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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

09.02.2015
Do portal VOLTEMOS AO EVANGELHO
Por Craig L. Blomberg

Saba-OSabadoCumprido

Cada vez menos cristãos reservam um dia da semana para a adoração e para o descanso de todas as formas de trabalho. Deveríamos nos preocupar com isso? Os adventistas do sétimo dia e os batistas do sétimo dia dizem que sim e sustentam que o dia do sabá deve ser o sábado.

Alguns tipos de presbiterianos e de cristãos reformados, juntamente com outros influenciados pelo legado dos puritanos, respondem “sim” com a mesma ênfase, contudo insistem que o domingo é o sabá cristão. Ainda há aqueles que defendem o princípio de descansar um dia a cada sete, mas não se preocupam com qual seja o dia da semana, uma vez que os pregadores, por exemplo, dificilmente podem descansar no dia em que lideram os cultos de adoração. Alguma dessas três perspectivas está correta? Na verdade, não.

Jesus declarou: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5.17, NVI). É um contraste incomum. Normalmente, quando alguém diz não estar abolindo alguma coisa, continua e diz estar preservando-a intacta. Mas não é assim que a palavra cumprir é usada na Bíblia. Apenas em Mateus, seu significado mais comum é “realizar aquilo que estava predito” ou “dar o significado pleno a algo que estava apenas parcialmente descoberto” (por exemplo, 1.22; 2.15, 17, 23; 3.15; 4.14). Cristãos de todos os tipos reconhecem que não precisam trazer animais à igreja para serem mortos e oferecidos como sacrifícios por seus pecados, muito embora tal prática fosse central a todo o sistema de adoração da antiga aliança. Cristo é de uma vez por todas o nosso sacrifício pelos pecados; assim, o modo como observamos as muitas leis sacrificiais de Levítico hoje é confiando em Jesus para o perdão dos pecados. O Novo Testamento introduz igualmente muitas outras mudanças na lei do Antigo Testamento – todos os alimentos agora são ritualmente puros, de modo que não há problema em comer porco ou camarão (Marcos 7.19). Nós não precisamos ir a um lugar definido para os rituais do templo, porque adoramos em qualquer lugar no qual possamos nos reunir “em Espírito e em verdade” (João 4.24). Homens cristãos não precisam ser circuncidados, muito embora esse fosse um dos mais fundamentais de todos os mandamentos judaicos, precedendo até a entrega da lei no Monte Sinai (Gênesis 17). Em vez disso, hoje Deus aceita igualmente todos os povos com base na “fé que atua pelo amor” (Gálatas 5.6). A lista de mudanças semelhantes é longa.

Mas o que dizer dos Dez Mandamentos? Certamente eles têm algo de especial e são especialmente atemporais de maneiras que o restante da lei da antiga aliança não é. Apesar de uma longa história de pensamento cristão nessa linha, nada na Bíblia jamais afirma isso. Toda a Escritura é vista como uma unidade (Tiago 2.8-11). Os judeus criam que todas as suas leis eram imutáveis. Era isso que tornava tão difícil para muitos deles aceitar Jesus como enviado do céu; ele estava desafiando suas leis eternas. Não importava se ele deixaria muitas delas aparentemente intactas; o seu ensino de que a nova era da história humana, a qual ele estava inaugurando, iria mudar algumas dessas leis deixava muitas pessoas inflamadas. Apenas Deus poderia mudar a lei de Deus. Mas, se Cristo era Deus, então ele tinha esse direito. Se ele não era, seu ensinamento era blasfemo. Os cristãos, contudo, creem que Jesus é Deus. Assim, ainda que uma lei apareça nos Dez Mandamentos, nós não podemos presumir que ela adentra a era do novo pacto sem mudanças. Nós precisamos examinar como Jesus e os apóstolos a trataram antes de podermos entender se ela ainda é obrigatória.

O que, então, o Novo Testamento ensina acerca da lei do sabá, um mandamento dentre os famosos dez (Êxodo 20.10)? Jesus não responde essa questão tão explicitamente quanto gostaríamos; se o tivesse feito, não estaríamos debatendo este assunto hoje. Porém, em todos os seus encontros com os líderes religiosos do seu povo, ele os reprova por impedi-lo de fazer o bem aos sábados, especialmente no que concerne a curar pessoas. Curiosamente, porém, ele jamais cura alguém cuja vida esteja em perigo iminente. Uma mulher andava encurvada há dezoito anos (Lucas 13.10-11). Um homem estava inválido há trinta e oito (João 5.5, 9).

