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terça-feira, 11 de abril de 2023

A importância dos evangélicos pentecostais na construção da religiosidade cristã brasileira, principalmente as Assembleias de Deus

11.04.2023

Editado por Irineu Messias*

Assembleia de Deus do Planalto Central, em Brasília/DF, presidida pelo pastor Rinaldo Alves dos Santos. Reunião de ministros evangélicos em um dos eventos da igreja, 2017

As Assembleias de Deus são uma denominação evangélica pentecostal que surgiu no Brasil no início do século XX. Desde então, essa igreja tem desempenhado um papel fundamental na construção da religiosidade cristã no país. Neste artigo, discutiremos a importância dos evangélicos pentecostais, com foco nas Assembleias de Deus, na formação da religiosidade brasileira.

Logotipo da Assembleia de Deus Ebenézer em Pernambuco, presidida pelo pastor Robenildo Lins
Uma das principais contribuições dos evangélicos pentecostais foi a introdução de uma forma mais emotiva de culto. Antes da chegada dos pentecostais, uma religião no Brasil era dominada pelo catolicismo, que enfatizava a liturgia e a reverência ao clero. Os pentecostais trouxeram uma nova abordagem, que valorizou a participação ativa dos fiéis no culto, incluindo orações em línguas estranhas, e manifestações de cura divina. Esse estilo de culto mais emocional teve um grande apelo entre a população brasileira, especialmente entre os pobres e marginalizados.

Logotipo da Assembleia de Deus em Pernambuco, presidida pelo pastor Ailton José Alves 
Além disso, os evangélicos pentecostais tiveram um papel importante na promoção da alfabetização e educação em áreas remotas do país. Em muitas comunidades rurais, as Assembleias de Deus estabeleceram escolas para ensinar crianças a ler e escrever. Esse esforço educacional teve um impacto significativo no desenvolvimento dessas comunidades, ajudando a preparar uma nova geração de brasileiros para enfrentar os desafios do mundo moderno.

Outra contribuição importante dos evangélicos pentecostais foi a promoção da igualdade racial e social. No Brasil, uma religião sempre esteve ligada à estratificação social, com uma elite branca geralmente ocupando as posições mais altas na hierarquia da igreja. Os evangélicos pentecostais, no entanto, promoveram uma mensagem de igualdade e inclusão, acolhendo pessoas de todas as raças e classes sociais em suas igrejas. Isso teve um impacto significativo na construção de uma sociedade mais justa e democrática no país.

Logotipo da Assembleia de Deus em Abreu e Lima, Pernambuco. presidida pelo pastor José Roberto dos Santos
As Assembleias de Deus também foram pioneiras na utilização da mídia para evangelização. Através de programas de rádio e televisão, essa igreja alcançou milhões de pessoas em todo o Brasil e além. Isso ajudou a disseminar a mensagem do evangelho para uma audiência mais ampla, permitindo que pessoas em áreas remotas ou pacientes com deficiência tenham acesso à palavra de Deus.

Por fim, os evangélicos pentecostais, inclusive as Assembleias de Deus, tiveram um papel fundamental na construção da identidade religiosa brasileira. O pentecostalismo trouxe uma abordagem mais dinâmica e participativa para a religião, incentivando os fiéis a se envolverem mais profundamente com sua fé. Isso ajudou a criar uma comunidade religiosa unida, que compartilha valores e objetivos comuns.

Em resumo, os evangélicos pentecostais, especialmente as Assembleias de Deus, tiveram um impacto significativo na construção da religiosidade cristã no Brasil.

*Irineu Messias, é pastor e vice-presidente da Assembleia de Deus Ebenézer em Pernambuco.

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sexta-feira, 17 de junho de 2022

HINOLOGIA CRISTÃ: Harpa Cristã completa 100 anos

17.06.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 10.06.22

Por Felipe David Pereira

Primeira versão do hinário oficial da Assembleia de Deus surge em 1922 no Recife
 

2022 marca os 100 anos de existência da Harpa Cristã, um dos principais hinários da Igreja Evangélica Brasileira. Adotado oficialmente pelas Assembleias de Deus, o cancioneiro contém 640 músicas que contemplam as mais diversas temáticas e todas as exigências cerimoniais e litúrgicas da denominação.

De acordo com o pastor e jornalista Silas Daniel, o principal diferencial da Harpa Cristã para os demais hinários é que ela traz também hinos escritos por autores dos primórdios do Movimento Pentecostal, tanto personalidades brasileiras como missionários suecos que fundaram as Assembleias de Deus no Brasil. 
 
