 476.
[18] ARMÍNIO, 2015, p. 477.
[19] ARMÍNIO, 2015, p. 536.
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Fonte:http://www.cpadnews.com.br/blog/valmirnascimento/enfoque-cristao/130/compreendendo-a-graca-preveniente.html

sábado, 30 de janeiro de 2016

ARMINIANSIMO CLÁSSICO E WESLEYANO

30.01.2016
Do portal WIKIPÉDIA

Arminianismo clássico


O arminianismo clássico (às vezes chamado de arminianismo reformado) é o sistema teológico que foi apresentado por Jacó Armínio e mantido pelos remonstrantes;[5] sua influência serve como base para todos os sistemas arminianos. A lista de crenças é dado abaixo:

  • A depravação é total: Arminius declarou: "Neste estado [caído], o livre-arbítrio do homem para o verdadeiro bem não está apenas ferido, enfermo, inclinado, e enfraquecido; mas ele está também preso, destruído, e perdido. E os seus poderes não só estão debilitados e inúteis a menos que seja assistido pela graça, mas não tem poder algum exceto quando é animado pela graça divina."[6]

  • A expiação destina-se a todos: Jesus morreu para todas as pessoas, Jesus atrai todos a si mesmo, e todas as pessoas têm oportunidade de se salvarem pela fé.[7]

  • A morte de Jesus satisfaz a justiça de Deus: A penalidade pelos pecados dos eleitos é paga integralmente através da obra de Jesus na cruz. Assim, a expiação de Cristo é destinada a todos, mas requer a fé para ser efetuada. Arminius declarou que: "Justificação, quando usado para o ato de um juiz, também é exclusivamente a imputação da justiça através da misericórdia... ou esse homem é justificado diante de Deus... de acordo com o rigor da justiça sem qualquer perdão."[8] Stephen Ashby esclarece: "Arminius só considera duas maneiras possíveis em que o pecador pode ser justificado: (1) pela nossa adesão absoluta e perfeita à lei, ou (2) exclusivamente pela divina imputação da justiça de Cristo."[9]

  • A graça é resistível: Deus toma a iniciativa no processo de salvação e a sua graça vem a todas as pessoas. Esta graça (muitas vezes chamada de preveniente ou pré-graça regeneradora) age em todas as pessoas para convencê-las do Evangelho, chamá-las fortemente à salvação, e capacitar a possibilidade de uma fé sincera. Picirilli declarou que "realmente esta graça está tão próxima da regeneração que ela leva inevitavelmente a regeneração, a menos que, por fim seja resistida." [10] A oferta de salvação por graça não age irresistivelmente em um simples causa-efeito (i.e num método determinístico), mas sim de um modo de influência-e-resposta, que tanto pode ser livremente aceita e livremente negada.[11]

  • O homem tem livre arbítrio para responder ou resistir: O livre-arbítrio é limitado pela soberania de Deus, mas a soberania de Deus permite que todos os homens tenham a opção de aceitar o Evangelho de Jesus através da fé, simultaneamente, permite que todos os homens resistam.

  • A eleição é condicional: Arminius define eleição como "o decreto de Deus pelo qual, de Si mesmo, desde a eternidade, decretou justificar em Cristo, os crentes, e aceitá-los para a vida eterna."[12] Só Deus determina quem será salvo e a sua determinação é que todos os que crêem em Jesus através da fé sejam justificados. Segundo Arminius, "Deus a ninguém preza em Cristo, a menos que sejam enxertados nele pela fé".[12]
  • Deus predestina os eleitos a um futuro glorioso: A predestinação não é a predeterminação de quem irá crer, mas sim a predeterminação da herança futura do crente. Os eleitos são, portanto, predestinados a filiação pela adoção, glorificação, e vida eterna.[13]

  • A justiça de Cristo é imputada ao crente: A justificação é sola fide. Quando os indivíduos se arrependem e creem em Cristo (fé salvífica), eles são regenerados e trazidos a união com Cristo, pela qual a morte e a justiça de Cristo são imputados a eles, para sua justificação diante de Deus.[14]

  • A segurança eterna é também condicional: Todos os crentes têm plena certeza da salvação com a condição de que eles permaneçam em Cristo. A salvação é condicional a fé, portanto, a perseverança também é condicional.[15] A apostasia (desvio de Cristo) só é cometida por uma deliberada e proposital rejeição de Jesus e renúncia da fé.[16]

Os cinco artigos da remonstrância que os seguidores de Arminius formularam em 1610 o estado acima de crenças relativas (I) eleição condicional, (II) expiação ilimitada, (III) depravação total, (IV) depravação total e a graça resistível, e (V) possibilidade de apostasia. Note, entretanto, que o artigo quinto não nega completamente a perseverança dos santos, Arminius mesmo, disse que "nunca me ensinaram que um verdadeiro crente pode cair ... longe da fé ... ainda não vou esconder que há passagens de Escritura que parecem-me usar este aspecto, e as respostas a elas que me foi permitido ver, não são como a gentileza de aprovar-se em todos os pontos para o meu entendimento ".[17]Além disso, o texto dos artigos da Remonstrancia diz que nenhum crente pode ser arrancado da mão de Cristo, e à questão da apostasia, "a perda da salvação" é necessário mais estudos antes que pudesse ser ensinada com plena certeza.

