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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo

09.02.2015
Do portal VOLTEMOS AO EVANGELHO
Por Craig L. Blomberg

Saba-OSabadoCumprido

Cada vez menos cristãos reservam um dia da semana para a adoração e para o descanso de todas as formas de trabalho. Deveríamos nos preocupar com isso? Os adventistas do sétimo dia e os batistas do sétimo dia dizem que sim e sustentam que o dia do sabá deve ser o sábado.

Alguns tipos de presbiterianos e de cristãos reformados, juntamente com outros influenciados pelo legado dos puritanos, respondem “sim” com a mesma ênfase, contudo insistem que o domingo é o sabá cristão. Ainda há aqueles que defendem o princípio de descansar um dia a cada sete, mas não se preocupam com qual seja o dia da semana, uma vez que os pregadores, por exemplo, dificilmente podem descansar no dia em que lideram os cultos de adoração. Alguma dessas três perspectivas está correta? Na verdade, não.

Jesus declarou: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5.17, NVI). É um contraste incomum. Normalmente, quando alguém diz não estar abolindo alguma coisa, continua e diz estar preservando-a intacta. Mas não é assim que a palavra cumprir é usada na Bíblia. Apenas em Mateus, seu significado mais comum é “realizar aquilo que estava predito” ou “dar o significado pleno a algo que estava apenas parcialmente descoberto” (por exemplo, 1.22; 2.15, 17, 23; 3.15; 4.14). Cristãos de todos os tipos reconhecem que não precisam trazer animais à igreja para serem mortos e oferecidos como sacrifícios por seus pecados, muito embora tal prática fosse central a todo o sistema de adoração da antiga aliança. Cristo é de uma vez por todas o nosso sacrifício pelos pecados; assim, o modo como observamos as muitas leis sacrificiais de Levítico hoje é confiando em Jesus para o perdão dos pecados. O Novo Testamento introduz igualmente muitas outras mudanças na lei do Antigo Testamento – todos os alimentos agora são ritualmente puros, de modo que não há problema em comer porco ou camarão (Marcos 7.19). Nós não precisamos ir a um lugar definido para os rituais do templo, porque adoramos em qualquer lugar no qual possamos nos reunir “em Espírito e em verdade” (João 4.24). Homens cristãos não precisam ser circuncidados, muito embora esse fosse um dos mais fundamentais de todos os mandamentos judaicos, precedendo até a entrega da lei no Monte Sinai (Gênesis 17). Em vez disso, hoje Deus aceita igualmente todos os povos com base na “fé que atua pelo amor” (Gálatas 5.6). A lista de mudanças semelhantes é longa.

Mas o que dizer dos Dez Mandamentos? Certamente eles têm algo de especial e são especialmente atemporais de maneiras que o restante da lei da antiga aliança não é. Apesar de uma longa história de pensamento cristão nessa linha, nada na Bíblia jamais afirma isso. Toda a Escritura é vista como uma unidade (Tiago 2.8-11). Os judeus criam que todas as suas leis eram imutáveis. Era isso que tornava tão difícil para muitos deles aceitar Jesus como enviado do céu; ele estava desafiando suas leis eternas. Não importava se ele deixaria muitas delas aparentemente intactas; o seu ensino de que a nova era da história humana, a qual ele estava inaugurando, iria mudar algumas dessas leis deixava muitas pessoas inflamadas. Apenas Deus poderia mudar a lei de Deus. Mas, se Cristo era Deus, então ele tinha esse direito. Se ele não era, seu ensinamento era blasfemo. Os cristãos, contudo, creem que Jesus é Deus. Assim, ainda que uma lei apareça nos Dez Mandamentos, nós não podemos presumir que ela adentra a era do novo pacto sem mudanças. Nós precisamos examinar como Jesus e os apóstolos a trataram antes de podermos entender se ela ainda é obrigatória.

O que, então, o Novo Testamento ensina acerca da lei do sabá, um mandamento dentre os famosos dez (Êxodo 20.10)? Jesus não responde essa questão tão explicitamente quanto gostaríamos; se o tivesse feito, não estaríamos debatendo este assunto hoje. Porém, em todos os seus encontros com os líderes religiosos do seu povo, ele os reprova por impedi-lo de fazer o bem aos sábados, especialmente no que concerne a curar pessoas. Curiosamente, porém, ele jamais cura alguém cuja vida esteja em perigo iminente. Uma mulher andava encurvada há dezoito anos (Lucas 13.10-11). Um homem estava inválido há trinta e oito (João 5.5, 9).

