Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador CUBA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador CUBA. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

RAFAEL REPARADOR, UM EVANGÉLICO PROGRESSISTA: A nova inquisição brasileira

17.02.2015
Do portal GNOTÍCIAS, 08.01.15


A nova inquisição brasileiraOnde já se viu?! Estou perdendo a chance de ter opinião!

Não posso falar abertamente sobre minha simpatia pelos revolucionários que lutaram pela libertação da América Latina!

Falar de forma positiva de Bolívar, de Che, de Fidel, de Jango se tornou algo tão estigmatizado para os brasileiros que me sinto constrangido a ficar quieto.

Se eu desejar o bem da Dilma, então, o mundo rui sobre minha cabeça.

“Rafa, tu, um cara tão inteligente?!”, dizem.

Ora, talvez eu não seja tão inteligente assim, não é?!

Preferir a liberdade no pouco do que a escravidão no muito é pra mim algo natural demais. Sei que muitos hebreus não pensavam assim, quando no episódio do Êxodo, em que murmuraram até sua morte no deserto pela saudade das cebolas do Egito.

Eu acho Cuba interessantíssima! Uma ilhota que tinha quase toda sua terra produtiva nas mãos de norte americanos, que sugavam seu povo sem a menor misericórdia – como sempre fizeram conosco aqui no Brasil – até que revolucionários patriotas decidiram lutar e retomar o que era seu por direito.

Ao lado de Che, um herói não só argentino ou sulamericano, mas um ícone mundial da revolução e da luta pela soberania de nações colonizadas.

Isso é história! É sangrenta como qualquer história bíblica, porque é história de guerra!

Quando me mostro a favor da Guerra Civil dos Farrapos, logo me ‘tagueiam’ como um gaúcho separatista, mesmo eu não sendo nem gaúcho, nem separatista.

Este é o mundo brasileiro ordinário que eu vivo, infelizmente. Um mundinho onde todos passam seu tempo colocando tags nos outros, estigmatizando. Coisa de gente hipócrita que curte parecer melhor, mais culta, mais bem informada do que os outros nas redes sociais.

Coisa de gente nazifascista, que odeia a opinião contrária!

Eu sempre me identifiquei com o cristianismo/minoria, com a igreja perseguida, com os mártires. Por outro lado, a histórica igreja cristã romana das cruzadas, das inquisições, perseguições, fogueiras e torturas, essa sempre me revirou o estômago.

Hoje, muitos evangélicos brasileiros se tornam semelhantes a isso!

Quando vejo a postura iracunda e opressora de certo tele evangelista, logo me vem a mente um inquisidor. Quando vejo outro, demonstrando carinha de anjo, se expressando com fala mansa, logo me vem à mente um daqueles papas puxa sacos do nazismo.

Não gosto dessas pessoas, pois, pra mim, não são cristãos, na acepção etimológica mais original! São representantes de uma religião cristã, mas não pequenos cristos – termo que, aliás, nasceu carregado de sentimento pejorativo.

Eu rejeito os estigmas empreendidos por esta neo inquisição brasileira, oriundos de uma mentalidade moldada por pensamento facista, direitista e por radicais que se entendem “de bem”, defensores da moral e do cristianismo.

Hey! Eu sou cristão e gosto de Marx! Acho que ele foi um gênio, um filósofo que decifrou como ninguém o mundo moderno do ponto de vista econômico. Uma figura tão grande, tão inteligente e tão importante pra nós, pequenos trabalhadores deste mundo capitalista implacável.

Todos os trabalhadores do mundo devem tudo ao Marx!

Sou cristão e adoro ler Nietzche! Sou cristão e admiro o Comandante! Sou cristão e prefiro conhecer Cuba a Nova Iorque. Sou cristão e gostaria de conhecer Istambul antes de Jerusalém.

Sou cristão, não sou comunista, nem psdbista (eca!). Sou cristão e não sou petista, sou aspirante a anarquista, apartidário, porque entendo que este sistema está um lixo, tomado de bicho, de cancro (o que inclui as igrejas).

Sou cristão, defendo que os gays são livres para sê-lo e que não são doentes, como um monte de pastores dizem por aí.

Sou cristão, toco na noite, vivo entre os boêmios, sou amigo deles, frequento seus bares e suas casas. Como e bebo sentado à mesa com eles! Amo os pecadores e me sinto mais feliz com eles do que dentro de muitas comunidades que se auto intitulam cristãs, mas que do Cristo, nada têm.

Tenho a alma revolucionária, por isso me identifico com as minorias!

Sou mais meu pouco em liberdade do que a proposta de muito sob escravidão.

Sou mais Bolívar do que Bonaparte! Sou mais Gandhi do que Churchill! Sou mais Fidel, Che e Jango do que JFK! Sou mais a Dilma Guerrilheira do que o Aecio entreguista! Sou mais abaixo da linha do Equador do que acima! Sou mais a revolução pelo ideal do que a acomodação com o governo da besta mundial!