“Alguns desses hinos são versões para o português, mas outros são obras originais. Pode-se dizer que o hinário assembleiano é um excelente exemplar da teologia pentecostal”, afirma Silas, que é autor “A História dos Hinos que Amamos”, lançado em 2012 por ocasião das comemorações dos 90 anos da Harpa Cristã.
 
A história

Assim como outras igrejas, as Assembleias de Deus usavam anteriormente o hinário "Salmos e Hinos". Porém, a liderança da igreja percebeu a necessidade da criação de um hinário com ênfase nas doutrinas pentecostais. A primeira tentativa em resposta a essa demanda foi o Cantor Pentecostal, lançado em 1921 e distribuído na Assembleia de Deus do Pará. A publicação foi supervisionada por Almeida Sobrinho - que também editou jornais da denominação, e contava com 44 hinos e 10 corinhos.
 
No ano seguinte, a Harpa Cristã surge, no Recife, PE, com uma proposta mais robusta: a primeira edição foi lançada com 100 canções e tiragem de mil exemplares. O trabalho editorial da primeira versão foi conduzido pelo Pastor Adriano Nobre e a popularidade do hinário se deu pelo esforço do missionário sueco Samuel Nyström que compartilhou a obra em várias partes do Brasil. 
 
Já na segunda edição, a Harpa Cristã chegou a 300 hinos. Em 1932, uma nova versão da Harpa foi disponibilizada com 400 hinos. No mesmo ano, durante a Convenção Geral Das Assembleias de Deus no Brasil, foi formada uma comissão para editar e publicar a primeira versão do hinário com música. Além de Nyström, faziam parte do grupo o organista e acordeonista Emílio Conde, autor e adaptador de diversos hinos da Harpa Cristã, Paulo Leivas Macalão e o pastor sueco Nils Kastiberg.
 
Nos anos de 1950, a Harpa chegou a seu formato clássico, com 524 hinos. Em 1979, uma outra comissão foi formada para rever músicas e letras da Harpa Cristã. O resultado deste trabalho foi lançado em 1992, com a publicação de uma versão atualizada do hinário. A edição atual com 640 hinos, conhecida como Harpa Cristão Ampliada, foi disponibilizada em 1999.
 
Atravessando gerações

A Harpa Cristã é lançada uma década depois da fundação das Assembleias de Deus no Brasil. Não é a toa que, segundo o pastor Silas Daniel, ela desempenha um papel didático nas comunidades pentecostais. “O conteúdo de seus hinos expressa muito bem a teologia e o espírito do pentecostalismo, de maneira que eles não só inspiram, mas também enriquecem e instruem os crentes enquanto cantam”, destaca.
 
Para o pastor, um dos marcos no centenário da Harpa Cristã é o fato de ser um recurso ainda muito utilizado pelos assembleianos, apesar de ser um período em que muitas igrejas já não mais utilizam seus hinários. “A Harpa Cristã não é uma peça esquecida na tradição assembleiana, mas está bem viva no dia-a-dia da nossa denominação”, enfatiza.
 
Para quem quer conhecer mais ou acompanhar online, há um site da Harpa Cristã que reúne história, notícias, vídeos e wallpapers com trechos dos hinos. Além da versão impressa, os hinos estão reunidos em formato de áudio no site harpacrista.org e, no perfil da editora CPAD, responsável pela publicação da Harpa no Brasil, há um vídeo celebratório que apresenta a história do hinário e lembra a missão dos crentes a partir de trechos de vários hinos bastante conhecidos.
 

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/harpa-crista-completa-100-anos

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Helicóptero com governador do Rio e snipers metralhou ponto de oração de evangélicos em Angra

08.05.2019
Do portal  REVISTA FÓRUM, 03.05.19
Por Redação

"Aos sábados, cerca de 30 pessoas sobem o morro para orar. Algumas passam a noite acampadas ali. Poderia ter sido uma tragédia", afirmou o pastor da Assembleia de Deus sobre a ação comandada pelo governador Wilson Witzel no último dia 4. Local foi confundido com casamata do tráfico