Podemos imaginar os fariseus argumentando com Cristo: certamente ele poderia esperar mais um dia para curar aquelas pessoas, de modo que não profanasse o sabá divino. Certa vez, os discípulos de Jesus colheram algumas espigas em um campo, no sabá, presumivelmente para comê-las, mas nada implica que eles estivessem à beira da inanição (Marcos 2.23). Contudo, a defesa de Jesus para o seu comportamento apresenta um precedente amplo para mudanças: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2.27).

Ao curar um homem com uma mão ressequida no sabá, Jesus ensina que é lícito fazer o bem no sabá (Marcos 3.4). Qualquer comportamento que ajude alguém, que embeleze o mundo, que faça avançar a vontade de Deus, que promova o trabalho honesto ou que proveja recreação ou prazer ao povo de Deus é considerada “boa” na Bíblia e é, portanto, lícito realizá-lo no sabá. Essa é a atitude que deu à primeira geração de cristãos a liberdade de transferir o culto do sabá judaico no sétimo dia para o domingo, o primeiro dia da semana (Atos 20.7; 1Coríntios 16.2). Foi isso que os conduziu a chamar o domingo de “o Dia do Senhor” (Apocalipse 1.10).

Mas os cristãos de modo algum transferiram tudo o que havia no sabá judaico do sábado para o domingo. Os crentes gentios, que compreendiam a maior parte da igreja da metade do primeiro século em diante, não tinham em suas comunidades um dia semanal para o descanso. Gregos e romanos tinham diversos feriados mensais, de acordo com os diversos calendários religiosos festivos que seguiam. Porém, a menos que algum desses feriados caísse num domingo, os cristãos gentios tinham que trabalhar o dia inteiro no primeiro dia da semana e encaixar a adoração e a comunhão ou na manhã do domingo, antes do amanhecer, ou na noite do sábado ou do domingo, após o anoitecer. Foi apenas depois de Constantino tornar-se o primeiro imperador cristão, no início do quarto século, que o domingo foi legalizado como um dia santo (e portanto feriado) no Império Romano.

Muitos dos escritores cristãos do segundo e do terceiro séculos até mesmo falavam da guarda do sabá como uma prática “judaizante” – que levava de volta ao legalismo que Cristo viera abolir. Aquilo provavelmente era uma reação exagerada, a menos que as pessoas que guardassem o sabá, seja no sábado ou no domingo, estivessem tentando obrigar outros a segui-los. Afinal, em Romanos 14.5, Paulo escreveu: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”. Esse mandato é dado no contexto do descanso no capítulo 14, no qual Paulo aborda questões que estavam dividindo os cristãos em Roma. No coração do debata estava o sabá e outros dias festivos, bem como as leis alimentares, acerca das quais Paulo diz, em poucas palavras: parem de julgar uns aos outros (v. 13).

Colossenses 2.16 é ainda mais claro: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”. Aqui nós vemos a costumeira tríade judaica de dias santos – festas anuais como a Páscoa, Tabernáculos ou o Dia da Expiação; dias festivos mensais e o sabá semanal. Os cristãos são livres para celebrá-los ou não, e os outros cristãos não devem julgá-los por suas escolhas. A encarnação de Cristo é a realidade que os dias santos preanunciavam. Os seguidores de Jesus vêm a ele e recebem descanso “24 por 7”, como dizemos hoje, porque o seu jugo é suave e o seu fardo é leve (Mateus 11.28-30). Nossa vida inteira é um descanso sabático, preanunciando o nosso descanso eterno (Hebreus 4.9-11).

Estou dizendo, então, que o culto e o descanso são opcionais para os cristãos? De modo algum. Nós precisamos de ambos e precisamos deles com frequência. O que estou dizendo é que o Novo Testamento insiste que não nos atrevamos a legislar ou exigir um dia em sete para essas coisas. O corpo de cada pessoa é diferente, assim como são suas exigências de trabalho, suas oportunidades de se reunirem com outros crentes e suas necessidades espirituais em geral. Em um mundo viciado em trabalho, que com tanta frequência fragmenta famílias e igrejas, tenhamos o descanso que nos for necessário e cultuemos com frequência juntamente com o povo de Deus. E que as igrejas criem mais cultos, no sábado à noite ou em outros dias da semana, para aqueles que não podem vir ou não vêm aos domingos. Com efeito, sejamos cada vez mais criativos em como alcançar os desigrejados e os que precisam de salvação. Mas não podemos fingir que a panaceia para os nossos problemas na igreja e na sociedade esteja em retornar a um sabá supostamente idílico que, antes de tudo e em grande parte, foi uma invenção dos puritanos.