Podemos imaginar os fariseus argumentando com Cristo: certamente ele poderia esperar mais um dia para curar aquelas pessoas, de modo que não profanasse o sabá divino. Certa vez, os discípulos de Jesus colheram algumas espigas em um campo, no sabá, presumivelmente para comê-las, mas nada implica que eles estivessem à beira da inanição (Marcos 2.23). Contudo, a defesa de Jesus para o seu comportamento apresenta um precedente amplo para mudanças: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2.27).

Ao curar um homem com uma mão ressequida no sabá, Jesus ensina que é lícito fazer o bem no sabá (Marcos 3.4). Qualquer comportamento que ajude alguém, que embeleze o mundo, que faça avançar a vontade de Deus, que promova o trabalho honesto ou que proveja recreação ou prazer ao povo de Deus é considerada “boa” na Bíblia e é, portanto, lícito realizá-lo no sabá. Essa é a atitude que deu à primeira geração de cristãos a liberdade de transferir o culto do sabá judaico no sétimo dia para o domingo, o primeiro dia da semana (Atos 20.7; 1Coríntios 16.2). Foi isso que os conduziu a chamar o domingo de “o Dia do Senhor” (Apocalipse 1.10).

Mas os cristãos de modo algum transferiram tudo o que havia no sabá judaico do sábado para o domingo. Os crentes gentios, que compreendiam a maior parte da igreja da metade do primeiro século em diante, não tinham em suas comunidades um dia semanal para o descanso. Gregos e romanos tinham diversos feriados mensais, de acordo com os diversos calendários religiosos festivos que seguiam. Porém, a menos que algum desses feriados caísse num domingo, os cristãos gentios tinham que trabalhar o dia inteiro no primeiro dia da semana e encaixar a adoração e a comunhão ou na manhã do domingo, antes do amanhecer, ou na noite do sábado ou do domingo, após o anoitecer. Foi apenas depois de Constantino tornar-se o primeiro imperador cristão, no início do quarto século, que o domingo foi legalizado como um dia santo (e portanto feriado) no Império Romano.

Muitos dos escritores cristãos do segundo e do terceiro séculos até mesmo falavam da guarda do sabá como uma prática “judaizante” – que levava de volta ao legalismo que Cristo viera abolir. Aquilo provavelmente era uma reação exagerada, a menos que as pessoas que guardassem o sabá, seja no sábado ou no domingo, estivessem tentando obrigar outros a segui-los. Afinal, em Romanos 14.5, Paulo escreveu: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”. Esse mandato é dado no contexto do descanso no capítulo 14, no qual Paulo aborda questões que estavam dividindo os cristãos em Roma. No coração do debata estava o sabá e outros dias festivos, bem como as leis alimentares, acerca das quais Paulo diz, em poucas palavras: parem de julgar uns aos outros (v. 13).

Colossenses 2.16 é ainda mais claro: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”. Aqui nós vemos a costumeira tríade judaica de dias santos – festas anuais como a Páscoa, Tabernáculos ou o Dia da Expiação; dias festivos mensais e o sabá semanal. Os cristãos são livres para celebrá-los ou não, e os outros cristãos não devem julgá-los por suas escolhas. A encarnação de Cristo é a realidade que os dias santos preanunciavam. Os seguidores de Jesus vêm a ele e recebem descanso “24 por 7”, como dizemos hoje, porque o seu jugo é suave e o seu fardo é leve (Mateus 11.28-30). Nossa vida inteira é um descanso sabático, preanunciando o nosso descanso eterno (Hebreus 4.9-11).

Estou dizendo, então, que o culto e o descanso são opcionais para os cristãos? De modo algum. Nós precisamos de ambos e precisamos deles com frequência. O que estou dizendo é que o Novo Testamento insiste que não nos atrevamos a legislar ou exigir um dia em sete para essas coisas. O corpo de cada pessoa é diferente, assim como são suas exigências de trabalho, suas oportunidades de se reunirem com outros crentes e suas necessidades espirituais em geral. Em um mundo viciado em trabalho, que com tanta frequência fragmenta famílias e igrejas, tenhamos o descanso que nos for necessário e cultuemos com frequência juntamente com o povo de Deus. E que as igrejas criem mais cultos, no sábado à noite ou em outros dias da semana, para aqueles que não podem vir ou não vêm aos domingos. Com efeito, sejamos cada vez mais criativos em como alcançar os desigrejados e os que precisam de salvação. Mas não podemos fingir que a panaceia para os nossos problemas na igreja e na sociedade esteja em retornar a um sabá supostamente idílico que, antes de tudo e em grande parte, foi uma invenção dos puritanos.