As crenças básicas de Jacó Armínio e os remonstrances estão resumidos como tal pelo teólogo Stephen Ashby:

  1. Antes de ser chamado e capacitado, alguém é incapaz de crer... somente capaz de resistir.
  2. Depois de ter sido chamado e capacitado, mas antes da regeneração, alguém é capaz de crer... também capaz de resistir.
  3. Após alguém crer, Deus o regenera, alguém é capaz de continuar crendo... também capaz de resistir.
  4. Após resistir ao ponto de descrer, alguém é incapaz de acreditar... só capaz de resistir.[18]

Interpretação dos Cinco Pontos

O terceiro ponto sepulta qualquer pretensão de associar o arminianismo ao pelagianismo ou ao semipelagianismo. De fato, a doutrina de Armínio é perfeitamente compatível com a Depravação Total calvinista. Ou seja, em seu estado original o homem é herdeiro da natureza pecaminosa de Adão e totalmente incapaz, até mesmo, de desejar se aproximar de Deus. Nenhum homem nasce com o "livre-arbítrio", ou seja, com a capacidade de não resistir a Deus.
O quarto ponto demonstra claramente que é a graça preveniente que restaura no homem a sua capacidade de não resistir à Deus. Portanto, para Armínio, a salvação é pela graça somente e por meio da fé somente. Nesse sentido, os arminianos do coração concordam com os calvinistas no sentido de que a capacitação, por meio da graça, precede a fé, e que até mesmo a fé salvadora seja um dom de Deus. A diferença está na compreensão da operação dessa graça. Para os calvinistas, a graça é concedida apenas aos eleitos, que a ela não podem resistir. Para os arminianos, a expiação por meio de Jesus Cristo é universal e comunica essa graça preveniente a todos os homens; mas ela pode ser resistida. 

Assim como o pecado entrou no mundo pelo primeiro Adão, a graça foi concedida ao mundo por meio de Cristo, o segundo Adão (conforme Romanos 5:18João 1:9). Nesse sentido, os arminianos entendem que I Timóteo 4:10 aponta para duas salvações em Cristo: uma universal e uma especial para os que creem. A primeira corresponde à graça preveniente, concedida a todos os homens, que lhes restaura o arbítrio, ou seja, a capacidade de não resistir a Deus. Ela é distribuída a todos os homens porque Deus é amor (I João 4:8João 3:16) e deseja que todos os homens se salvem (I Timóteo 2:4II Pedro 3:9), conforme defendido no segundo ponto do arminianismo. A segunda é alcançada apenas pelos que não resistem à graça salvadora e creem em Cristo. Estes são os predestinados, segundo a visão arminiana de predestinação.

Portanto, embora a expressão "livre-arbítrio" seja comumente associada ao arminianismo, ela deve ser entendida como "arbítrio liberto" ou "vontade liberta" pela graça preveniente, convencedora, iluminadora e capacitante que torna possíveis o arrependimento e a fé. Sem a atuação da graça, nenhum homem teria livre-arbítrio.

Ao contrário dos calvinistas, os arminianos creem que essa graça preveniente, concedida a todos os homens, não é uma força irresistível, que leva o homem necessariamente à salvação. Para Armínio, tal graça irresistível violaria o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. Assim, todos os homens continuam a ter a capacidade de resistir à Deus, que já possuíam antes da operação da graça (conforme Atos 7:51Lucas 7:30Mateus 23:37). Portanto, a responsabilidade do homem em sua salvação consiste em não resistir ao Espírito Santo. Este é o coração do sinergismo arminiano, o qual difere radicalmente dos sinergismos pelagiano e semipelagiano.

No que tange à perseverança dos santos, os remonstrantes não se posicionaram, já que deixaram a questão em aberto.


Citações das obras de Arminius


Os textos a seguir transcritos, escritos pelo próprio Arminius, são úteis para demonstrar algumas de suas ideias.

…Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina.