Nota:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

  1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)
  2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia
  3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano
  4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano
  5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo
  6. O debate sobre o sabá:  descansar em Cristo é o principal (16/02)
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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/02/o-debate-sobre-o-saba-o-sabado-cumprido-em-cristo/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+voltemosaoevangelho+%28Voltemos+ao+Evangelho%29

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Doze motivos para descansar

05.01.2014
Do portal ULTIMATO ON LINE, 26.12.

Sexta-feira à tardinha. Você está desligando seu computador no trabalho, encerrando suas atividades. Qual o primeiro pensamento que vem em sua mente? Falando honestamente, muitas vezes somos tomados por um sentimento de frustração, de “tarefa inacabada”: “Puxa! Acabou meu prazo semanal e não fiz isso, aquilo e mais aquilo”; “Não dá mais tempo de atingir minha meta pessoal”; “Não fechei aquela venda”; “Não terminei aquele assunto”; “Sobrou um monte de e-mails pra semana que vem”...

Relendo Gênesis 1.31–2.3, o que podemos concluir da atitude de Deus quando ele “desliga seu computador na sexta-feira”? “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom... E... descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito”. E ainda: “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”.

Deus demonstra uma atitude de avaliação, uma sensação de realização, prazer e alegria. E de descanso. Em outra passagem, diz-se que Deus “tomou alento” (Êx 31.17), frase que dá a ideia de parar para respirar um pouquinho antes da próxima atividade. O sábado (um dia na semana) foi desenhado para isso. Nós podemos (e devemos) ter um dia na semana diferente dos outros dias, porque Deus deixou seu próprio exemplo e nós fomos feitos à sua imagem – “parte da nossa vocação é descansar”1.

Além de deixar o exemplo, Deus também ordenou ao seu povo que guardasse o sábado (Êx 20.8-11). Este mandamento está no mesmo nível de outros mandamentos, como não matar e não roubar.2 E gasta ainda mais linhas que o mandamento de não fazer imagem de escultura (estes são os dois mandamentos com mais explicações entre todos os dez mandamentos).

Em Êxodo 16.29, podemos observar que o sábado é também uma dádiva, um presente de Deus para nós: “Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”.

Em Êxodo 31.12-18, vemos repetidamente que o sábado é um sinal da aliança de Deus com seu povo. Já imaginou? Um sinal da aliança, assim como o arco-íris! Mas o texto também fala que o sábado é santo e serve para nos santificar: “Certamente, guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor... Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre”.

Como a prática de separar um dia na semana nos santifica? Pela renovação da confiança em Deus, que tudo provê para nós. Guardar o sábado nos faz olhar novamente para “o Norte”, que é Deus, o provedor por excelência. Como o maná de sexta era suficiente também no sábado, e não se estragava, assim podemos confiar que Deus vai suprir nossas necessidades neste dia separado para Ele.

Em Levítico 23.3, fala-se de “santa convocação” no sábado. Então o sábado (domingo, para alguns) é também dia de se reunir para adorar a Deus.

O sábado também serve para aguçar nossa memória. De quê o sábado nos lembra? Em primeiro lugar, do Deus Criador (Êx 20); ao povo de Israel, lembrava também o tempo de escravidão no Egito (Dt 5.15). Daí obtemos ainda outro significado: esta mesma passagem nos ensina a guardar o sábado para os servos, os “colaboradores”, para que os “patrões” lembrem que eles também tiveram seu tempo de servidão. A instituição do ano de descanso visava igualmente os pobres: “no sétimo ano, a deixarás descansar [a terra] e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer” (Êx 23.11). Assim, o sábado é também justiça.

Algo impressionante é a inclusão dos animais no mandamento do sábado: “Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho... nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu” (Dt 5.14); e ainda: “para que descanse o teu boi e o teu jumento” (Êx 23.12). Além disso, o povo deveria guardar o ano de descanso da terra: “a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás o teu campo... Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor” (Lv 25.1-4). Isso sem falar no ano do jubileu, projetado, entre outras coisas, para dar “resgate à terra” (Lv 25.24). Daí entendemos que o sábado significa também cuidado com o meio ambiente – os animais e a terra.