Reportagem de Matheus Maciel, na edição desta quarta-feira (8) do jornal Extra, informa que uma rajada de 10 tiros em apenas um segundo, que partiu do helicóptero onde estava o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), acompanhando snipers atingiu um um ponto de apoio para peregrinação de evangélicos, que foi confundido com uma casamata do tráfico.
Por sorte, segundo a reportagem, não havia ninguém no local, algo incomum numa manhã de sábado, quando ocorreu a operação na trilha do Monte do Campo Belo, em Angra dos Reis, no último dia 4.
“Foi um livramento. Nos fins de semana, sempre tem alguém ali, ajoelhado junto à lona, rezando. Faz parte da nossa peregrinação. O prefeito sabe disso”, reclamou o diácono da Assembleia de Deus Shirton Leone, citando Fernando Jordão (MDB), que também estava no helicóptero.
“Aos sábados, cerca de 30 pessoas sobem o morro para orar. Algumas passam a noite acampadas ali. Poderia ter sido uma tragédia”, lamentou.
Witzel se hospedou em um hotel cinco estrelas em Angra dos Reis no final de semana para comandar a operação cinematográfica na periferia da cidade. Com pretexto de “acabar com a criminalidade”, o governador acompanhou os disparos feitos pelos snipers nas comunidades de dentro do helicóptero.
Nesta terça-feira (7), Talíria Petrone (PSOL-RJ), deputada federal, e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) denunciaram a “agenda genocida” do governador Wilson Witzel (PSC) à Organização das Nações Unidas (ONU).

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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Bolsonaro não cumpre uma missão divina

22.04.2019
Do blog TEOLOGIA PENTECOSTAL, 
Por Gutierres Fernandes Siqueira*

gutierresPor mais de uma vez o nosso presidente, Jair Bolsonaro, disse que está cumprindo uma missão de Deus. Hoje, na Nova Aliança, essa ideia de que um governante cumpre a missão divina é errada. Em nenhuma página do Novo Testamento somos ensinados que Deus levanta governantes para uma missão nacional. Paulo é claro ao destacar que o único propósito divino para as autoridades é a guarda da legalidade (Romanos 13). Em parte, essa ideia do presidente Bolsonaro reflete a “Teologia do Destino Manifesto”, uma doutrina estranha que une alguns reformados teonomistas, católicos integralistas e neopentecostais nacionalistas. Sobre isso, o grande teólogo norte-americano Reinhold Niebuhr escreveu:

“Na verdade, nenhuma nação ou indivíduo, mesmo o mais justo, é bom o suficiente para cumprir os propósitos de Deus na história. A própria concepção da história de Jesus era que todos os homens e nações estavam envolvidos em rebelião contra Deus e que, portanto, o Messias teria que ser, não um governante forte e bom que ajudasse os justos a serem vitoriosos sobre os iníquos, mas um ‘servo sofredor’ que simbolizaria e revelaria a misericórdia de Deus; pois somente o perdão divino poderia finalmente superar as contradições da história e a inimizade entre o homem e Deus. Nenhum homem ou nação seria capaz de discernir os ‘sinais’ (a cruz iminente, por exemplo) que significaria esse tipo de esclarecimento final da história. A falta de discernimento seria devida, não a um defeito da mente no cálculo do curso da história, mas a uma corrupção do coração, que introduziu a confusão do orgulho egoísta” (Discerning the Signs of the Times).

Gutierres Fernandes Siqueira. Editor do blog. Graduado em Comunicação Social pela Faculdade Paulus (FAPCOM) e pós-graduado em Mercado Financeiro e de Capitais pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É membro e professor de EBD na Igreja Evangélica Assembleia de Deus- Ministério Belém em São Paulo (SP). É autor do livro “Revestidos de Poder: Uma Introdução à Teologia Pentecostal”, publicado pela CPAD.
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terça-feira, 7 de novembro de 2017

A GRAÇA PREVENIENTE NA TEOLOGIA ARMINIANA E WESLEYANA

07.11.2017
Do BLOG DO PASTOR ALTAIR GERMANO, 26.01.15
Por Pr. Altair Germano

Diversas denominações evangélicas no Brasil não são adeptas da teologia reformada calvinista no que diz respeito ao entendimento da doutrina da salvação. A soteriologia de tais denominações reproduz ou se aproxima da teologia arminiana clássica e da teologia wesleyana.

