Pesquisar este blog

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Cultivando bem as pessoas

04.12.2013
Do portal VERBO DA VIDA, 20.10.13
Por Klycia Gaudard

Nasceu um pé de tomate na minha casa. Para você, pode não ter muito sentido ou significado, mas é porque não viu o tal pé.
Quando nos mudamos para nossa casa, uma das maiores frustrações foi descobrir que o jardim era “falso”. Existe uma grama, mas o construtor cimentou o espaço reservado para o jardim e colocou terra em cima. Quem olha vê grama, mas não sabe que dez centímetros abaixo existe uma placa de cimento a qual nos impede de colocar em prática os nossos vários sonhos do “jardim da nossa casa própria”. Para remediar, o meu esposo, Renato, comprou uns vasos e neles planta algumas hortaliças, fazendo experiências com sementes e mudas.
Fizemos uma viagem há  pouco tempo e, quando chegamos, após 3 semanas fora, nos deparamos com um pé de tomate. E foi com satisfação que o Renato começou a cuidar deste pé inesperado, jogar água, adubar, retirar as folhas velhas. Para alegria do nosso filho, que é apaixonado por “tomatinho”, nós já servimos várias vezes o fruto inusitado, que não se cansa de nascer e me surpreender sempre que olho, no meio de uma grama sem graça, uma folhagem com várias bolas vermelhas.
Existem jardins muito bonitos, com uma grande variedade de plantas e flores, e, para aqueles que gostam, árvores frutíferas. Sempre coloridos, quando os vemos sabemos que por trás desta paisagem existem pessoas cuidando para que permaneçam vistosos. Existem outros mais simples como o meu, e também aqueles que não conseguimos plantar nada, porque não aceitam nada que precise de profundidade para espalhar suas raízes.
Não pense que sou boa com plantas ou apreciadora da jardinagem, pelo contrário! As pobres plantas sofrem com minha falta de habilidade para tratá-las. Mas, este pé de tomate tem me feito refletir. Se você é do tipo reflexivo também já tirou uma lição desta história. Na minha auto-reflexão, uma planta se transformou em pessoas.
Tenho visto por aí muitas pessoas parecidas com o meu jardim. As quais não tem se permitido criar raízes. Têm tido relacionamentos superficiais e não se permitem envolver-se. Assim, não cativam, nem fazem as pessoas se interessarem por elas verdadeiramente. Sempre se sentem sozinhas, mas não percebem que, na verdade, existe um tipo de medo de se magoar, o que acaba afastando as pessoas.
É claro que há aquelas que são o oposto: pessoas que não se atentam para onde tem espalhado suas raízes e estão como aquelas árvores que vemos pelas calçadas, que suas raízes precisam de tanto espaço para crescer que acabam atravessando o asfalto, quebrando tudo por onde passam para que se firmem.
Será correto sufocar o outro para que eu sobreviva em um relacionamento? Será que o espaço que estou ocupando não é, na verdade, um espaço que deveria ser do outro, ou então, um espaço comum, ou seja, que ambos soubessem dividir para que pudessem conviver de forma sadia?
Mas, voltando ao meu jardim, que aparentemente estava condenado a ter apenas grama e vasos, recebeu uma semente tão poderosa que conseguiu frutificar onde ninguém investiria. E não bastasse nascer este pé, todos os dias novos frutos nascem e amadurecem, e abastecem a nossa mesa com um fruto limpo, sem agrotóxicos e muito saboroso.
Quem  investiria em uma pessoa que parece não se envolver – uma pessoa comum, como tantas outras que encontramos no dia a dia, sem nenhum atrativo? Quem gastaria tempo plantando sementes, dando a atenção necessária e aguardando com paciência no retorno certo que boas sementes bem cultivadas dão?
Pode ser que eu e você estejamos tão ocupados e buscando resultados rápidos que não nos detemos para fazer uma analise mais detalhada das possibilidades. Olhamos a aparência ou, para ser ainda mais rápidos, nos lembramos das nossas experiências anteriores e agimos no automático: jardins cimentados não geram plantas frutíferas nem com raízes. Mas, qual é o poder da boa semente?
Vi no meu jardim nascer  algo que nem sequer plantamos! Não fomos nós que jogamos aquelas sementes na grama, podem ter sido os passarinhos, mas o que importa é que foi uma boa semente e que tem tido um ótimo cuidado. Por isso, estamos colhendo os resultados.
Não sabemos até que ponto as semente que lançamos tem caído e sobrevivido, mas o que não podemos fazer é desistir de lançá-las. Não sabemos também se antes de nós tentarmos, outras sementes foram lançadas e, agora, chegou a hora de cultivar, cuidar e dar atenção. Você pode, como eu, estar por um tempo sem olhar e, quando menos perceber, lá estará o resultado do trabalho.
Como bem disse Paulo: “uns plantam e outros regam” (I Co. 3.6), mas se em algum momento desistimos no meio do processo, nós comprometeremos os resultados.  Não desista, nem se canse de fazer o bem, porque no tempo certo haverá uma colheita e você se alegrará ao ver o amadurecimento das pessoas à sua volta. Não se canse de dizer que o amor nunca falha….
*****

Nenhum comentário:

Postar um comentário