Nota:

[1] N.E.: Sabá é a transliteração em português do termo em hebraico. Alguns textos usam sábado ou sabbath (transliteração em inglês). Optamos por sabá por ser um termo em português e distinto do dia da semana. Contudo, não se deve confundir com a rainha de Sabá de 1 Reis 10:4.

Observação:

Este artigo é parte da série “Sabá: O Debate Incansável”, na qual serão publicados artigos defendendo diferentes posições para que nosso leitor tenha uma compreensão mais abrangente sobre o assunto. Sendo assim, a postagem de uma posição específica não indica o posicionamento oficial deste ministério. Veja a lista de artigos sobre o assunto:

  1. O debate sobre o sabá (sábado ou sabbath)
  2. O debate sobre o sabá: a guarda do sábado, o sétimo dia
  3. O debate sobre o sabá: o domingo puritano
  4. O debate sobre o sabá: o descanso luterano
  5. O debate sobre o sabá: o sábado cumprido em Cristo
  6. O debate sobre o sabá:  descansar em Cristo é o principal (16/02)
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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/02/o-debate-sobre-o-saba-o-sabado-cumprido-em-cristo/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+voltemosaoevangelho+%28Voltemos+ao+Evangelho%29

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Preocupação social de Jesus

09.10.2013
Do blog ENTRETEXTOSTEOLÓGICOS
Por Craig Blomberg*

Jesus nunca foi francamente político no sentido de procurar influenciar ou usur­par o poder terreno, ou ainda promover um partido político ou um programa socioeconômico específico. 

Quando seus seguidores tentaram pela força torná-lo rei, ele fugiu (Jo 6.15). Quando seus ensinos sobre a preparação para o perigo foram mal-interpretados no Getsêmani, ele curou o ferimento causado pela espada de Pedro (Lc 22.51). Embora tenha purificado o templo, esse foi um protesto secundário, sem efeito duradouro, que pretendia mais profetizar a destruição do templo do que promover uma mudança no sistema. Consequentemente, ele não foi nem um revolucionário social nem um reformador no sentido contemporâneo desses termos. 

Assim procedeu, em parte, porque sabia que o foco central de sua missão era morrer pelos pecados do mundo, mas também porque era radical de­mais para se conformar com uma reforma meramente estrutural: ele sabia que a regeneração do coração é a condição necessária para uma contínua distribuição social ou econômica de recursos. Apesar disso, ele intimou sua audiência a obser­var o que havia de mais importante na Lei, que ele definiu, à laMiquéias 6.8, como justiça, misericórdia e fidelidade (Mt 23.23) — o epítome da preocupação social. Estaremos falseando a sua ética da não-violência e da não-retaliação se a rotularmos simplesmente de passividade: Jesus deve ser comparado com os profe­tas do Antigo Testamento, cujas vigorosas denúncias da injustiça que viam, con­vidavam outros a praticar os justos padrões de Deus.

Ao rejeitar o poder institucional, Jesus convidou seus seguidores a se con­duzirem como servos, rejeitando a maneira autoritária do mundo romano que os cercava (Lc 22.25-27). Ele promoveu “o reino às avessas”, procurando sal­var os perdidos e os párias de sua sociedade, e convidando seus seguidores a fazer o mesmo. De qualquer forma, ele nunca endossou o Estado de forma acrítica. Mas Jesus percebia a possibilidade de mudança duradoura para melhor neste mundo, não pelo governo, nem mesmo pelos indivíduos, mas pelo corpo coletivo de seus seguidores, também conhecido como igreja. Hauerwas e Willimon observaram isso sucintamente: “A igreja não tem uma estratégia so­cial, a igreja é uma estratégia social”. Na história do protestantismo, vimos ten­tativas de criar um estado cristão (esp. pelo calvinismo) e uma atenção no arrependimento individual e na vida cristã (esp. por Lutero), mas é a visão anabatista da igreja coletivamente como o modelo de implementação das éticas do reino de Deus que melhor se aproxima dos contextos e intenções dos ensinos de Jesus.