O calvinismo é a tradição teológica da qual o reformador protestante João Calvino (1509-1564) é o proponente mais famoso.[1] Já o arminianismo clássico é oriundo do movimento de oposição à perspectiva de salvação dos reformados calvinistas, que foi iniciado pelo teólogo e pastor Holandês Jacó Armínio (1569-1609).[2]

A tradição reformada calvinista e a tradição reformada arminiana clássica possuem diversos pontos em comum no campo teológico, mas divergem consideravelmente acerca da doutrina da salvação, chegando nesse aspecto ao nível da incompatibilidade. Neste artigo daremos ênfase nas diferentes perspectivas de como a graça de Deus age sobre a vida do perdido pecador.

Arminianos clássicos e calvinistas concordam no fato de que o pecado afetou todos os aspectos da personalidade humana, inclinando-nos à rebelião e ao mal, tornando-nos completamente indispostos a nos submeter a Deus à Sua boa, perfeita e agradável vontade. Estamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1). Trata-se aqui da depravação total do homem caído.

As diferenças entre os arminianos clássicos e wesleyanos, dos pensadores calvinistas, surgem no entendimento de como Deus trata com os pecadores nessa condição. Do ponto de vista arminiano clássico:

[...] Deus estende graça suficiente para todas as pessoas através do Espírito Santo, para opor-se à influência do pecado e capacitar uma resposta positiva a Deus (Jo 15.26-27; 16.7-11). A iniciativa aqui é inteiramente da parte de Deus; o papel do pecador é simplesmente responder em fé e grata obediência (Lc 15; Rm 5.6-8; Ef 2.4-5; Fp 2.12-13). Todavia, os pecadores podem resistir à iniciativa de Deus, e persistir no pecado e rebelião. Em outras palavras, a graça de Deus capacita e encoraja uma resposta positiva e salvífica para todas as pessoas, mas ela não determina uma resposta salvífica para ninguém (At 7.51). Além disso, uma resposta positiva inicial de fé e obediência não garante a salvação final de alguém. É possível iniciar um relacionamento genuíno com Deus, mas então, posteriormente, se afastar Dele, e persistir no mal de sorte que a pessoa, por fim, se perca (Rm 8.12-13; 11.19-22; Gl 5.21; 6.7-10; Hb 6.1-8; Ap 2.2-7).[3]

Passaremos a observa como Armínio e Wesley lidaram com a graça preveniente.

A GRAÇA PREVENIENTE NA TEOLOGIA DE ARMÍNIO

O posicionamento de Armínio sobre a graça preveniente foi registrado em suaDeclaração de Sentimentos:

Eu atribuo à graça o começo, a continuidade e a consumação de todo bem, e a tal ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta graça preveniente e estimulante, seguinte e cooperante. Desta declaração claramente parecerá que, de maneira nenhuma, eu faço injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre-arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à solução desta questão, “a graça de Deus é uma certa força irresistível”? Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualquer um) mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível ou não. Em se tratando dessa questão, creio, de acordo com as Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é oferecida.[4]

Para Armínio, a salvação pessoal é um ato da iniciativa da graça de Deus, mas que não é irresistível.

Após a morte de Armínio, quarenta e seis ministros holandeses elaboraram um documento chamado de “Remonstrância” (protesto), onde reafirmaram os conceitos de Armínio. Em seu Artigo III, enfatizando a depravação total do homem afirma:

Que o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia e pecado para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a Palavra de Deus [Jo 15.5].[5]

Sobre a possibilidade da graça preveniente ser resistida, foi escrito no Artigo IV do mesmo documento que:

Que esta graça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles resistiram ao Espírito Santo.[6]

O pensamento de Armínio reverberou ao longo dos anos encontrando guarida em diversos arcabouços teológicos.

A GRAÇA PREVENIENTE NA TEOLOGIA DE WESLEY

John Wesley (1703-1791), o grande teólogo e pregador inglês, pai do metodismo, movimento que influenciou o surgimento do pentecostalismo clássico, entendia a salvação do homem nos moldes do arminianismo clássico:

A graça opera diante de nós para nos atrair em direção à fé, para iniciar sua obra em nós. Até mesmo a primeira e frágil intuição da convicção do pecado, a primeira insinuação de nossa necessidade de Deus, é a obra da graça preparadora e antecedente à beira do nosso desejo, trazendo-nos em tempo de afligirmo-nos sobre nossas próprias injustiças, desafiando nossas disposições perversas, de modo que nossas vontades distorcidas gradualmente cessam de resistir ao dom de Deus.[7]

Sobre o estado de depravação humana Wesley comenta:

O homem, por natureza, é repleto de todo o tipo de maldade? É vazio de todo o bem? É totalmente caído? Sua alma está totalmente corrompida? Ou, para fazer o teste ao contrário, “toda imaginação dos pensamentos de seu coração [é] só má continuamente”? Admita isso, e até aqui você é um cristão. Negue isso, e você ainda é um pagão.[8]

Em seu sermão “O caminho para o Reino”, diz: Você é corrompido em cada poder, em cada faculdade de sua alma, por ser corrompido em cada um desses aspectos, toda fundação do seu ser está fora de curso.[9] Em outro sermão intitulado “A Falsidade do Coração Humano” enfatiza que: “No coração de todo filho de homem há um fundo inexaurível de maldade e injustiça, enraizado de forma tão profunda e firme na alma que nada, a não ser a graça toda-poderosa, pode curar isso.[10]

Diversos estudiosos da teologia de John Wesley reafirmaram o seu pensamento soteriológico arminiano clássico:

Em termos de contribuições mais modernas, George Croft Cell, no início do século XX, sustentou que Wesley, na verdade, “planta seus pés igualmente nas pegadas deixadas por Paulo, Agostinho, Lutero e Calvino”. Willian Cannon, fazendo uma declaração semelhante, afirma que Wesley, o teólogo arminianista, “percorre todo o caminho com Calvino, com Lutero e com Agostinho em sua insistência de que o homem é, por natureza, totalmente destituído de justiça e está sujeito ao julgamento e à ira de Deus” [...].[11]

As conclusões que se podem obter, conforme Richard Taylor, é que:

Jacó Armínio e John Wesley eram totalmente agostinianos nos seguintes aspectos: (a) a raça humana é universalmente depravada como resultado do pecado de Adão; (b) a capacidade do homem de querer o bem está tão debilitada que requer a ação da graça divina para que possa alterar seu curso e ser salvo.[12]

No que diz respeito ao entendimento sobre a operação da graça na vida do homem perdido e morto em seus delitos e pecados, assim como Armínio, Wesley diverge de Agostinho e dos reformistas do século XVI, defendendo que a graça preveniente, fundamentada na obra salvífica de Jesus Cristo, opera na restauração do livre-arbítrio, de maneira sobrenatural, pelo Espírito Santo, em todas as pessoas; as quais, à parte dessa restauração, do ponto de vista soteriológico, não são livres. Dessa forma, Wesley se afasta tanto do semipelagianismo católico romano que nega a total depravação humana, quanto do determinismo de Wittenberg e Genebra que elimina a responsabilidade moral do homem na aceitação ou na rejeição da oferta de salvação mediante a graça preveniente.[13]

Sobre a ideia de graça irresistível, Wesley não defende tal realidade no que se refere aos aspectos do chamado ou oferta para a salvação, mas ao restabelecimento das faculdades humanas que estabelecem o equilíbrio e responsabilidade individuais:

Mais uma vez, a graça preveniente não é irresistível no sentido de que a personalidade é aniquilada nem de que já existe um “eu” responsável viável que apenas é suprido com as faculdades. Antes, essa graça é necessária, na verdade, é imprescindível no melhor sentido do termo “antecedência” a fim de produzir no ser um “eu” responsável, em parte, precisamente pela restauração das faculdades. Simplificando, o princípio do processo da salvação não requer a graça cooperante (a essa altura, uma impossibilidade total), mas a graça livre, a atividade apenas de Deus.[14]

CONCLUSÃO

Torna-se assim evidente, que a doutrina da graça preveniente de Armínio e Wesley concorda com a concepção de depravação total e salvação somente pela graça, conforme Lutero e Calvino, mas discorda no sentido de que Deus predestinou poucos homens para a salvação, deixando a maior parte da humanidade na condenação do inferno eterno, de que a graça salvadora é irresistível, e que é direcionada apenas aos eleitos:

A eleição de Deus é um ato incondicional da graça livre, dada por meio de seu filho Jesus, antes de o mundo existir. Por meio deste ato, Deus escolheu, antes da fundação do mundo, aqueles que seriam libertos da escravidão ao pecado e levados ao arrependimento e à fé salvadora em Jesus.[15]

Sobre a ideia da graça irresistível na teologia reformada calvinista, lemos:

Isto significa que a resistência que todos os seres humanos exercem cada dia contra Deus (Rm 3.10-12, At 7.51) é vencida maravilhosamente, no tempo próprio, pela graça salvadora de Deus, em favor de rebeldes indignos, os quais ele escolhe salvar espontaneamente. [16]

Na perspectiva calvinista, para tornar a graça irresistível, Deus age mudando a nossa vontade, sem necessariamente agir contra a nossa vontade.[17] Com certeza, um argumento insustentável à luz da doutrina bíblica da salvação, e da responsabilidade moral do homem enquanto um ser livre.