Sou cristão e sou mais meu pouco em liberdade do que a proposta de muito sob escravidão!

Sou cristão e quero continuar sendo livre, inclusive, para expressar o que penso e sinto!

*****
Fonte:http://colunas.gospelmais.com.br/nova-inquisicao-brasileira_10593.html

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Cultura e Evangelho: o lugar da cultura no plano de Deus

09.10.2013
Do blog NOVOS DIÁLOGOS, 06.10.13
Por Nivea Lazaro

Cultura e Evangelho: o lugar da cultura no plano de Deus
GONZÁLEZ, Justo L. Cultura e Evangelho: o lugar da cultura no plano de Deus. São Paulo: Hagnos, 2011. 

Cultura e Evangelho é um daqueles livros cujo título aguça a expectativa do leitor. Resultado de uma série de conferências feitas por Justo González, o livro nos dá a oportunidade de adentrar a intersecção entre antropologia e teologia ou, nos termos do livro, cultura e evangelho. A obra tem seus créditos muito por introduzir determinadas questões pertinentes ao tema de missões, mas não só isso: também por trazer à tona questões a partir da própria experiência do autor (um protestante em Cuba). 

Uma das primeiras questões que se coloca no livro é a de como ser cristão em uma dada cultura. Ora, se somos cristãos, nós o somos sem deixar de sermos brasileiros, norte-americanos, franceses e por aí vai. O ponto aqui – e que transparece não só nesta parte, mas em outros trechos do livro – é o conceito de cultura com o qual o autor trabalha (e que talvez eu devesse chamar conceitos). Trata-se de um conceito de cultura um tanto estático e, ao mesmo tempo, difuso. Para o autor, cultura tem uma dimensão externa e outra interna, sendo externa a relação do homem com o seu meio ambiente e interna a relação do homem consigo entre si. Já o título em espanhol aponta para o conteúdo do livro de forma mais ampla: Cultocultura y cultivo, incluindo a dimensão da fé (culto). 

O primeiro capítulo do livro trata sobre fé e cultura e traz uma discussão muito interessante. Nas palavras do autor: 

Seria possível ser evangélico plenamente, tão evangélico quanto qualquer um dos missionários que vinham da América do Norte, e ao mesmo tempo ser plenamente latino-americano, tão latino-americano quanto qualquer um? (p. 28) 

É possível ser este o maior mérito do livro: trazer esta e outras questões importantes à baila. Quanto a primeira e talvez mais central, lembro-me de ter lido alguns trechos de um livro chamado Religião como tradução, cuja principal tese enriqueceria e muito as respostas de González, pois no livro de Cristina Pompa (1), o que aconteceu nas missões jesuíticas não foi uma simples imposição da religião católica aos índios, mas uma tradução de ambas as partes que resultou na catequese indígena. 

Outro ponto importante levantado por González é a relação entre a cultura e a queda, cuja conclusão pode parecer simples, mas é frequentemente esquecida (2). No capítulo quatro, discute-se sobre a diversidade de culturas usando dois momentos bastante semelhantes na Bíblia: o episódio da torre de Babel e o Pentecostes. 

No capítulo seguinte, sobre cultura e evangelho, fala-se sobre cultura, porém de forma mais abstrata. Nas palavras do autor: “como pode uma cultura alheia ao evangelho encarnar esse mesmo evangelho?” (p. 96). 

No capítulo seis, sobre cultura e missão, está uma das passagens mais importantes e significativas do livro: “...toda cultura deve ser vista sob a lente dupla do amor e da presença de Deus, por um lado, e da corrupção do pecado, por outro. Toda cultura é pecaminosa, mas, ao mesmo tempo, Deus atua em toda cultura.” (p. 124). 

No capítulo que encerra o livro, o autor discute “como a própria adoração cristã mostra e celebra certa relação entre a fé e a cultura”, tendo por tema os sacramentos. Ainda no último capítulo, González faz uma leitura de Rembao, distinguindo o que chama ser uma “cultura evangélica” e a cultura que nos rodeia. Esse é um ponto que considero embaçado na obra do autor. Podemos ser cristãos, mas cristãos que vivem em determinado contexto histórico e geográfico. Como separar uma “cultura evangélica” com tal nível de abstração? 

Apesar de revelar suas lacunas (principalmente pelo aspecto antropológico e de como este é trabalhado ao longo do livro), de escrita leve e bem delineada, Cultura e Evangelho é uma boa leitura, sobretudo a quem deseja se iniciar no tema. O livro levanta questões importantes e esboça ótimas discussões em torno do assunto, dando-nos o gosto de conhecer mais do autor. 

Notas 
(1) Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru, SP: Edusc, 2003. 
(2) Cap. 3. Cultura e pecado. 
*****