Por fim, o sábado é esperança – esperança escatológica. Hebreus 4.9-10 fala sobre isso: “Portanto, resta um repouso [repouso sabático] para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.” Sérgio Lyra comenta: “Por ‘repouso’ não devemos entender inatividade ou paralisação no que diz respeito a fazer o que é bom e certo. Deus nunca cessa de fazer o bem (“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”; Jo 5.17). Desfrutar do que é bom com a exclusão de toda prática pecaminosa e seus efeitos é o descanso que Deus oferece ao seu povo, pois o cansaço, a fadiga e o desgaste físico são frutos do pecado, o qual será totalmente banido”.3

Mas o sábado envolve esforço. Vejamos a continuação da passagem de Hebreus: “Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.11). “Muito longe de pressupor inatividade, o repouso cristão exige empenho, requer esforço. Trata-se de um esforço para permanecer na dependência de Deus”.4 Digamos que o sábado implica num descanso proativo – ele não vem de graça, precisamos nos esforçar para experimentar esta sensação maravilhosa de dependência completa de Deus!

Vale a pena recordar e resumir: O que é o sábado?

1. Um reflexo da imagem de Deus em nós; exemplo a ser seguido (Deus o praticou);

2. Uma dávida de Deus para nós;

3. Um mandamento a ser obedecido;

4. Um sinal da aliança de Deus conosco;

5. Uma prática de santificação;

6. Uma renovação da dependência de Deus e confiança nele;

7. Um dia para se reunir e adorar a Deus com outros;

8. Uma lembrança contemplativa (do Deus criador, do tempo de servidão);

9. Uma providência para que haja igualdade e justiça para todos;

10. Um cuidado com o meio ambiente;

11. Uma esperança escatológica;

12. Um esforço (ou um descanso proativo).

Agora podemos voltar ao início da conversa, naquela sexta-feira à tardinha. Você desliga o computador e pensa em pelo menos três coisas que tinha planejado fazer e realmente fez – no trabalho, nos estudos ou em casa. Como Deus, você se alegra por isso e faz uma pausa. Você agradece ao Autor da vida pela dádiva do sábado, este sinal da aliança. Você também declara sua dependência de Deus, renova sua confiança nele e a esperança pelo sábado perfeito, que ainda virá.

Que 2015 nos traga um ciclo saudável de trabalho e descanso na presença do Senhor!

"Nestes dias difíceis, formemos o hábito de dar 'domingos' à nossa mente; momentos nos quais ela não faça trabalho algum, mas simplesmente esteja quieta, olhe para cima e se estenda diante do Senhor como o velo de Gideão – para ficar embebida do orvalho do Céu." (Mananciais no Deserto, vol. 1, p. 328).

Notas
1. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 54.
2. Idem, p. 55.
3. Nota da Bíblia Missionária de Estudo, p. 1286-1287.
4. CARRIKER, T. Trabalho, Descanso e Dinheiro; uma abordagem bíblica, p. 56.


D. Bastos, casada, três filhos, é diretora da agência missionária Interserve no Brasil. Ela tem pensado e resgatado a prática do descanso, pois experimenta um tempo de licença sabática.


Leia também
O último sábado 
A Espiritualidade na Prática
Saúde emocional e vida cristã

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/doze-motivos-para-descansar

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O ritmo da criação

14.05.2014
Do portal ULTIMATO ON LINE, 04.14
Por Valdir Steuernagel
 
Trabalho, celebração e descanso!
“No princípio Deus criou os céus e a terra....
Assim foram concluídos os céus e a terra, e tudo o que neles há”. (Gn 1.1; 2.1)


Uma coisa que eu e minha esposa não sabemos fazer é dançar. Somos filhos da “cultura do joelho duro”. Silêda, como nordestina bem brasileira, até poderia ter mais ginga, mas a cultura missionária forânea lhe endureceu os joelhos ao insistir, desde cedo, que dançar é pecado. No meu caso, a rigidez dos joelhos veio por duas veias: além da influência de uma cultura missionária similar, sou filho de uma cultura germânica que valoriza o trabalho muito acima da dança e onde se marcha muito mais do que se dança.

Revisando a minha história, vejo como este “jeito marcha” de viver acabou determinando um estilo de vida. Nele o trabalho, a conquista, a luta e a vitória são valores que se refletem em tudo o que se faz e determinam todas as relações que se vão construindo. A própria vida cristã vai sendo determinada por esses valores culturais e Deus é facilmente transformado em um general para quem marchamos até morrer e que está sempre exigindo de nós a produção de frutos quantificáveis. E assim, marchamos!