O conhecido apelo evangelístico que diz “dê um passo para Deus que Ele dará dois em sua direção”, não se sustenta à luz do arminianismo clássico e do pensamente wesleyano. Tal apelo é norteado pelo arminianismo de cabeça[18] e arminianismo contemporâneo[19], que são essencialmente semipelagianos, e que acreditam que o homem não se encontra no estado de depravação total, podendo de alguma maneira tomar a iniciativa de buscar a Deus e de conseguir a sua salvação pessoal.

É também infundada e falsa a acusação calvinista de que o arminianismo clássico defende a ideia de que o homem após a queda não se tornou totalmente depravado, de que pode escolher o bem espiritual, e de exercer fé em Deus de maneira a receber o evangelho e assim tomar posse da salvação para si mesmo.[20]

Toda salvação pessoal é resultado da iniciativa graciosa de Deus, que abre o entendimento humano para a verdade do Evangelho, e que afrouxa as rédeas do poder do pecado. Somente a operação da graça preveniente torna o homem capaz de crer e aceitar o dom gratuito de Deus, que é a vida eterna em Cristo Jesus (Ef 2.1-10), ou de livremente rejeitá-lo, tornando-se assim moralmente responsável por tais decisões.

Altair Germano – Pastor, teólogo, pedagogo, escritor e conferencista. Atualmente é o 1º Vice-Presidente da Assembleia de Deus em Abreu e Lima-PE (COMADALPE), Vice-Presidente do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil – CGADB.



[1] WALLS, Jerry; DONGELL. Por que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão, 2014, p. 12.
[2] OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p.
[3] WALLS, Jerry L.; DONGEL, Joseph R. Ibid., p. 14.
[4] ARMINIUS, A Declaration of Sentiments, Works. V. 1, p. 664 apudOLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 210.
[5] Cinco Artigos da Remonstrância. Wikipédia.org, acesso em 26/01/2015.
[6] Ibid.
[7] Oden, Thomas C. John Wesley´s Scriptural Christianity. Grand Rapids: Zondervan, 1994, p. 246 apud OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 219.
[8] Outler, Sermons, p. 2:179 apud COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
[9] Ibid.
[10] Ibid.
[11] Ibid., p. 99.
[12] Ibid.
[13] Ibid., p. 105.
[14] Ibid., p. 109.
[15] PIPER, John. Cinco Pontos: em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 17.
[16] Ibid., p. 18
[17] Ibid., p. 39.
[18] O arminianismo de cabeça possui uma ênfase no livre-arbítrio que está alicerçada no iluminismo e é mais tarde comumente encontrado nos círculos protestantes liberais [...]. Sua marca característica é uma antropologia otimista que nega a depravação total e a absoluta necessidade de graça sobrenatural para a salvação. É otimista acerca da habilidade de seres humanos autônomos em exercerem uma boa vontade para Deus e seus semelhantes sem a graça preveniente (capacitadora, auxiliadora) sobrenatural, ou seja, é pelagiano ou no mínimo semipelagiano. (OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 23.)
[19] Talvez a fraqueza mais séria do arminianismo contemporâneo seja a sua visão de pecado Com muita frequência, os arminianos restringem o problema do pecado para a questão da culpa, amplamente entendido como uma (mera) sujeição a um julgamento futuro. O evangelismo arminiano, portanto, frequentemente foca unicamente na oferta de perdão para evitar essa ameaça, apresentando seu convite com a presunção de que a platéia goza de liberdade da vontade, julgamento relativamente equilibrado, e uma abertura para considerar, de maneira imparcial, a mensagem do Evangelho. Por conseguinte, o fator mais importante para determinar o grau de sucesso no evangelismo é o poder do evangelista, que em lógica, persuasão ou charme pessoal. Tal pensamento arminiano contemporâneo surgiu nas gerações subseqüentes a Wesley, e em especial no metodismo estadunidense. (WALLS, Jerry; DONGELL. Por que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão, 2014, p. 64.
[20] SEATON, W. J. Os cinco pontos do calvinismo. 3.ed. São Paulo: PES, 2012, p.4-5.
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Fonte:http://www.altairgermano.net/2015/01/a-graca-preveniente-na-teologia.html