No mundo de Jesus, sua opção foi a da via media entre o escapismo dos essênios e o fervor revolucionário dos zelotes. Em seus objetivos, ele estaria prova­velmente mais próximo dos fariseus — pretendendo que o povo de Deus vivesse a vida como um todo através de sua vontade —, mas os métodos de Jesus eram bem diferentes. Embora os conceitos venham de Paulo, eles se ajustam bem à vida de Jesus: capacitação não pela Lei, mas pelo Espírito. Quando uma comuni­dade compreende as possibilidades de viver desse modo, os líderes oficiais, políti­cos e religiosos, muitas vezes acabam se sentindo ameaçados, já que sua impotência em criar melhorias semelhantes fica destacada pelo contraste.

Misericórdia e justiça foram as preocupações fundamentais ao longo da vida de Cristo. Os ministérios de João e Jesus haviam sido preditos como os da recons­tituição de Israel através de atributos semelhantes a esses (Lc 1.17,50,72), e os próprios ensinos de João sobre tais tópicos enfim lhe custaram a vida (Lc 3.10- 14,19). O sermão inaugural de Jesus em Nazaré delineou o seu manifesto: as boas novas aos pobres, libertação dos presos, restauração da vista aos cegos, liber­dade aos oprimidos e uma declaração do ano do jubileu (Lc 4.16-21). O seu ministério holístico de curar espírito e corpo se concentrou em particular no desterrado social, nos pobres, nos samaritanos, nos gentios, nas mulheres, nas crianças e nos doentes (especialmente nos “leprosos intocáveis”). As suas parábo­las realçaram a graça e misericórdia de Deus (Lc 15.1-32), mas também o desejo de Deus por justiça social (Lc 18.1-8) que transcende todas as diferenças cultu­rais (Lc 10.25-37; Jo 4.1-42).

No entanto, a área sobre a qual ele mais ensinou foi a da mordomia de nossos bens materiais. Não se pode servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6.19-34 par.). Bem-aventurados são os materialmente pobres, cuja pobreza os leva a proclamar a dependência de Deus (Lc 6.20; Mt 5.3). Previna-se da cobiça ou da acumulação desnecessária de riqueza (Lc 12.13-21) e da vida luxuosa enquanto os pobres do mundo precisarem mendigar (Lc 16.19-31). Use a riqueza mundana para pro­pósitos eternos (Lc 16.1-13). Nenhuma porcentagem foi estabelecida para as doações (recorde-se o trio de passagens em Lc 18.18-30; 19.1-10,11-27), mas em cada exemplo todas as propriedades são, no final das contas, do Senhor. Sem dúvida, a questão mais instigante está em Marcos 8.36: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”.

Implementar a ética do reino de Jesus, especialmente sua ética da preocupação social e em particular numa sociedade democrática moderna, distinta do mundo romano do século I, exige considerável sensibilidade e sofisticação. É certo que temos o direito e a responsabilidade, tanto quanto qualquer um, de buscar o que possa, segundo pensamos, promover nosso “bem comum”. No entanto, não pode­mos nem pensar em contar com a legislação ou com partidos políticos para a reali­zação daquilo que somente o povo de Deus atuando como igreja pode fazer. Devemos assumir uma agenda completamente pró-vida: tentar impedir o aborto e evitar endossar o pecado sexual ou glamorizar a vida familiar desajustada. Mas, ao mesmo tempo, devemos também trabalhar para a melhor qualidade de vida dos nascidos, incluindo cuidados médicos adequados aos pobres, moradia para os sem-teto, empre­gos para os desempregados e alternativas positivas para os que caíram numa vida de crimes. 

Precisamos demonstrar uma preocupação genuína com a destruição do meio-ambiente, também uma criação de Deus. Nas sociedades, o que inclui a nossa, onde o racismo, o sexismo, a separação de classes e o etnocentrismo ainda mantêm milhões de pessoas separadas umas das outras, não sendo oferecidas a todos as mes­mas oportunidades de usufruir os direitos humanos básicos, devemos nos opor à injustiça e promover a libertação dos oprimidos. Entretanto, jamais devemos supor ser isso um fim em si mesmo, para que as pessoas não conquistem liberdades terre­nas sem estarem preparadas para seguirem Jesus Cristo na eternidade.

*Fonte: Jesus e os Evangelhos – Craig Blomberg.
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