Com referência à Graça Divina, creio, (1.) É uma afeição imerecida pela qual Deus é amavelmente afetado em direção a um pecador miserável, e de acordo com a qual ele, em primeiro lugar, doa seu Filho, "para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna," e, depois, ele o justifica em Cristo Jesus e por sua causa, e o admite no direito de filhos, para salvação. (2.) É uma infusão (tanto no entendimento humano quanto na vontade e afeições,) de todos aqueles dons do Espírito Santo que pertencem à regeneração e renovação do homem - tais como a fé, a esperança, a caridade, etc.; pois, sem estes dons graciosos, o homem não é capaz de pensar, desejar, ou fazer qualquer coisa que seja boa. (3.) É aquela perpétua assistência e contínua ajuda do Espírito Santo, de acordo com a qual Ele age sobre o homem que já foi renovado e o excita ao bem, infundindo-lhe pensamentos salutares, inspirando-lhe com bons desejos, para que ele possa dessa forma verdadeiramente desejar tudo que seja bom; e de acordo com a qual Deus pode então desejar trabalhar junto com o homem, para que o homem possa executar o que ele deseja.

Desta maneira, eu atribuo à graça O COMEÇO, A CONTINUIDADE E A CONSUMAÇÃO DE TODO BEM, e a tal ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta graça preveniente e excitante, seguinte e cooperante. Desta declaração claramente parecerá que de maneira nenhuma eu faço injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre-arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à solução desta questão, "a graça de Deus é uma certa força irresistível"? Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualquer um,) mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível ou não. A respeito da qual, creio, de acordo com as escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é oferecida.

Arminianismo wesleyano
Ver artigo principal: Metodismo
Parte de uma série sobre
Metodismo
John Wesley clipped.png
John Wesley
 Portal do metodismo

John Wesley foi historicamente o advogado mais influente dos ensinos da soterologia arminiana. Wesley concordou com a vasta maioria daquilo que o próprio Arminius defendeu, mantendo doutrinas fortes, tais como as do pecado original, depravação total, eleição condicional, graça preveniente, expiação ilimitada e possibilidade de apostasia.
Wesley, porém, afastou-se do arminianismo clássico em três questões:

  • Expiação – A expiação para Wesley é um híbrido da teoria da substituição penal e da teoria governamental de Hugo Grócio, advogado e um dos Remonstrantes. Steven Harper expõe: "Wesley não colocou o elemento substitucionário dentro de uma armação legal …Preferencialmente [sua doutrina busca] trazer para dentro do próprio relacionamento a 'justiça' entre o amor de Deus pelas pessoas e a aversão de Deus ao pecado …isso não é a satisfação de uma demanda legal por justiça; assim, muito disso é um ato de reconciliação imediato."[19]

  • Possibilidade de apostasia – Wesley aceitou completamente a visão arminiana de que cristãos genuínos podem apostatar e perder sua salvação. Seu famoso sermão "A Call to Backsliders" demostra claramente isso. Harper resume da seguinte forma: "o ato de cometer pecado não é ele mesmo fundamento para perda da salvação … a perda da salvação está muito mais relacionada a experiências que são profundas e prolongadas. Wesley via dois caminhos principais que resultam em uma definitiva queda da graça: pecado não confessado e a atitude de apostasia."[20] Wesley discorda de Arminius, contudo, ao sustentar que tal apostasia não é final. Quando menciona aqueles que naufragaram em sua fé (1 Tim 1:19), Wesley argumenta que "não apenas um, ou cem, mas, estou convencido, muitos milhares … incontáveis são os exemplos … daqueles que tinham caído, mas que agora estão de pé"[21]

  • Perfeição cristã – Conforme o ensino de Wesley, cristãos podem alcançar um estado de perfeição prática. Isso significa uma falta de todo pecado voluntário, mediante a capacitação do Espírito Santo em sua vida. Perfeição cristã (ou santificação inteira), conforme Wesley, é "pureza de intenção; toda vida dedicada a Deus" e "a mente que estava em Cristo, nos capacita a andar como Cristo andou." Isso é "amar a Deus de todo o seu coração, e os outros como você mesmo".[22] Isso é 'uma restauração não apenas para favor, mas também para a imagem de Deus," nosso ser "encheu-se com a plenitude de Deus".[23] Wesley esclareceu que a perfeição cristã não implica perfeição física ou em uma infabilidade de julgamento. Para ele, significa que não devemos violar a longanimidade da vontade de Deus, por permanecer em transgressões involuntárias. A perfeição cristã coloca o sujeito sob a tentação, e por isso há a necessidade contínua de oração pelo perdão e santidade. Isso não é uma perfeição absoluta mas uma perfeição em amor. Além disso, Wesley nunca ensinou um salvação pela perfeição, mas preferiu dizer que "santidade perfeita é aceitável a Deus somente através de Jesus Cristo."[22]

Os Cinco Artigos da Remonstrância
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Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Arminianismo