O espírito de Deus se movia sobre a face das águas...

A conversa que estamos mantendo nesta série, com o relato da criação em Gênesis, me levou a uma descoberta surpreendente: Deus tem “joelhos maleáveis”! Ele não é um general de botas, mas sim uma presença que se move com graça e leveza e ocupa todos os espaços da nossa existência, dando a ela um novo ritmo. Quando ele fala, a vida brota. Sua realidade e sua palavra são a própria vida -- vida que sorri com beleza e graça. Aliás, ele próprio se alegra e acha “muito bom” o que surge como fruto da sua presença-palavra.

Em todo o capítulo 1 de Gênesis, cada dia tem começo e fim: “Passaram-se a tarde e a manhã, esse foi o primeiro dia” (1.5) -- e assim, sucessivamente, até o sexto dia. Cada dia registra o que Deus fez e a celebração está muito presente: “E Deus viu que ficou bom” (1.9, 12, 18, 21 e 25). Então, ao encerrar o sexto dia -- aliás, um dia de trabalho exaustivo e muito peculiar, quando ele cria o ser humano -- há um efusivo momento de celebração muito especial: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado ‘muito bom’” (1.31).

Neste movimento criador de Deus vê-se que há um tempo para cada coisa e cada coisa é reconhecida e celebrada. Há um tempo para muito trabalho e trabalho duro, mas há também tempo para celebrar esse trabalho antes de mergulhar no próximo, assim como um tempo de descanso entre um trabalho e outro. Há, aliás, muito mais do que isso. Há, no final de seis dias de trabalho, uma grande celebração por tudo o que foi feito. Então, entra-se em um tempo significativo de descanso, que dura um dia todo e recebe de Deus a bênção, tornando-se especial: “No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a sua obra que realizara na criação” (2.2-3).

Trabalho, celebração e descanso

Nesta ação criadora de Deus, percebem-se três dimensões de suma importância para a nossa vida: há “tempo para o trabalho, tempo para a celebração e tempo para o descanso”, assim como um belo movimento entre um e outro. Como bem expressa Eugene Peterson, “o ritmo da criação modela o ritmo da vida”. Assim somos convidados a perceber os movimentos da nossa própria vida e indagar se há nela suficiente espaço para cada uma dessas expressões que tornam a vida mais saudável, produtiva, bonita e até confortável. Deus trabalha, celebra e descansa. Assim, com seu próprio exemplo e em um contínuo convite ao arrependimento, ele nos ensina como levar uma vida melhor, mais sociável e mais digna, como veremos nas próximas edições.

Quando, anos atrás, conheci a família de Silêda lá no Maranhão, eu levava na bagagem a minha cultura e os valores procedentes da minha terra natal, Santa Catarina. Logo estranhei o tempo que eles, como uma grande família, passavam cantando. No final do dia, faziam uma roda no quintal e o violão passava de mão em mão; as músicas rolavam, entremeadas de “causos”, recordações e acontecimentos do dia. Confesso que eu não aguentava tanta cantoria (esse pessoal não tinha o que fazer?! -- pensava). E me refugiava nos livros, como costumo fazer diante do desconforto. A verdade é que, além de desconhecer as músicas que eles cantavam (por que gastar tempo aprendendo isso?), eu não sabia passar tempo assim. Não sabia celebrar. Eu sabia trabalhar, deixando a minha limitação vivencial muito evidente.

Hoje, passados muitos anos, ainda ouço a Silêda cantando ao telefone com o pai. Ele está avançado em idade e enfermo. Os anos de muito trabalho passaram e até a lucidez da mente teima em fugir, mas os hinos ficaram. Eles falam ao coração, trazem à memória o tempo de ontem e celebram a fidelidade de Deus no decorrer dos anos. Eu reconheço que, ainda hoje, tenho poucos hinos a cantar, mas tive o enorme privilégio de cantar “Segura na mão de Deus” enquanto a minha mãe estava morrendo. Um enorme privilégio com que Deus tem me agraciado à medida que procuro discernir o mover do Espírito de Deus entre nós. Isso é muito bom!

Valdir Steuernagel é teólogo sênior da Visão Mundial Internacional. Pastor luterano, é um dos coordenadores da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e um dos diretores da Aliança Evangélica Mundial e do Movimento de Lausanne.
 
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Fonte:http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/347/o-ritmo-da-criacao